A convalescente
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Estava pálida e triste, encostada levemente à grade do camarote, naquela noite de estreia.
Os seus olhos, negros como a seda que o seu delicado corpo vestia, divagavam pela plateia, indecisos, sem fixarem-se em ponto algum. Parecia uma dessas melancólicas personagens de George Sand, fantásticas e ideais, belas, todavia, mesmo na falsidade da sua criação,— vivificada por um mistério e conduzida aquela sala de espetáculo, onde ostentavam-se as formosuras das moças da moda e as austeras sobrecasacas dos burguesas, sob a intensa luz do gás.
E ela estava sempre pálida, encostada levemente à grade do camarote.
Nos lábios tinha ingênuo sorriso, que espiritualizava-lhe a expressão da simpática fisionomia.
Um engraçado diabrete, primo dela, brincava-lhe com o leque.
Quem binoculisasse aquele camarote, havia de sentir apoderar-se-lhe da alma uma comoção de piedade, tal era a melancólica tristeza evolada desse lugar, donde ela dirigia o seu negro, o seu profundo olhar para a plateia, cujo ambiente saturava-se mais e mais dos eflúvios de lindos lenços rendados, dos perfumosos lenços discretos das jovens damas...
E aquela encantadora criança que, sempre triste, encostava-se à grade do camarote, apresentava na pálida fisionomia os vestígios do sofrimento, que tanto a tornava simpática aos olhos da burguesia austeramente séria sob a luz intensa do lustre...
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