
As folhas
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Lançados para longe da pátria
pelos movimentos revolucionários que estalaram depois da guerra, o conde
Ricardo e o príncipe Romualdo conversavam, displicentes, naquele começo de
verão oriental, à sombra do grande plátano do parque do hotel, trocando ideias
e fazendo comentários discretos sobre a situação política dos países em que
haviam reinado. Estirados nas suas cadeiras de viagem, mostravam, ambos, um
profundo desinteresse pelas coisas vulgares do mundo. E era por isso que, de
vez em quando, mergulhavam em silêncio profundo, quedando a acompanhar com os
olhos, melancólicos e soturnos, as oscilações da fumaça clara que atiravam,
preguiçosos, para o ar.
O dia estava morno, quieto,
parado, anunciando para a noite uma nova tempestade do Deserto. E era nisso que
pensavam os dois fidalgos ilustres, despojos elegantes de dois tronos
desmoronados, quando o príncipe começou a seguir com os olhos, uma a uma, as
folhas amarelas que se desprendiam da árvore, e que se vinham espalhar no chão,
estendendo pelo solo um crespo tapete de topázio. De repente, lançando para o
espaço uma nuvem de fumaça cheirosa, o príncipe observou, alisando a barba
negra e cerrada:
— Como os homens se assemelham às
árvores!...
O conde Ricardo fechou o livro
que principiara a ler, e, erguendo para a fronde os seus olhos muito azuis e
muito doces, esperou a explicação do companheiro.
E o príncipe continuou:
— Enquanto a árvore está verde, e
tem seiva, nenhuma folha o abandona, senão arrancada à força. Venha, porém, o
verão, e, com ele, a falta de seiva, a decadência da planta, e nenhuma quer
ficar mais presa ao ramo!
Compreendendo o símbolo, o conde
acentuou, sacudindo, triste, a cabeça leonina:
— São como os amigos...
E o príncipe confirmou:
— São como os amigos...
No silêncio do dia, as folhas,
uma a uma, continuavam a cair...
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