11 e 20
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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...O criado
que nos servia o jantar acabava de tirar os últimos pratos. Pôs ao centro da
mesa um grande jarro cheio de flores e desapareceu discretamente. Cada um de
nós tinha perto de si uma xícara de café fumegante. Fazia frio. Lá fora, a
chuva caía em jorros. Pensamos um momento em sair dali e ir para a sala de
visitas ou para o meu gabinete. O Alberto protestou:
— Para quê?!
Vamos ficar aqui mesmo. É uma viagem inútil.
Estávamos
tão bem, que eu só repliquei pelo vago desejo de o contrariar, de, pelo menos,
dizer qualquer coisa:
— Não me
parece que a viagem fosse muito longa; acredito que se gastaria mais tempo em
ir ao Polo Norte...
O Alberto
não respondeu logo. Cortou vagarosamente a ponta do charuto, acendeu-o e soltou
um primeiro novelo de fumo...
A conversa
tinha sido animada durante todo o jantar. Faláramos de tudo: de amor, de
literatura, de filosofia e, por fim, de música. Uma narrativa do Lino nos
atirara a um vago estado de tristeza e cisma, de que tínhamos dificuldade de
sair.
Afinal, o
Alberto atendeu à minha objeção:
— Por
pequeno que seja o prazer junto do qual nós estamos, é sempre loucura
afastarmo-nos dele um passo, uma polegada, um centímetro!
E tinha na
voz, dizendo isto, uma amargura profunda e desanimada. Mas o Lino atalhou:
— De nós
três és tu precisamente o menos apto para nos dar tal conselho: tu, que tens
passado por seca e meca, corrido os cinco continentes, viajado por todos os
mares, que não te aquietas, não te acomodas em parte alguma... Andas de
antípoda a antípoda e pregas a imobilidade para ir de uma sala a outra!
— Tens
razão... Menos, porém, do que podes acreditar. Eu creio que há nisto uma
maldição. Sinto, vejo, compreendo melhor do que ninguém a vantagem de ficar
tranquilo. Quando, todavia, estou mais persuadido de todas as excelentes razões
para não sair de onde me encontro, acho-me, sem saber porquê, com um bilhete de
viagem para a Europa ou para a Ásia, a bordo de qualquer navio. Devo ser da
linhagem do Judeu Errante.
— Pois olha
— murmurei eu —, nem sabes como te invejo! Em primeiro lugar, há decerto uma
grande delícia em correr o mundo, ver céus, ver terras, ver povos estranhos.
Depois, ser-me-ia, sobretudo, um prazer, a bordo, aqui e acolá, ter uns meigos
e fugitivos amores, apenas começados e imediatamente acabados. Restaria deles a
mim e às minhas mal conhecidas amantes uma saudade profunda e suavíssima.
Saberia dominar tudo quanto tenho de baixo e grosseiro: aparecer-lhes-ia como
um homem superior, desinteressado e nobre. Ficaria na memória delas, como a
recordação de uma aventura fugaz e divina. A todas as horas imaginaria sempre
que num canto remoto da Terra, fosse onde fosse, em Paris ou na China, em
Londres ou na Austrália, haveria uma mulher pensando em mim. — E teria também amigos,
feitos rapidamente no tombadilho dos navios, no encontro de cidades longínquas.
A uns eu me faria passar por uma alma torturada e melancólica; a outros como um
tipo de energia; a outros afinal daria a inveja que a todos inspira a figura
romanesca de D. Juan. E cada um me faria as suas confidências. No silêncio do
meu quarto, no aconchego tépido desta sala, em qualquer parte onde eu me
sentisse desamparado e só, tiraria da minha memória, ora a evocação desse
harém, ora o romance de todas essas almas amigas, que me tivessem confiado,
como a um confessor leigo, o segredo de suas vidas... A cada um eu contaria
também, como se tivesse ocorrido comigo, um fato perfeitamente análogo, para
que, quando pensassem nas suas aventuras, fossem também um pouco forçados a
pensar em mim.
O Alberto
tinha saído de junto da mesa. Sentara-se num pequeno sofá, cruzara as pernas e
enquanto, com um gesto do dedo mínimo, fazia cair a cinza do charuto, tinha nos
olhos e nos lábios uma expressão levemente irônica. Mal eu acabara, ele falou.
Falou com uma voz abafada e lenta, articulando molemente as sílabas:
— E que
prazer tiraria daí? Terias, somadas às tuas, as amarguras de todos esses
desgraçados. Cuidas então que não tive tais amores? tais amizades? Menti a
todos eles. Hoje, quando evoco essas figuras passageiras, não posso deixar de
pensar que elas também me iludiram. Das mulheres que se me afiguraram mais
cândidas, penso nas torpezas, nas misérias, nas traições. Era o que certamente
havia sob essas máscaras tão vis ou mais vis ainda que a minha. Há bocas
divinas, que eu beijei nos arroubos mais sublimes do amor e cujos beijos me
fazem hoje um asco profundo. Quereria saber bem, não haver mais nos meus lábios
uma só das células maculadas com esse contato. Quereria cauterizá-los a ferro
em brasa, se a ferro em brasa me fosse também possível queimar no cérebro o
ponto exato onde está a memória implacável desses minutos de um gozo misérrimo,
tão caramente compensado! E os amigos? Tive-os, tenho-os ainda... Confidências?
Eu as recebi em toda a parte. Ao ver a leviandade com que alguns me abriam os
corações, eu sentia neles a sofreguidão de repartirem com outros o peso
doloroso da sua alma! O que cada um de nós conta de preferência são as suas
dores, as suas angústias, os seus suplícios... Dizem que é amizade, e é
egoísmo. Querem Cireneus para as suas cruzes!
Nós
estávamos habituados aos paradoxos pessimistas do Alberto. Seria por isso que
ninguém se deu ao trabalho de contestá-lo? Seria antes porque achássemos alguma
coisa de justo sob a aparente extravagância dos seus exageros? O certo é que
nos detivemos calados. Foi ele mesmo que retomou a palavra:
— Na última
viagem que eu fiz de Liverpool aos Estados Unidos, tive um companheiro, de
quem, no primeiro dia, julguei poder fazer um excelente amigo. Era um belo
homem. Tinha cerca de quarenta anos. Tipo inglês, louro, alto, forte, olhos de
um azul-escuro no qual havia certa expressão de serenidade grave, todo ele
inspirava uma simpatia profunda. Elegante, sem maneirismo nem afetação, fazia
gosto admirá-lo.
Creio que
cada um de nós teve o mesmo movimento de simpatia pelo outro. Quando nos vimos
no mesmo camarote e soubemos que teríamos de fazer juntos a mesma travessia,
foi ele quem tomou a iniciativa de se me apresentar. Fiz o mesmo. Uma hora
depois, passeávamos juntos no tombadilho. Como o inglês que eu falava não fosse
um primor de correção, passamos a conversar em francês.
Era deveras
deliciosa a sua palestra erudita e fina. Rico, tinha viajado bastante, enquanto
moço. Fora depois viver, casado e feliz, na sua terra natal: a Escócia. "Há
três anos, porém", disse-me ele, "desde que perdi um amigo querido,
caí num tal estado de espírito que não posso definir. É agora somente, por uma
necessidade inelutável, que sou forçado a ir aos Estados Unidos, onde me
demorarei, no máximo, oito dias. Só a presença da minha Kate pode dar-me um
pouco da tranquilidade de espírito de que preciso."
Efetivamente,
a nota predominante da sua fisionomia era a tristeza. Falou-me da filha
apaixonadamente. A pequenina tinha então sete anos. O retrato que ele me fez
ver mostrou-ma como uma criança lindíssima.
— Será hoje
— disse então — a primeira noite em que terei de dormir sem ter na minha a sua
mãozinha!
O modo pelo
qual ele disse essa frase, pareceu-me estranho. Estranho, ou pelo menos
exagerado. Continuamos a conversar. O vapor era de excelente marcha. À tarde,
havíamos perdido a terra de vista. Ficamos juntos à hora das refeições, juntos
estivemos desde a manhã até às dez da noite.
— Que
cacetes! — exclamou o Lino.
— Creio que
não... — volveu o Alberto. — Suponho que nos encantamos reciprocamente. Ambos
tínhamos vivido muito, corrido céus e terras diversos; mas parece que nenhum
havia encontrado ainda o companheiro ideal, o amigo perfeito, a alma gêmea da
sua: e cada um de nós julgou reconhecer tudo isso, subitamente, no outro.
O vapor
vinha cheio; mas naquele primeiro dia o tombadilho não estava muito
frequentado. Passageiros pouco habituados, deixavam-se ficar embaixo, enjoados.
Às vezes, os que tinham vindo para cima, sacudidos por um grande mal-estar,
aproximavam-se de repente da amurada, tomados de vômitos incoercíveis... Outros
ficavam-se sentados, com os olhos rasos de pranto, pensando ainda nos que acabavam
de deixar... Grupos de crianças punham um pouco de animação naquilo, correndo,
perseguindo-se uns aos outros. Às vezes quando o vapor dava guinadas mais
fortes, alguns caíam e os demais, em grande alarido, zombavam da sua queda.
Havia, entretanto, viajantes que estavam bem à vontade, alegres, uns passeando,
outros lendo, outros jogando. Uma mulher morena, uma bela mulher, alta,
elegante, cheia de corpo, com uns grandes e radiantes olhos negros, de uma
formosura esplêndida, passou todo o dia sentada em uma chaise longue, imóvel, fitando o mar, fitando-o com olhos absortos
de quem, continuando uma íntima cisma, olha sem ver... Fomos os únicos que
estivemos todo o tempo no tombadilho: a bela passageira e nós. Às dez horas,
quando íamos descer ouvimos o comandante que viera conversar com ela, dizer-lhe
que estava satisfeitíssimo com a viagem:
— Estamos,
graças a uma brisa de popa, andando à razão de vinte milhas por hora.
Ela
respondeu com um simples sorriso de cortesia, indicando bem claramente que não queria
continuar a conversa. Ele insistiu:
— Assim terá
o prazer de uma viagem extremamente rápida.
Ela fez um
gesto de profundo desprendimento e disse apenas:
— Oh! Para
mim, é o mesmo...
E, parecia
indicar que para ela o tempo já não tinha valor... Que fosse um dia ou fosse um
ano, corresse o vapor como uma seta, ou vogasse no mar eternamente, como um
desses navios fantasmas das lendas misteriosas, tudo lhe era soberanamente
indiferente!
Que segredo
haveria naquela alma de mulher? Foi de tal modo triste, de tal modo desalentada
a inflexão de sua voz, que eu desci com um frio no coração... O dia passara
para mim, ao contrário do que é habitual, sem uma sombra de tristeza; bastaram
todavia aquelas palavras tão banais pelo significado, mas tão amargas pela expressão,
para fazerem refluir-me ao espírito, toda a amargura do meu pessimismo.
Não disse
uma só palavra — senão, ao deitar-me, um simples — Boa-Noite — ao meu
companheiro de quarto. Dos nossos dois beliches, superpostos, o dele era o de
cima.
Daí a pouco,
eu estava dormindo um sono pesado.
Acordei de
súbito. Um pesadelo horrível me torturava. Via-me em uma revolução. Tinham
armado na rua uma barricada, com grandes pedras. Contra as forças do Governo,
eu me batia com um denodo heroico. Houve um momento em que tive a temeridade de
escalar a barricada, trepar-me ao alto e de lá, em pé, pôr a arma à cara com
toda a serenidade, e visar um inimigo. Nisto, uma pedra rolou a meus pés e eu
caí — caí para o lado dos adversários. Rápido, um deles adiantou-se, tomou-me
uma das mãos e começou a arrastar-me pela rua, correndo. Era uma corrida
vertiginosa. Meu corpo, inteiramente chagado, doía horrivelmente. Nas feridas,
abertas em carne viva, a terra das ruas entrava, aumentado a tortura... A
cabeça, minha pobre cabeça, era, sobretudo, o que me fazia sofrer; ouvia-a,
sentia-a bater, de choque em choque nos ângulos das pedras, e cada vez uma dor
finíssima, terebrante, varava-me o cérebro como um estilete agudíssimo... O
soldado que me levava, prendia-me apenas pela mão, a larga mão ossuda e forte
que apertava a minha... Foi nessa ocasião, quando já tinha percorrido um
extenso trecho, deixando como vestígio, pelo caminho, laivos do meu sangue, que
eu despertei.
Despertei e
senti que o que me acordara tinha sido a mão do meu companheiro de viagem, que
apertava a minha desesperadamente. No primeiro instante, custei a compreender a
situação. Estremunhado, com a lembrança nítida do pesadelo, no escuro do
camarote, sentindo uma intensa dor de cabeça, não percebi o que queria dizer
aquele homem, junto de mim, segurando tão fortemente a minha mão.
Da sua voz,
eu guardo ainda nos ouvidos o tom de angústia e de terror...
Ele me
dizia:
—
Desculpe-me: eu sei que o incomodo muito... Eu estou doido... Mas não largue a
minha mão... Não largue...
Este pedido
que eu não lhe largasse a mão, voltava insistentemente, com um desespero
incrível. De fato, porém, era ele que segurava, que se agarrava a mim com uma
fúria incrível, quase esmagando meus dedos...
Procurei
acalmá-lo. Tive por algum tempo a convicção de que era realmente um acesso de
loucura.
Disse umas
vagas frases de consolo; pedi-lhe que se deitasse. Ele não me atendia:
— Ainda
não... ainda não... não largue a minha mão... daqui a pouco... daqui a pouco...
Apesar da
luta, apesar do esforço, eu sentia que essa mão tão crispada à minha estava
gelada. Era um frio intenso que me penetrava as carnes, que me subia pelo
braço... O desgraçado arquejava...
— Sente
alguma coisa? — perguntei eu.
— Não... Não
imagina... É horrível... Não largue minha mão...
Isto durou
pouco mais de meia hora. Depois eu senti-o aquietar-se. Deu um grande suspiro
de quietação e alívio, tirou a mão da minha, saltou rapidamente para o seu
beliche e disse-me: Merci!
Na cama, eu
senti-o, entretanto, que chorava, chorava mordendo os travesseiros, abafando os
soluços para que eu os não ouvisse.
Foi-me
impossível dormir.
A trepidação
rítmica da máquina, batendo cadenciada, parecia o largo pulsar de uma
respiração que arquejava... Fora, havia um batido de águas carinhoso, quase rente
à escotilha do nosso camarote, lambendo de manso a quilha do navio.
A cabeça
doía-me horrivelmente.
Às vezes,
por momentos fugacíssimos, as pálpebras se me cerravam, numa vaga modorra e, ao
despertar eu ficava em dúvida se efetivamente alguma coisa sucedera ou apenas
tinha sido um sonho.
Mas, a
confirmar-me da realidade dos fatos, eu sentia o choro do meu companheiro, um
choro contínuo e magoado, mas tão fraco, tão baixinho que o rumor do mar mal o
deixava ouvir.
Seria
realmente um louco?
A razão de tudo
aquilo, só no dia seguinte o vim a perceber.
Fui eu quem
primeiro saiu do camarote.
Quando, uma
hora depois, passeava no tombadilho, Jorge — o meu companheiro se chamava Jorge
Sidney — subiu e veio saudar-me.
Estava
pálido, com olheiras roxas, a face tão desfeita, como se houvesse envelhecido
de muitos anos.
Não
trocamos, no primeiro instante, senão um cumprimento banal; nenhum de nós dois
aludiu aos fatos da noite. Não achamos, porém, meio algum de encetar conversa:
evidentemente a lembrança daqueles estranhos sucessos nos obsedava.
Afinal, como
se tivéssemos chegado ao ponto mais deserto do tombadilho, bem no extremo da
popa, Jorge me deteve:
— O senhor
há de considerar-me um louco — disse ele.
Eu fiz um
vago gesto de negação. Ele continuou:
— Não me interrompa.
Talvez, se o fizesse, me faltasse força para ir até o fim. Conhecemo-nos apenas
há um dia, mas eu julgo tê-lo reconhecido como um homem de honra, a quem se
pode confiar um segredo. É o segredo horrível da minha vida, que não há por
todo o mundo uma só pessoa que conheça, o que lhe vou narrar.
Debruçamo-nos
ambos à amurada.
O bater da
hélice deixava um rasto branco de espuma, assinalando a esteira do navio. Não
havia na superfície do oceano o vestígio de uma vela qualquer. Céu e mar: nada
mais...
O sol punha
faiscações de ouro no ondular das águas, agitadas levemente. No azul, um azul
muito claro, não existia senão um leve farrapo de nuvem, um cúmulo de algodão
alvíssimo, que vogava lentamente, subindo de um ponto remoto do horizonte para
o calmo zênite luminoso...
E ele me
contou o drama da sua existência — drama ocorrido em uma noite, rápido e
terrível.
Estava
hospedado na sua casa de campo, na Escócia, um dos seus amigos, Nataniel Break.
Era um industrial riquíssimo. Tinha ficado ali, por alguns dias, a caminho de
Londres, onde ia efetuar uma transação avultada. Vendera para isso uma das suas
fábricas, cuja importância, que montava a 25.000 libras, trazia ainda consigo.
Na véspera
da sua partida foram fazer um passeio; ele ia ver uma fábrica que ficava a
curta distância.
Em certo
momento, como parassem à margem de um rio que corria perto da casa de Jorge, Nataniel
lembrou-se de colher uma flor aquática lindíssima, que brotara num pequenino
remanso do rio, — rio que, então avolumado pelas cheias, passava torrencial,
bramindo, espumando. A dois passos havia uma cascata. Ouvia-se-lhe o fragor.
Mas, naquele humilde recanto, protegida por grossas pedras limosas, tinha
podido conservar-se a delicada flor, cujo caule finíssimo emergia da água. A
corola azul, com o centro de um leve cor-de-rosa desmaiado, oscilava docemente.
Nataniel quis apanhá-la. O amigo advertiu-o do perigo. Ele insistiu. "Deita-te
de bruços na margem e dá-me a tua mão." Jorge obedeceu. O outro desceu,
quebrou o talo da flor, meteu-a entre os dentes — tudo isto com a mão esquerda,
a direita fortemente agarrada à do Jorge.
Quando quis
subir e teve de dar um forte impulso para içar o corpo, as pedras rolaram sob
seus pés. Ficou suspenso unicamente por aquela mão, da qual dependia sua vida,
ou sua morte.
— Nesse
momento...
Nesse
momento, disse-me Jorge, uma ideia diabólica atravessou-me o cérebro. Se aquele
homem morresse, eu podia apoderar-me das 25.000 libras, que estavam em minha
casa, na sua mala de viagem.
Fidalgo
pobre, vivendo apenas de escassos rendimentos, aquela soma seria para mim a
garantia do futuro — do futuro da minha filha, que era, sobretudo, o objeto
constante das minhas preocupações.
Num segundo,
eu vi, eu senti no meu cérebro o atordoamento de uma luta horrível; todo o meu
passado de irrepreensível honestidade, toda a hediondez de ser o assassino de
um dos meus íntimos amigos, tudo isso defendia-se contra o assalto monstruoso
daquela tentação miserável. Mas a tentação venceu! Era tão fácil simular um
acidente! O próprio Nataniel podia não perceber o meu propósito criminoso:
bastava que eu desprendesse minha mão da sua e ele acreditaria que ela me tinha
escapado.
No momento
da execução, as coisas não correram com a mesma simplicidade. É verdade que me
bastou um gesto brusco para puxar a mão — à qual ele se agarrava com um
desespero enorme, estando, como estava, inteiramente pendurado dela. Foi menos
de um segundo. Tive apenas o tempo de ver-lhe o olhar — um terrível olhar de
assombro e pavor ante o meu crime...
Que era um
crime, eu vi bem que ele compreendeu naquele momento decisivo. E foi,
entretanto, uma fração de segundo: caiu para trás, bateu em cheio com a cabeça
numa pedra, fez-se uma poça vermelha na água clara, mas logo o corpo, levado
pela correnteza, foi a caminho da cachoeira... Mais alguns minutos e estaria
longe.
Feliz ou
infelizmente, eu tive a partir desse momento, uma tranquilidade extraordinária.
Levantei-me, limpei a terra que havia no meu peito por ter estado de bruços, e
segui tranquilamente, afastando-me de casa.
Devia
voltar, dar-me como testemunha do fato, afirmando que fora um acidente?
Não haveria
quem me não acreditasse. Vi, porém, logo, que se tal sucedesse, eu teria de
fazer restituir as 25.000 libras: nada explicaria o seu desaparecimento.
Ao sairmos
de casa, estava combinado que iríamos até certo ponto juntos e aí nos
separaríamos: ele para ver uma fábrica dos arredores, e eu para visitar uma
velha parenta, cuja herdade distava da minha uns bons quilômetros. Fui. Ganhei
rapidamente o tempo perdido. Passei lá um dia delicioso. Estive amável,
jovialíssimo, de uma naturalidade perfeita — ninguém seria capaz de notar em
mim a mínima sombra de uma preocupação qualquer. Falei algum tempo de Nataniel:
falei sem afetação nem exagero, mas referi a nossa velha amizade e a satisfação
que sentira em tornar a vê-lo. Foi um assunto, entre mil outros, na nossa
palestra: não tive ao tratar dele a mínima insistência suspeita. Minhas
palavras chegaram apenas ao bastante para deixar no espírito dos meus
interlocutores mais um testemunho da minha muita amizade pelo homem que acabara
de assassinar.
Despedi-me à
tarde. Parti para casa.
Em meio do
caminho, encontrei portadores que vinham à minha procura. Tive, é certo, um
momento de angústia terrível, quando os enxerguei: alguém me teria visto
praticar o crime? Ninguém. Vinha prevenir-me. Não se sabia se era um acidente
ou um homicídio.
Senti, senti
imediatamente que fisionomia devia tomar, que gestos devia fazer, que
interjeições devia ter... Precipitei-me a galope. Entrei em casa como um louco.
Todos se afastaram respeitosamente ante a minha dor. Homens que estavam ali
como simples curiosos, levaram os lenços aos olhos, vencidos pelo espetáculo
daquele imenso desespero.
Eu gritava,
fora de mim, possuído pelo papel: Meu amigo! Meu amigo!
E ia nessas
palavras tanta amargura que todos se sentiam dominados pelo meu sofrimento.
Achei-o
deitado de costas, num sofá apenas forrado por um lençol branco. Sua leve roupa
clara de touriste elegante,
encharcada, aderia ao corpo. Os olhos estavam semicerrados: era hedionda uma
linha branca que se via entre as pálpebras. Quando o apanharam já tinha perdido
todo o sangue. O cabelo louro ficara perfeitamente limpo. Exatamente por isso,
era ainda mais horrível notar a enorme fenda que passava transversalmente sobre
o olho esquerdo: os ossos estavam bem separados. Ao bater na pedra que lhe
fizera aquela ferida, deixara nela um largo pedaço de pele — era o osso que se
via, com as estilhas irregulares da fratura!
Houve um
momento em que, possuído de um acesso extremo de dor, abracei meu amigo,
solevantando-o um pouco do canapé. Mas, como se ele tivesse receio de que eu o
fosse beijar, senti que furtava a cabeça... senti ou julguei sentir. A verdade
é que ele quebrara a espinha dorsal justamente ao nível do pescoço e, tendo eu
erguido o corpo, a cabeça caiu para trás. Caiu um pouco torcida para meu lado,
e por entre os lábios lívidos, arregaçados por sobre os dentes muito brancos,
numa expressão que parecia ser a de um sorriso sardônico, passou uma golfada de
água, de uma água grossa, saburrosa, viscosa, que sujou o lençol com um risco
lamacento. Quando julguei perceber o gesto de sua cabeça, furtando-se ao meu
beijo, tive um calafrio da cabeça aos pés. Logo, porém, ouvi na assistência
alguém que me explicava o caso, enumerando as diversas contusões e fraturas: a
da espinha, a do crânio na parte posterior e a que ficava sobre o olho
esquerdo.
No fim de
algum tempo, o comissário de polícia pediu aos meus amigos que me tirassem
dali.
Contou-me
então como se achara o corpo. Disse-me que perto do lugar tinham prendido um
vagabundo, sobre o qual recaíam suspeitas. Quando o prenderam, ele teve tempo
de jogar à água qualquer coisa que se não pudera achar. Seria o dinheiro
roubado? Seria alguma joia? Eram estas e outras informações que esperavam de
mim.
Eu lhes
disse imediatamente que sabia ter o meu amigo realizado dias antes uma
transação importante, cujo valor em notas de banco, é possível que trouxesse
consigo.
Indiquei que
me parecia útil que a sua bagagem fosse imediatamente selada e recolhida.
Pedi apenas
licença por alguns minutos para ir a meu quarto mudar de roupa.
Era em outro
pavimento. Subi sozinho. Entrei no meu quarto, passei por uma porta interna de
comunicação para aquele em que estava hospedado Nataniel, e como eu sabia, na
mala de viagem, o lugar exato em que estava o dinheiro, tirei-o, escondi-o,
fechei a porta, tomei outra roupa e desci.
Tudo isto
foi extremamente breve. Na azáfama em que todos estavam deve ter parecido
imediato, de uma prontidão nunca vista. Subi com o comissário, fiz revistar e
selar as malas. A ausência do dinheiro foi constatada. Quando o agente me
comunicou essa notícia, eu tive um rugido de vingança contra o assassino — o
suposto, o desgraçado vagabundo a quem acusavam falsamente! Mas não houve para
ninguém, a partir desse instante, dúvida alguma sobre a sua culpabilidade. Que
instinto do mal me levava a acumular crimes no meu caminho!
Desci.
Estive ainda uma vez de joelhos! Abracei-o de novo, de novo chorei sobre o seu
corpo... Era quase sincero o meu sentimento, de tal modo eu estava possuído do
papel que representava. Afinal, pondo-me de pé, eu disse entre soluços: Nataniel
meu amigo, tu hás de ser vingado! E tomando sua mão fria úmida, apertei-a na
minha, com o gesto de um amigo que se despede de outro, fazendo-lhe uma
promessa decisiva. A cena era um pouco teatral, mas por isso mesmo parecia
grandiosa e com o tom ardente que animava minha voz, fez uma impressão imensa
no auditório.
Mas, o que
foi para mim a sensação desse momento, eu não sei dizer: foi horrível! Quando
eu apertei aquela mão inerte, pareceu-me senti-la segurar-me com toda a força.
Tive a impressão de que ela me apertava, como o fizera horas antes quando o
corpo do meu amigo pendia sobre o abismo. Mais do que isso. Tive a certeza que
desta vez ela não me largaria. Um frio, um frio de morte, um frio como nunca
sentira, subiu-me pela mão, pelo punho, pelo braço, entorpecendo-o... Eu
dissera que ele havia de ser vingado e o rictus
sardônico da boca parecia mais irônico ainda, a atestar que a vingança viria de
fato, — mas viria, não sobre o desgraçado que estava preso, viria sobre mim!
Tirei a mão num gesto um pouco brusco. Alguém a meu lado, um curioso que eu não
conhecia, e entrara ajudando a trazer o corpo, disse, tirando o relógio, e
falando a outro: — São onze e vinte. — Que me importava essa frase banal?
Todas
aquelas emoções me tinham alquebrado. Subi. Fui até à cama de minha filhinha. O
mesmo frio me entorpecia a mão e o braço: parecia carregar um braço de mármore,
pesado e gélido. Quando me sentei à beira da cama de Kate, ela dormia um sono
de anjo; seu rosto corado e mimoso, enquadrado na moldura dos longos cabelos
louros, tinha uma expressão serena e risonha. Uma camisinha branca, bordada com
folhos de rendas enfiados por fitinhas verde-claras, fechava-se no seu pescoço
delicado, nos seus punhos gentis. Uma de suas mãozinhas, que estava do lado de
fora meio fechada, parecia um lírio em botão, caído ali, pequenino e mimoso.
Mão bendita,
mão de minha filha... Foi quando a tomei na minha que para logo o frio se
dissipou e a vida me voltou... Pensei dentro de mim: ela me perdoa, porque vê
que eu sou criminoso por sua causa. Mas imediatamente outro pensamento
protestou, indignado: Vil! não atribuas a tua filha pensamentos torpes! Se ela
soubesse, se compreendesse o que tu fizeste, ela te reprovaria... Essa mão
pequenina nunca se furtaria como a tua a retirar qualquer homem de um abismo...
Se a salvação te vem dela, é que a sua bondade salva até mesmo os miseráveis
como tu! Acolhe-te a ela e beija-a contrito, com teus lábios impuros, como se
beija um coisa sagrada!
Baixei a
cabeça, a chorar, a chorar como um doido. Houve um momento em que Kate acordou.
Devia estar em meio de sonho... Disse, sorrindo, em parte reconhecendo-me, em
parte continuando a sonhar: Ih! papai! a cabritinha... Desprendeu a mão, passou
o bracinho em volta do meu pescoço, chegando à sua a minha cabeça e, com a
facilidade que as crianças têm em ir da vigília ao sono, fechou imediatamente
as pálpebras e continuou a ver a cabritinha dos seus sonhos... Eu fiquei com a
cabeça junto da sua. Aos poucos venceu-me a fadiga e adormeci.
Jorge parou
um pouco nesse momento. Eu continuava de cabeça baixa, olhando para os novelos
brancos que a espuma fazia e desfazia na esteira do navio.
Até então,
meu companheiro tinha desenrolado a sua narração em voz baixa, mas com uma
rapidez extraordinária. As frases saíam-lhe aos arrancos: frases curtas, incisivas,
destacadas. Parecia não guardar consciência da minha presença e estar fazendo
um grande monólogo. Curvado a meu lado, apoiando os braços cruzados sobre a
amurada, ficara tão perfeitamente imóvel como eu. Só os lábios deviam
agitar-se.
Quando
parou, pareceu lembrar-se da minha presença:
Oh! eu estou
descendo a detalhes inúteis, estou a importuná-lo. Mas há três anos que eu
trago comigo este segredo horrível. Não há ninguém, absolutamente ninguém que
suspeite a sua existência. Não se passa, entretanto, uma só noite em que eu não
reviva toda esta história, cena por cena, minúcia por minúcia. Já agora
perdoe-me por mais algum tempo e ouça a explicação do que viu esta noite. O que
resta é muito pouco.
Eu
permanecia imóvel, impassível, sem a menor mudança de atitude. Não sabia bem se
devia ou não continuar a ouvir essa confissão. Estava irritado com aquele
desconhecido, que abusando da simpatia que me inspirara, certo que eu saberia,
custasse o que custasse, guardar o seu segredo vinha confiar-mo para que de ora
em diante eu trouxesse mais esse peso na consciência. Mas enquanto eu hesitava,
ele retomou a palavra:
Nataniel foi
enterrado sumptuosamente. A família agradeceu comovida, os extremos de caridade
que eu tivera com ele. O suposto assassino foi condenado a trabalhos forçados
por toda a vida... Em vão ele alegou que jogara ao rio um relógio de prata que
furtara a um operário. Ninguém o acreditou...
Quando Jorge
disse isto, eu devo ter tido um movimento, uma expressão qualquer inconsciente
de surpresa e de indignação. Devo ter tido, porque ele me respondeu:
Não me
condene! Eu senti desejos de salvar esse homem, de levantar dúvidas sobre a sua
culpabilidade. Vi, porém, que por um lado era inútil, por outro perigoso.
Inútil — porque a convicção geral se tinha firmado de tal maneira que ninguém
me acreditaria; perigoso — porque eu só poderia inocentá-lo, acusando-me. Era o
que eu devia ter feito, mas faltou-me a coragem — não pela pena, porque o pobre
diabo, nas galés onde está, tem sofrido menos do que eu — mas pela separação de
minha filha, de quem eu teria de me afastar. Eu provarei gostosamente as mais
cruéis torturas, contanto que me furte a essa!
Fez uma
pausa. A narração começava a impacientar-me. Tinha vontade que pusesse termo a
ela.
Na noite
seguinte à da morte de Nataniel eu estava na sala da minha biblioteca, sozinho,
fumando e cismando, quando de repente senti uma constrição singular na minha
mão e um frio, o mesmo frio da véspera. Era absolutamente o mesmo aperto, o
mesmo shake-hands com que Nataniel me
segurara no dia anterior. Mas desta vez pareceu-me que a mão invisível, a mão
de gelo puxava-me para a janela aberta, como se me quisesse fazer saltar por
ela; e isso seria a morte. Fiz força na cadeira lutando como alguém que não
quer ser arrastado por outrem que o esteja atraindo e sacudi o braço, para
desentorpecê-lo! O frio era cada vez maior. A força oculta buscava levar-me com
uma energia imensa. Neste momento, levantei os olhos e notei, olhando para o
relógio que me ficava fronteiro, que eram onze horas e vinte minutos. Começava
a fraquear, sentia que ela podia mais do que eu, que dentro em pouco teria de
ser vencido.
Da mão
glacial eu tinha a sensação nítida, tanto da palma junto à minha palma, como
dos dedos cingindo-me com um esforço desesperado.
Do meu
gabinete passa-se diretamente para o quarto de Kate. Lembrei-me do que sucedera
no dia anterior e pensei em ir para o seu lado. Receava, porém, levantar-me.
Era, entretanto, o único recurso. Pus-me de pé. Começou então uma luta medonha
entre mim e a força misteriosa. Como eu deveria parecer ridículo a quem me
visse — a mim — um homem ativo e forte, debatendo-me no meio da vasta sala
deserta, contra um vago espectro que ninguém conseguiria distinguir. E todavia,
como era pavoroso! Também eu não enxergava o espectro — se espectro havia — mas
sentia perfeitamente aquela mão robusta e gélida que procurava levar-me para a
voragem. Eu tinha dito hipocritamente: Nataniel, meu amigo, tu serás vingado!
Pois bem: era a vingança que vinha — não a que devia recair sobre um inocente,
mas a que vinha ferir o verdadeiro culpado!
Afinal, pude
chegar junto à cama de minha Kate, pude a muito custo tomar sua mãozinha. Mal
eu consegui tocar nela, a mão misteriosa e daninha pareceu sumir-se, desfazer-se,
e a vida e o calor voltaram-me ao braço. — Kate, minha Kate, então, como
sempre, tu foste o meu anjo bom, a minha salvação.
Jorge disse
isto com um tom de tão íntima dor, de tão profunda comoção, que eu me senti
dominado pela evocação dessa criança loura e pequenina, dessa mimosa filhinha
cujo contato era um exorcismo bastante, até mesmo na sombra e no mistério,
contra as agressões do Invisível.
Jorge
continuou:
Desde então,
todas as noites, quando se aproximava a hora fatal, eu ia tomar na minha a mão
de Kate. Que o não fizesse e sentia logo a Presença Invisível, rondando em
torno de mim; a mão de gelo estendia-se na sombra para atrair-me e
imediatamente para evitá-la, eu era forçado a buscar o contato de minha
filhinha.
Sempre que
ele aludia a Kate, sentia-se vibrar na sua voz uma ternura infinita.
Há três anos
que isto dura. Esta foi a minha primeira noite em que dormi longe de minha
filha. A viagem que estou empreendendo era inadiável. Tive de deixar Kate.
Procurei raciocinar e convenci-me que esse fato, essa coincidência das onze e
vinte era apenas uma alucinação. Se, de fato, há uma vida além desta, se há uma
eternidade de sofrimentos, quem nos viria disputar alguns minutos de existência
aqui? A eternidade não bastaria para satisfazer as piores vinganças? Fosse como
fosse, esta noite, eu acabava de adormecer quando acordei puxado por alguém:
era a mão de morte, a mão de gelo que me atraía com força. Foi então que eu o
acordei. Viu a força desesperada que ela fazia? É sempre assim! Felizmente ao
cabo de quarenta minutos, quando deu meia-noite, pareceu-me sentir que a
Inimiga se tinha fatigado; pude deitar-me; mas não consegui conciliar o sono.
Que vai ser de mim esta noite?! Sinto que não o posso importunar mais. Já pedi
ao comandante um camarote à parte. Deus me proteja! Minha Kate! Minha Kate!...
E o
desgraçado começou a soluçar com o rosto nas mãos, chorando como uma criança.
Quis
consolá-lo; mas não achei uma palavra para isso. Logo, a meus olhos duas visões
surgiram: a de Nataniel, estendido no seu caixão, lívido e morto e a de um
mísero vagabundo, que estava a essas horas num cárcere da Escócia, condenado e
inocente.
Ficáramos
assim naquela situação embaraçosa, quando o comandante, que andava procurando
Jorge, para escolher com ele o novo camarote, veio chamá-lo.
Enxugou os
olhos, procurou compor a fisionomia e seguiu. Nunca mais o vi.
— Nunca
mais?
— Nunca
mais. Pouco depois de me deitar, nessa noite, senti um reboliço enorme a bordo.
O vapor tinha parado. Vesti-me às pressas e subi ao tombadilho. Alguém tinha
caído ao mar. Era Jorge. Um marinheiro o vira aproximar-se da amurada, lutando,
aos arrancos. Pensara porém que ele ia vomitar, nauseado pelos balanços do
navio. A ocorrência era tão frequente, que não incomodava ninguém. Chegado,
porém, à amurada, ele se atirara ao mar.
Puxei o
relógio; eram onze e meia.
O caso
devia, portanto, ter ocorrido às onze e vinte.
Todas as
pesquisas para achar o corpo foram infrutíferas, embora o vapor tivesse ficado
imóvel até à manhã seguinte.
Mas na manhã
seguinte só se via céu e mar: nada mais...
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