1/21/2019

Temas Poéticos: MÃE - III


À minha mãe
A.      PRAXEDES LIMA
Recife, 1904.

Não raros na cabeça te aparecem
Argênteos fios, que mais bela a tornam,
E esses cabelos brancos que te adornam
Todo o meu culto e o amor merecem.

À medida que as rosas se emurchecem
Da tua cútis, outras flores ornam
A tua alma gentil e em ti entornam
Raros perfumes que minh'alma descem.

Em vão o tempo, a desventura, a sorte
E dos males a intérmina coorte
Lutem contigo, minha terna santa.

Em vão! Encaras tudo frente a frente;
E uma alergia sempre renascente
Dentro do coração palpita e canta.

***

Partida

SILVA BRAGA
São Paulo, 1905.

Parto, levando o peito esfacelado
Pelo cruciante espinho da saudade;
Ao deixar minha mãe e o ninho amado
Eu deixo a vida, a fé, a mocidade!

Nauta sem norte, em meio à imensidade
Do mar da vida — pélago insondado,
Tenho por leme a meiga claridade
Do olhar de minha mãe, doce, abençoado.

A madrugada em festa, alegremente,
Saúda o sol, que além vem despontando;
Gorjeia o passaredo folgazão.

E eu, estrada em fora, tristemente,
As minhas mágoas, triste, vou chorando,
Porque parto deixando o coração!

***

Ilusão divina
(À memoria idolatrada de minha mãe)

ZILDA GAMA
29/11/1902.

Não, minha Mãe, tu não me abandonaste
Qual uma ave que o seio balearam
E ao ninho seu não volta!
Eu te sinto ao meu lado, boa e terna,
Qual um Anjo da Guarda — protetor,
Enflorado de bênçãos e carinhos
Iluminando as sombras de minh'alma...
E, quando minha fronte cismadora
Pende, e meus olhos lágrimas destilam:
Eu sinto a pluma albente de tua asa
— Como um pálio de gaze rociada —
Adejar-lhe, de leve,
Extinguindo-lhe as pérolas de fogo!

***

Saudade eterna
(A memória de minha mãe Ana Santos)

ERNANI DOS SANTOS
Rio de Janeiro, 1905.

Deixai da dor vibrar sentida corda
Para exprimir o luto ardente d'alma!
E que entre os mortos busque a doce calma
O lenitivo o pranto que a transborda!

Tombou no leito frio, aonde eu via,
Mãe desvelada, amante e carinhosa,
De cuja boca ouvia a voz morosa
E em cujo colo, rindo, adormecia!

Tombou para sempre lá no seio eterno
Onde o destino impele atroz, fatal!
A morte vil roubou-lhe o viço externo
Para lhe dar o gelo sepulcral.

Já que a tristeza o peito meu definha,
Lembrança amarga meu viver consterna,
Deixai que inscreva sobre a mente minha
O preito inteiro da saudade eterna.

***

Mãe
(A João Guimarães Salgado)

FAGUNDES FILHO
Mendes, 1905.

Quem já não tem esse carinho santo,
Quem vive só, sem afeição sincera,
Quem não tem mais esse divino encanto,
Quem não tem mais, e tê-la quem me dera!

Enfim, quem não tem mais esse ente amigo
Tesouro que possui a natureza,
Mudado traz o peito num jazigo
E o Coração em esquife de tristeza.

Assim, quem não recebe mais, risonho
A essência pura dessa flor seleta,
Da vida tão somente tem um sonho,
É um ente que não vive, mas vegeta.


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