12/02/2019

A poesia de Adélia Josefina de Castro



A poesia de Adélia Josefina de Castro

Se é verdade, inconteste mesmo, que todos nós temos sensibilidade suscetível de receber as projeções quase que divinais do amor, desse mesmo amor que desce do céu para tornar sublimes as coisas da terra, é fora de dúvida que, a muitos poucos, no seio da grande comunidade humana, são ofertadas as possibilidades de estereotipar com os recursos da palavra, da cor, da forma ou do som, o que de grandioso representa esse amor quando vitaliza a nossa psique.

Esses poucos são exatamente aqueles que sabem o que pode fazer a tradução desses sentimentos, projetando-os no poema, no quadro, na estátua e na melodia.

Dona Adélia Josefina de Castro Fonseca encontra-se precisamente no grupo daqueles que sabem descrever com segurança tudo aquilo que sentem, lançando mão da palavra escrita. Não se trata de um agrupamento de palavras, subordinando-as às regras gramaticais, e sei de um ajustamento rítmico de palavras aos serviços de uma exposição, seguindo no mesmo passo às várias nuanças das belezas que se não veem porque se sentem apenas. A saudade é bem uma destas belezas. Ninguém a ver, não nos consta que tenha sido vista por pessoa alguma e, entretanto, não há mortal que não a tenha sentido. Dona Adélia Josefina foi envolvida por este sentimento exatamente quando seu marido teve que se afastar para plagas distantes. Qualquer um de nós, desde que fosse feliz na vida conjugal, teria sentido a mesma coisa; narrá-lo, entretanto, é que não é fácil; fazê-lo em bons versos, ainda é mais difícil. Dona Adélia consegue fazê-lo em uma poesia que, pertencendo ao foro íntimo, passou para o acervo das letras poéticas nacionais.

Essa nossa ilustre patrícia pode e deve estar classificada entre as mulheres intelectuais de nossa terra que viveram do verso para o verso. Seu livro "Ecos de Minha Alma", revela-nos a presença de uma poetisa que, subordinada às regras técnicas, não se escravizavam tanto a essas mesmas regras, a ponto de sacrificar a espontaneidade, a fluência e a pureza do seu pensamento. Pedindo auxílio aos sonhos, subia por vezes aos páramos do irreal. Não fazia, entretanto, a ponto de perder o contato com as realidades da vida. 

Em Dona Adélia Josefina nós apreciamos a verdadeira artista da palavra. Para fazermos um julgamento do valor de sua produção, não se torna necessária a consulta de toda a sua obra, tanto a de "Ecos de Minha Alma", editada em 1866, quanto a de outras obras e poesias esparsas publicadas nos mais variados jornais e nas mais diversas revistas. Basta, para uma apreciação de tal espécie, a simples leitura de um soneto como aquele que se referiu a Luís de Camões no transcurso de mais um ciclo centenário do grande modelador da poesia clássica em língua portuguesa.

Capistrano de Abreu foi casado com uma filha de D. Josefina de Castro Fonseca.

O tempo geralmente impiedoso no alquebrantamento de nossas forças, arreceou-se de investir contra a nossa grande poetisa, cuja obra se estende sobre duas metades de dois séculos. Afirmamo-lo porque em 1921, aos noventa e quatro anos, vem a falecer no Rio de janeiro aquela que, em pleno fragor da Guerra do Paraguai, ofertou às populações ledoras um livro que muito confortou aos que seguiram para os embates da luta.

Noventa e quatro viveu ela, estamos certos que o sonho, intimamente ligado à fantasia, a teria feito viver outros tantos se  assim ela o desejasse. Ela não o quis, todavia. Os céus a chamavam e a terra lhe afirmava a perpetuidade de seu nome na plasmação positiva de sua obra notável.

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