1/14/2023

As Três Idades (Conto), de Cândida Fortes


 As Três Idades

À sombra dos camboins em flor, onde esvoaçam os insetos como irrequieta poeira multicor, Mimi, a galante Mimi, atirou-se ofegante de cansaço, deixando transbordar do vestidinho regaçado os louros malmequeres colhidos na campina.

Uma alegria infinita lhe brilha nos grandes olhos negros e desabrocha-lhe nos lábios o mais encantador dos sorrisos infantis.

Oh! os malmequeres! Ela adora loucamente essas florinhas cor de ouro, que lhe parecem estrelas caídas do céu.

Como é bom tê-los tantos assim e poder brincar com eles à vontade!

E no imenso prazer que lhe enche a alma travessa, que lhe dilata o pequenino coração, Mimi desfolha nervosamente no regaço os seus belos malmequeres. Nenhum mais resta inteiro e Mimi, extasiada, contempla a sua obra de destruição com indizível contentamento.

Por detrás dela, em pé, a mãe, a extremosa mãe, que toda solicitude a observa com um sorriso cheio de bondade, murmura erguendo os olhos para o céu:

— Oh! meu Deus, como a inocência é má!

***

À sombra dos camboins em flor, onde os insetos esvoaçam como irrequieta poeira multicor, Mimi, a esplêndida Mimi, lança-se exausta de fadiga, deixando transbordar do regaço uma nuvem de malmequeres.

Um fulgor divino brilha-lhe nos grandes olhos negros e entreabre-lhe os lábios nacarados no mais indefinível dos sorrisos.

Oh! os malmequeres! Ela adora loucamente essas florinhas cor de ouro, que lhe dizem coisas deliciosamente belas. E, no imenso prazer que lhe inebria a alma enamorada e lhe faz palpitar apressado o coração, Mimi desfolha nervosamente no regaço os feiticeiros malmequeres.

Ei-los desfeitos, dizendo-lhe todos o mesmo precioso segredo. E Mimi, extasiada, contempla a sua obra de destruição com místico encantamento.

Mas a mãe, que junto dela assoma, naquele mesmo sorriso cheio de bondade, postos no céu os olhos, exclama:

— Oh! Deus, como o amor é egoísta!

***

Mimi declina no ocaso da vida.

Ei-la tristemente reclinada à sombra dos camboins em frutos, onde esvoaçam os insetos como iriada nuvem a envolvê-lo.

Uma linda criança corre pela campina em busca dos malmequeres cor de ouro.

Mimi, impaciente, chama a filha e prende-a junto a si.

E a mãe, aquela boa e solícita mãe que não a deixa nunca, suspira com mágoa aos soluços da criança e murmura, ainda para o céu erguendo os olhos quase sem luz:

— Oh! Senhor, como é cruel a experiência!

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