2/27/2023

Kiriale (Poesia), de Alphonsus Guimaraens


KYRIALE


INITIUM
(Ao meu primo Horácio Bernardo Guimarães)

Tanta agonia, dores sem causa,
E o olhar num céu invisível posto...
Prantos que tombam sem uma pausa.
Risos que não chegam mais ao rosto...

Noites passadas de olhos abertos.
Sem nada ver, sem falar, tão mudo...
Alguém que chega, passos incertos.
Alguém que foge, e silêncio em tudo...

Só, perseguido de sombras mortas.
De espectros negros que são tão altos.
Ouvindo múmias forçar as portas,
E esqueletos que me dão assaltos...

Só, na geena deste meu quarto
Cheio de rezas e de luxúria...
Alguém que geme, dores de parto,
— Satã que faz nascer uma fúria...

E ela que vem sobre mim, de braços
Escancarados, a agitar as tetas...
E nuvens de anjos pelos espaços.
Anjos estranhos com as asas pretas...

E o inferno em tudo, por tudo o abismo
Em que se me vai toda a coragem...
“Santa Maria, dá-me o exorcismo
Do teu sorriso, da tua imagem!”
E os pesadelos fogem agora...
Talvez me escute quem se levanta:
É a lua... e a lua é Nossa Senhora,
São dela aquelas cores de Santa!

 

A CABEÇA DO CORVO
(Ao Dr. Edmundo Luís)

Na mesa, quando em meio à noite lenta
Escrevo antes que o sono me adormeça,
Tenho o negro tinteiro que a cabeça
De um corvo representa.

A contemplá-lo mudamente fico
E numa dor atroz mais me concentro:
E entreabrindo-lhe o grande e fino bico,
Meto-lhe a pena pela goela a dentro.

E solitariamente, pouco a pouco,
Do bojo tiro a pena, rasa em tinta...
E a minha mão, que treme toda, pinta
Versos próprios de um louco.

E o aberto olhar vidrado da funesta
Ave que representa o meu tinteiro,
Vai-me seguindo a mão, que corre lesta.
Toda a tremer pelo papel inteiro.

Dizem-me todos que atirar eu devo
Trevas em fora este agourento corvo,
Pois dele sangra o desespero torvo
Destes versos que escrevo. 
 

O CACHIMBO
(A Joaquim Soares Maciel Júnior)

Uma visão do tenebroso Limbo.
Soturna e sepulcral, tens a teu lado:
Por um artista foi este cachimbo
À feição de caveira burilado.

Vê tu, formosa, é um crânio em miniatura
Onde tua caveira vou revendo:
O vazio das órbitas fulgura,
Sinistramente, quando à noite o acendo.

E às vezes, quando o eterno ideal me abrasa
O crânio, no cachimbo os olhos ponho:
Há também dentro dele fogo e brasa,
Sobe o fumo e desfaz-se como um sonho.

E quando à noite o acendo, a sua boca
Transparente e magoada se clareia:
E ri-se, e eu rio ao vê-la, aberta e louca,
Toda de beijos e de afagos cheia.

 

O LEITO

Ontem, à meia-noite, estando junto
A uma igreja, lembrei-me de ter visto
Um velho que levava às costas isto:
Um caixão de defunto.

O caso nada tem de extraordinário.
Que um velho a levar um caixão tal
Inda não viu? É um fato quase diário
Em qualquer bairro de uma capital.

Mas é que ia de modo tal curvado
Para o chão, e ao falar tão baixo e tanto,
Que, manso e manso, e trêmulo de espanto,
Fui seguindo a seu lado.

Disse-lhe assim: "Talvez seja a demência
Que guie os passos todos que tu dês;
Ou és então, na mísera existência,
Um miserável bêbado talvez."

O olhar fito no chão, como desfeito
Em sangue, o velho, sem me olhar, seguia.
E ouvi-lhe a única frase que dizia:
— "Vou levando meu leito." 
 

LUAR SOBRE A CRUZ DA TUA COVA

Sonhei que estava no eremitério,
Rezando sempre rezas de cor, 
E como o luar clareasse o chão do cemitério, 
Pensei num mundo que é talvez melhor.

Branca de linho como um fantasma,
A torre grande era só tristeza.
E como envolta em luar, muito magoada e pasma.
Estava ao longe não sei que Princesa.

Era talvez a Desesperança,
Com o seu cortejo de sonhos maus.
(Demônios, dai começo à vossa contradança.
Vinde cantar os lânguidos solaus!)

“Certo o coração de tudo esquece,
Quando muitos anos são passados...”
E eu não te esqueço mais, alma da minha prece,
Que voaste para os mundos encantados!

“Eu sei que o amor sempre se renova,
E que ninguém pode viver só...”
E como o luar clareasse a cruz da tu a cova,
Vi o meu sonho transformado em pó.

 

O LAGO

Não sei que vento mau turvou de todo o lago.

Como a capa de luz da Senhora, das Dores,
Ele era azul e tinha estrelas... e o tom vago
Dos olhos cheios de celestes resplendores.

Ele era todo azul como o sonho de um Mago,
Como a capa de luz da Senhora das Dores.

Em tempo algum, que alguém soubesse, escurecera
Ali: se o ocaso vinha, o luar, logo, estendia
Toalhas de neve e celestiais mantos de cera...
Tudo era branco de um alvor de eucaristia.

Anjos pairavam , de asas pandas, sobre o lago.

Já não é mais assim. A dor os ares corta,
E enche de sangue e luto o horizonte pressago.
Soluça por ali a voz da pobre Morta...

No alto do monte, altivo como um Condestável,
Um cavaleiro reza orações. Noite calma.
Sem luar, deixando em tudo um tédio inolvidável...

Não sei que vento mau turvou toda a minha alma.

 

SETE DAMAS

Sete Damas por mim passaram.
E todas sete me beijaram.

E quer eu queira quer não queira.
Elas vêm cada sexta-feira.

Sei que plantaram sete ciprestes.
Nas remotas solidões agrestes.

Deixaram-me como um mendigo…
Se elas vão acabar comigo!

Todas, rezando os sete Salmos.
No chão cavaram sete palmos.

E era para este lugar que eu vinha...
Meu Deus, se esta sepultura é a minha!


Como os meus olhos estão cansados.
Sete pecados, sete pecados!

 

PRESSÁGIOS

“Um esqueleto de mantilha
Que passa pela minha porta...
(Um velho diz) é minha filha
Que vai morrer ou que está morta!”

“Um esqueleto agonizante
Que passa pela minha porta...
(Um moço diz) é minha amante
Que vai morrer ou que está morta!”

Outro dirá: “É meu presságio,
Vendo-o que passa pela porta,
O irmão que morre num naufrágio,
Ou a irmã querida que está morta!”

Outro: “Se és tu, meu pobre amigo,
Que passas pela minha porta!”
“Se és tu, meu pai, eu vou contigo...
Se é minha mãe, oh Deus, que é morta!

Nenhum de nós, porém , ao vê-lo
(Quem se não julga rijo e forte?)
Dirá que o horrendo pesadelo
Nos anuncia a própria morte...

 

MEIA-NOITE
(A Augusto de Viana do Castelo)

Cheguei à meia-noite em ponto.
O caso deu-se como eu conto,
Cheio de lúgubre mistério...
Pois ela disse: “Ao cemitério
Vamos à meia-noite em ponto.”

E eu respondi-lhe: “Conto, conto
Contigo à meia-noite em ponto.”

Como eu sabia, ela outro amante
Tivera em tempo não distante.
Era já morto: eu uma esposa
Tinha também sob uma lousa.
E ela sabia dessa amante.

Jaziam, um do outro distante,
O amante dela e a minha amante.

Bem não chegamos, os ciprestes
Agitaram as verdes vestes
Como arrojando-se de bruços...
Que ais de tristeza e que soluços
Gemeram tão verdes ciprestes.

Gemia o vento pelas vestes
Verdes dos vírides ciprestes.

Paramos de repente à porta:
Eu era um morto, ela uma morta
Tal foi a cena branca e nua
Que nós, clareados pela lua,
Olhamos bem ao pé da porta.

Eu era um morto, ela uma morta.
Sem movimento junto à porta.

Diante de nós, em frente, diante,
O amante dela e a minha amante,
Espectros vis num mesmo quadro,
Vinham vagar, hirtos, pelo adro,
Diante de nós, em frente, diante..

O amante dela e a minha amante
Riram, passando para diante.

 

CANÇÃO

Eu cantei como vós, oh trovadores,
E ninguém quis ouvir os meus amores.

Cantei meus versos junto às morenas,
Riram-se todas das minhas penas.

E junto às loiras, dias inteiros,
Cantei meus sonhos aventureiros.
(Riram-se todas, dias inteiros.
Desses meus sonhos aventureiros).

Sabia trovas de montanheses.
Cauções longínquas dos Portugueses.

Perdi-me em sonhos por sobre os mares...
Ninguém quis ouvir os meus cantares.

(Riram-se todas, dias inteiros,
Desses meus sonhos aventureiros).

Na tua cova só tu me ouviste...
Quem sabe lá se também te riste!

 

OCASO
(Impressões de véspera de finados)

Perdido como estou nesta grande charneca,
Cheio de sede, cheio de fome,
Disse-se Deus: “Sê bom!” E o Diabo diz-me: “Peca!”
E os anjos e demônios repetem o meu nome.

O cemitério está, nas glórias deste ocaso,
Cheio de leitos como um hospital.
Eu sonho que estou morto e sonho que me caso…
Vou vestido de noivo e coberto de cal.

Eis o que vejo além nas glórias deste ocaso:

Mulheres velhas e mulheres novas,
Homens e crianças vão levando flores.
Não há coroas para tantas covas,
E nem pranto para tantas dores.

Se este padre vai para o meu enterro,
Deixai-o caminhar bem devagar.
O cemitério está no alto daquele cerro…
Que ele não possa, ó Deus, nunca mais lá chegar!

Se este carpinteiro que me segue,
Apronta as tábuas do meu caixão,
Fazei, Senhor me Deus, como que ele cegue
Antes de aprontar meu caixão.

Se estes senhores de tão negras calças
E de sobrecasacas tão modernas,
Querem pegar, tristíssimos, nas alças
(Pois se olham de tal modo quando eu passo),
Fazei, Senhor Meu Deus, como que suas pernas
Não possam dar mais passo.

(Alguém agita sudários no poente).

Se este coveiro agora mesmo
Cavava minha cova inexistente,
Cantando e soluçando,
Fazei, Senhor meu Deus, com que ele agora mesmo
Caia na cova que está cavando.

Se a costureira que ali trabalha,
Em vez de camisa de noivado,
Vem oferecer-me esta mortalha,
Que ela não tenha, ó Deus, no leito em que repousa,
Nem a camisa branca do noivado,
Nem um noivo que a queira por esposa.
Se estes sinos vão dobrar por mim,
Se este é o momento do meu enterro,
Fiquem os sinos a esperar por mim…
Que eu nunca alcance, ó Deus, o alto daquele cerro!

 

SAUDADE

Uma mulher que por amar soluça,
Na torre da minha alma se debruça.

E despenha-se o luar na encosta do monte,
Tranquilamente, como uma fonte.

Dois ou três demônios familiares
Passam cantando, para voar logo após pelos ares.

E despenha-se o luar pela encosta do monte.
O monte fica defronte
Da torre da minha alma onde soluça
Essa mulher: e quando o sol entre as nuvens se embuça,
Nas horas mortas dos crepúsculos tão vagos,
De azul, vestida como o céu, como o céu misteriosa,
Ela abre os olhos imortais, como dois lagos...
Virgem Piedosa!
E os sonhos passam, cisnes que não cantam mais,
No infinito dos seus olhos imortais,
Abertos para a eternidade...

Pobre mulher, pobre Saudade!



O CAMPANÁRIO
(A Augusto Inácio de Araújo Lima)

No campanário, ao sol incerto, 
Não há sineiros nem há sinos
Se alguém morrer aqui por perto, 
Não terá dobres vespertinos, 
Lamento de almas no deserto.

Já não lia sinos nem sineiros
No campanário em abandono...
Bastam, talvez, os carpinteiros 
A trabalhar dias inteiros, 
Dando leitos, a quem tem sono. 

Nenhuma cruz, abrindo os braços, 
Vela por quem já não existe
No chão pisado não há traços 
De joelhos, mas somente passos
Indiferentes de algum triste.

Junto deste caixão informe 
Ninguém reza de joelhos juntos... 
Basta, talvez, a cova enorme 
Para abrigar o homem que dorme
No campo-santo dos defuntos.

Só, na Capela entristecida,
Que dorme sobre a encosta agreste, 
Nossa Senhora, a Dolorida,
Vem apontar-nos a outra vida, 
Olhando o Céu com o olhar celeste.

E no Altar-mor, cheio de palmas, 
No claro-escuro de um sol-posto, 
Nosso Senhor recebe as almas, 
Abrindo as pálpebras tão calmas
Por entre as chagas do seu rosto. 

No seu olhar de Abandonado, 
Pois a Capela está vazia, 
Fulgura o humano luar sagrado
Que arranca os homens do pecado
E de Jesus nos faz um dia.

Já não há sinos nem sineiros
No campanário cm abandono ... 
E sob a sombra dos salgueiros 
File aparece nos outeiros
Como um solar que não tem dono.

Ah! como é triste, ao sol incerto, 
Longe da voz santa dos sinos... 
Para guiar-nos ao céu aberto
Já não tem dobres vespertinos 
O campanário do deserto.

 

LADAINHA DOS QUATRO SANTOS

Santa Maria, Mãe de Jesus,
Que com as asas protetoras cobres
Os que têm frio, rotos e nus,
Ora-pro-nóbis.

Santo José, pobre carpinteiro,
Que eras tão pobre entre os que eram pobres,
De enxó na mão, Santo verdadeiro
Ora-pro-nóbis.

Santo Jesus, meu bom Protetor,
Que nos teus grandes olhos encobres
O céu, Cordeiro e também Pastor,
Ora-pro-nóbis.

Santa Morte, afinal, cujo nome,
Ouvido aos sons dos últimos dobres,
Será o consolo dos que têm fome
Ora-pro-nóbis.

 

NÁUFRAGO

E temo, e temo tudo, e nem sei o que temo.
Perde-se o meu olhar pelas trevas sem fim.
Medonha é a escuridão do céu, de extremo a extremo...
De que noite sem luar, mísero e triste, vim?

Amedronta-me a terra, e se a contemplo, tremo.
Que mistério fatal corveja sobre mim?
E ao sentir-me no horror do caos, como um blasfemo,
Não sei por que padeço, e choro, e anseio assim.

A saudade tirita aos meus pés: vai deixando
Atrás de si a mágoa e o sonho... E eu, miserando,
Caminho para a morte alucinado e só.

O naufrágio, meu Deus! Sou um navio sem mastros.
Como custa a minha alma a transformar-se em astros,
Como este corpo custa a desfazer-se em pó!

 

POEIRAS MEDIEVAIS

E a furna absconsa ao pé de um tremedal tremendo.
Soluçam gênios maus numa região de peste.
Sem ar, sujeito ao som no insólito, distendo
Os nervos doentes. Passa arfante o vento leste.

Ah! se eu fosse coutar as mortas que estou vendo...
Um demônio latino anda em roda. Celeste
É a cor do manto azul de um feiticeiro horrendo.
Outro de cornos há que de rubro se veste.

Fidalgos tristes vêm afrontando perigos,
Alma que em frente ao céu desolado se ajoelha,
Grande olhar velador dos Cruzados antigos...

Ninguém verá jamais o caos de sangue e trevas
Onde estou, envolvido em mortalha vermelha,
Nas ruínas augurais destas poeiras medievas.

 

VISÃO DOS SOLITÁRIOS

Com a vasta escuridão do teu cabelo ensombras,
Se o destranças pelo ar, o próprio sol que bate
Nessa carne que tem a maciez das alfombras
Feitas de seda branca e veludo escarlate.

Não sei quem és e ao mesmo tempo assombras.
Alguma coisa de astro o teu sorriso dá-te…
Errante multidão de espectros e de sombras
Anda em redor de ti como para um combate.

Para quê, para quê tanta mágoa me deste?
Por que surgiste aqui, na minha noite espessa,
Tu, Rainha imortal de algum Sabá celeste?

Fantasma, és a Mulher! Levanta-te, Anjo eterno!
Ergue-te mais, e mais! Como a tua cabeça
Pode tocar o Céu, se tens os pés no Inferno?

 
VEDETA

Certo, eu vivo num mundo espiritual, postado
À beira de uma vil sepultura de gesso.
Sem que possa fugir, vejo a morte ao meu lado...
Que vale o pó (... foste mulher!) por que padeço?

Pobres restos mortais! (O lábio do pecado
Nunca beijou de leve o teu cabelo espesso...
O teu remoto olhar de Anjo Crucificado
Vem-me de longe despertar quando adormeço).

Parce sepultis, Deus dos eternos martírios!
Um coveiro, talvez, vendo a cova tão alta,
Fez o canteiro onde nós dois colhemos lírios.

Sei de um espectro que me diz quando se some:
— A quem guardas aí, Cavaleiro de Malta,
À beira deste Santo Sepulcro sem nome?

 

ESPÍRITO MAU
(A Coelho Neto)

Um espírito mau passa rezando ofícios
Na minha alma que está toda cercada de eças.
E patriarcas senis vêm mostrar-me cilícios,
Falam no Purgatório, e vão fugindo às pressas.

Feiticeiras que vendem virtudes e vícios,
Fadas que leem nas mãos as ignotas promessas.
Dizem que hei de sofrer sobre-humanos suplícios.
Satanases também dizem coisas como essas.

Espectros que têm voz, sombras que têm tristeza,
Perseguem-me: e acompanho os apagados traços
De semblantes que amei fora da natureza.

Vós haveis de fugir ao som de padre-nossos,
Frutos da carne infiel, seios, pernas e braços,
E vós, múmias de cal, dança macabra de ossos!

 

SUCUBUS

Às vezes, alta noite, ergo em meio da cama
O meu vulto de espectro, a alma em sangue, os cabelos
Hirtos, o torvo olhar como raso de lama,
Sob o tropel de um batalhão de pesadelos

Pelo meu corpo todo uma Fúria de chama
Enrosca-se, prendendo-o em satânicos elos:
– Vai-te Demônio encantador, Demônio ou Dama,
Loira Fidalga infiel dos infernais Castelos!

Como um danado em raiva horrenda, clamo e rujo:
Hausto por hausto aspiro um ar de enxofre: tento
Erguer a voz, e como um réptil escabujo.

– Quem quer que sejas, vai-te, ó tu que assim me assombras!
Acordo: o céu, lá fora, abre o olhar sonolento,
Cheio da compunção dos luares e das sombras.

 

SERPES

Tantas serpentes vi pelos meus calcanhares
Em rolos, e tal era a fúria dos seus botes,
E tantas rãs coaxando, e as vozes familiares
De outros muitos répteis a pular aos pinotes:

Tantos monstros, que enfim os meus rudes olhares
(Dizem que os Anjos têm os mais excelsos dotes).
Tiveram de rezar à som brados altares,
Suplicando a verdade à voz dos sacerdotes.

Eis-me esperando aqui os meus votos supremos:
Terão a treva ou a luz, o Inferno ou o Paraíso,
Os pobres olhos que não mais serão blasfemos?

Como é bom esperar a longínqua promessa
Que no dia final do tremendo Juízo
Há de ser tão maior por maior que se peça!

 

SPECTRUM

I
Vestido de ouro o Sol, bom padre, canta a missa
Da luz no altar do céu. Véus de celestes damas,
As nuvens voam: cantam pássaros: e viça
Mais do que nunca o olhar de Flora pelas ramas.

Entra o Espectro. Com voz soluçante e submissa
Murmuro-lhe:— “Por que, se és luz, se já não amas,
Atormentar-me assim? Não haverá justiça
Final no inferno, fogo eterno, eternas chamas?

Para que perseguir-me. Anjo tristonho? Espera.
Ou antes de noite vem, quando o remorso chora,
E o luto os olhos fecha à alma da primavera.”

— “Bem te deves lembrar: quando tu me esqueceste,
Brilhava o mesmo sol no mesmo céu de agora...
Bem te deves lembrar: foi um dia como este.”

II
E o Espectro, que era um anjo espiritual, esvoaça
Pelo ar tranquilo, e sobe ao céu. Noite silente.
Toda de branco, a lua, ancila triste, passa
Pelo mosteiro celestial, celestialmente.

Estrelas de um fulgor de diamantes sem jaça
Brilham na concha azul do céu de outubro quente.
Horas passam. De novo o Espectro vem.— “Por graça
Deixa-me em paz, deixa-me em paz eternamente.

Ou antes mais tarde vem, quando a treva de rastros
Envolve a terra, quando o céu negro recua
Para mais alto, e chora os semimortos astros.”

— “Quando eu morri, hora fatal, hora funesta,
Era uma noite assim, toda branca de lua...
Bem te deves lembrar; a noite era como esta.”

 

SANTO GRAAL

Se a tentação chegar, há de achar-me rezando
Na erma Tebaida do meu sonho solitário.
(Miséria humana, humano vício miserando,
Não haveis de poluir as hóstias no Sacrário..).

Se a tempestade vier, há de achar-me chorando,
E como dobrareis, sinos do Campanário!
Subirei à montanha eleita orando, orando...
(Não és tão longa assim, ladeira do Calvário!)

Se a tentação chegar, há de achar-me de joelhos
(Miséria humana, humanidade miseranda..).
Maldizendo a traição dos seus lábios vermelhos.

Se a tempestade vier, e eu cair, nesse dia
Piedosamente irei pela terra em demanda
De ti, ó Santo Graal, Vaso da Eucaristia!

 

RECORDANDO-SE

Aberta a pobre mão como a pedir a morte,
Olhos que vinham de mais longe que os poentes,
Ela surgiu-me branca e pura de tal sorte
Que vi passar por mim sombras inexistentes.

Gemei, gemei ao luar, vento sul, vento norte!
E com toda a fluidez dos seus olhos doentes,
Olhou-me calma e triste... (Oh pálida consorte,
Quem pudera chorar as saudades que sentes!)

Olhos não vistos, céu de nimbos, mar de escolhos,
Ela abaixou-vos para o chão com gesto brando,
Porque o céu ninguém pode abrangê-lo com os olhos.

Como quem se recorda olhou para os caminhos.
(Há tantos anos já que te vi soluçando
Aos pés do Senhor Bom Jesus de Matosinhos!)

 

POBRES SONHOS

Meus pobres sonhos que sonhei, já tão sonhados,
Que vento de desdita e de luto vos leva?
Que fúria sem pavor, sedenta de pecados,
Vos guia em turbilhões de poeira e de treva?

E quem vos faz errar sem crença, aniquilados
Por tal desesperança amargurada e seva,
Que vos vejo adejar, tantos anos passados.
No mesmo céu de sangue onde a morte se eleva...

Sonhos, nuvens do amor, espectros da saudade,
Se o desespero há de chegar um dia destes,
Oh dai-me fé, dai-me esperança e caridade.

E hei de ver-vos voltar, como as visões primeiras,
Meus pobres sonhos que no inferno vos perdestes,
Sob o clarão das três virtudes verdadeiras...

 

IN HOC SIGNO...

Bem me valeu rezar e ser humilde e justo,
E erguer ao céu piedoso os olhos compassivos:
O dragão que eu temia apareceu-me, o busto,
Fulvo, no resplendor dos clarões redivivos...

Tombei de joelhos, sem poder lutar, a custo,
Diante da luz de sete olhos contemplativos.
Brilhava um sol qualquer no imóvel céu adusto,
Como nunca se viu neste mundo de vivos.

E os sete olhos do monstro olhavam-me, esperando
Que a minha alma cedesse à torpeza sombria
Dos pecados mortais, cada qual mais nefando.

Silêncio e morte em que me vi! Sobressaltada
A minha alma acordou, e o dragão que eu temia,
Fugindo, ante o sinal da cruz desfez-se em nada...

 



ASCETAS

I
Ascetas imortais da Idade Média, os joelhos
Sangraram-vos de tanto orar: o olhar contrito,
Seguindo o olhar de Deus nos ocasos vermelhos,
Fugiu-vos para o céu, sedento de infinito.

As nuvens para vós eram como evangelhos.
Páginas onde a mão de Deus havia escrito.
E vós líeis por lá, ansiosos como os velhos,
O roteiro estelar de um destino bendito.

Se eu pudesse viver a vossa doce vida,
No mistério final de um mosteiro de treva,
Onde se ia apagar tanta alma dolorida...

Viver longe da carne ardente, da luxúria
Que para nos tentar em cada peito eleva.
Como frutos de luz, duas tetas de fúria!

II
Pudesse eu, pudesse eu viver acima disto,
Onde... não sei, e nem me importa a mim sabê-lo.
Em um lugar em que de ninguém fosse visto,
Envolta a fronte num fulgor de sete-estrelo.

E lá, junto a meu Pai celeste, ouvindo a Cristo,
Fonte de luz, feliz por tão de perto vê-lo,
Todo branco de luar, ser o filho bem quisto
A quem o pai afaga e beija-lhe o cabelo.

Viver em pleno mundo azul, longe do nível
Comum para quem é mortal, sempre ajoelhado,
Na santa comunhão de um amor impassível.

Ser um Eleito, bem longe da humana vida,
Ser o Cordeiro que vai ser sacrificado,
E vê na luz do céu a terra prometida.

 

MORS
(A Álvaro Viana)
Fica bem longe o meu principado,
Entre montanhas que não têm verdura.
(Meu dolorido coração, cuidado!
Há muito tempo o temporal perdura).

Vivo no meu castelo avassalado
A uma rainha sem formosura.
Tenho chorado, tenho soluçado,
Como vós mortais que a julgais impura.

Segue-me o Tédio, todo de preto...
E a sublime Rainha dá-me o braço,
Que é branco porque é braço de esqueleto,

— Mudai, Senhora, aprontar a eça...
(Oh chanceler sombrio do meu paço,
O cantochão dos sinos já começa).

 

SÃO BOM JESUS DE MATOSINHOS
(A José Severiano de Rezende)

São Bom Jesus de Matozinhos
Fez a Capela em que o adoramos
No meio de árvores e ramos
Para ficar perto dos ninhos.

É como a Igreja de uma aldeia,
Tão sossegada e tão singela…
As moças, quando a lua é cheia,
Sentam-se à porta da Capela.

Vai-se pela ladeira acima
Até chegar no alto do morro.
Tão longe… mas quem desanima
Se Ele é o Senhor do Bom-Socorro!

Tem tanto encanto a sua Igreja,
Paz que nos é tão familiar,
Que é impossível que se não seja
Um bom cristão em tal lugar.

Alegrias mais que terrestres
Murmuram hinos pelas naves.
No adro, quantas flores silvestres,
Nas torres, quantos voos de aves…

E atrás da Igreja o cemitério
Floresce cheio de jazigos.
Os próprios mortos, que mistério!
Vivem na paz de bons amigos.

Quando o Jubileu se aproxima,
Ai! quanta gente sobe o morro…
Tão longe… mas quem desanima
Se Ele é o Senhor do Bom-Socorro!

Velhas de oitenta anos contados
Querem vê-lo no seu altar,
Braços abertos, mas pregados,
Que nos não podem abraçar.

Entrevados de muitos anos,
Vão de rastros pelos caminhos
Olhar os olhos tão humanos
De Bom Jesus de Matozinhos.
Saem dos leitos, como de essas,
Espectros cheios de esperança,
E vão cumprir loucas promessas,
Pois de esperar a fé não cansa.

Vinde, leprosos do grande ermo,
Almas que estais dentro de lodos:
Que o Bom Jesus recebe a todos,
Ou seja o são ou seja enfermo.

Almas sem rumo como as vagas,
Vinde rezar, vinde rezar!
Se Ele também tem tantas chagas,
Como não há de vos curar…

Direis talvez: “Chegar lá em cima…
Antes de lá chegar eu morro!
Tão longe… “Mas quem desanima
Se Ele é o Senhor do Bom-Socorro!

Foi pelo meado de setembro,
No Jubileu, que eu vim amá-la.
Ainda com lágrimas relembro
Aqueles olhos cor de opala…

Era tarde. O sol no poente
Baixava lento. A noite vinha.
Ela tossia, estava doente…
Meu Deus, que olhar o que ela tinha!

Ela tossia. Pelos ninhos
Cantava a noite, toda luar.
S. Bom Jesus de Matozinhos
Olhava-a como que a chorar…

 

A CATEDRAL
(Lenda do báltico, transplantada para Portugal)

Ignota lenda astral da Bem-Aventurança,
Já não há sobre a terra o que eu chamo esperança.

José Severiano de Rezende

De mon espoir je suis la tombe...
Espoir! O tomebe de ma vie!

Jacques D'Avray

Dona Guiomar tombou de giolhos,
– Dobravam tôdolos sinos –
E no horizonte dos seus olhos
Dois Anjos cantaram hinos.

As mãos em cruz, a alma petrina
Suspendendo os alvos peitos...
Que amargura quase divina
Nos seus olhos contrafeitos!

Era no tempo em que a mourama
Dominava a Portugal.
Como rezaste, nobre Dama,
Nessa noite de Natal...

“Senhor meu Deus onipotente,
Ouvide a voz de uma louca...”
(Bem se via que uma alma crente
Te soluçava na boca).

“A Catedral que vos levanto
É feita de pedra e cal...
Senhor Deus, que eu exista enquanto
Existir a Catedral!”

Foram palavras céu arriba,
Clamaram no mar profundo...
Ouviu-las Deus, e um velho escriba
Anotou-as cá no mundo.

E mesterais dos mais valentes
Vão começando o trabalho:
Qual quebra as pedras em torrentes,
Qual as prepara com o malho.

Tamanho esforço sobre-humano
Põe de pé a Catedral,
E já passara mais um ano,
E outra noite de Natal.

Não têm mais conta os dobrões de oiro
Que a nobre Dama gastou na Igreja.
Fosse embora mais de um tesoiro,
Eis acabada a peleja.

Dona Guiomar está contente,
Toda ledice na face,
Por não morrer ri-se da gente...
Não houve quem lá invejasse.

Passaram muitos longos dias,
Meses, anos afinal.
Quantas pungentes agonias
Desde a noite de Natal!

E fica velha a nobre Dama, 
Toda cheia de cansaço...
Não se levanta mais da cama,
Nem pode dar mais um passo.

Lastima o tempo em que era forte,
Benfadada e benquerida.
Só reza agora, pede a morte,
Só por ter eterna vida.

Como o Senhor há de ouvi-la,
Se não tomba a Catedral?
– Dorme, Fidalga, bem tranquila,
Que não tem cura o teu mal.

E para ela um caixão foi feito:
E nele o corpo deitando,
Dona Guiomar, com as mãos ao peito,
Pôs-se esperando, esperando...

Séculos passam no infinito,
E ela está sempre deitada,
Sem um gemido, sem um grito,
Dos olhos fitos sem ver nada.

Junto à Dama quase-defunta
Reza um padre no Natal,
Dona Guiomar então pergunta
Se tombou a Catedral...

 


OSSA MEA

...Une pourpre s'apprete
A ne tendre royal que mou absent tombeau.

S. Mallarmé

I
Desesperanças! réquiem tumultuário
Na abandonada igreja sem altares...
A noite é branca, o esquife é solitário,
E a cova, ao longe, espreita os meus pesares.

Sinos que dobram, dobras de sudário!
No silêncio das noites tumulares
Há de surgir o espectro funerário,
Cujos olhos sem luz não têm olhares.

Santo alívio de paz, consolo pio,
Fonte clara no meio do deserto,
Manto que cobre aqueles que têm frio!

Eis-me esperando o derradeiro trono:
Que a morte vem de manso, em dia incerto,
E fecha os olhos dos que têm mais sono...

II
Mãos de finada, aquelas mãos de neve, 
De tons marfíneos, de ossatura rica. 
Pairando no ar, num -gesto brando e leve, 
Que parece ordenar mas que suplica... 

Erguem-se ao longe como se as eleve 
Alguém que ante os Altares sacrifica: 
Mãos que consagram, mãos que partem breve, 
Mas cuja sombra nos meus olhos fica... 

Mãos de esperança para as Almas loucas. 
Brumosas mãos que vêm brancas, distantes. 
Fechar ao mesmo tempo tantas bocas... 

Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas, 
Grandes, magoadas, pálidas, tateantes, 
Fechando os olhos das visões defuntas... 

III
Quero crer, olhos meus em penitência. 
Que na mágoa da eterna despedida 
Vos terei transformadas na áurea essência 
De dois astros de luz amortecida... 

Invocareis então a alta Clemência 

De Deus para a minha Alma dolorida. 
No instante em que eu, sublime de inocência, 
Murmurar-vos assim, deixando a vida: 

Olhos de olhar o mundo contristados, 
Eis-nos agora além, nesse mistério 
De epitálamos e de astrais noivados.... 

Vede bem que estes restos foram vossos: 
Iluminai, com resplendor funéreo, 
Em noite longa, a cinza dos meus ossos... 

IV 
Oh lábios que sereis de lodo e poeira. 
Que intangível desejo vos abate? 
Que ânsia suprema, na hora derradeira. 
Em silêncio vos livra esse combate? 

Quereis falar, e quietos sois: na inteira 
Mudez do coração que já não bate, 
Por debaixo de vós ri-se a caveira, 
Lábios que fostes chamas de escarlate. 


Se frios como neve estais agora, 
Com saudades dos beijos que não destes, 
Alegrai-vos na dor que vos descora.

Cerrai-vos para sempre em doce calma: 
Que os beijos dados, e ainda os mais celestes, 
Nunca deixam vestígios na nossa Alma. . . 

Braços abertos, uma Cruz... Basta isto, 
Meu Deus, na cova abandonada e estreita 
Onde repouse quem te for benquisto, 
Corpo de uma Alma que te seja afeita. 

É o Justo. As chagas celestiais de Cristo 
Beijam-lhe mãos e pés: purpúreo deita 
O pobre lado traspassado o misto 
De água e de sangue. É o Justo. Eis a Alma Eleita. 

A coroa de espinhos irrisória 
Magoa-lhe a cabeça, e pelas costas 
Cai-lhe o manto dos reis m plena glória...

Glória de escárnio o manto extraordinário: 
Mas quem me dera um dia, de mãos postas, 
Nele envolver-me como num sudário! 

VI 
Ah! tantas ilusões, para as perdermos, 
E os sonhos onde iremos enterrá-los! 
E sempre o luar na solidão sem termos, 
E estes corpos a encher covas e valos... 

Vamos rezar além, naqueles ermos. 
Quem poderá sofrer tantos abalos! 
Os pobres corações estão enfermos, 
E o consolo de Deus deve salvá-los. 

Tomba de joelhos, tu que não soubeste 
Gozar a paz que veio sobre as ondas
Da tua Alma ao clarão da noite agreste... 

Noivo da Morte em branca primavera, 
Se acaso tens um leito onde te escondas, 
Aperta a mão piedosa que te espera... 

VII 
Se eu procurasse a minha cova ausente. 
Bem pode ser à beira desta estrada 
Ante a minha Alma a visse de repente, 
Boca vazia ao luar escancarada... 

Mas nessa hora de horrores que pungente 
Espanto! Alma no amor crucificada, 
Branca, fugindo silenciosamente. 
Talvez que o teu olhar não visse nada. 

Tanto é certo, meu Deus, na vida impura 
Não podermos saber onde marcados 
Estão os palmos de cada sepultura... 

Pois, talvez, ao crepúsculo indeciso 
Que me encaminha os passos fatigados, 
Seja-me a cova o chão que agora piso...

 

DIES IRAE
(Sequência do Dia dos Finados)

Oh! Dia de ira, aquele dia!
Di-lo Davi, e a Pitonisa:
Revolve o mundo em cinza fria.

Mas que pavor haverá quando
Vier Aquele que pesquisa
As obras do homem miserando!

Pelas regiões do eterno sono
Soa a fatal tuba da Crença,
Reunindo a todos ante o Trono.

A morte e a natureza, pasmas,
Veem, ante Deus que os julga, a imensa
Ressurreição desses fantasmas.

Tudo que tem de ser julgado
Há de surgir num livro de onde
O clamor se ouve do pecado.

E Aquele que os mortos reúne
Há de julgar o que se esconde,
E nada ficará impune.

Que direi ante o Trono augusto?
Só tu, com as tuas vestes alvas,
Não sofrerás, Alma do justo!

Rei de tremenda majestade,
Os que serão salvos tu salvas:
Salva-me, ó fonte da piedade.

Da tua Sacrossanta Via
A causa fui, Jesus Piedoso:
Não me percas naquele dia.

Com fadigas, suores e pranto,
Tu me buscaste sem repouso:
Não se perca trabalho tanto.

Oh! Meu Senhor Deus de vingança,
Antes daquele dia extremo
O teu perdão sobre mim lança.

Como réu, eis-me suplicante...
Com o rosto em fogo choro e gemo:
Perdoa esta alma agonizante.

Como, Jesus, me esperançaste
Quando ouviste o ladrão contrito
E a Madalena tu perdoaste!

É indigna a prece que em mim clama:
Faze por teu favor bendito
Que me não queime a eterna chama.

A mim entre as ovelhas dieta,
Longe dos bodes condenados,
De ti, Jesus, à mão direita.

Ah! Se os malditos tu condenas,
Põe-me com os bem-aventurados,
Livre das sempiternas penas.

Cuida em mim na hora derradeira...
Dia de lágrimas! Pois o homem
Há de surgir da cinza e poeira.

Do teu perdão abrindo as portas,
Livra-o das chamas que o consomem...
Réquiem eterno aos que estão mortos!



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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

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