8/22/2023

Pele de Porco (Conto Popular Russo), de Alfredo Appel

 

PELE DE PORCO

Era uma vez um grã-duque que tinha uma mulher muito linda, e gostava imenso dela.

Ora a grã-duquesa morreu e deixou uma filha única, que era mesmo a cara da mãe.

O grã-duque disse:

— Querida filha! vou casar contigo.

Ela foi ao cemitério, à sepultura da mãe, e começou a chorar. E a mãe disse-lhe:

— Dize ao pai que te compre um vestido cheio de estrelas.

O pai fez-lhe a vontade e daí por diante ainda mais se apaixonou por ela.

A filha foi outra vez à sepultura da mãe, que lhe disse:

— Dize ao pai que te compre um vestido com a lua nas costas e o sol no peito.

O pai fez-lhe a vontade, e apaixonou-se por ela ainda mais.

A filha foi outra vez ao cemitério, e começou a chorar.

— Mãezinha! o pai apaixonou-se por mim

— Pois bem, filhinha! disse a mãe, agora dize ao pai que te mande arranjar uma pele de porco.

O pai fez-lhe a vontade e, quando a pele estava pronta, a filha vestiu-a.

O pai cuspiu-lhe e expulsou-a de casa, e não lhe deu criadas, nem pão para o caminho. Ela benzeu-se e saiu dizendo:

— Vou-me embora, e será o que Deus quiser.,

Foi andando um dia, dois, três, ate que chegou a uma terra estrangeira.

De repente, vieram nuvens e trovoada.

Onde havia ela de se abrigar da chuva?

A princesa avistou um carvalho enorme, e empoleirou-se nos espessos ramos.

Nessa ocasião, o príncipe ia à caça, e quando passava ao pé do carvalho, os cães atiraram-se à árvore e começaram a ladrar. Mas o príncipe teve a curiosidade de saber porque ladravam os cães ao carvalho. Mandou um criado ver; este voltou e disse:

— Ah! saiba vossa Alteza que no carvalho está empoleirado um bicho, que não é bem bicho mas sim uma grande maravilha. O príncipe aproximou-se do carvalho e perguntou.

— Que maravilha és tu? talas ou não?

A princesa respondeu:.

— Sou Pele de Porco.

O príncipe desistiu de ir à caça, e sentou a Pele de Porco na sua carruagem, dizendo consigo:

— Vou levar esta maravilha a meus pais.

Os pais do príncipe ficaram muito admirados e mandaram a maravilha para um quarto especial.

Daí a pouco tempo o Czar dava um baile; toda a corte estava em festa. A Pele de Porco perguntou aos criados do Czar:

— Posso estar à porta e ver o baile?

— Não pode ser, Pele de Porco!

Ela foi ao campo, pôs o lindo vestido cheio de estreias, assobiou e gritou, e trouxeram-lhe uma carruagem; meteu-se na carruagem e foi para o baile.

Chegou e dançou. Todos ficaram admirados da sua grande beleza.

Ela dançou, dançou e desapareceu; depois tornou a vestir a pele de porco e foi para o seu quarto. O príncipe veio ter com ela e perguntou-lhe:

— Pele de Porco, não és tu a linda menina do baile?

Responde-lhe ela:

— Isso sim! Estive, mas foi à porta e pouco tempo.

Passado tempo, tornou o Czar a dar outro baile: A Pele de Porco pediu licença para ver o baile. A resposta foi a mesma.

Ela foi ao campo, assobiou e gritou que parecia um rouxinol; apareceu uma carruagem; a princesa despiu a pele de porco, e pôs o vestido com a lua nas costas e o sol no peito. Chegou ao baile e começou a dançar. Todos olhavam muito para ela.

Dançou e tornou a desaparecer.

— _Que havemos de fazer agora? disse o príncipe; como podemos saber quem era aquela menina tão bonita?

Depois de muito pensar untou com pez o primeiro degrau da escada, para que o sapato da menina lá ficasse pegado.

No terceiro baile, a princesa apresentou-se ainda melhor, e, quando se ia embora do palácio, pegou-se4he o sapato ao pez da escada, e ficou ali.

O príncipe apanhou o sapatinho e correu todo o reino para ver a quem servia o sapatinho. A ninguém servia.

Voltou para casa e foi ter com a Pele de Porco e disse-lhe:

— Deixa cá ver os pés.

Ela mostrou-lhos; o príncipe provou-lhe o sapato que lhe serviu logo.

O príncipe cortou a pele de porco e tirou-a da princesa; depois pegou-lhe pela mão, levou-a aos pais dele, e pediu-lhes licença para casar com ela. O Czar e a Czarina abençoaram-nos; Pele de Porco depois o príncipe casou com a princesa, e perguntou-lhe:

— Por que é que usavas uma pele de porco?

Responde ela:

Porque era parecida com minha defunta mãe, e meu pai queria casar comigo.


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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2006.

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