COMO CAVALGUEI UMA BOMBA E SAÍ DE UM
PÂNTANO
Se
os meus estimados leitores não conhecessem já de sobejo as minhas façanhas
equestres, não me animaria a contar os casos seguintes, que, realmente, têm
alguma coisa de maravilhoso.
Estávamos
nós sitiando uma fortaleza, — já não me lembro do nome, tantas foram as que
obriguei a render-se, — quando ouvi o
general dizer que daria qualquer coisa para saber o que se estava passando no
interior das fortificações inimigas. Resolvi, imediatamente, satisfazer este
legítimo desejo.
Mas
a coisa era difícil. Tão numerosas eram as sentinelas nos postos avançados, as
guardas nos baluartes, que só um pássaro poderia passar despercebidamente.
Obstáculos, porém, nunca me detiveram quando algum projeto me preocupava.
Coloquei-me
ao lado de um dos nossos morteiros, e, no momento em que saía a bomba, montei
no projétil, para que este me levasse ao interior da cidade.
A
meio caminho, porém, ao voar assim pelos ares, apareceram certos empecilhos.
— Não há dúvida,
disse com os meus botões — que
penetrei
na cidade; mas, como sairei dela depois? Posso cair nas mãos do inimigo, e este,
sem consideração alguma, manda-me enforcar como espião. Nada: não me apetece
terminar assim a minha carreira gloriosa!
Resolvi-me
de pronto. Desenhando a toda pressa a planta das fortificações sitiadas,
aproveitei uma bomba inimiga que vinha voando ao meu encontro, e, saltando nela
com a minha bem conhecida perícia, voltei são e salvo ao nosso acampamento.
Tão
ágil como eu em saltar, era também o meu cavalo.
Um
dia vínhamos correndo a correr pelos campos inimigos, quando uma carruagem, que
seguia pela estrada geral, ameaçou interceptar-nos o caminho. Felizmente as
duas janelas estavam abertas. Sem hesitar fiz saltar o meu Demônio através da sege, que transportava duas moças formosas, e
tão impetuoso foi o movimento, que mal tive tempo de tirar o chapéu e
pedir-lhes desculpas pelo meu abuso. Em outra ocasião quis pular por sobre um
pântano, que me parecia intransitável.
Formei
o salto com certa coragem, mas já no alto, vi que não alcançaria o outro lado.
Dei então meia volta e recolhi-me ao ponto de onde partira. Uma segunda
tentativa não foi mais feliz; caí no pântano, perto da margem oposta.
Meu
cavalo se foi afundando, então, nas águas lodosas, e vi o momento em que ambos morreríamos
afogados. Para escapar a sorte tão triste, tomei as rédeas entre os dentes,
agarrei a cauda da minha cabeleira e fui puxando, puxando, até que ambos, eu e
o meu cavalo, nos achamos em terra firme.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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