9/29/2017

O melhor sono do milionário (Conto), de Maria Amália Vaz de Carvalho


O melhor sono do milionário

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Tinha ido para o Brasil há muitos anos.

Ainda havia frades em Portugal e fora até um seu tio frade que o acompanhara a bordo de um brigue e que lhe dissera com voz solene e sentenciosa, no momento da despedida, estendendo os braços num largo gesto de pregador:

— Deus te leve a salvamento, Francisco!

O Sr. Francisco Cerqueira lembrava-se de todos os pormenores e incidentes trabalhosos da jornada que ele fizera desde a sua pequena e risonha aldeia minhota até Lisboa.

Era um gosto ouvi-lo à mesa, ao domingo, quando o armazém repousava na sua umidade claustral, e não se ouvia o estrepitoso labutar dos negros carregadores, a voz arrastada dos Mineiros fregueses da casa, e a melopeia das quitandeiras na rua.

Os sócios muito mais novos que Cerqueira puxavam-lhe pela língua conforme a pitoresca locução do povo, e à sobremesa, recostados, com os charutos acesos, ouviam-no discretear alegremente.

Lembrava-se de tudo o Sr. Cerqueira. Era uma crônica viva. Recordava-se da sua aldeia, narrava histórias da sua infância, descrevia com rudes mas pitorescas frases a aula de primeiras letras, o abade da freguesia, as proezas do tio frade, que com um varapau nas unhas era homem para varrer toda uma feira, e enternecia-se até às lágrimas, quando tocava no assunto de despedida da mãe.

— Ah! vocês não imaginam! Não me saí daqui! Parece que tenho um nó na garganta, quando me lembro daquele momento. Abraçava-me a chorar e a soluçar que era uma coisa por maior! ainda me parece que a vejo ao pé das carvalheiras do adro da igreja, estendendo-me os braços de longe e gritando sufocada:

— Ah! rico filho, rico filho da minha alma!...

Que idade terá ela hoje? Ora, espera, eu tenho cinquenta e seis; ela, pelas minhas contas, vem a ter os seus setenta bem puxados... quem me dera vê-la!

— Mas, seu Cerqueira, nada roais fácil! por que se não resolve? Em dezoito dias está lá...

— Sim, é verdade.

E ficava triste e meditabundo por instantes...

— Mas tenho medo de chegar e de não a encontrar. O único motivo que me leva à Europa, é ela, a pobre velhinha... E o único parente que tenho, que não sei se vocês sabem, que da nossa família restamos tão somente nós, ela e eu... a minha terra é aqui, para aqui vim criança, e aqui me fiz gente... Que vou eu fazer à Europa, não me dirão?

Isto dizia o Sr. Cerqueira; mas o que se lhe passava no íntimo era bem diverso. Tinha saudades, tinha-as e bem fundas da aldeia em que nascera e da casa em que se criara.

Porque a sua vida fora um lutar sem tréguas, um batalhar decidido e um inferno, à saída do qual ele contava, como o mitológico Orfeu, rever as apetecidas Eurídice — a mãe e a pátria...

Escrevia à mãe de três em três meses, e nunca deixava de lhe recomendar que conservasse tal e qual como estava a casita, e que não mexesse nunca no leito em que ele dormira nos anos próximos à partida para o Brasil.

“Porque desejo morrer nele”, escrevia Cerqueira à mãe amantíssima.

E ia-se deixando ficar.

Por duas vezes os sócios estiveram em Portugal, mas o nosso Cerqueira não se decidia.

As vezes parecia tomado de uma forte resolução, e, ouvindo as descrições das viagens dos sócios:

— Homem, parece-me que sempre me resolvo!

No outro dia, porém, li andava pelos armazéns mourejando, dando ordens, e naquela atmosfera de trabalho vivificante e saudável parecia transfigurado e como que esquecido da promessa que a si próprio fizera.

***

Um dia, quando o Sr. Cerqueira encarapitado no alto banco de palhinha sobre a secretária, revendo se na sua bela letra inglesa e floreada, entrou no escritório um dos caixeiros anunciando-lhe que estava ali um sujeito que desejava falar-lhe.

Cerqueira colocou a pena atrás da orelha, puxou do lenço vermelho, e abrindo a caixa enterrou unidos, no tabaco, o polegar e o índex, e mal acabava de absorver a pitada pela narina direita, tamborinando voluptuosamente com os restantes dedos na esquerda, quando lhe surgiu à porta um rapaz bem trajado e modesto, que figurava ter quando muito dezesseis anos.

— Creio que falo ao Sr. Francisco Cerqueira?

— É verdade.

— Cheguei hoje de Portugal e trago-lhe esta carta.

E o rapaz desabotoando o fraque, tirou do bolso uma carta que entregou respeitosamente ao negociante.

Olhou atento para a letra do sobrescrito e sorriu-se; um bom sorriso beatífico e dourado de mocidade que lhe iluminou o rosto.

Depois abriu a carta, desdobrou-a e colocando-a perante o rosto começou a lê-la devagar, como que saboreando cada palavra e cada frase. As vezes parava, e como um namorado que espreita por cima de um muro, erguia os olhos acima do papel e examinava atentamente o rapaz, que se conservava de olhos baixos, direito e tranquilo.

Chegando ao fim da carta, voltava de novo a lê-la. Era como que um conversar com aquelas letras que vinham de longe e que lhe traziam um pouco de perfume das laranjeiras do país natal, e um tudo nada das lágrimas da sua mãe.

— Queira sentar-se, disso benevolamente o comerciante ao mancebo.

E continuou a ler. A carta era pequena, mas naquelas letras arrevesadas e trêmulas ele via um rosto, umas feições adoradas, e logo depois como nas tintas esbatidas e aéreas de um sonho de convalescente, levantava se uma figura de mulher ainda nova e vigorosa, ao pé de umas carvalheiras, e essa mulher estendia-lhe os braços e dizia-lhe de longe com uma voz entrecortada de lágrimas:

— “Ah! rico filho, rico filho da minha alma!

Arrancado daquela visão, o Sr. Cerqueira dobrou a carta devagar com as mesmas dobras, abriu a larga carteira de marroquim vermelho e colocou-a com grande cuidado num determinado compartir mento.

Em seguida levantou-se e pitadeando de novo:

— Olhe, o nosso guarda livros vai espairecer até Buenos-Aires, e creio que por lá ficará. Coitado! aquilo vai mal!... Quer o senhor ocupar esse lugar nesta casa?

O rapaz aceitou reconhecido, e ia a levantar-se quando um preto velho em mangas de camisa abriu a porta do escritório:

— O jantar está na mesa...

***

Passados dias notaram os sócios do Sr. Cerqueira que este não parava em casa um instante. Saía frequentemente, andava mais contente e lépido que o costume. Pouco falava ao jantar; de comunicativo que era, tornara-se recolhido consigo, mas no olhar lampejava-lhe uma doce e inefável alegria.

Ora que fazia o Sr. Cerqueira?

Andava envolvido numa terrível conspiração, queria desfazer-se, desligar-se dos queridos laços, criados pela sua longa e trabalhosa vida de perto de quarenta anos, naquela terra a que ele de entranhas queria, e aonde aportara pobre, desprotegido, sem recursos...

Logo pela manhã, depois de dar as suas ordens no escritório, metia-se a caminho, percorria as ruas, examinando atentamente coisas que antes lhe tinham passado desapercebidas.

Entrando nos americanos, dirigia-se aos formosos arrabaldes da corte...

Lembrava-se então das suas merendas saudosas e iluminadas pelo sol dos vinte anos, no morro de Santa Teresa, nas chácaras ridentes do Botafogo, à sombra das árvores do Corcovado.

E passava distraído sem corresponder aos frequentes e afáveis cumprimentos que lhe faziam os conhecidos e amigos, do alto da imperial dos ônibus, ou da plataforma dos americanos.

Alguns dos companheiros dos seus passeios e folguedos da mocidade tinham morrido, outros tinham deixado o Brasil e viviam na Europa, em Portugal.

— Como puderam eles deixar isto sem saudade? É verdade que eu gostava de morrer lá, onde nasci, na minha pobre aldeia, ao pé da minha mãe... pensava o Sr. Cerqueira.

E à hora do jantar, já não havia o conversar, e aquele teimoso questionar que tanto alegrava os dois sócios!

E que o Sr. Cerqueira continuava a falar consigo e a passar uma a uma pelos dedos as contas do místico rosário das suas saudades...

***

Uma tarde os sócios de Cerqueira bateram-lhe à porta do quarto. Houve uma certa demora em se abrir essa porta. Insistiram. Cerqueira veio enfim saber o que era.

Entraram os dois e recuaram surpreendidos perante a mudança que observaram.

No meio do quarto estava uma grande mala escura cravejada de pregos amarelos; em cima do canapé esgarçado avultavam montes de roupa branca, e pequenas malas inglesas com fechos dourados e reluzentes. As gavetas da cômoda estavam corridas, havia naquele quarto enfim a aparência de uma casa saqueada...

— O que é isto, seu Cerqueira?

— É o que vocês estão vendo. Amanhã é o dia da partida... Resolvi-me enfim...

— E eu que tinha apostado aqui com o seu Fernandes que você nunca se resolvia...

— Pois, meu amigo, perdeu a aposta, cortou o Cerqueira, sorvendo sibariticamente uma pitada.

Na manhã do dia seguinte, no tombadilho de um dos vapores da Companhia do Pacífico, enquanto os dois sócios do Cerqueira riam e diziam facécias, deitando com ares de casquilhos atabalhoados as lunetas a algumas francesas, que, com os seus vestidos de fazendas claras animavam alegremente aquele conjunto de pessoas possuídas de tão estranhos e contraditórios sentimentos, o nosso viajante olhava com os olhos de quem se despede de um sítio amado para os armazéns, para os trapiches que se retratavam nas águas da baia, para as torres das igrejas que se arrendavam nitidamente no claro céu azul.

***

Em Lisboa pouco se demorou.

No hotel, alguns amigos quiseram prendei-o ainda, tentando-o com o teatro lírico, com Cintra e com as poucas fascinações baratas de Lisboa.

Cerqueira resistiu, e numa bela manhã, metido numa diligência que partia de Braga, dirigiu-se para Ponte de Lima. Aqui alugando uma carruagem dirigiu-se para a aldeia em que nascera.

A meio caminho apeou-se, despediu o homem que o acompanhara, e deitando ao ombro uma pequena mala que trouxera, encaminhou-se para o seu lugar.

Seriam quando muito duas horas da tarde. O calor era grande. Pouca gente na estrada. Cerqueira parou a contemplar o quadro.

De um dos lados do caminho viam-se algumas raparigas com largos chapéus desabados e saias apanhadas segando erva, à compita, e misturando o seu canto ao metálico e monótono cantar das cigarras...

Do outro lado, um rapazito meio nu, de carapuça, sentado no chão, estava de guarda a meia dúzia de bois que pastavam tranquilamente na erva macia e tenra...

De vez em vez, quando um dos bois se aproximava de algum castanheiro, o rapaz agarrava de um calhau, e atirando-lhe rasteiramente, gritava:

— Eh! malhado...

— Quantas vezes eu também guardei as vacas da nossa casa! pensou Cerqueira.

— Ó rapaz, venha cá, disse para o rapaz, venha cá, rapaz!

O rapaz olhou para o forasteiro com um olhar estúpido o embezerrado e deixou-se ficar.

— Venha cá, menino, que lhe não quero mal...

O pequeno não se movia.

— O rapaz é mouco, disse consigo o viajante, e como quem conhece o coração humano, tirou a bolsa e mostrou-lhe uma moeda de prata.

— Queres isto?

De um salto o rapaz pôs-se a pé, tirou a carapuça, e coçando a cabeça aproximou-se.

— Diga-me uma coisa, menino, é aqui do lugar?

— Saiba vossemecê que sim senhor.

— Conhece a tia Genoveva?

— Uma que é assim a modo bexigosa, e já muito velhinha?

— Essa mesma.

— Olhe, ainda há pouco a vi passar da banda do rio... São horas de a topar em casa...

Cerqueira estava por fim tranquilo.

Desaparecera o receio de não encontrar a querida velhinha.

Verdade é que podia ter tido notícias dela em Lisboa escrevendo ao abade, mas queria fazer uma supresa, chegar de improviso.

Aquela hora as aldeias do Minho são silenciosas e calmas, e há nelas como que a íntima paz das fábricas ao domingo.

Os homens andam no campo, as mulheres, quando os não acompanham, estão nos lavadouros ensaboando, e poucas pessoas, a não serem os velhos e algumas crianças, ficam em casa.

Na sombria umidade das tabernas descobre se a taberneira fiando, enquanto no quinteiro próximo os porcos com os focinhos semienterrados na lama grunhem voluptuosamente.

Um ou outro cavaleiro que passa às vezes pela estrada num chouto endiabrado, com o pão de choupa apertado nos joelhos, levantando uma nuvem de poeira dourada. E é então que os cães acordam aquele silêncio, latindo e correndo atrás dos cavaleiros, e que aparecem às janelas e às portas as raras pessoas que ficaram em casa.

Quando Cerqueira bateu à porta da casa pulava-lhe o coração de um modo desusado.

— Quem é?

— Alguém é, respondeu o viajante.

— Pois empurre o postigo, puxe pela aldraba e entre, se isso o não incomoda.

Assim o fez o nosso Cerqueira e entrou na saleta em que a tia Genoveva dobava...

Ante aquele homem estranho, a velha surpreendida parou, e pondo uma das mãos à frente dos olhos como uma pala:

— Que me quer vossemecê?

— Um abraço e um beijo, balbuciou o que entrara com voz enternecida e expirante...

— Ele que diz? Ó Cristo!

E levantando-se foi direita à janela para chamar por socorro imaginando ver-se a braços com um doido.

— Olhe que não estou doido, santinha! Venho de longe e trago-lhe um beijo e um abraço de uma pessoa que é muito sua amiga.

— Do meu Francisco? exclamou a velha. Venham de lá não só um mas muitos abraços, que ele no dinheiro é mais generoso, valha-o Deus! Um só abraço!

E a velhita apertou nos braços Cerqueira, que com as lágrimas nos olhos murmurava:

— E eu que pensei que me conhecia! Pois não me conhece, minha mãe? Eu é que sou o seu Francisco, sou eu, repare bem...

A velha então explodiu um alto e clamoroso grito, e chorando e rindo, caiu nos braços do filho.

— Agora conheço, sim, estava tonta! Esta cabeça! Mas se tu eras uns dez réis de gente quando abalaste daqui... Onde está a tua roupa? Já jantaste? Cá a gente janta ao meio dia, mas arranja-se tudo, não tem dúvida... a Joana foi à cidade, vou eu mesma matar uma galinha... Tens fome? deves ter, sim? A minha cabeça... aminha cabeça! O meu Francisco! Mas por que me não mandaste dizer que chegavas, rapaz? Valha-te Deus!...

E a tia Genoveva no meio do seu contentamento saía da sala para logo voltar, amontoando perguntas sem nexo.

— Gostas disto? gostas daquilo? Do que vais gostar é do vinho, é do nosso caco de salsa e saiu-me daquela casta! O presunto vamos com Deus, que também me saiu bom. Aves provar... Ora o pecado do rapaz que me não avisou de nada!

E saía para daí a pouco voltar com a mesma abundância de perguntas e de frases penetradas de amorável repreensão...

***

Oh! que bom e que íntimo foi aquele jantar!

A sala alegre e caiada de branco, a toalha áspera, grossa e nevada, os talheres de cabo de osso fabricados em Guimarães, os copos com um friso dourado nas bordas, as janelas abertas e dando para os campos onde caíam suavemente as tintas do sol posto, tudo dava uma quieta e serena beatitude ao coração do brasileiro.

A mãe encostada ao espaldar da cadeira em que estava sentado o filho servia-o com muito carinho, fazendo-lhe perguntas sem conta a que ele respondia com o rosto inundado e clareado pelas lembranças de um passado que as palavras da mãe evocavam renascido.

Depois coube-lhe a ele fazer também perguntas: o que era feito deste, se ainda era vivo aquele, se no sítio de tal ainda existiam aquelas carvalheiras onde havia antes tanto ninho de melro, e se uma casara, e outra tinha muitos filhos, eu sei! um mundo de recordações e de saudades!

E com o olhar umedecido, Cerqueira percorria tudo, o velho armário pintado, as grades da varanda, as medas levantadas no meio da sombria verdura dos campos...

Ia caindo a noite, ouvia-se já na aldeia um certo burburinho de vida, vinham da estrada trechos ruidosos de conversações. Recolhiam do campo os trabalhadores.

E os dois a conversar ainda!

— E a Joana que não chega da cidade! É sempre assim!

Quando há pressa é que não vem... Queres tu dar uma volta peio lugar, Francisco?

— Nada, minha mãe! Este dia é só para si. Ainda bem que ninguém me viu, e que se não sabe que cheguei... Conversemos, tenho tanto que dizer, tanto que ouvir. 

Entrelaçava-se de novo a conversa, e assim estiveram até que a velha disse:

— E então não querem ver que o rapaz quer tirar-me dos meus hábitos! São horas de deitar. Vou fazer-te a cama, está aí quedo que eu já volto.

Voltou daí a pouco com um candeeiro de três bicos A luz batia-lhe no engelhado rosto cheio de bondade, e um sorriso de ventura brincava-lhe nos olhos e na boca.

E, empuxado suavemente pela mãe, o brasileiro entrou no quarto que lhe estivera preparando.

A velha abeirou-se da cama, desdobrou as roupas, ajeitou a travesseirinha de largos bordados tesos e engomados, e voltando-se para o filho que examinava tudo curiosamente:

— Agora toca a deitar! Tenho tanta pena que me não trouxesses uma nora! pois eu creio que lá no Brasil há muitas raparigas bonitas, pois não há?

O brasileiro sorria-se, e a mãe incansável enchia-o de perguntas, de mimos, de recomendações, até que saiu abençoando-o com toda a sua alma, rude mas extremosa.

***

Francisco Cerqueira deitou-se, e ainda que lhe parecesse que o tinham de incomodar os pesados lençóis de linho duros e ásperos, adormeceu profundamente.

Sonhou. Estava no Brasil, os sócios tinham chegado da Europa, vinham queimados da viagem, mas contentes; contavam anedotas e casos sucedidos durante o passeio.

Que Portugal era um jardim, o Minho sobretudo! não se fazia ideia.

Narravam a maneira como tinham sido recebidos na aldeia natal, as festas, as alegrias da chegada, as noites de esfolhada, as romarias ruidosas... Cerqueira ouvia-os, e lá por dentro do coração, sentia a grande e plúmbea nostalgia do país natal... Se eu pudesse lá ir! Mas para quê? Estou velho... e depois pode ser que a velhinha já não viva!...

E continuava a trabalhar, a dar ordens no úmido armazém sombrio entre os escravos...

Nisto sacudiram-no uma, duas vezes, três vezes.

— O grande mandrião, pois isto são horas de dormir ainda? Olha que já estou a pé há duas horas! Na cozinha vai tudo raso com trabalho! Arriba, homem! Não tens vergonha, dorminhoco?

E o brasileiro, estendendo os braços e esfregando os olhos com os punhos fechados, perguntou bocejando:

— Que horas são?

— Dez horas, grandessíssimo preguiçoso!

— Há quarenta anos que não durmo um sono tão bom, minha mãe!

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