
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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O caboclo Saturnino, agricultor
em Jacarepaguá, era, por natureza um homem morigerado. Criando os seus porcos,
as suas cabras, os seus perus, as suas galinhas, fazia o possível para que a
bicharada não saltasse a cerca, indo devastar as plantações dos vizinhos. Se
ele se indignava até à inconveniência quando um bode alheio lhe penetrava o
roçado, era natural que os outros se revoltassem, também, quando vítimas de
idênticas depredações.
Não obstante os cuidados de todo
o dia, tapando, endireitando, recompondo os menores buracos do cercado, foi o
Saturnino surpreendido, uma tarde, pela falta de uma das galinhas mais gordas
do terreiro. Experiente como era, saiu o caboclo pelo fundo do quintal, e, ao
olhar para a cozinha do seu compadre Teodoro Maniva, descobriu, lá, a sua
galinha, que estava sendo depenada pela dona da casa. Saturnino rodeou o
cercado, bateu à porta da frente, e queixou-se do que lhe haviam feito.
Positivamente, aquilo não era sério, nem digno de um homem de bem... Teodoro
sorriu, e desculpou-se:
— Ora, compadre, para que brigar?
Vamos entrar num acordo. A galinha já está na panela; venha jantar, hoje,
comigo...
Inimigo de questões, Saturnino
aceitou o convite, esperou a hora, jantou, despediu-se, e dirigiu-se para casa,
de cabeça baixa, imaginando o meio de tomar desforra do seu compadre Teodoro.
Esta, não foi difícil. A Brígida,
mulher do Teodoro, era uma cabocla forte, rechonchuda, atarracada, cujos olhos
faiscavam toda a vez que divisavam, na vila ou nas estradas, o vulto do
Saturnino. O caboclo recordou-se disso e, com o propósito da represália,
resolveu explorar essa fraqueza da comadre. E tanto fez, tanto virou, tanto
mexeu, que, um dia, ao voltar do roçado, o Teodoro não encontrou mais a mulher.
Desconfiado, rumou para a casa do Saturnino, e bateu.
— Quem é? — perguntaram de
dentro.
— Sou eu! — trovejou o Teodoro.
Saturnino apareceu na soleira do
casebre e o outro indagou, feroz:
— A Brígida não está aqui?
O caboclo sorriu, batendo-lhe no
ombro:
— Está aí, compadre; ela está aí
dentro.
E tomando-o pelo braço, puxando-o
para a cabana:
— Entre, compadre; fique para
dormir com a gente...
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