
Ilusão
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Abraçado a um poste de iluminação
elétrica, tonto de cerveja e de fome, o velho boêmio levantou os olhos para as
estrelas longínquas, naquela madrugada fria, sentindo a terra, em torno,
estremecer e rodar. Com medo de cair, o notívago apertou mais o poste de encontro
ao peito, fechou os olhos e começou a sonhar.
A princípio era um monte de
moedas de ouro, postas umas sobre as outras, que lhe dava quase pelos joelhos.
De repente, o monte começou a subir, a crescer, a avolumar-se, atingindo a sua
altura e galgando o espaço, rápido, como um caule dourado de crescimento
vertiginoso. O boêmio acompanhava o desenvolvimento daquela árvore curiosa,
quando, no escândalo daquela ascensão, lhe viu desaparecer a ponta nas nuvens,
estabelecendo uma corda de ouro, fina e imensa, ligando a terra ao céu.
Olhava-a ele admirado, quando ouviu uma voz, que lhe dizia:
— Sobe, Alfredo!
O notívago segurou-se à corda de
ouro, feita de moedas acumuladas, e principiava a subi-la, quando esta, de
repente, estalou, partindo-se, fazendo-o vir aos trambolhões pela altura,
estatelar-se, com força, no chão.
Abrindo os olhos, o boêmio
sentiu-se assentado no calçamento da rua, ao lado do poste. Espantado, passeou
a vista em redor, e, detendo-a em certo ponto, viu, no asfalto, caída da algibeira
de algum transeunte, uma pequena moeda de cem réis. Estendendo a mão,
apanhou-a, revirou-a nos dedos, examinou-a, e, ao fim de tudo isso, pensou, num
sorriso de consolo:
— Felizmente, sempre ficou, no
chão, a ponta da corda!
E metendo o níquel no bolso,
continuou, aos trancos, o seu caminho.
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