
Os submarinos
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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À margem do Tietê, em lugar em
que o rio se tornava mais claro e menos profundo, tomavam banho, uma tarde,
sete ou oito crianças, de quatro a nove anos, entre as quais uma encantadora
menina, a Lili, irmã do Armindinho, que era, no grupo, o mais insuportável e
barulhento. Com a inocência peculiar à idade, apresentavam-se todos
despidinhos, nadando, mergulhando, pulando, como um bando de golfinhos irrequietos.
O barulho que faziam, era, como
facilmente se imagina, ensurdecedor. Entregues a si mesmos, rolavam-se na
areia, atiravam-se terra, empurravam-se, nadando, ora de papo para cima, ora de
papo para baixo, com as mãos em movimento dentro d’água, no "nado de
cachorro", batendo com os pés, na imitação dos navios de roda, ou de
barriga para o sol, agitando os braços ritmadamente, como escaleres em marcha
pelo impulso regular de dois remos.
Estavam os pequeninos tritões no
mais aceso do entusiasmo, quando o Armindinho propôs, gritando:
— Vamos brincar de submarino?
— Vamos! — concordaram os outros,
aos pulos, com o busto fora d’água. — Vamos!
Unindo o gesto à palavra, o
Armindinho atirou-se à frente dos companheiros, nadando, ágil, de peito para o
ar, meio submerso, dando marcha ao corpo com o movimento das mãos debaixo
d’água. Imitando o inovador, os outros pirralhos fizeram o mesmo, de papo para
cima, pernas estiradas, silenciosos, como uma verdadeira flotilha de
submersíveis.
Momentos depois, de volta à
margem, iam repetir a proeza, quando a Lili pediu, nuazinha, batendo as mãos:
— Eu também vou, mano, eu também
vou! Sim?
O Armindinho encarou-a, com a
superioridade de um oficial alemão, e protestou:
— Não; você não pode!
E virando-se para um dos
companheirinhos, explicou, com a maior inocência do mundo:
— Ela não tem periscópio; não é?
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