Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Segurando o almirante pela manga
da casaca impecável, a Baronesa forçou-o a sentar-se, de novo:
— Não, senhor, não pode ir; tem
que contar-nos, agora, a virtude de todas as pedras preciosas exibidas pelas
senhoras que aqui se acham.
— Eu? — obtemperou o ilustre
marinheiro, levando a mão clara ao peitilho espelhante da camisa:
— Sim, senhor. É este o seu
castigo.
E imperativa:
— Sente-se!
Generalizada, de novo, a
palestra, a Viscondessa de São Germano indagou, com sincero interesse:
— É verdade, almirante é certo,
mesmo, que a ágata é "porte-malheur"?
— É verdade, afirmam isso... —
acrescentou Madame Sampaio Gomes.
O almirante contestou:
— É uma invenção recente, essa,
D. Violeta. Os antigos, pelo menos, não dão notícia dessa propriedade. Plínio,
que a ela se refere longamente, atribui-lhe a virtude de tornar os atletas
invencíveis. Os egípcios indicavam-na como infalível contra mordedura das
víboras, dizendo-se, mesmo, que as águias a colocavam no ninho para afugentar
as serpentes, que lhes perseguiam os filhos.
— E o rubi? — indagou a Baronesa.
— O rubi é a pedra dos espíritos
esclarecidos. Teofrasto aponta-o como um dos incentivos misteriosos da
inteligência, circunstância que a levou, ao que parece, a ser adotada como
pedra simbólica dos bacharéis. Outros acreditam que ele preservava contra a
peste, contra os venenos, e contra outros perigos da vida. É, mais ou menos,
como a esmeralda.
— Como a esmeralda?
— Sim. A esmeralda fortalece,
também a inteligência, e cura, segundo Plutarco, as mordeduras de cobra.
Alberto, o Grande, recomendava-a contra a epilepsia e Cornélio Agripa contra as
hemorragias.
Foi por essa altura que a encantadora
D. Ritinha, que até então se limitara a sorrir, fazendo companhia ao
contentamento dos outros, aventurou, cândida:
— Mas, há pedras portadoras de
desgraças; não há, senhor almirante?
— Dizem que a opala é desse
número, minha senhora; mas eu não creio.
— Não crê?
E entre a atenção geral:
— Pois, olhe, há dois anos, meu
marido ia sendo vítima de uma dessas pedras de mau agouro. Esteve muito mal!
— E que pedra foi essa? Pode-se
saber?
A moça não lhe sabia o nome; a
Baronesa correu, porém, pérfida, em seu auxílio:
— Era o carbúnculo; não era, Dona
Ritinha?
A jovem senhora, desabituada
àquele meio supercivilizado, bateu com a cabeça, confirmando, ingênua, a
horrenda perversidade:
— É isso mesmo; era o carbúnculo.
E compadecida:
— Quase ele morre, coitado!...
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