11/04/2017

Por um caminho de arraial (Conto), de Virgílio Várzea

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Por um caminho de arraial

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Era manhã. O sol faiscante e vivo punha no ar uma mornidão traspassante e amolentadora.

Eu caminhava alegre e silencioso, sozinho, alagado de luz.

O caminho coleava infindavelmente diante de mim — largo, branco, plano, convidativo. Marginavam-no ininterruptamente verduras pujantes e fecundas, de onde se erguiam e se espalhavam no ambiente gorjeios doces de ninho e o aroma inebriante das flores.

Grupos sonoros de meninos satisfeitos e pisoteadores que correm, gritam e estrafegam, na distância livre e preciosa que vai do lar ao mestre — desapareciam ao longe. Borboletas felizes passavam e repassavam, à luz de ouro ardente, numa inquietude de asas, palpitando ao vento como pequeninos retalhos de gaze colorida.

Aqui e além, desciam riachos, sob pontes rústicas de madeira, num murmúrio perene e cristalino.

E ao lado das casinhas risonhas, alvas, enflorescidas e agrestes, cheias da felicidade tranquila e virginal do campo, cobriam as cercas de pau a pique e pintalgavam alegremente os pomares, irrompendo numa impetuosa e indomada exuberância, as sanguíneas e revolucionárias pancetas, que dir-se-iam vivas triunfais à República saindo dentre a Monarquia... das árvores!

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