6/27/2018

Temas Poéticos: NATAL - I


Soneto de Natal

MACHADO DE ASSIS
“Ocidentais” (1875)

Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca.
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

★★★

Natal

AUTA DE SOUZA
“Poesias”

É meia noite... O sino alvissareiro,
Lá da igrejinha branca pendurado,
Como num sonho místico e fagueiro,
Vem relembrar o tempo do passado.

Ó velho sino, ó bronze abençoado,
Na alegria e na mágoa companheiro!
Tu me recordas o sorrir primeiro
De menino Jesus imaculado.

E enquanto escuto a tua voz dolente,
Meu ser que geme dolorosamente
Da desventura, aos gélidos açoites...

Bebe em teus sons tanta alegria, tanta!
Sino que lembras uma noite santa,
Noite bendita mais que as outras noites!

★★★

Natal

LUÍS DE CAMÕES

Dos Céus à Terra desce a mor Beleza,
Une-se à nossa carne e fá-la nobre;
É sendo a Humanidade dantes pobre,
Hoje subida fica à mor alteza.

Busca o Senhor mais rico a mor pobreza;
Que, como ao mundo o Seu amor descobre,
De palhas vis o corpo tenro cobre,
E por elas o mesmo Céu despreza.

Como? Deus em pobreza à terra desce?
O que é mais pobre tanto lhe contenta,
Que este somente rico lhe parece.

Pobreza este Presépio representa;
Mas tanto por ser pobre já merece,
Que quanto mais o é, mais lhe contenta.

★★★
  
Natal

ONESTADO DE PENNAFORT
"A Revista" (1926)

A noite desce, lenta, no jardim
e estende sobre as árvores e os lagos
véus de neblinas mais suaves e vagos
que perfumes de lírio e de jasmim.

A noite sonha que não mais fim
com seus olhos sonâmbulos e vagos.
Parece que andam a passar reis magos
com umas de mirra, incenso e benjoim...

No céu, a mesma estrela dos pastores
conduz... O luar é um halo em torno ao mundo
perfume, feito luz, da alma das flores.

E o luar, e a sombra, e os astros, e a água, e o chão...
ao seu silêncio de êxtase profundo,
abre-se a flor, triste, da solidão.

★★★

A Ceia de Natal

MARIA AURORA DA CUNHA
“Revista Feminina” (1919)

Terminou o jantar. A família reunida
Olha para Bebê. Um bebê singular.
Há uma viva expressão de alegria incontida,
BO seu modo de rir, no seu modo de andar..

A mamã, bela e moça, exulta embevecida,
O papá põe-se a rir e o bebê a falar.
É noite de Natal. A alegria da vida
Baixou, uma pomba, ao teto desse lar.

A mamãe carinhosa é linda como aquela
Que, fugindo ao destino, ao sol cáustico e de ouro,
Atravessou o Egito, até Jerusalém.

Esse loiro bebê, branco corno uma estrela,
Lembra aquele outro anjinho, esbelto, claro e louro.
Que noite nasceu gruta de Belém...

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