1/20/2019

Fiapo (Emilianas)



Fiapo

A passo lento, seguia Emílio de Menezes pela Avenida Rio Branco, quando dele se acercou um dos mordedores que por ali passava.

— Boas tardes, Emílio amigo, como vai a saúde?

—Muito bem. Que me queres? Não te demores em dizê-lo, porque tenho necessidade de chegar cedo à casa.

E o mordedor gentil, fazendo jus à espécie, entrou a "dedilhar" o fraque negro do poeta e com arte sacudia as partículas de poeira que lhe descobrira no vestuário.

Avistando um fiapo, com os dedos em tenaz, lançou-o ao solo enquanto dava o bote:

— Estou, meu caro Emílio, em um dos meus piores dias; arranja-me uns dez réis...

 O poeta, após o natural sobressalto, protestou:

— Dez mil réis!...

E apontando a gola do casaco, exclamou:

— Põe já o fiapo outra vez aqui!



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Revista a Cigarra,  junho de 1927.

Pesquisa e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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