Minha mãe
L. J. VASCONCELLOS.
15 de maio de 1902.
Neste quadro
solitário
A sombra do
campanário
Talvez encontre o
lugar;
Onde sem dó e
cruelmente
Vieram os tristes
viventes
A minha mãe
sepultar.
E aqui achei a
terra,
Que amada coisa se
encerra
A quem tanto em
vão;
Cadáver da mãe
querida
Que nainh'alma
dera vida
Neste mundo de
ilusão!...
Se tens força abre
o caixão,
Surge da fria
gelada
Vá na região
estrelada
Conversar com o
Senhor Deus
Vá gozar a doce
palma
Vá habitar lá nos
céus.
***
A dor de um filho
ANTÔNIO BASTIN GAMA
Aracaju, 1 de julho
de 1919.
A minha mãe
morreu! Que dor aguda
Que me estrangula
o coração aflito
Como depressa a
sorte se transmuda,
Como o destino meu
se fez maldito!
Morta! De dentro
dessa campa muda,
Já nem mais ouve o
desolado grito,
Que neste verso a
minha dor desmuda.
E o pranto faz-me
gotejar, bendito!
Mas que o seu nome
seja-me o fanal,
Para eu buscar o
bem, deixar o mal,
Da vida neste
pélago profundo.
E que a lembrança
deste nome santo
Sempre me assista,
embora meio ao pranto
Até que eu deixe
este maldito mundo?
***
Minha mãe
GONÇALVES LEITE
Itatiaia, 29 de
março de 1902.
Criatura sublime
que embalou-me
No berço infantil
quando pequeno,
Que em desvelos
velou-me os sonhos d'anjo
Cantando carinhoso
canto ameno.
Que em desvelos
sorria quando eu ria
E em prantos se
banhava aos meus vagidos,
Sentindo as mesmas
dores que eu sentia
Quando ouvia meus
choros doloridos.
Criatura sublime,
mãe bondosa
Que legou-me da
vida a santa luz;
E com ela os
sofrimentos de amargores
Que na estrada de
abrolhos me conduz.
No sofrer e nas
dores agras feras,
Que apunhalam meu
peito tão descrente.
Eu vos vejo como
via noutras eras
E sofro como um
mártir paciente!
Criatura que eu
adoro, que venero
No meu peito
obscuro, fraco amante;
Estrela radiosa
que me guia
Na vereda que sigo
vacilante.
Vós sois minha mãe
sacros odores,
Doce mel e
lenitivo de minh’alma,
Vós sois do meu
porvir risonhas flores
E sois do meu
passado murcha palma!
Criatura que Deus
predestinou
Ao humano Vivente
sofredor,
Enchendo o coração
bondoso, excelso,
De carinho, de
desvelos e de amor.
E nas latas do
sofrer o pobre vate
Orvalha estes
versos com seus prantos,
E dedica o coração
que opresso bate
A vós minha mãe
meus fracos cantos!
***
Minha Mãe
JÚLIO PERNETA
Curitiba, 7 de
novembro de 1898.
No teu olhar
velado, olhar de morta,
Um supremo sorriso
inda fulgura;
No cemitério,
junto à sepultura
Onde repousas,
minha dor aporta.
Soluçando e
gemendo, aflita e louca,
Mãe, a Saudade
invoca o meu passado...
Um soluço de fogo
vem-me à boca,
E tudo
abandonado!...
Somente na
penumbra da agonia
A vaga sombra de
uma cruz plantada
Fere a passagem
rútila de um dia,
Dia de Sol da tua
sombra amada.
Ai! minha mãe!
caminho solitário
Dentro da noite
acerba do meu tédio,
Como quem sobe a
rampa de um calvário,
Repetindo o
epicédio.
De uma saudade
antiga e dolorida
Que a nossa alma
aos poucos dilacera,
Quando a lembrança
rasga essa ferida
Que tanto punge e
tanto desespera;
Que teu lábio
rezara, em mim pensando
Quando longe de
ti, do meu degredo,
Eu vagava, a
chorar, os pés sangrando
Nas urzes tredas
do caminho tredo.
Ai! minha mãe, por
isso agora, quando
Junto ao lugar
sagrado onde repousa
Teu corpo, eu
venho, em pranto, me arrastando
Para beijar a
funerária lousa,
Perseguem-me em
soturna procissão
Os fantasmas senis
do meu passado,
Rezando o réquiem
da recordação
À luz feral de teu
olhar velado!
***
Mãe
VALE E SILVA
São Paulo, 31 de
janeiro de 1898.
Vi-o: tinha no
olhar as ânsias, o abandono,
As tristezas
mortais de um mal indefinível
Parecia viver num
como estranho sono,
Extasiado do além,
do vago, do invisível.
A tísica o minava:
o doce amor materno
Inda o prendia à
vida, inda o ligava ao mundo:
E somente este
amor imensamente terno
Alentava-lhe o
peito exausto e moribundo.
Ao vê-la
confortando-o, eu, torturado e mudo,
Recordei-me em
pesar dessa longínqua idade
Onde nossa alma
encontra, amargurada, em tudo
Uma sombra de
amor, de mágoa e de saudade.
Veio-me a
recordação de minha mãe piedosa:
Oh céus! porque
jamais senti essa ventura
De tê-la junto a
mim, de ouvir-lhe a voz saudosa,
Saudosamente doce
e docemente pura!
Ela partiu tão
cedo! E agora vendo o pranto
Desse enfermo,
imagino-o o orvalho doloroso
Florindo o
ciprestal do escuro Campo Santo
No coração
entregue a fúnebre repouso...
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