Anjo da Guarda
(À minha mãe)
MÁRIO PAIM
São Paulo, 30 de
dezembro de 1897.
Quanta vez
contemplando o sórdido monturo:
Mundo sem ideal – jardim
sem primavera –
Não tenho a
nostalgia estranha doutra esfera
Por onde anda
minh'alma em passo mal seguro!!
Mas cheio de
ardimento, a soluçar, procuro,
Neste planeta, alguém
cuja afeição sincera
Ah! me faça
esquecer o país da quimera,
Jorrando intensa
luz nas trevas do futuro.
E quanto mais a
dor me prostra e me quebranta,
Mais serena ressurge
à invocação da mente,
Minha mãe! minha
mãe! a tua imagem santa!
Ao menos, vou
pensando, um coração existe
Que sorri ao me
ver sorrir contentemente
E que chora ao me
ver chorar descrente e triste!
***
Minha Mãe
EDUARDO VIDAL
5 de junho de 1904.
Era febril! A
minha fronte ardia!
...E o delírio de
mim se apoderava!
Nestes dias de
angústia, neste dia,
Presa de imensa
dor — um anjo orava.
Era infeliz! Sem
calma suportava!
O sofrimento atroz
que me pungia!
E sempre ao lado
meu cuidoso estava
Cm anjo a me lenir
nesta agonia!
Era feliz!
Mostrava-se ditoso
Este anjo que me
alenta o me consola...
Este anjo que por
mim vela, piedoso!...
É minha mãe aquele
anjo clemente
Que triste eu
vejo, se o meu pranto rola
E que se alegra
quando estou contente
***
A minha mãe
(H. Heine)
12 de novembro de
1900.
Num momento de insensatez, outrora,
Fugi de vós:
queria aos quatro ventos,
Ir em busca de
amor, e, nuns momentos
De delírio, abraçá-lo...
E, mundo a fora,
Vou. Mas em vão
elevo meus lamentos:
Embora peço-o em
lágrimas, embora...
Ante cada solar
minh’alma implora!
E dão-lhes só o
desprezo e o riso odientos!
Depois de sempre
em vão tê-lo buscado
Um dia volto ao
lar. Manso descerra
Uma porta. Éreis
vós! Mudo e cansado,
Fitei a luz que
vosso olhar encerra
E vi, surpreso, o
amor tão procurado!
O amor mais puro
que encontrei na terra.
***
Carta a minha mãe
Carta a minha mãe
SEBASTIÃO FERNANDES
Recife, 31 de julho
de 1900.
Pura e divina, santa e imorredoura
Hás de sempre
viver sublime e calma,
Dentro desta
minh'alma sofredora,
Alma bondosa de
minha própria alma!
Ó minha Mãe! Ó meu
celeste ninho!
Traze-me sempre no
teu coração;
Para que eu tenha
sempre o teu carinho,
Para que eu beije
sempre a tua mão!
Ela que é raio de
um clarão profundo
A mim distende-a,
pois, ó ser querido,
Para que ela me
guie por este mundo
Como uma estrela
ao viajor perdido...
Quando anoitece — alma
sublimada,
Depois de alar-se
pelo firmamento,
Vai repousar, qual
ave torturada,
Meu pensamento no
teu pensamento!
Ser dos seres em
tudo o mais perfeito,
As minhas novas tu
relês magoada,
E as tuas cartas
guardo-as em meu peito
Como a relíquia um
crente em beijos guarda.
Sei que povoam
frias soledades
Os nossos corações
de dor insanos...
Quanta tristeza,
mãe! quantas saudades,
Neste horrível
desterro de cinco anos!?
Quero contigo
partilhar da lida,
Contigo ir desta existência
além...
Tu que foste a
alvorada desta vida,
Hás de ser seu crepúsculo
também!
Sei que por mim tu
velas e que existe
No teu velar um
murmurar de prece...
E sou tão cheio de
saudade e triste,
O quanto é triste
o Mar quando anoitece!
Dá-me, como água
fresca ao peregrino,
Para sanar-me da tortura
as dores,
O teu amor que é
em tudo o mais divino
E o mais puro de
todos os amores!...
Fere-me o coração
o agudo espinho
Desta saudade que
jamais se acalma...
Mas como uma ave
no mais casto ninho
Vive a tua alma
dentro de minh'alma!
Ai! que nas trevas
eu me perderia!
Ai! que seria de
meu coração?
Se a mão que me
protege e acaricia
Abandonasse minha frágil
mão!
Que teus cuidados
que me desvanecem
Façam-se em luz que
sempre me acompanhe
Quando os afetos falsos
desparecem,
Mais teu afeto
cresce, ó minha mãe!
Que deste mundo
sempre assim me esquive,
Até que venha o
dia em que hei de ver-te...
Basta que saibas
que teu filho vive
E que teu filho
nunca há de esquecer-te.
***
Minha mãe
PIRES FERREIRA
Aracaju, 23 de julho de 1908.
Aracaju, 23 de julho de 1908.
De tudo que amo no
mundo
Só minha mãe me
estremece:
Sorri ao me vê
sorrindo,
Se me vê triste
entristece.
Só ela minha vida
Me sabe compreender:
Se choro, ela
tristonha
Vem o meu pranto
beber.
Infeliz de quem
não tem
Uma mãe
compadecida,
Que sabe chorar
com o filho
Às desventuras da
vida.
Me negando Deus o
amor
Da mulher que inda
bendigo,
Deu-me uma mãe
carinhosa
Que sabe sofrer
comigo.
Sê bendita, ó
minha mãe,
Sagrada flor de
meu horto!
Vive bem para que
eu possa
Achar em ti meu
conforto.
Quando a flor da
juventude
Fugir-me nos seus
arrancos,
Junto de ti
beijarei
Teus lindos cabelos
brancos.
E como não será
doce
Eu e tu, nós dois
juntinhos,
Vivendo na casa
Como dois tristes
velhinhos!
Vive bem, ó minha mãe
Sagrada flor de
meu horto,
Pois enquanto tu
viveres
Terei em ti meu
conforto.
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