Alegria da viúva
Era uma vez um homem casado; a
mulher dizia que morria por ele, e que Deus nunca dera a ninguém um marido
assim. O homem fiava-se naquelas palavras, e quando andava no campo a trabalhar
dizia para o criado:
— Não há ninguém que tenha uma
mulher como a minha.
O criado disse que não era bom
experimentar, porque podia ficar enganado. Disse o patrão:
— Agora é que desafio todo o
mundo para me mostrarem uma mulher melhor do que a minha.
— Pois eu estou pronto para
uma experiência. À noite, quando formos para casa, vai o patrão atravessado na
palha fingindo que morreu, e o resto fica por minha conta.
Assim aconteceu; o criado
chegou mais tarde do que o costume, bateu à porta, e com grande pranto contou
como o patrão tinha morrido de repente. Quando a mulher ia começar a fazer
grandes choros, disse-lhe o criado:
— Oh minha ama; é melhor não
dar a saber isto à vizinhança, porque se enche logo a casa de gente, e tudo
quanto lhe vier fazer companhia quer de comer e grandes esmolas, e assim nós
dois podemos passar a noite ao pé do corpo.
— Dizes bem, Valentim; pela
manhã logo, se dirá que morreu.
Pegaram ambos no corpo e foram
deitá-lo em cima de uma cama; passado algum tempo, diz o criado:
— Oh minha ama, a gente não
ceia nada? isto morto como morto, e vivo como vivo.
— Pois dizes bem, vou fazer
folar e tu vai lá abaixo buscar uma infusa de vinho.
Passado mais algum tempo, diz
outra vez o criado:
— Oh minha ama, deixe-me
deitar um bocadinho no seu colo, ando tão moído do trabalho.
— Pois sim, Valentim.
Tornou, depois o criado:
— O meu amo quando era vivo
Dizia-me que casasse contigo.
Respondeu a mulher:
— Também ele me dizia a mim
Que casasse contigo, meu Valentim.
O marido não quis esperar por
mais para certificar-se, e nunca mais fez caso dela em toda a sua vida.
(Algarve)
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Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
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