
Ladislau Ventura
(A Milton Machado de Aguiar)

Um dia, cansado de percorrer os
teatros para ver se algum lhe representaria uma peça, farto de entrar nas
livrarias sem conseguir que lhe editassem um romance, sentiu-se desanimado. Em
breve, porém, recuperou o ânimo: é que se lembrara do conhecido adágio "querer
é poder" e, cheio de coragem, pôs-se em busca do meio de "poder".
Achou um magnífico:
Com uma atividade febril, em três
ou quatro meses, manufaturou dois novos dramas e três novos romances, enviou-os
pelo correio a um livreiro. Passados alguns dias comprou um camarote no D.
Amélia, muniu-se de um revólver e — o leitor por certo que ainda não esqueceu
essa emocionante tragédia — quando decorria o último ato dos Amordaçados!,
desfechou-o sobre a formosa Ester Valdez, que desempenhava a protagonista dessa
peça, atingindo-a em pleno coração.
Depois voltou a arma contra si...
Numa das suas algibeiras foi
encontrado um papel que dizia apenas o seguinte:
"Chamo-me Ladislau Ventura.
Não sou ninguém. Amo loucamente uma mulher pela qual nunca me poderei fazer
amar. Por isso, morro. Não consentirei, porém, que outro alcance aquilo que eu
não posso alcançar. No mesmo dia em que abandonar a vida, arrebatarei também a
dessa mulher."
Todos os jornais transcreveram estas
linhas chamando ao crime "espantosa tragédia vivida", "horrível
drama d’amor", etc., e muita menina romântica chorou e se apaixonou pelo "sombrio
herói de tão comovedora tragédia"...
***
Pouco tempo depois, os teatros
anunciavam as peças do "poético criminoso" e as livrarias os romances
do "terrível amoroso". Que magnífico reclamo!! As edições esgotaram-se,
os teatros encheram-se e hoje ninguém desconhece o nome de Ladislau Ventura...
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