No jardim de epíteto
O aprazível
de ver estes frutos, e a frescura que sai destas árvores frondosas, são — disse
o Mestre, — outras tantas solicitações da natureza para que nos entreguemos às
melhores delícias de um pensamento sereno. Não há melhor hora para a meditação
da vida, ainda que seja inútil, do que esta em que, sem que o sol esteja no
ocaso, já a tarde perde o calor do dia e parece que sobe vento do arrefecimento
dos campos.
São muitas
as questões em que nos ocupamos, e grande é o tempo que perdemos em descobrir
que nada podemos nelas. Pô-las de parte, como quem passa sem querer ver, fora
muito para homem e pouco para deus; entregarmo-nos a elas, como a um senhor,
fora vender o que não temos.
Sossegai
comigo à sombra das árvores verdes, em que não pesa mais pensamento que o
secarem-lhes as folhas quando vem o outono, ou esticarem múltiplos dedos hirtos
para o céu frio do inverno passageiro. Sossegai comigo e meditai quanto o
esforço é inútil, a vontade estranha; e a própria meditação, que fazemos, nem
mais útil que o esforço, nem mais nossa que a vontade. Meditai também que uma
vida que não quer nada não pode pesar no decurso das coisas, mas uma vida que
quer tudo também não pode pesar no decurso das coisas, porque não pode obter
tudo. E o obter menos que tudo não é digno das almas que solicitam a verdade.
Mais vale,
filhos, a sombra de uma árvore do que o conhecimento da verdade, porque a
sombra da árvore é verdadeira enquanto dura, e o conhecimento da verdade é
falso no próprio conhecimento. Mais vale, para um justo entendimento, o verdor
das folhas que um grande pensamento, pois o verdor das folhas, podeis mostrá-lo
aos outros, e nunca podereis mostrar aos outros um grande pensamento. Nascemos
sem saber falar e morremos sem ter sabido dizer. Passa-se nossa vida entre o
silêncio de quem está calado e o silêncio de quem não foi entendido, e em torno
disto, como uma abelha em torno de onde não há flores, paira incógnito um
inútil destino.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2019)
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