
Os
naturalistas e os parnasianos

Cabe a Raimundo
Correia, Olavo Bilac e ao Sr. Alberto de Oliveira, primordial lugar entre os
representantes dessa corrente. Raimundo Correia é o mais profundo, o mais
arguto e penetrante dos três; Bilac é o mais amoroso, o mais lírico, e
perfeito; o Sr. Alberto de Oliveira, o mais nacional, aquele que mais
intimamente soube traduzir os encantos da nossa terra.
Não se mostraram
porventura mais impassíveis que os poetas os prosadores do Naturalismo. A história
do romance naturalista, aqui, está feita na obra de quatro escritores: Machado
de Assis, Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro e Raul Pompeia. Machado de Assis é o
psicólogo, sobreleva a todos pela profundeza da inteligência, pelo apuro da
linguagem, pela sobriedade da forma e pela ironia sutil, que o aproxima da
linhagem dos Sterne, dos Swift, na Inglaterra, dos Anatole, na França, e dos
João Paulo, na Alemanha. Da sua obra se desprende um sentimento de constante preocupação
pela beleza ou pela miséria terrena, e uma rara compreensão da triste
inutilidade a que as contingências reduziram o coração e o espírito do homem.
Em seus romances, o documento humano
não obedece a um plano preconcebido, a um postulado primordial, a uma lei
qualquer científica ou literária. Reflete-se neles, apenas, um espírito
indagador, que, a todo instante, se observa a si mesmo através dos outros, e
vai corrigindo, com o sorriso ou a lágrima, a imagem que a vida lhe põe diante
dos olhos. Machado de Assis, é, sem favor, sobre variados aspectos, o mais
significativo dos escritores de ficção da língua portuguesa, e, especialmente
entre nós, ficará como exemplo de discrição, graça de estilo e finura de
percepção. Aluísio Azevedo é um impressionista, tem a visão móbil e rápida, o
senso do colorido, é um retratista seguro e espontâneo. Os flagrantes que
desenhou são de uma leveza de toque admirável. Júlio Ribeiro é um voluptuoso,
cheio de requinte e artifício, mas possuidor de grande imaginação. Raul Pompeia
é um inquieto, um insatisfeito, um poeta comovido ante o espetáculo do mundo e
a fuga perene das coisas.
Entre os críticos,
historiadores e publicistas, que, de 1870 em diante se notabilizaram, estão
Tobias Barreto, chefe aplaudido da chamada escola do Recife, engenho versátil,
cultor fecundo da poesia, da jurisprudência, da etnografia, da filosofia e da historiografia,
polemista e orador de fama; Sílvio Romero, crítico abundante, autor da primeira
história sistematizada da nossa literatura, folclorista, sociólogo e professor
de filosofia; José Veríssimo, o mais equilibrado e sensato dos nossos críticos
literários; Araripe Júnior, espírito sutil, mas escritor nebuloso; Joaquim
Nabuco, historiador elegante e orador de grande relevo; Artur Orlando, Alcindo
Guanabara, um dos nossos mais completos jornalistas, Rocha Lima, Eduardo Prado,
publicista vigoroso, o Sr. Capistrano de Abreu, notável sabedor da nossa história,;
principalmente da colonial, crítico e filólogo distinto; e Rui Barbosa, cuja
fecunda atividade como orador, jurisconsulto e jornalista, e cujo prestígio
universal honram a nacionalidade brasileira.
No teatro naturalista
são dignos de r Artur Azevedo, Valentim Magalhães e Moreira Sampaio, que se
esforçaram, o primeiro mais que todos, por continuar a tradição dos Martins Pena
e dos França Júnior.
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RONALD DE CARVALHO
Estudos Brasileiros (1924)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
RONALD DE CARVALHO
Estudos Brasileiros (1924)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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