11/03/2019

Afrânio Peixoto - Ainda Cabral (História do Brasil)



Ainda Cabral

Prosseguindo a viagem, deixando o Brasil, a 2 de maio, as 11 restantes embarcações — a de Luís Pires perdera-se antes do Brasil, a de Gaspar de Lemos tornara, a levar notícia a Lisboa — rumaram para a costa de África para passar, ao largo, o Cabo de Boa Esperança. A 23 de maio foram salteados por uma tempestade, soçobrando quatro navios, por não terem tido tempo de amainar, os de Bartolomeu Dias, Vasco de Ataíde, Aires da Silva e Simão de Pina, perdendo-se, deles, tudo. Camões fez dizer ao Adamastor:
Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança
 (Lusíadas).
Os sete navios que sobraram dividem-se em três grupos: um, o de Pero Dias, desgarra, vai ao Mar Vermelho, o primeiro ocidental que tal ousou, e torna a Lisboa, num périplo aventuroso; dois, o de Tovar e o de Cunha, varam por Moçambique, onde os vão encontrar os quatro que traz o grupo de Cabral; reúnem, então, seis. De Moçambique a Quiloa, a Melinde, na Costa oriental da África, e, daí, a Angediva, a Calecut, a Cochim. Apesar dos propósitos e recomendações, porque a empresa é de paz e comércio — Aires Correa leva mercadorias para vender empregando o dinheiro na compra de outras, diz el-Rei nas “Instruções” a Pedrálvares — sobrevêm insídias, represálias, e a reação violenta de Cabral, que bombardeia Calecut, seguindo para Cochim e Cananor, onde se abasteceu de especiarias.
Em 16 de Janeiro de 1501 deixa a Índia, naufragando a nau de Tovar, já na costa de África: reduz-se a armada a cinco navios e, como, no menor deles, vai Tovar comissionado a Sofala, e chega por isso depois, Pedro Álvares torna ao reino apenas com quatro naus: uma atrasa-se, outra adianta-se, mas o capitão, com a capitânia e a nau de Pedro de Ataíde, chega a Lisboa, a 9 de julho de 1501.
Esta segunda viagem foi a mais importante que até aí se fizera, 13 naus, o Brasil de permeio, provisão de especiaria, e apesar das grandes perdas marítimas, de navios e gente, cobriu, dizem Gaspar Correa e Barros duas vezes o custo da expedição.
Tornado ao reino, Cabral foi ainda nomeado para o comando da quarta armada, em 1502, depois definitivamente atribuído a Vasco da Gama. Casou com D. Isabel de Castro, viveu em Santarém, onde tinha propriedades, sofreu de maleitas, e, por fim, veio a falecer, por volta de 1520, jazendo aí, enterrado na Igreja da Graça, onde tem, na lápide rasa, este epitáfio: Aquy jaz Pedrálvares Cabral e dona Isabel de Castro sua molher cuja he esta Capella he de todos seus erdeyros aqual depois da morte de seu marydo foi camareyra mor da Infanta dona Marya fylha del rey dõ João noso señor hu terceyro deste nome.

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