Aladim e a lâmpada maravilhosa
Entre os alfaiates da antiga cidade de Bagdá, Mustafá era um dos mais atribulados,
não só porque nem sempre ganhava o suficiente para satisfazer as necessidades
de sua família, como ainda pela péssima índole do seu único filho Aladim, que
vivia nas ruas vadiando em companhia de outros garotos de sua laia, armando desordens
de toda a espécie.
Se bem que grande culpa tivesse o velho Mustafá nesta péssima educação
de seu filho Aladim, não lhe escasseava, agora que já era tarde, os bons conselhos,
e mesmo os argumentos sensíveis; mas aos conselhos o rapaz fazia ouvidos de
mercador, e quanto às pancadas sacudia-as como o cão de guarda sacode a água ao
sair do banho.
Houve um momento em que o alfaiate se armou de uma boa dose de
energia, e, declarando ao rapaz endiabrado que o havia destinado a aprender o
seu ofício, obrigou-o a permanecer algumas horas na oficina, ocupado com a
linha e a agulha, sob a pressão dos panos, que representava o cetro pesado da
autoridade paterna; mas no primeiro descuido Aladim saltava pela janela, em
busca dos seus companheiros de correria, embora lhe fossem na volta medidas as
costas com o instrumento indicado.
Cansado por fim, Mustafá largou dos panos e da vida, e, morrendo de
desgosto, deixou em extrema miséria a mulher.
Reconhecendo a pobre viúva que nunca faria do filho um alfaiate
morigerado e capaz, vendeu a oficina, dando-lhe o produto desta venda e o seu
cansado trabalho mal para não morrer de fome.
Para Aladim principiou então uma época de independência completa; já
não tinha quem lhe fosse à mão, e forte e robusto, com seus quinze anos, em
breve adquiriu grande prestigio entre os garotos das ruas e praças públicas,
cujas correrias capitaneava, sem jamais preocupar-se do futuro, nem lembrar-se
das mágoas que ia causando à sua pobre mãe.
Estando um
dia em forte algazarra com os seus companheiros, veio a passar um ancião, que
se deteve a olhar as evoluções ruidosas dos rapazes. Como é costume acontecer a
todos, chamou-lhe a atenção a figura proeminente de Aladim, e entrou a tomar
dos vizinhos informações minuciosas acerca do jovem libertino.
Como
veremos mais adiante, andava este ancião em umas aventuras que muito o interessavam,
mas para as quais necessitava de um auxiliar jeitoso, e, reconhecendo em Aladim
as qualidades indicadas para os seus fins, chegou-se ao rapaz, chamou-o de
lado, e lhe disse com voz comovida:
—
Amiguinho, o alfaiate Mustafá não é teu pai?
— Era, sim
senhor, mas já há dois meses que morreu, respondeu Aladim mui
desembaraçadamente.
— Ai de
mim, que cheguei tarde! — exclamou o ancião; — não mais verei o meu querido
irmão! Sim, meu filho, sou teu tio, que volta de longa viagem, e esperava
repartir com teu pai riquezas adquiridas por muito trabalho. Logo te conheci ao
avistar-te, porque tens todas as feições do meu pobre irmão quando era moço
como tu! E agora o encontro morto!
E,
prorrompendo em lamentações e gemidos, abraçou ternamente o moço, que muito
estranhava este encontro, porque nunca ouvira falar da existência de tal tio.
Mas como
por fim o ancião, depois de curto colóquio, lhe entregara um cartucho de moedas
de ouro, para levá-los à sua mãe, Aladim cessou de cismar. O ancião, porém, acrescentou:
— Dize à tua
mãe, minha cara cunhada, que tenho muita, muita vontade de conhecê-la; que
prepare uma boa ceia para nós, e tu virás à noitinha buscar-me neste mesmo lugar,
para me levares à tua casa.
Enquanto Aladim
se afastava correndo, o ancião o seguia com uns olhares astutos e maliciosos.
Nenhum parentesco o prendia ao jovem, mas dele precisava para a realização do
projeto de apossar-se de um grande tesouro sepultado perto da cidade. Era este velho
um mágico africano, muito afamado, que por meio dos seus livros e cálculos
cabalísticos descobrira a jazida do tesouro, e agora viera a Bagdá para colher
o fruto dos seus estudos.
Como uma
flecha apareceu Aladim em casa, e, atirando com as moedas de ouro ao regaço de
sua mãe, exclamou com grande agitação:
— Eis aqui
o que me deu o meu tio, um grande ricaço, para que lhe prepares uma ceia, que
hoje quer comer conosco.
A pobre da
velha olhou atônita para o filho; não conhecia parente, e muito menos parente
rico e generoso, e a vista do dinheiro despertou-lhe apreensões cruéis:
— Meu
filho, meu filho! Não terás roubado este dinheiro?
— Qual
roubado! — já lhe disse que foi o tio quem mo deu, o irmão de meu pai, que tem
mais dinheiro do que o Sultão, e vem cear conosco e dar cabo do nossa miséria.
Revelava-se
tal sinceridade nas palavras do menino, que a viúva se tranquilizou, e pôs mãos
à obra para preparar uma refeição digna de visitante tão distinto.
Quando de
noite o mágico apareceu em casa da viúva, mostrou-se profundamente comovido, e
tão copiosamente chorou ao percorrer os aposentos outrora habitados pelo finado
irmão, que a dona da casa e até o próprio Aladim não puderam deixar de
prorromper também em lamentações e prantos.
Por fim os
três enxugaram as lágrimas, e se puseram a comer, contando o mágico, durante a
refeição, uma história bastante verossímil, segundo a qual havia quarenta anos
que deixara Bagdá para correr mundo, tendo estado nas índias, na Síria, na
Pérsia, no Egito e na Arábia, na China e na Turquia, recolhendo riquezas em
toda a parte, terminando com a declaração de que agora pretendia acabar os seus
dias em companhia da cunhada e do sobrinho, e repartir com eles o fruto dos
seus trabalhos. Indagou da vida e dos estudos de Aladim, e, ouvindo as queixas
sentidas da viúva acerca da péssima conduta do filho, o mágico disse com ares
conciliadores:
— Deixe
estar, minha irmã, as culpas do menino não hão de ser irremediáveis. Eu sei por
experiência o que são as turbulências da mocidade; mas passam com reflexão e
trabalhos adequados ao gosto juvenil. Que te parece, Aladim, a condição de
negociante? Serás dono de um grande armazém, deslumbrante de ricas fazendas e
objetos de arte afamada.
— Bem o quisera,
respondeu Aladim, mas o dinheiro?
— Não te
importes com o dinheiro, que tenho de sobejo para comprar cem armazéns, por esplêndido
que sejam. Amanhã tornaremos a falar neste assunto. Por hoje vamos descansar.
E despediu-se
cordialmente da viúva, que ficou a dar bons conselhos ao filho e a celebrar a
generosidade do cunhado, que tão inesperadamente lhe havia aparecido.
No dia
seguinte o mágico veio buscar Aladim, para dar um passeio nos arredores da
cidade, prevenindo a viúva de que talvez nesse dia o menino não se recolheria,
visto que pretendia apresentado a alguns amigos convidados a cearem com ele.
Caminhando
por entre jardins e palácios, os dois pouco a pouco se afastaram da cidade, até
que alcançaram um local bastante ermo, no meio de um vale formado por duas colinas.
— Vamos
descansar aqui, disse o mágico, e, se tiveres ânimo, mostrar-te-ei coisas
maravilhosas, como nunca as sonhaste. Mas é mister que confies completamente em
mim, e cumpras à risca as minhas indicações.
Aladim era
rapaz destemido, e nenhum motivo tinha de desconfiar da sinceridade daquele que
se dizia ser o seu tio. Assim disse:
— Tanta
amizade já me mostraste, que sem hesitar farei o que me mandares.
— Pois
bem, respondeu o mágico, junta já uma porção de galhos secos, para fazermos uma
fogueira.
Aladim em
um instante recolheu braçados de ramas, que colocou no lugar designado pelo
mágico, e em breve grande labareda subiu aos ares. O mágico tirou de uma boceta
de ouro uns pós brancos, que deitou nas chamas, murmurando frases cabalísticas.
Nuvens espessas de fumo espalharam-se pelo vale; de repente ouviu-se um grande
estrondo, e a terra, estremecendo e abrindo-se, deixou patente às vistas uma
laje de mármore branco, com um anel de bronze no meio.
Aladim, apesar
do seu gênio corajoso, assustou-se perante estas manifestações mágicas, e
intentou fugir.
O ancião,
porém, o deteve violentamente, e lhe disse em voz irada:
— Agora já
não podes recuar. É preciso levar ao fim a empresa encetada, senão mato-te à pancada.
E com tal
ferocidade lhe brilhavam os olhos, ao proferir estas palavras, que Aladim ficou
aterrado, e prometeu obedecer em tudo aos mandamentos do tio, que já não trazia
vestígios do carinho que até então lhe havia mostrado.
O mágico,
abrandando um pouco a voz, lhe disse:
— Debaixo
deste laje de mármore acham-se escondidos os tesouros os mais esplêndido s do
mundo inteiro. Desde a origem dos tempos estas riquezas te são destinadas a ti,
e só tu podes alçar esta laje. Nem eu mesmo, que contudo a descobri, posso
tocar-lhe, nem descer a escada, escondida por esta pedra. Alça, pois, a laje!
— Ah! meu
tio, como poderei eu com as minhas débeis forças alçar esta pedra enorme?
—
Experimenta, disse o velho, e verás o que podes.
Aladim
obedeceu, e a laje lhe pareceu leve como uma pena, e com a maior facilidade
descobriu a entrada do subterrâneo, aparecendo os primeiros degraus de uma
escada.
— Estás
vendo, Aladim? disse o velho; com a mesma facilidade conseguirás o resto, e
serás mais rico do que o mais poderoso Sultão. Para tranquilizar-te coloco-te
este anel no dedo, que te protegerá contra qualquer perigo. Desce a escada; na
caverna encontrarás uma porta, que te conduzirá a três aposentos, nos quais verás
grande numero de vasos de ouro, cheios de metais preciosos. Mas não toques nem
sequer com a roupa em coisa alguma, sob pena de morte, pois que todos estes
vasos estão guardados por gênios que não entendem de brincadeira. Depois do
terceiro aposento encontrarás um vasto jardim, cheio de árvores cobertas de frutos
formosos. Uma vereda te conduzirá a um templo, onde em cima de um altar verás
arder uma lâmpada de latão ordinária. Apaga a luz, deita fora o líquido, e
guarda a lâmpada no seio. Guarda-a bem, e não a percas, é o que mais te recomendo.
Ao voltares podes colher frutas e agarrar ouro e prata quanto puderes carregar,
tudo será teu, menos a lâmpada, que quero e exijo para mim.
Aladim
havia ouvido atentamente as recomendações do ancião, e, prometendo executar
fielmente as suas ordens, penetrou no subterrâneo.
Com passos
firmes percorreu os três primeiros aposentos, desviando a vista dos vasos
preciosos, para não cair em tentação. Sem dificuldade alguma encontrou no
jardim, brilhantemente iluminado, o templo de ouro, apoderou-se da lâmpada, e,
guardando-a no seio, depois de haver despejado o líquido que continha, disse consigo:
— Que
interesse pode despertar ao tio este miserável objeto, que por centenas poderia
encontrar em Bagdá? Será alguma birra de velho!
Durante a
sua retirada, Aladim demorou-se mais um pouco no jardim, contemplando os
milhares de árvores, que por entre a sua verde folhagem ostentavam inúmeros frutos
amarelos, brancos, purpúreos, verdes e azuis, todos transparentes e rutilantes
como estrelas.
Despertou-lhe
a vontade de provar estas frutas formosas; mas, tendo colhido uma maçã, e
querendo fincar-lhe os dentes, achou-a dura como cristal, e compreendeu que ali
havia artifício. Resolveu então levar uma coleção delas à sua mãe, como
brinquedos feitos de vidro colorido. Nisto, porém, enganava-se redondamente,
porque todas estas frutas eram de pedras preciosas do mais subido valor, e
bastaria uma única das maças para comprar um reino. As frutas brancas eram pérolas
e diamantes, as encarnadas rubis, as verdes esmeraldas, as azuis safiras e ametistas.
Aladim
encheu, com as que ao acaso agarrou, as algibeiras e uma grande bolsa que havia
trazido na cintura, e, sentindo-se bastante carregado, lembrou-se da retirada.
Quando alcançou a escada, que era bastante estreita, o moço viu-se embaraçado
para subir, por causa do volume que faziam as pedras preciosas; ergueu então a
voz e chamou pelo tio, para que este lhe estendesse a mão e lhe ajudasse a sair
do subterrâneo.
— Tens a
lâmpada? perguntou o ancião com sofreguidão.
— Tenho-a,
mas antes de dá-la quero sair daqui, respondeu Aladim.
O mágico,
porém, receando que, uma vez fora do subterrâneo, o moço se negasse a
entregar-lhe a lâmpada, declarou-lhe que não o ajudaria a sair enquanto não
tivesse entregue o objeto tão almejado.
Depois de
grande teima de parte à parte, Aladim disse:
— Pois
bem, eu ficarei sentado na escada, e não darei a lâmpada, sem sair, embora
tenha que morrer de fome.
Grande
furor apoderou-se do mágico ao ouvir estas palavras, que revelavam a pertinácia
de Aladim; concluiu que o moço estava resolvido a subtrair-lhe a lâmpada, e
exclamou com voz terrível:
— Morre,
pois, malvado, morre enterrado vivo! E proferiu precipitadamente algumas
fórmulas cabalísticas; a laje de mármore cobriu imediatamente a entrada do
subterrâneo, sepultando o infeliz moço, condenado a perecer miseravelmente na
sua prisão.
O mágico,
vendo frustrados os seus planos, e não podendo intervir pessoalmente para
arrebatar a lâmpada, teve de contentar-se com a sua ruim vingança, e voltar
para a África em busca de novos meios e combinações para obter o tesouro tão
ambicionado.
Aladim,
entretanto, julgando-se perdido irremissivelmente, pôs-se a chorar com
amargura. Ao cabo de algum tempo, quis ver se pelos aposentos não acharia
alguma sabida; mas encontrou a porta fechada. Desapareceu o último vislumbre de
esperança, e o moço sentou-se nos degraus da escada à espera da morte.
Felizmente um sono profundo veio por temporariamente termo às suas mágoas. Mas,
ao despertar, Aladim prorrompeu novamente em lamentações, erguendo os braços e
torcendo as mãos convulsivamente. Nestas contorções, esfregou o anel que o
mágico lhe havia dado, e de repente encheu-se a caverna de um grande clarão, e
aos pés de Aladim surgiu um gênio, gigantesco e de horrível aspecto, que
exclamou com poderosa vez:
— Que
mandas? Os gênios do anel estão às tuas ordens, e eu sou o teu escravo.
Aladim,
assustado no primeiro momento pelo estranho da aparição, sossegou ao perceber a
humildade das palavras do gênio, e disse:
— Podes
tirar-me desta caverna?
— Não tens
mais que ordenar!
— Pois
então leva-me a Bagdá, para perto da casa de minha mãe.
O gênio
suspendeu Aladim delicadamente com as suas longas garras, abriu a terra com um
sopro ruidoso, e, fendendo os ares com rapidez vertiginosa, alcançou a cidade,
onde depôs o moço na vizinhança de sua habitação, perguntando submissamente:
— Que mais
ordenas?
— Nada, por
ora, respondeu Aladim. Chamar-te-ei quando de ti precisar.
Desapareceu
o gênio, e Aladim apresentou-se em casa de sua mãe, extenuado de cansaço e
morto de fome.
A pobre da
velha, que o havia julgado perdido, recebeu-o com exclamações jubilosas e ternos
carinhos, e, ouvindo dizer que em três dias nada havia comido, correu a
preparar-lhe uma boa refeição para restaurar-lhe as forças.
Em seguida
Aladim narrou-lhe as suas aventuras, e, como prova de sua narração, mostrou-lhe
a lâmpada e os frutos colhidos no jardim maravilhoso.
A velha,
porém, disse:
— Não há duvida
que são bonitas estas frutas de vidro; mas não têm lá muito valor, nem tão
pouco a lâmpada velha. Deverias ter trazido antes uns punhados de ouro.
— Tens
razão, disse Aladim; mas não me lembrei. Por ora, o mais acertado é irmos
dormir, porque caio de cansado.
No dia
seguinte, para o almoço, a velha viu-se em grandes apuros, porque não possuía
mais nem dinheiro nem provisões. Quis ir vender um pouco de algodão de fiar,
que lhe restava; Aladim, porém, lembrou-se que mais depressa poderia vender a
lâmpada, e, para torná-la mais apresentável, disse à velha que a limpasse.
Pegou a viúva
em um trapo, e pôs-se a esfregar o objeto em questão.
Imediatamente
abriu-se o chão, e surgiu um gênio de aspecto ainda mais aterrador do que o
escravo do anel, e exclamou com voz retumbante:
— Que
mandas? Os gênios da lâmpada estão às tuas ordens, e eu sou o teu escravo!
De susto
desmaiou a viúva; Aladim, porém, já familiarizado com os gênios, apoderou-se da
lâmpada, e disse:
— Recomendo-te
que para outra vez te apresentes com modos mais delicados; por enquanto vais
trazer-me um bom almoço.
— Sem
demora o teu desejo será satisfeito, disse o gênio; devo prevenir-te, contudo
que, sendo esfregada a lâmpada com força, nós, os teus escravos, somos
obrigados a gritar muito; chamando-nos, porém, com brandura, falíamos
brandamente como tu.
Dada esta
explicação, o gênio desapareceu, voltando segundos depois com doze travessas de
prata cheias de manjares deliciosos. Pôs a mesa e completou o serviço com pão,
vinho e copos de cristal, e sumiu-se ao mandado de Aladim.
O moço
prodigalizou então os seus cuidados à viúva, que ainda permanecia desmaiada, e
muito admirada ficou esta quando, ao despertar, deu com a mesa tão extraordinariamente
posta.
— Não te
preocupe isto, disse Aladim; come e depois saberás tudo.
Banquetearam-se
os dois como poderosos da terra, e quando chegarão à sobremesa, Aladim referiu:
— Devemos
este banquete esplêndido aos gênios, escravos da lâmpada. Compreendo agora
porque o mágico tanto se empenhava para obter este objeto. Deve ter qualidades
ocultas, que o tempo nos há de revelar. Por enquanto servir-nos-á para alcançar
os meios de uma existência cômoda; convém, porém, guardar o maior segredo para não
despertar a inveja dos próximos.
— Faze o
que quiseres, replicou a velha, contato que me tires da vista esta lâmpada, que
quase causou-me a morte.
Aladim
tomou a lâmpada e foi escondê-la em um recanto do sótão, prometendo-se recorrer
a ela no caso de precisar.
Alguns
dias depois acharam-se esgotados os manjares fornecidos pelo gênio, e a viúva
aconselhou o filho que fosse vender um dos pratos; mas nem ela, nem Aladim sabiam
que estes objetos eram de prata finíssima, e assim o moço, caindo nas garras de
um judeu ladrão, obteve apenas uma moeda de ouro pela prata que valia pelo
menos sessenta moedas.
Julgou,
com tudo, ter feito bom negócio, e pouco a pouco foi vendendo os outros onze
pratos pelo mesmo preço.
Não
sobrando mais nada para vender, Aladim foi ao sótão, esfregou a lâmpada e imediatamente
apareceu o gênio, ao qual ordenou que o servisse como da primeira vez, ordem
que sem demora foi executada.
Correram as
coisas mais ou menos do mesmo modo.
Quando,
porém, Aladim saiu para vender um dos pratos ao judeu, encontrou um ourives,
que frequentemente o havia visto passar com os pratos, e que desta vez o chamou
e perguntou-lhe se vendia os objetos ao judeu da vizinhança.
— Sim,
respondeu Aladim, e ele me paga à razão de uma moeda de ouro.
— Uma moeda
de ouro! exclamou indignado o ourives; um moeda de ouro por um objeto que ao
peso vale mais do que sessenta! Traze-me tudo quanto tens, e eu te pagarei
fielmente o seu justo valor.
Aladim foi
buscar a sua baixela e recebeu duas mil moedas de ouro, soma que lhe pareceu
fabulosa, e que lhe proporcionou os meios de viver comodamente com a sua mãe,
de vestir decentemente e de frequentar boa sociedade, onde depressa adquiriu
conhecimentos úteis e modos finos e elegantes, de maneira que da sua vida
anterior, vagabunda e desregrada, já não restava vestígio.
Um dia,
quando Aladim já havia alcançado os dezoito anos, ouviu apregoar uma ordem do
Califa, mandando fechar todas as casas, e proibindo o transito nas ruas,
durante um passeio que a princesa Adônida ia dar.
Esta ordem
despertou em Aladim a curiosidade de ver a princesa, e, chamando por meio da
lâmpada o gênio, ordenou-lhe que o levasse aos aposentos de Adônida, o que imediatamente
foi efetuado.
Invisível,
Aladim pôde contemplar detidamente a formosa princesa no meio de suas damas, e,
reconduzido pelo gênio à sua modesta habitação, o moço achou-se tão
impressionado pela formosura de Adônida que se torturou o espírito para achar
um meio de possuí-la.
Não
descobrindo, porém, coisa acertada, dirigiu-se á sua mãe e lhe disse:
— Minha mãe,
agrada-me tanto a princesa Adônida, que me quero casar com ela. Vai, pois, ao
Sultão, e pede a sua mão.
A velha
olhou atônita o filho, e prorrompeu em uma grande gargalhada:
— Estás doido,
meu filho, respondeu por fim. Ir ter com o Sultão, com as mãos vazias?
Deitar-me-ão imediatamente à rua!
— Não irás
com as mãos vazias, e o mimo que levarás poderá deslumbrar os olhos do mais
poderoso Sultão da terra. Aquelas frutas, que julgávamos de vidro, hoje sei que
são pedras preciosíssimas, por que muitas vi, posto que de muito menor valor,
nas lojas que frequentei.
Aladim
tomou uma travessa de prata, e arrumou nela uma porção de frutas, com tal jeito
e arte, que apresentavam um aspecto verdadeiramente deslumbrante, a ponto que a
mesma viúva não pôde negar que tal presente era realmente digno de um soberano.
Ela cedeu,
pois, aos rogos do filho; cobriu o prato com um pano de fino linho, e foi ter
ao palácio, onde, metida no meio de outras pessoas, colocou-se perto do trono
do Sultão, encarando atentamente o soberano, não achando, contudo, o ânimo
necessário para dirigir-lhe a palavra.
O Sultão,
porém, tinha o costume de falar somente com aquelas pessoas que houvessem
apresentado requerimento, e assim passou-se a audiência, e se retirarão os
solicitantes, ficando só a viúva perto do trono acanhada e vexada. O soberano,
notando então a sua presença, chamou-a, e perguntou-lhe o que queria.
— Poderoso
senhor, — disse trêmula a viúva, — falta-me o ânimo de falar perante todo o teu
conselho; além disto, peço-te que não me castigues, se o meu pedido não for do
teu agrado.
— Desde já
te prometo pleno perdão, respondeu o Sultão, dando um sinal aos seus conselheiros,
que todos se retiraram, ficando apenas o grão-vizir ao lado do soberano.
— Fala
agora sem receio, — acrescentou este.
A velha animou-se,
e minuciosamente referiu a vida do seu Aladim e o amor que este consagrava à
princesa.
—
Irremediavelmente morrerá o infeliz, — agregou a viúva, — se, como é de supor,
repelires o seu pedido. Em todo o caso, perdoarás a uma mãe, que teve pena dos
sofrimentos do seu filho.
O Sultão
tinha bom coração; comoveram-no os acentos da viúva, e graciosamente disse:
— Veremos
o que se pôde fazer. Mas mostra-nos agora o que trazes naquele pano.
— É um mimo
modesto, que Aladim te envia — replicou a viúva, descobrindo as frutas.
O Sultão,
porém, levantou-se de um salto, exclamando:
— Ah! que
esplendor! Pedras preciosas como estas nenhum soberano da terra possui! Olha,
Vizir, e admira esta magnificência! Não te parece este mimo digno da princesa?
O ministro
ficou igualmente bastante impressionado; mas, como há muito nutria o desejo de
casar o próprio filho com a princesa Adônida, disse em voz baixa ao seu
soberano:
— Daria Vossa
Majestade sua filha a um homem de baixa estirpe por uma coleção de diamantes?
O Sultão,
porém, respondeu-lhe do mesmo modo:
— Nem
todos os reis do mundo seriam capazes de oferecer um mimo tão maravilhosamente
formoso como este; assim não posso deixar partir a mulher sem dar-lhe alguma
esperança, embora me repugne casar Adônida com o filho de um alfaiate. Não sei
como haver-me.
— Pois,
diga Vossa Majestade que concederá a mão da princesa, se Aladim lhe enviar
outro presente, que designará com tanta exigência, que seja impossível encontrá-lo.
— Muito
bem, respondeu o Sultão, e dirigindo-se á viúva, lhe disse:
— Dize a
teu filho que lhe darei a mão da princesa, se hoje mesmo por quarenta escravos
brancos e quarenta negros de grande formosura me mandar quarenta bacias de ouro
cheias de frutas iguais a estas. E, se não puder efetuar isto, que perca as
esperanças de possuir Adônida.
A pobre da
velha teve grande susto ao ouvir esta decisão, porque julgou que Aladim nunca
poderia encontrar tanta riqueza; contudo, depois de ter-se demente do Sultão,
voltou correndo para a sua casa, e contou tudo fielmente ao filho, que
prorrompeu em gargalhadas alegres, com grande espanto da viúva.
Retirou-se
o moço para o sótão, e chamou o gênio da lâmpada, ao qual referiu a exigência
do Sultão, ordenando-lhe que fornecesse os meios de satisfazê-la.
Sorriu se
o gênio, como achando brincadeira a execução de tal ordem; desapareceu, e daí a
nada voltou com tudo quanto Aladim havia pedido, cabendo mal o grande numero de
escravos na casa exígua da viúva.
O moço
chamou sua mãe, e lhe disse:
— Eis aqui
o que o Sultão pediu. Corre ao palácio, apresenta-lhe os mimos e lembra-lhe a
sua promessa.
O gênio da
lâmpada sabia ser artisticamente liberal. Não só achavam-se os escravos
ricamente trajados com os tecidos mais finos e vistosos, cobertos de diamantes
e rubis, mas ainda eram de porte tão majestoso, de ademanes tão distintos, que
cada um deles mais parecia um príncipe do que um vil servidor.
Seguiam a viúva
aos pares, um branco, um negro, levando este último à cabeça uma bacia de ouro
magnificamente cinzelada, e cheia de frutas de pedras preciosas.
Seria difícil
descrever o alvoroço que esta comitiva suscitou nas ruas de Bagdá; com aclamações
entusiásticas o povo acompanhou a viúva de Mustafá e seu brilhante séquito até
o pátio do Sultão, onde a guarda imperial, enganada pela presença nobre e ai rosa
dos escravos, bradou às armas, como se visse entrar poderosos soberanos.
A viúva
penetrou com a sua comitiva no solão de audiência, prostrou-se perante o
Sultão, e disse:
— Eis aqui
como Aladim tentou cumprir as tuas ordens.
O Sultão,
porém, ficou atônito e exclamou:
— Alah il Alah! Que vejo! Donde vêm estas
maravilhas? Que te parece, Vizir?
O
ministro, por mais que lhe pesasse, não pôde deixar de confessar que as
condições haviam sido fielmente observadas, e que não haveria remédio senão dar
a Aladim a princesa Adônida.
— Pudera
não! exclamou o Sultão; todos os soberanos do mundo ficam ofuscados ao lado de Aladim,
filho de Mustafá. Que apareça sem demora no meu imperial palácio.
Enquanto o
Sultão, depois de ter mandado as bacias de ouro aos aposentos da princesa e com
esta se deleitava na contemplação das joias preciosas, correu a viúva, no auge
do contentamento, à sua casa, comunicar a seu filho a boa nova do consentimento
do soberano.
Aladim
estremeceu de prazer, e foi preparar-se para comparecer dignamente perante o
seu futuro sogro, isto é, chamou o gênio e lhe disse:
— Os teus
mimos produziram efeito desejado. O Sultão concede-me a mão da princesa. Trata-se
agora de obter os meios de apresentar-me decentemente. Tu, porém, mostraste tão
bom gosto, que nenhuma prescrição te faço, confiando completamente em tuas
combinações artísticas.
—
Descansa, senhor, disse o gênio; sem mais tardar o teu escravo tratará de
contentar-te.
E começou
por meter Aladim em uma banheira de ouro e mármore, onde uma legião de gênios o
lavaram e perfumaram com as essências mais preciosas do Oriente.
Em seguida
revestiram-no de trajos tão deslumbrantes, que Aladim achou excedidas as suas
mais atrevidas esperanças. Então o gênio da lâmpada o reconduziu ao seu quarto,
e lhe disse:
— Meu
poderoso senhor, diante da tua casa te esperam muitos escravos montados em cavalos
mais brancos que a neve virginal, e oitenta camelos ricamente ajaezados e
carregados de presentes para o Sultão e a tua noiva. Tua mãe montará uma cavalgadura
árabe do mais puro sangue, rodeada de seis damas que aguardam as suas ordens.
Para ti há um formoso ginete como nunca o mundo vira outro igual. Finalmente,
acompanhar-te-ão muitos criados com bolsas cheias de moedas de ouro e mandarás distribuir
pelo povo. Estás contente com o teu escravo?
— És um
bom e hei servidor, disse Aladim; agradeço-te a perícia com que tudo
arranjaste. Agora podes ir-te, ficando, porém, de prontidão para novas ordens.
A notícia
da opulência de Aladim se havia espalhado pela cidade toda, e com admiração
profunda foi recebida a nova do casamento com a princesa. A rua onde morava o
noivo, e todas as outras do trajeto até ao palácio, apinharam-se de povo, que
se regozijava com a sorte feliz de Aladim, porque este, durante os últimos anos,
se havia mostrado bom e polido para com todos, atraindo assim muitos amigos.
Quando saiu de sua casa, e cavalgou o formoso ginete, saudando para todos os
lados, o entusiasmo do povo traduziu-se em aclamações frenéticas:
— Viva o príncipe
Aladim! Que a felicidade e o bem-estar o acompanhem!
A comitiva
pôs-se em movimento: na frente, os vinte escravos em seus cavalos brancos; em
seguida, Aladim ao lado de sua mãe, precedendo os camelos carregados de
presentes; por último, os criados atirando punhados de ouro para o povo, que
não cessava de gritar:
— Viva Aladim,
viva!
Na porta
do palácio o Sultão recebeu o moço, e abraçando-o, lhe disse:
— Que Alah
abençoe a tua entrada, querido filho meu! Sê bem-vindo, e recebe a tua noiva, a
princesa Adônida.
E,
segurando Aladim pela mão, conduziu-o por entre as fileiras de cortesãos, ao
som de harpas e címbalos, aos aposentos da princesa.
Aladim
ajoelhou-se perante Adônida, beijou-lhe a mão, e perguntou profundamente comovido:
— É de tua
livre vontade que vais seguir-me?
O rosto
formoso da princesa cobriu-se de ondas purpurinas, e ela disse com grande
recato:
— Obedeço
de bom grado às ordens de meu pai, e confio completamente em ti.
Comparecerão
então os mulás, e o casamento teve lugar imediatamente.
Depois da cerimônia,
o Sultão disse:
— Julgo
acertado, Aladim, que fiques morando com tua mulher e tua mãe no meu palácio, quanto
mandares construir um castelo digno da tua opulência.
— Querido
sogro, respondeu Aladim, quem casa quer casa. Só te peço paciência até amanhã,
e verás o que sei fazer. Gozemos, por enquanto, as delicias de dia tão assinalado.
O Sultão conduziu
seus filhos ao salão do banquete, onde se achavam reunidos os vizires,
conselheiros e cortesãos, que à porfia felicitaram os noivos. Havia duas mesas
para o banquete nupcial, uma grande para a gente da corte, outra menor para o
Sultão, a viúva e os seus filhos. Harmonias deliciosas corriam pelo salão, e exclamações
jubilosas celebravam os noivos formosos, que, inebriados de ventura, nadavam em
um mar de alegria.
Ao cair da
noite, Aladim ergueu-se, despediu-se de sua esposa e do Sultão, e dirigiu-se sozinho
ao sótão de sua casinha, que, depois deste dia de suntuosa agitação, lhe
pareceu bem solitária.
Sem demora
chamou o gênio da lâmpada, e lhe disse:
— Querido
amigo, tão liberal te mostraste para comigo, que apenas me atrevo a pedir-te
novos favores. Contudo, preciso ainda de ti. Eis-me casado com a formosa Adônida,
mas bem vês que não a posso trazer para este pobre casebre. Quero, pois, que me
construas esta noite um castelo defronte do palácio do Sultão. Deixo ao teu
cuidado a edificação; só te recomendo que no último andar haja um único e vasto
salão, construído de lajes alternadas de ouro e prata. Em cada uma das quatro
paredes quero seis janelas, cujos caixilhos, com exceção de um, que ficará por
acabar, sejam feitos com pedras preciosas, de modo que nunca se haja visto coisa
igual. Em lugar de vidros, empregarás lâminas de diamante. Podes executar estas
ordens até amanhã?
— Deixa
estar, Aladim, respondeu o gênio, amanhã tudo estará pronto de conformidade com
o teu mandado.
Desapareceu
o gênio, e Aladim deitou-se a passar a última noite em sua casinha modesta. Ao
romper do dia, levantou-se, meteu a sua lâmpada no seio, e correu a ver como o
gênio havia cumprido com a sua promessa. E encontrou o palácio novo, rutilante
como o sol. Ao passar o umbral, foi recebido por uma legião de servidores
magnificamente trajados, que perante ele se prostraram respeitosamente. No
primeiro aposento deu com o gênio, que lhe perguntou:
— Estás
satisfeito Aladim?
O moço
respondeu:
— Muito, e
declaro-te que és a flor de todos os servidores.
Sorriu-se
o gênio e levou Aladim sucessivamente a todos os aposentos do palácio, que
rivalizavam em magnificência e formosura.
Por fim
chegaram diante do salão encomendado especialmente por Aladim.
Já a porta
da entrada era uma maravilha deslumbrante de ourivesaria, de ouro maciço,
cravejada artisticamente de diamantes e safiras. Ao penetrar, porém, no
recinto, o noivo de Adônida teve de fechar por um momento os olhos, porque
parecia-lhe que estava a mergulhar-se em um mar de luz esplendorosa. Com efeito,
o que tinha diante de si era obra tão maravilhosa, que a imaginação mais
atrevida não conseguiria concebê-la.
As paredes
eram construídas de lajes de ouro e prata, alternadas com a mais exata
regularidade, e polidas como cristais de espelho. Os caixilhos das janelas
talhados em ouro, ostentavam os mais formosos arabescos desenhados com pedras
preciosas. Belíssimas pinturas adornavam o teto, e um tapete tecido por mãos de
fadas cobria o soalho.
Aladim
ficou encantado e agradeceu nos termos os mais cordiais o magnífico desempenho do
gênio da lâmpada.
Este
mostrou-se sensível aos louvores de seu senhor, e convidou-o a visitar
igualmente as dependências do esplêndido palácio.
Desceram a
um pátio rodeado por três lados por imensos edifícios construídos em estilo
condigno do corpo principal.
Achavam-se
à direita o tesouro, à esquerda as cavalariças e no fundo as habitações para
numerosos servidores e escravos.
No tesouro
encontrou Aladim montões de moedas de ouro, de adereços preciosos, de diamantes
e pérolas, e baixelas artisticamente lavradas de todos os gostos e estilos.
Nas
estribarias viu mais de cem ginetes de sangue puríssimo, oriundos da Arábia e
do Iêmen, dos quais cada um valia uma fortuna.
Eram de
prata as manjedouras e de mármore os bebedouros.
Arneses
riquíssimos, guarnecidos de ouro e cravejados de diamantes e rubis, estavam
pendurados em colunas de jaspe, e tão abundante era a coleção, que podia ser
ajaezado cada um dos numerosos cavalos de modo diferente.
Aladim
tornou a agradecer ao gênio, recomendando-lhe que ficasse de prontidão para
novo chamado; em seguida foi ter com sua esposa, sua mãe e seu sogro,
convidando-os a visitar o seu palácio.
Opinou o
sogro que em uma única noite não se poderia fazer grande coisa; mas bem
depressa arrependeu-se desta asserção, quando lhe foi dado contemplar todas as
maravilhas que encerrava o palácio, que por si só era a mais esplendida de
todas as maravilhas. Quando viu o grande salão, não achou mais termos para
expressar a sua admiração: ficou estático.
Aladim
perguntou, entretanto, muito modestamente á sua esposa se a habitação era do
seu gosto.
Respondeu-lhe
a formosa Adônida:
— Até hoje
sempre considerei o palácio de meu pai como a obra mais preciosa do mundo.
Agora conheci que apenas é uma choupana, comparada com esta, e bem feliz me
tenho em poder viver aqui, a teu lado, querido Aladim.
Desenhou-se
um sorriso de grande satisfação nos lábios do moço, ao ouvir esta declaração de
sua esposa, e beijou-lhe agradecido a formosa mão.
O Sultão,
entretanto, havia recuperado o uso da palavra, e, vendo a janela que ficara por
acabar, perguntou:
— Não
houve tempo para terminar a obra?
— Para
mais, se quisesse, senhor meu sogro, disse graciosamente Aladim, deixei ficar
esta janela assim para que o senhor tenha a satisfação de acabar esta obra
primorosa.
Estremeceu
de orgulho o Sultão, e exclamou:
— Muito te
agradeço a fineza, e verás que regiamente saberei desempenhar-me.
E imediatamente
mandou chamar todos os ourives da sua capital, e ordenou-lhes que concluíssem.
a obra, adornando a última janela pelo padrão das outras.
Os
artistas, porém, coçaram a cabeça, e declararão que todos eles juntos não possuíam
as pedras preciosas necessárias para este trabalho.
— Bem,
disse o Sultão; que o meu tesoureiro lhes d tudo quanto contém o meu tesouro.
Mas andem de pressa e acertadamente para apresentar-me um trabalho digno do
palácio; senão, contem com castigo exemplar.
Partirão
apressadamente os ourives para por mãos ao trabalho. Em breve veremos como se saíram
da empresa.
Aladim,
porém, levou sua esposa, sua mãe e o Sultão à sala de jantar, onde já se achava
reunida toda a corte que o esposo de Adônida havia mandado convidar, e foi oferecido
a todos um almoço, como nunca haviam visto outro. Eram as mesas de prata
lavrada, e todo o serviço do ouro mais tino. Criados sem numero serviam
manjares deliciosos, vinhos generosos, frutas de todas as regiões do globo, enquanto
que uma orquestra oculta enchia o ambiente de harmonias celestes. Diante do
palácio achavam-se servidas mil mesas, para os habitantes da capital, com a
mesma abundância que as do interior. Dez repuxos expendiam os mais deliciosos
vinhos, enviando aos ares suas colunas cor de rubi e de topázio. Achava-se
reunida ali metade do povo de Bagdá, em banquete opíparo, vitoriando o generoso
príncipe Aladim. Pelo fim do banquete aparecerão criados com bolsas cheias de
moedas de ouro, que distribuíram pelo povo. Este último rasgo entusiasmou os
agraciados de tal forma, que Aladim não teve remédio senão obedecer ao seu
chamado, e mostrar-se na sacada do palácio, donde saudou benevolamente a
reunião. Voaram então os turbantes ao ar, e mil e mil vozes bradaram: Viva Aladim,
viva o nosso benfeitor!
Durante os
oito dias mais chegados continuaram os festejos da mesma forma, de modo que o
nome de Aladim vivia na boca de todos. E era isto mesmo o que o jovem almejara,
porque, dizia ele, se Alah me fez rico e poderoso, foi para que os meus
semelhantes aproveitassem da minha opulência. Mostrou-se bondoso para com
todos, auxiliando e consolando sempre que era mister, e adquiriu tal
popularidade, que para afirmar qualquer dito, jurava-se pelas barbas de Aladim.
Quem, depois desta afirmação, ainda duvidasse, correria risco de ser esfolado
vivo pelo povo.
Depois dos
dias ruidosos de festança, Aladim dedicou-se todo a amenizar a vida de sua
esposa, que amava ternamente, e de sua mãe, que com grande facilidade se havia
acostumado à sua nova existência.
Ao cabo de
seis semanas, Aladim mandou dizer aos ourives que comparecessem no seu palácio,
e que trouxessem o seu trabalho.
Vieram os
artistas; mas nem a décima parte do caixilho haviam podido fazer, porque tanto
as suas próprias pedras preciosas como as do Sultão se achavam esgotadas.
Aladim ouviu
esta declaração com um sorriso e disse:
— E
escusado continuarem a cansar-se com uma obra, que está acima de suas forças.
Desmontem as pedrarias, levem-nas ao Sultão, e digam-lhe que mandei suspender o
trabalho.
Assim fizeram
os ourives, e não tardou o monarca a vir expressar ao seu genro a admiração que
lhe causara aquela participação.
— Não
queres, pois, completar esta obra maravilhosa? perguntou por fim.
Já está
completa, respondeu Aladim com um fino sorriso, e mostrou ao Sultão a janela
que o gênio da lâmpada acabava de construir.
O Sultão,
ao ver que seu genro em poucos segundos havia feito mais que todos os artistas
de Bagdá em muitas semanas, sentiu-se possuído de grande admiração e respeito,
e beijando Aladim na fronte, disse:
— Grande
favor me fez Alah, dando-me por filho um homem tão extraordinário como tu.
Homem mais poderoso do que o meu genro não há na terra. Plácidos e serenos sejam
os teus dias.
E amena e
feliz correu a vida de Aladim, amado e estimado por todos; de dia em dia
crescia a sua popularidade, graças aos benefícios que por toda a parte
espalhava; mas esta mesma fama, estendendo-se ao longe, devia preparar-lhe
momentos de grande amargura.
Foi o caso
que o mágico africano ouvi o falar da magnificência e do poder de Aladim, e,
desconfiando logo que em tudo isto andava a lâmpada maravilhosa, transportou-se
a Bagdá a tomar informações mais minuciosas, vindo assim a saber que o genro do
Sultão era o mesmo Aladim, filho de Mustafá, o alfaiate, que havia deixado
sepultado na caverna encantada.
Despertou-se
no mágico grande ira, porém também, mais do que nunca, o desejo veemente de
possuir a lâmpada; resolveu, pois, vingar-se de Aladim, destruindo-lhe a
felicidade, e apoderar-se da lâmpada maravilhosa.
Deu-se o
acaso que no momento da chegada do mágico, Aladim havia partido para uma
caçada, na qual devia demorar-se alguns dias.
Teria levado a lâmpada? Esta pergunta preocupou suas combinações cabalísticas, viu que o objeto almejado se achava no palácio, no quarto de dormir da princesa.
Em um
instante delineou e efetuou um plano engenhoso, cujo bom êxito descansava na
curiosidade das mulheres.
Vestiu-se
pobre e miseravelmente, e, levando no braço enfiada uma porção de lâmpadas,
apresentou-se diante do palácio, exclamando:
—
Lâmpadas, lâmpadas! Quem quer trocar lâmpadas velhas por novas?
Recebeu o
povo esta oferta com grandes gargalhadas, julgando que o mercador queria
diverti-lo com pilhérias.
Infelizmente,
porém, a camareira da princesa ouvira também o pregão do mágico, e foi contar o
caso a sua ama.
— Dar
lâmpadas novas por velhas, disse Adônida; isto não passa de um gracejo.
— Vamos
experimentar, perguntou a criada, oferecendo-lhe a lâmpada velha que está aí a
enfear o ornato da chaminé?
— Pois bem, respondeu a princesa, que não conheciam valor do objeto. Prega-lhe a peça, e pilha-lhe uma lâmpada nova, para ensinar-lhe a não zombar da gente.
Desceu a
criada com a lâmpada de Aladim, ofereceu-a ao mágico, que imediatamente a
reconheceu, estremecendo de júbilo. Depressa entregou-lhe uma lâmpada nova, e
fugiu com a velha, perseguido pelas risadas do povo.
À boa distância
da cidade, o mágico aguardou a meia-noite, para chamar violentamente o gênio.
Este apareceu com cara transtornada e pesarosa, e disse:
— Que
queres? Sou escravo da lâmpada, e obrigado a obedecer-te.
— Quero
que me transportes imediatamente o palácio de Aladim, e tudo quanto contém, à minha
residência, no centro da África.
Com a
conhecida prontidão o gênio da lâmpada efetuou esta ordem.
O palácio
de Aladim, com todos os seus tesouros, dos quais a adorada Adônida era o mais
precioso, em um instante achou-se a mais de mil léguas da cidade de Bagdá.
Quando, no
dia seguinte, o Sultão, segundo seu costume, chegou à janela para olhar para o
palácio de Aladim, julgou-se preso de uma alucinação. Esfregou os olhos, tornou
a olhar, mas... o palácio havia desaparecido!
Prorrompeu
o monarca em grandes exclamações lamentosas, porque, antes de tudo, era pai
extremoso. Mandou chamar a toda a pressa o Vizir, para ver se este poderia
explicar-lhe o caso tão estranho quão aflitivo.
Não menos
impressionado ficou o ministro; em lugar, porém, de perder tempo em
excogitações, julgou o momento propicio, para prejudicar no ânimo do Sultão o jovem
Aladim, a quem ainda não havia perdoado de haver-lhe transtornado os planos acerca
do casamento de Adônida.
— A perda
do palácio pôde suportar-se, disse ele ao Sultão, porque, por fim de contas,
era uma humilhação constante para Vossa Majestade. Mas o rapto da princesa,
única alegria de Vossa Majestade, é um ato imperdoável, e com ele bem prova Aladim
quão indigno foi de todas as bondades do generoso senhor. Será justo que Vossa
Majestade o obrigue a restituir a princesa, sob pena dos mais severos castigos.
Estas
palavras proferidas maliciosamente inflamaram ainda mais o ânimo do Sultão, e
este deu ordem que prendessem Aladim em qualquer parte em que o encontrassem, e
que o levassem à sua presença.
Sabia o
Vizir que Aladim vinha de volta da caçada; enviou um destacamento de policia ao
seu encontro, e fê-lo carregar de ferros pesados e conduzir assim à sala do
tribunal no palácio do Sultão.
— Onde
está minha filha? exclamou com grande agitação o monarca exaltado.
— Tua
filha? disse Aladim; mas há de estar em meu palácio.
— Teu
palácio! retrucou o Sultão; procura onde está o tal teu palácio!
Aladim chegou-se
à janela, empalideceu horrivelmente quando viu que a sua habitação havia desaparecido.
— Alakerim!
— exclamou o pobre moço. Só o céu saberá onde está agora a minha adorada
mulher.
— O céu,
malvado? O demônio das trevas o saberá, com quem tiveste aliança. Mas lias de
confessar a verdade, senão morrerás nas mãos do carrasco!
Embora
profundamente impressionado pela perda da mulher, e pela animosidade cruel do
Sultão, Aladim respondeu com muita calma e dignidade:
— A minha
vida está em tuas mãos; podes mandar matar-me, mas juro-te que morrerei inocente.
Estas
palavras deveriam ter modificado os sentimentos do Sultão; mas o soberano
estava muito prevenido contra Aladim, e assim ordenou que imediatamente o genro
fosse decapitado.
Aproximou-se
o carrasco; Aladim ajoelhou-se e ofereceu resinadamente o seu pescoço.
No momento
em que o verdugo alçava o alfanje afiado, ergueu-se horrível algazarra nas
portas do palácio. Era o povo de Bagdá, armado e enfurecido, que havia tido
conhecimento da iniquidade que ia cometer-se ali, e vinha reclamar em altos
brados a liberdade do seu benfeitor, pagando-lhe assim um eloquente tributo de
gratidão pelos benefícios que o filho do povo havia prestado a todos.
— Morram
os inimigos de Aladim! — clamaram mil e mil vozes com a impetuosidade de
furacão.
E
machados, e cem outras armas principiaram a bater em brecha as portas do
palácio.
Empalideceu
o Sultão, e deu ordem de suspender a execução e de soltar imediatamente Aladim.
Este,
nobre e generoso, não pensou em vingança. Chegando a uma janela, agradeceu ao
povo a sua sincera adesão, e o tranquilizou, declarando que já não corria
perigo algum; em seguida o exortou a que se retirasse em paz, no que foi imediatamente
obedecido, com grandes e ruidosas aclamações.
Depois de
ter livrado deste modo de um mau passo o soberano, que tão cruelmente o havia
tratado, Aladim disse ao Sultão:
— Peço
quarenta dias para procurar tua filha. Se, ao expirar este prazo, não tiver
encontrado a princesa, voltarei a por a minha vida entre as tuas mãos.
Concedido
o prazo pedido, Aladim saiu da cidade, para principiar as suas pesquisas;
conhecendo, porém, que com as suas próprias forças nada conseguiria, e
lembrando-se do anel, que já uma vez lhe havia servido na caverna encantada, pôs-se
a esfregá-lo, e imediatamente apareceu o gênio, dizendo:
— Que
queres, senhor? Aqui estou às tuas ordens.
— Se sabes
onde está o meu palácio que havia edificado em Bagdá, ordeno-te que o reponhas
sem demora em seu lugar.
— Nada
posso neste assunto, — respondeu o gênio. Deves chamar para este serviço o
gênio da lâmpada.
— Mau, —
retrucou Aladim; — a lâmpada já não está em meu poder. Mas não me poderás levar
ao ponto onde demora agora a minha habitação?
— Ordena,
que obedecerei.
E, tendo
formulado a ordem, Aladim viu-se transportado ao pé do seu palácio, debaixo das
janelas de sua mulher Adônida.
Apesar de
ser noite cerrada, Aladim reconheceu muito bem o edifício, e estremeceu de
alegria com o pensamento de que em breve tornaria a ver a princesa, e quiçá a
recuperar o poder perdido.
Pelo
momento, porém, não sabendo se o raptor estava no castelo, compreendeu que toda
a prudência seria pouca, e assim, escondeu-se em um bosque de murtas,
observando atentamente o aposento de Adônida.
Não tardou
que a princesa viesse encostar-se a uma de suas janelas a respirar a brisa
embalsamada e a confiar à noite discreta as mágoas que lhe atormenta vão o
coração juvenil.
Achava-se
tão perto Aladim, que ouvia até os menores suspiros de sua mulher adorada;
quando por seus queixumes sentidos conheceu o extremo do seu sofrimento e a
profundidade do seu amor, não pôde resistir mais e proferi o maviosamente as
palavras:
— Adônida,
querida Adônida, eis-me aqui para salvar-te.
A princesa
soltou um pequeno grito de surpresa, mas já Aladim havia saltado a janela, e
estreitava aos braços a esposa adorada.
Passados
os primeiros momentos de terna efusão, a princesa narrou fielmente tudo quanto
havia ocorrido com a lâmpada, e pela sua descrição Aladim veio a conhecer que o
raptor havia sido o mágico, que outrora tão cruelmente o abandonara na caverna
encantada.
Teve agora
dobrados motivos para castigar o malvado, e, tendo sabido por Adônida, que o mágico
conservava a lâmpada guardada cuidadosamente no seio, compreendeu que não seria
possível reavê-la era quanto o monstro estivesse com vida.
— Ah! meu
querido esposo, disse por fim Adônida, devo confessar-te que tenho uni medo horrível
desta noite. Desde o primeiro momento do rapto, o mágico me persegue para que case
com ele. Marcou-me um prazo e este prazo expira hoje. Como salvar-me!
Sorriu-se
meigamente Aladim ao responder:
— Pois não
estou eu aqui? e permitirei porventura que alguém me arrebate o tesouro mais
precioso que possuo? Tranquiliza-te, Adônida; e observa fielmente o que vou
dizer-te. Era primeiro lugar ausentaste um momento para dar as tuas ordens para
que preparem imediatamente um esplêndido banquete de núpcias.
— De núpcias,
meu esposo? perguntou a princesa admirada.
— Sim; mas
não te inquietas, que prontamente saberás o meu projeto de salvação.
Ausentou-se
Adônida, e Aladim chamou imediatamente o gênio do armei, e ordenou-lhe que lhe desse
um veneno, capaz de matar com a prontidão do raio.
O gênio
entregou-lhe um papelzinho contendo uns pós formidáveis, e desapareceu no
momento em que Adônida voltava à sala.
— Estão
dadas as ordens, disse ele; o mágico horrível acaba de voltar de uma excursão e
está se vestindo para fazer-me a visita do costume.
— Tudo vai
bem, disse Aladim. Hoje hás de recebê-lo mais carinhosamente que de costume.
Desperta-lhe algumas esperanças; convida-o para banquetear-se contigo, e,
quando o vinho começar a produzir os seus efeitos, deita-lhe na taça estes pós,
que para sempre nos livraram do inimigo monstruoso. Eu estarei perto de ti,
para proteger-te se for preciso.
Correu
tudo como Aladim havia previsto.
O mágico
apresentou-se ricamente adornado, e lembrou à princesa que nesta noite ela
devia decidir-se acerca do casamento.
A princesa,
que apesar de toda a sua ingenuidade não deixava de ser mulher, achou um
sorriso gracioso para acolher o mágico e lhe disse:
— Estou
persuadida de que já não posso voltar a Bagdá, e que tenho de terminar a minha
existência, em sua companhia. De outro lado, me comove o amor profundo que me
patenteia e me faz prever a possibilidade de uma solução satisfatória desta
situação. Por enquanto o convido a cear hoje comigo, e dou-lhe licença de
tratar de distrair-me.
Estremeceu
o mágico de prazer ao ouvir estas palavras prometedoras, e, sem pressentimento
algum do perigo que o ameaçava, entregou-se às delicias de uma ceia opípara,
regada dos mais generosos vinhos.
Por fim a princesa
deitou sutilmente os pós na taça do mágico, e lhe disse:
— Ainda
esta taça de vinho à minha saúde, e nada mais terá a desejar.
Febrilmente
o mágico agarrou a taça e esvaziou-a de um só trago.
O efeito
foi imediato. Fulminado o monstro caiu no chão e exalou a alma nefanda.
Acudiu, Aladim,
e, rasgando a roupa do defunto, apoderou-se da lâmpada, que cobriu de beijos,
porque assegurava-lhe para sempre a posse pacifica de sua esposa adorada,
Quando
todos no palácio estavam entregues às doçuras do sono, Aladim chamou o gênio da
lâmpada, que alegre e risonho apareceu, perguntando:
— Queres
que leve o palácio para Bagdá, não é assim, meu bom senhor?
— Sim,
disse Aladim, e o mais depressa possível.
Desapareceu
o gênio, e por um leve sacudimento Aladim percebeu que o palácio estava se
removendo, e feliz e contente deitou-se a dormir por sua vez.
Enquanto
que no centro da África Aladim se ocupava em reconquistar a sua esposa, o velho
Sultão chorava amargamente em Bagdá a perda de sua filha, e arrependia-se
profundamente da crueldade com a qual havia tratado seu genro.
Depois de
uma noite cheia de insônia e regada de copioso pranto, o Sultão levantou-se e
com passos vacilantes dirigiu-se à janela para contemplar, pelo menos, o lugar
onde existira a habitação esplendida da chorada princesa.
Ao olhar
para fora, sentiu como um choque elétrico.
— Alah il Alah! exclamou; que vejo! será
verdade ou alucinação! o castelo de Aladim! Deus me perdoe os meus pecados!
E, vestido
apenas, com os passos mal seguros, os olhos cheios de lágrimas e trêmulas as
mãos, o Sultão saiu dos seus aposentos, atravessou a praça, transpôs o limiar
do palácio reaparecido, e caiu nos braços de seus filhos, que na entrada o
esperavam terna e amorosamente.
Passados
os primeiros momentos de alegria ruidosa, Aladim narrou ao Sultão todas as
peripécias do drama que se terminara com a morte do mágico, cujo cadáver
horrendo mostrou ao sogro, ainda estendido no tapete da sala do banquete.
Quis o
Sultão mandar arrojar o cadáver à cova imunda dos animais esfolados; Aladim,
porém, ordenou ao gênio da lâmpada que o transformasse em pedra negra e o
transportasse ao centro do grande deserto africano para servir de eterno
espanto aos mortais que por aí transitassem. O sorriso do gênio mostrou quão
agradável lhe era esta ordem, porque sempre havia detestado o mágico tão
cordialmente, quão carinhosamente servia a Aladim.
Este
continuou vida feliz era companhia de sua querida esposa Adônida, de sua velha mãe,
que o cobria de bênçãos, e de seu sogro, que, impelido pela amizade, em breve
lhe passou as rédeas do governo, para maior ventura e satisfação do povo, regido
sabia e justamente.
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