Os três porquinhos
(Contada por Iba Mendes)
Era uma vez três porquinhos, os quais tendo perdido o pai e a mãe durante uma ceia de Natal, resolveram sair pelo mundo a procura de um lugar onde pudessem viver livres dos lobos e dos homens maus.
Depois de andarem três dias seguidos, debaixo de sol e chuva, chegaram por fim a uma verdejante colina num alto de uma bela montanha.
- Aqui construiremos nossas casas - disseram.
O primeiro, que era o mais apressado de todos, foi logo pegando grande quantidade de palhas secas que achou por ali, com as quais edificou rapidamente sua casinha.
- Que linda e confortável é esta minha casinha! - disse consigo, deitando em seguida numa caminha também feita de palhas.
O segundo porquinho, que era o mais preguiçoso de todos, foi logo quebrando muitos galhos de árvores que encontrou por ali, tarefa essa que durou cinco dias. Passados mais cinco dias trabalhando e descansando, finalmente terminou a construção de sua aconchegante casinha.
- Ufa! até que enfim acabei. Agora vou descansar um pouco, afinal ninguém é de ferro.
O terceiro porquinho, que era o mais filósofo e o mais esforçado de todos, depois de muita análise e rabiscos na areia, resolveu por fim que construiria sua casinha na parte mais alta da montanha. Decidiu ainda que não usaria nem palha nem madeira, mas pedras de boa qualidade. Sem perda de tempo, pôs mãos à obra. Os irmãos quando o viam todo suado e correndo de um lado para o outro carregando pedras e mais pedras, riam muito daquilo e diziam:
- Vai construir uma casa ou mais uma montanha?
O outro respondia simplesmente:
- Quem ri por último, ri mais gostoso.
Enfim, depois de três longos
meses, o terceiro porquinho acabou sua obra, tendo o devido cuidado de revisar cada
parte da casa, a fim de verificar se havia algum lugar vulnerável. Notando que
estava tudo em perfeita ordem arquitetônica, sentou-se numa pedra e disse muito satisfeito:
- Eis minha casinha! Agora vou descansar tranquilamente, sem me preocupar com lobos e outros bichos maus.
Um belo dia, quando o sol ia se escondendo por trás da montanha e quando eles já se preparavam para dormir, eis que ouviram ao longe um uivo sinistro que parecia de um lobo faminto. Minutos depois, o terrível animal chega e bate na porta do primeiro porquinho:
- Porquinho, porquinho, pode abrir a porta para eu entrar? Estou muito cansado e parece que vai chover.
O porquinho logo viu que era o lobo e respondeu:
- Aqui você não entra nem por cima de meu cadáver!
- Isso é o que vamos ver - replicou o lobo.
Dizendo isto, afastou-se cinco metros da casinha do porquinho. Dali veio correndo e arremessou seu corpo peludo sobre as palhas. A casinha desabou num só tombo. O porquinho ainda tentou fugir, mas já era tarde: o lobo agarrou-o com suas afiadas garras e o estrangulou ali mesmo com os dentes.
Em seguida, já um pouco saciado da fome, dirigiu-se até a casinha do segundo porquinho:
- Porquinho, porquinho, pode abrir a porta para eu entrar? Estou com muita fome e faz um vento muito forte aqui fora.
- Aqui você não entra nem por cima de meu cadáver!
- Isso é o que vamos ver - respondeu o lobo.
Dizendo isto, afastou-se dez metros da casinha do porquinho. Dali veio correndo e arremessou seu corpo peludo sobre as madeiras. A casinha desabou já no segundo tombo. O porquinho ainda tentou escapar, mas já não podia, pois o lobo o abocanhou ali mesmo com suas presas sanguinolentas.
Em seguida, já mais saciado da fome, caminhou até o alto da montanha, para casa do terceiro porquinho. Como a subida era íngreme, chegou ali exausto.
- Porquinho, porquinho, pode abrir a porta para eu entrar? Estou muito doente e sem comer a três dias.
- Aqui você não entra nem por cima de meu cadáver!
- Isso é o que vamos ver - asseverou o lobo.
Dizendo isto, afastou-se vinte metros e veio acelerado de encontro a casinha do terceiro porquinho. Esta porém não sofreu nenhum abalo. Ele ainda tentou mais algumas vezes. Na última bateu-se tão fortemente nas pedras que rachou o crânio bem no meio, rolando em seguida da montanha abaixo. Estava morto.
Quando amanheceu o dia, o
terceiro porquinho abriu a porta e a única coisa que reparou foi o sol nascendo
ao longe no horizonte. Quando uma brisa suave bateu-lhe no seu rosto, ele sorriu gostosamente.
Iba Mendes
São Paulo, dezembro de 2022.
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