A cabaça de marimbondos
Conta-se que havia dois compadres,
um pobre e um rico, que viviam de lograr um ao outro.
Um dia o compadre pobre, estando muito necessitado, deliberou fazer uma roça para plantar feijão. Mas como não tinha terra, foi à casa do compadre rico para pedir-lhe emprestado um pedaço onde pudesse cultivar os seus grãos. O rico, que recentemente havia sido troçado por ele, viu ali a ocasião oportuna para lhe dar a desforra.
- Como não, meu compadre! Tenho uma terrinha sobrando ali nos fundos.
Vá lá e plante seu feijãozinho.
No outro dia o compadre pobre
chamou a família e foram todos ao local a fim de dar início à empreitada. Porém, lá chegando perceberam que tinham sido
enganados, pois o que avistaram foi só um imenso charco coberto de um lamaçal fétido.
Quando retornavam para casa, um dos filhos tropeçou numa cabaça enfiada no chão. A mãe, que necessitava de uma cuia para guardar farinha, revolveu-a do solo para levá-la. Mas
grande foi a sua surpresa ao notar que estava cheia de ouro. Como, porém, a
terra não lhes pertencia e eles eram muito honestos, resolveram deixar a cabaça
onda estava e foram comunicar o fato ao compadre rico. Este, assim que
informado do ocorrido saiu às pressas para o lugar indicado. No entanto, em vez
de ouro, o que encontrou lá foi uma cabaça cheia de maribondos. Disse então
consigo:
- Deixa estar que ele me pagará caro
por este embuste.
Então com muita cautela tirou a
cabaça do chão e a colocou numa bolsa de couro. Em seguida dirigiu-se direito até
a choupana do compadre pobre. Assim que
lá chegou foi logo gritando do terreiro:
- Ó compadre! Tenho aqui um valioso
presente para lhe oferecer, mas é preciso que feche todas as portas. Deixe apenas a metade de uma das janelas
aberta.
O compadre pobre fez exatamente
como o rico lhe pediu. Este aproximou-se então da janela e atirou rapidamente para dentro a cabaça, gritando:
- Ó compadre, fecha agora a janela!
Assim que a cabaça bateu com toda força no
chão da miserável choça, em vez de marimbondos, o que saíram de dentro dela
foram pepitas de finíssimo ouro. O compadre rico, que queria rir daquela vexatória
situação, chamou pelo outro:
- Ó compadre, pode abrir agora a
porta!
Ao que o outro respondeu com voz de
desesperado.
- Deixe-nos pelo amor de Deus! Os marimbondos
estão nos matando.
Muito satisfeito pelo artifício que
aplicara ao amigo, o compadre rico retirou-se todo sorridente. Enquanto isso, lá dentro da
choupana, o compadre pobre e a família já faziam planos para a vida de riqueza que
teriam dali em diante.
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Iba Mendes: Fabulário. Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.
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