1/13/2023

A cabaça de marimbondos (Conto popular), por Iba Mendes

 


A cabaça de marimbondos

Conta-se que havia dois compadres, um pobre e um rico, que viviam de lograr um ao outro.

Um dia o compadre pobre, estando muito necessitado, deliberou fazer uma roça para plantar feijão. Mas como não tinha terra, foi à casa do compadre rico para pedir-lhe emprestado um pedaço onde pudesse cultivar os seus grãos. O rico, que recentemente havia sido troçado por ele, viu ali a ocasião oportuna para lhe dar a desforra.

- Como não, meu compadre!  Tenho uma terrinha sobrando ali nos fundos. Vá lá e plante seu feijãozinho.  

No outro dia o compadre pobre chamou a família e foram todos ao local a fim de dar início à empreitada. Porém, lá chegando perceberam que tinham sido enganados, pois o que avistaram foi só um imenso charco coberto de um lamaçal fétido.  

Quando retornavam para casa,  um dos filhos  tropeçou numa cabaça enfiada no chão.  A mãe, que necessitava de uma cuia para guardar farinha, 
revolveu-a do solo para levá-la. Mas grande foi a sua surpresa ao notar que estava cheia de ouro. Como, porém, a terra não lhes pertencia e eles eram muito honestos, resolveram deixar a cabaça onda estava e foram comunicar o fato ao compadre rico. Este, assim que informado do ocorrido saiu às pressas para o lugar indicado. No entanto, em vez de ouro, o que encontrou lá foi uma cabaça cheia de maribondos. Disse então consigo:

- Deixa estar que ele me pagará caro por este embuste.

Então com muita cautela tirou a cabaça do chão e a colocou numa bolsa de couro. Em seguida dirigiu-se direito até a choupana do compadre pobre.  Assim que lá chegou foi logo gritando do terreiro:

- Ó compadre! Tenho aqui um valioso presente para lhe oferecer, mas é preciso que feche todas as portas.  Deixe apenas a metade de uma das janelas aberta.

O compadre pobre fez exatamente como o rico lhe pediu.  Este aproximou-se então da janela e atirou rapidamente para dentro a cabaça, gritando:

- Ó compadre, fecha agora a janela!

Assim que a cabaça bateu com toda força no chão da miserável choça, em vez de marimbondos, o que saíram de dentro dela foram pepitas de finíssimo ouro. O compadre rico, que queria rir daquela vexatória situação, chamou pelo outro:

- Ó compadre, pode abrir agora a porta!

Ao que o outro respondeu com voz de desesperado.

- Deixe-nos pelo amor de Deus! Os marimbondos estão nos matando.

Muito satisfeito pelo artifício que aplicara ao amigo, o compadre rico retirou-se todo sorridente. Enquanto isso, lá dentro da choupana, o compadre pobre e a família já faziam planos para a vida de riqueza que teriam dali em diante.


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Iba Mendes: Fabulário. Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

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