3/07/2023

Quadros (Poesia), de Joaquim Serra


QUADROS



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SERTANEJAS
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A MISSA DO GALO

Repica o sino da aldeia,
Troa o foguete no ar!
O rio geme na areia,
Na areia brilha o luar.
Quantas vozes, que alegria!

O povo da freguesia
Corre em chusma, folgazão.
No caminho arcos de flores,
Por toda parte cantores,
Folguedos e agitação!

Ali no largo da ermida
O tambor toca festeiro,
Se apinha o povo em redor;
E a igrejinha garrida,
Tendo defronte um cruzeiro,
É toda luz e fulgor!

Vêm do monte umas devotas,
Trazem o rosário na mão;
Uns camponeses janotas,
Calças por dentro das botas,
Seguindo o grupo lá vão!

Que raparigas formosas,
Cheias de rendas e rosas
A ladeira vão subir!
Falam coisas tão suaves,
Parece gorjeio de aves
O que elas dizem a sorrir!

A brisa sopra fagueira,
Brincando na juçareira
E vai o rio enrugar;
Chegam de longe canoas,
Os barqueiros cessam as loas,
Que modulavam a remar!

O sino da freguesia,
Da branca igreja da aldeia,
Cada vez repica mais;
O povo corre à porfia,
A capela já está cheia,
Soam trenos festivais!

Por que produz tanto abalo
Esta festa sem rival?
É hoje a missa do galo,
Santa missa do Natal!

Este festejo tão lindo
Que grande mistério encerra!
Poema de amor infindo
Que o céu ensinou à terra!
Faz-se humano o ente divino,
O Eterno se faz menino,
Vem viver entre os mortais!
Lei cristã, santa e formosa,
Salve, crença majestosa,
Que eu recebi de meus pais!

Na palhoça iluminada,
Que fica junto da ermida,
Dês que a missa foi cantada
Se congrega a multidão;
Toldo de murta florida,
Flores de mágico aroma
Ornam o presepe, que toma
Na sala grande extensão.

Quão lindo está! Não lhe falta
Nem o astro milagroso,
Que de repente brilhou;
Nem o galo, que o repouso
Deixara por noite alta,
E que inspirado cantou!

Tudo o que a lenda memora
E consagra a tradição,
Vê-se ali, grosseiro embora,
Despido de perfeição.

Céu de estrelinhas douradas,
Estrelas de papelão;
Brancas nuvens fabricadas
Da plumagem do algodão!
Anjos soltos pelos ates,
Peixes saindo dos mares,
Feras chegando d'além,
Marcha tudo, e vêm na frente
Os reis magos do Oriente
Em demanda de Belém!

É esta a lapa; o menino
Nas palhas está deitado,
Com um sorriso de alegria,
Todo doçura e amor!

Contempla o quadro divino
São José ajoelhado,
E a Santíssima Maria,
De Jerico meiga flor!

Trajando risonhas cores,
Com muitos laços de fitas,
Rapazes, moças bonitas
Formam grupos de pastores.

Que curiosos bailados,
Com maracás e pandeiros!
E o ruído dos cajados
Desses risonhos romeiros!

Essa quadrilha dançante,
Cantando versos festivos,
Aos pés do celeste infante
Vai depor seus donativos:

Frutas doces, sazonadas,
Ramalhetes de açucenas,
Cera, peles delicadas,
Pombinhos de brancas penas.

São as joias que os pastores
Dão ao Deus Onipotente!
E o povo aplaude os cantores
E o espetáculo inocente.

Eis o presepe singelo
Da devoção popular;
Oratório alegre e belo,
Sagrado, risonho altar!

Que noite, que madrugada!
A família reunida,
Uma festa em cada lar!
Quanta saudade esquecida,
Quanta tristeza apagada
Só com um sorriso, um olhar!

Na terra tanta alegria,
Tanta paz celestial!
Que dia, que lindo dia!
Festa santa do Natal!

 

A CASA MALDITA

O rio está deserto, a noite escura.
Penduram-se das altas ribanceiras
As negras ingaranas; na espessura
Agora cantão aves agoureiras.

A lua que inda há pouco como louca
Rolava pelo céu ensanguentada,
Mal a voz do trovão vibrara rouca
Foi num crepe de nuvens sufocada...

O furacão passou, já vai distante
Como o jaguar rugindo pela serra,
Mas a noite inda é feia, gotejante,
Deserto e escuro o firmamento e a terra!

Nem uma habitação! Medonho impera
O pavor nesse rio mudo e triste!
Lá na curva que faz uma tapera
Restos de antiga herdade é quanto existe!

Fora ali noutras eras a morada
De família opulenta e numerosa;
Hoje a casa está quase derrubada,
O eirado, e terreiro é selva umbrosa...

Dizem que esse lugar tem uma lenda;
O povo conta casos de vingança
Contra o rico senhor dessa fazenda,
Extinto com a família na matança...

A canoa que vai, a horas caladas,
Pelo rio, o lugar horrendo evita,
Onde vagão a gemer almas penadas;
Chamam ao sítio fatal — casa maldita!

O silêncio da noite era profundo,
Maior a escuridão, medonha calma!
O rio não corria gemebundo,
Não tremia nas matas uma palma!

Podia se escutar o movimento
Do inseto a correr por entre a relva.
Por vezes um rumor trazia o vento:
Era a voz d'acauã longe na selva!

Que sinistro escaler alem desliza,
Por baixo de um espesso nevoeiro?
Velas não traz, não dê-lhe impulso a brisa,
Os remos batem mas não traz remeiro?

Ouvem-se as vogas; no bater violento,
As águas luzem, fosforesce o rio...
E o barco desce, compassado, lento,
Sem vozes dentro, sem ninguém, vazio!...

Estremecem de susto as ingaranas,
Piam aves estranhas nas barrancas,
E dentre os juncos, e delgadas canas
Surgem fantasmas de mortalhas brancas!

E passa e segue misteriosa viagem
O barco-espectro, a fatal canoa;
Como que busca da tapera a margem,
Ao porto inóspito dirigiu a proa!

Chegou. Na casa que não tem mais telhas
Acórdão ecos e soturnas chamas,
Azuis agora, outra vez vermelhas,
Os troncos orlam as copadas ramas...

Sinistra festa!... Cada vulto informe
Da campa surde, funerário povo!
Depois... troando com fragor enorme
O furacão recomeçou de novo!

 

DESAFIO À VIOLA

Que festa estrondosa, na rude cabana
Do pai de Rosinha, o velho vaqueiro!
Lá geme a viola e a roda-tirana
Há muito que dançam no vasto terreiro!

Faz anos a linda, gentil rapariga,
Orgulho do pai, a rosa da aldeia!
Estrondam roqueiras, não cessa a cantiga,
A casa festiva de gente está cheia!

Provocam-se alegres os moços cantores,
As moças aplaudem os motes e loas.
As trovas mais ternas, os versos de amores
Promovem sorrisos e palmas e coroas!...

Lá entra na roda a flor da ribeira,
Retinem os pandeiros, o canto enlanguesce...
E a bela Rosinha, puxando a fieira,
Na dança campestre mais linda parece!

Tira a cantiga, Cazuza,
Que eu nunca estive na escola...
Anda, puxa pela musa,
Que está gemendo a viola!

Canta os olhos da Rosinha,
Esses diamantes azuis!
Nunca vi, por vida minha,
Olhos que vibrem mais luz!

Respondam, que eu já não posso
Com os baques do coração!...
Ai, Chico, esse anjinho vosso,
É anjo de tentação!

Calou-se o poeta, o vate selvagem;
Aceita risonho um outro o duelo...
Qual canta melhor? qual leva vantagem?
É o rude bailado prossegue mais belo!

Menina, que me prendeste,
Eu quero seguir viagem...
Que feitiço será este
Que me atem nesta paragem?

Esse teu rosto divino
Dos olhos tirou-me a luz...
Com o caminho não atino,
Se para longe me conduz!

Dizem que teme a esmeralda
A cobra lá no Oriente,
Pois se a fita demorada
Fica cega de repente!

Deus fundiu o firmamento
Numa noite de luar,
E sem mais outro elemento
Ele fez o teu olhar!

Lá vem a cruel dançando...
Parece, meu Deus, que voa!
Que talhe flexível, brando,
Como a junça da lagoa!

Nunca vi tanta lindeza
Entre as moças da cidade!
A mais formosa princesa
Não tem esta majestade!

Na cidade o que me resta,
Uma vez que eu te não veja?
Quero viver na floresta,
Onde vive a sertaneja!

As palmas soaram, o jovem estudante
Recebe ovações, sorrisos e flores!
Porem lá no fundo do grupo, distante,
Uns olhos o fitam ardendo em furores!

Que dizem esses olhos de tétrico lume,
E os lábios crispados do moço que fita
O jovem poeta? Acaso o ciúme
Referve-lhe o sangue, o peito lhe agita?

Quem sabe? No entanto começa de novo
Ao som da viola canto e a dança;
Um velho patusco, querido do povo,
Vem pela beleza romper uma lança:

Aonde escondeu-se o Chico,
O noivo de rapariga?
Ardor de zelos, meu rico,
É pior do que de urtiga!

Salte o noivo para frente,
Venha dançar a tirana!...
Não esteja assustando a gente
Com olhos de suçuarana!

Haja verso ou haja prosa,
Ninguém furta o teu tesouro!
Libe a abelha a fresca rosa,
Deixe zumbir o besouro!

Ó Chico, deixa-te disso,
Que o ciúme é coisa feia...
Olha a Rosa, o teu feitiço
Como dança e sapateia!

As vozes amigas do velho Narciso
Um pouco acalmaram do noivo os furores!
Se achega do grupo, ensaia um sorriso,
E finge cantar com os outros cantores.

Rosinha abeirou-se do amante arrufado
E trouxe-o faceira para o meio do bando.
Adeus nuvens negras! É tudo acabado,
Os noivos se enlaçam e fogem bailando!

E o sol escondeu-se por trás da cabana,
Lançou sobre a várzea fulgor derradeiro;
Não cessa no entanto a roda-tirana
Que dançam os convivas no vasto terreno!

 

A CRUZ DA ESTRADA

Descendo a serra, que se avista ao longe,
Perto da mata, onde volta a estrada,
A cruz de pedra, que ali jaz quebrada
Não sei que sustos, que pavor produz!
Sempre que eu passo pelo sítio lúgubre
Bale-me súbito o coração no peito;
Vote-lhe embora o maior respeito,
Sinto desejos de fugir da cruz!

Dizem que à noite, quando vaga o esmo
O curupira, que na selva habita,
E a mãe-da-lua solitária grita,
Tristonho brado, lastimosa voz,
Nessa hora horrenda, junto à cruz funérea
Um vulto branco, de mortalha solta,
Passa, repassa, vai além e volta,
E o monte desce num correr veloz!

Quem é? O povo não explica ao certo,
Que o negro caso um mistério encerra...
Ninguém à noite quer subir a serra,
Eu a desoras nunca fui ali!...
As pedras falam, a folhagem trêmula,
E as trepadeiras, e o virente arbusto,
Murmuram queixas que provocam susto,
Segredam coisas como nunca ouvi!...

Não é o sítio cemitério apenas;
Contam que outrora, — já lá vão trinta anos, — 
Ali dois bandos de cruéis ciganos
Se exterminaram por questões de amor...
Pálido espectro, quando a noite tétrica
Já vai em meio, muito a sós vagueia...
E os sócios mortos um a um nomeia
Soltando gritos de vingança e horror!

Outros afirmam, que o fantasma errante
Lembra um tirano, que a poder de açoites,
Matava escravos, e que vem às noites
Vagar de entorno do fatal lugar!
Naquele espaço, onde a cruz eleva-se
As pobres vítimas sucumbiam em pranto.
Hoje o verdugo que oprimiu-as tanto
Não tem descanso no cruel penar!

Também pretendem que esse vulto horrível
Seja do padre que roubou Florinda...
Pobre menina, tão singela e linda,
Que enlouquecei a no primeiro mês!...
Era a casinha desse par sacrílego
Naquela encosta, muito além da herdade...
O padre é morto: repousar como há de
Quem neste mundo tanto crime fez?

Seja qual for o visitante fúnebre,
O negro caso toda vila aterra,
Ninguém à noite quer subir à serra,
Eu a desoras nunca fui ali!...
Nessa hora horrenda entre as folhas trêmulas
Um vulto branco, de mortalha solta,
Passa, repassa, vai além e volta
Dizendo coisas como nunca ouvi!

 

ALMAS PENADAS

Já todos dormem na aldeia,
Somente o velho vigário,
Sentado junto à candeia,
Inda lê o breviário.

A noite corre silente,
As aves estão caladas,
Mas na janela da frente
Bateram leves pancadas...

O velho sem mais demora
Abre a porta caridoso,
Porém recua... lá fora
Viu um quadro pavoroso!

Muitos fantasmas, um cento,
Ocupam inteira a rua,
E o sinistro ajuntamento
Alveja ao clarão da lua!

Cada medonha figura
Traz na mão um círio aceso...
Quis gritar o velho cura,
Mas o grito ficou preso!

Benzeu-se afinal e brando
Perguntou: — O que vos falta?
Por que andais divagando
Pelo mundo em noite alta?

Os fantasmas, com as mãos postas,
Apontaram para a ermida,
E caminharam de costas,
Seguindo a longa avenida...

O velho cura, sem medo,
Devagar os foi seguindo;
Passaram o escuro arvoredo,
Vão a montanha subindo...

Entraram na freguesia;
Ardem brandões nos altares,
Foi o padre à sacristia,
Volta com as vestes talares.

Mal começa a ladainha,
Contritos e reverentes,
Se prostram todos em linha
Os estranhos penitentes!

Quando findo o responsório
O cura voltou o rosto,
Teve medo do auditório,
E quase abandona o posto!

Era um grupo de caveiras
Que ali estava enfileirado,
E as mortalhas inteiras
Dobradas jaziam ao lado...

Aquele congresso horrendo
Produzia-lhe vertigem!
Voltou-se o cura tremendo
E cravou olhos na Virgem!

Rezou muito, finalmente
Ergueu-se com alegria,
Não viu mais um assistente,
Estava a igreja vazia!

Uma trilha luminosa,
Que se perdia nos ares,
Mais um perfume de rosa
E maviosos cantares,

Só eram os denunciantes
Do fantástico auditório;
Aquelas almas errantes
Saíram do purgatório!

 

O FEITOR

Que vidinha que leva a Maria,
Já não vai ao serão há um mês!
Só trabalha na horta de dia,
Ao roçado não foi uma vez!

Não reparas no caso, Josefa,
E não sentes o sangue ferver?
Para nós a dobrar a tarefa,
O serviço e mau trato a crescer!...

Eu pensei que as escravas da roça
Eram todas parceiras, iguais;
Mas aqui uma é sinhá moça,
E parece ter ganja demais...

Somos todas cativas, portanto
Do que as outras nenhuma é melhor!
Aqui anda feitiço ou quebranto:
A Maria governa o feitor!

Eu bem vejo, mais linda crioula
A fazenda não teve e nem tem,
E o feitor, eu bem sei, não sou tola,
Nem tão pouco baú de ninguém,

Gostou dela e já fez a conquista,
A Maria rainha há de ser...
Dentro em pouco, mais uma na lista
Das rainhas de breve poder...

Bem conheces o gênio do homem,
— Já reinaste no seu coração — ,
Não há mimos, afagos que o domem,
Mais volúvel não há ninguém, não!

Tu, Josefa, não foste orgulhosa
Nem de resto tratavas a nós;
A Maria precisa uma tosa,
De soberba passou a feroz!

Embirrou sobretudo comigo,
Não me fala senão de revés!
Ouve bem o que agora te digo:
São intrigas, ciúmes talvez...

Pensará que o feitor me namora
Ou que eu gosto daquele vilão?...
Pois se engana, que o tal caipora
Não me inspira senão aversão!

É bem certo que eu vi quinta-feira
Ele atrás do meu rancho, e após
Fez-me gestos e momos na eira,
Quando os pretos batiam o arroz...

Mas fingi que não via os acenos,
Quebros de olhos e terno sorrir...
Pois não quero por mais ou por menos
Da Maria com a língua bulir...

O feitor gosta dela deveras,
Por capricho somente me quer,
E eu o ódio prefiro das feras
Ao furor de ultrajada mulher!

O que lucro em trair meu amante,
Que me adora e tem sido leal?
A vaidade de ser um instante
Instrumento deste homem brutal?

Antes ele me odeie e aborreça,
Sem amor eu não quero ninguém,
E não hei de curvar a cabeça
Quando posso tratar com desdém!

Que remédio tem ele? A vingança
Que lhe resta é dobrar-me o labor,
Mas a mim o trabalho não cansa,
Não o evito seja ele qual for!

Quando irada sua voz determina
Que com os homens eu vá trabalhar
Na derruba, coivara ou capina,
Apresento-me sem resmungar!

Ou fazendo o serviço na eira,
Ou então apanhando algodão,
Nunca falto, pois sou tarefeira,
Disso eu tenho a maior presunção!

Por aí o feitor não me apanha,
Que hei de sempre dar conta de mim;
Use ele de astucia ou de manha,
E debalde, não chega a seu fim!

Entretanto a fidalga Maria
Não trabalha e murmura de nós!
Isto deve acabar algum dia!
Oh, Josefa, não ergues a voz?

Somos todas cativas, o fado
Deu a todas os mesmos grilhões,
Do senhor basta o jugo pesado,
Entre escravos não há distinções!

E demais! Isto assim não tem jeito!
Já não basta do corpo o suor?
Nem sequer termos nós o direito
De tranquilas dispor do amor!

 

O CAVALO ACUADO

Era um cavalo ardigo,
E eu vinha à rédea solta.
Nunca corri tão rápido,
E que cavalo audaz!
Mas o animal indômito,
Chegando ali na volta,
Deu um arranco e súbito
Foi-se a correr para trás!

Cheguei-lhe a espora e o ímpeto
Quebrei dessa carreira;
Retrocedi com fúria
Maior que, da outra vez!
Voávamos! que estrepito!
Que levantar de poeira!
Não via o campo, as árvores,
Tal era a rapidez!

Porém no mesmo sítio
Onde esbarrei sem causa,
De novo o corcel trêmulo
Os passos afrouxou!
Rinchou com voz funérea,
E, após ligeira pausa,
Arrebatou-me a rédea,
Voltou, correu, voou!

Eu enfiei com a história...
Como explicar aquilo?
Este animal assusta-se
Chegando aqui... por quê?
Existe algum mistério
Num sítio tão tranquilo?
Viu o animal vestígios
Que aqui ninguém mais vê?

Tornavam-se fantásticos
As pedras, o arvoredo...
Da lua o clarão dúbio
Lhes dava outra feição!...
Aqui... espectros pálidos
Em pé sobre o rochedo,
Ali... vampiros hórridos
Rolando pelo chão!...

Dentro da selva umbrífera,
Da luz incerto jogo,
Faz e desfaz prodígios
Sinistros, infernais!
Agora é uma estátua
De esverdinhado fogo,
Mais tarde um monstro esquálido,
Que cresce, e cresce mais!

Um tronco é um patíbulo...
Um galho o enforcado...
Do mocho a voz estridula
É dum duende a voz!...
Parece alvo sudário
Pendente, espedaçado
A palma que debruça-se
Cercada de cipós!...

Porém se a lua pálida
E o palmeiral da estrada
Formam visões inúmeras
Na senda que eu tomei,
Por que num ponto o ânimo
E a marcha acelerada
Perde o cavalo intrépido
Somente aqui? Não sei...

Perante um tal fenômeno
Senti interno abalo...
Perdi a paz do espírito
E tive algum pavor.
Para espancar a dúvida,
Levei longe o cavalo,
E lá dessa distância
Retrocedi com ardor...

Veloz como relâmpago
Assim ele corria,
Julguei-me salvo... Ó ânsia!,
Ó susto sem igual!
Por um motivo incógnito,
Que já me enlouquecia,
No mesmo lugar fúnebre
Estaca o animal!

Com esta prova última
Senti-me aniquilado...
Não mais teimei e rápido
Mudei de direção:
Sentia-me sem fôlego,
Caindo de cansado
Quando bati do sítio
Nas grades do portão!...

Debalde esse mistério
Esclarecer eu tento;
O vulgo conta fábulas
Ai quais não dou valor.
Também causa-me cólera
Quem diz sem fundamento,
Que o meu cavalo espanta-se
Por ser acuador!...

Eu nunca vi tão ardigo,
Brioso e tão ligeiro;
Em animal mais valido
Do que esse não montei,
Mas venha o mais intrépido,
Ousado cavaleiro:
Se for capaz atreva-se
Passar onde eu voltei...

 

O MESTRE DE REZA

Era um velhinho teso
Esquisito no porte e no trajar;
Por isso a vila em peso
Quando o via se punha a cochichar!

Se da lista tirarmos o vigário,
E mais o boticário,
Bem como o juiz de paz,
Era o mestre de reza
O primeiro na vila; com certeza
O homem mais capaz!

Depois da Ave-Maria
Vem ele cada dia
Com os meninos da vila,
E ali no largo, atrás da freguesia,.
Põe todos numa fila:

As perguntas começam e as respostas,
É um nunca acabar!
Os rapazes em pé e de mãos postas,
Ele em frente da linha a passear!

A reza ou é falada,
Ou em coro cantada, uma balburdia!
Quanta doutrina nova e mascavada!
Quanta oração estúrdia!

As beatas morriam de alegria
Com o diálogo de Eva e da serpente,
E o salmo da baleia
E a santa melodia.
Dos asnos da Judéia
E magos do Oriente!

Sabe o mestre umas rezas milagrosas
Contra a faca de ponta e mau olhado,
E cobras venenosas,
E o jaguar a rugir esfomeado!...
Se quereis não cair num sumidouro,
Ele tem orações prodigiosas,
Outras que fazem achar grande tesouro
Oculto e enterrado!

Mora naquela casa de uma porta,
Ao lado da ribeira;
Na frente tem uma horta,
No fundo uma ingazeira.

Reside ali o homem milagreiro,
O apóstolo da roça;
É de velhas devotas um viveiro
A sua pobre choça!

Salve o mestre de reza,
Na vila personagem popular!
Ei-lo que passa, vale quanto pesa!...
Deixemo-lo passar!

 

RASTO DE SANGUE

É a hora do crepúsculo;
Que viração tão grata!
Geme o riacho quérulo,
Nem um cantor na mata!

Desce a ladeira íngreme
Um touro de repente,
E vai nas frescas águas
Fartar a sede ardente.

Os juncos tremem, súbito
Soa medonho ronco,
E o jaguar precipite
Pula de trás de um tronco!

Debalde o touro curva-se
Recua, dá um salto...
É o jaguar mais flácido,
Sabe pular mais alto!

O touro parte célere,
Soltando um grito horrendo!
Sobre ele a fera escancha-se,
Também lá vai correndo!

Voam por esses paramos,
O touro em grandes brados,
Saltar querem das orbitas
Seus olhos inflamados!

Espuma, arqueja! a língua
Da boca vai pendente!
Garras e dentes crava-lhe
A fera impaciente!

Largo rastilho rúbido
Embebe-se na areia,
O sangue jorra cálido
Da lacerada veia!

Contrai-se a forte vítima
Lutando com braveza!
Porém o algoz impávido
Lá vai... não deixa a preza!

Correram mais! Que insânia!
Que cena pavorosa,
Passada no silêncio
Da selva escura umbrosa!

Enfim num precipício
Os dois vão baquear...
Caíram lá exânimes
O touro e o jaguar!

 

CANTIGA À VIOLA

Tu foste na encruzilhada,
Saíste ontem da aldeia;
Eu te conheço a pisada,
Eu vi teu rasto na areia...

Estou de tudo inteirado:
Vais sozinha ao igarapé;
Sei quem mora do outro lado
Na casinha de sapé...

Apenas o cajueiro
Deixou uma vez as flores,
Já teu peito traiçoeiro
Esqueceu juras de amores!

Há muito tempo, Maria,
Que eu suspeitava de ti!
Meu coração pressentiu
Este abismo em que cai!

Minha desgraça é tão feia
Que inda traído te adoro;
Esqueço o que me rodeia
E a teus pés perdão imploro!

Sem essa chama infinita
De nada valera o amor:
Sempre o mesmo na desdita,
Ou na alegria, ou na dor.

Eu devera crer em sonhos,
Que às vezes falam verdade,
Nuns pesadelos medonhos
Encarei a infelicidade!

Vi lascada a cajazeira,
Onde teu nome escrevi;
Pedra de raio certeira
Só deixou o meu ali!

Foi-se embora a sururina,
Que me deste tão mansinha,
Andava triste, mofina,
Fugiu de casa à tardinha!

Esses presságios, Maria,
Agora explicados são;
Tua frieza anuncia
Que me não queres mais, não!

Os astros lá nas alturas
Anunciam muitas vezes...
A sorte das criaturas,
Seus triunfos e revezes!

Quando do céu se aproxima
Alguém que morreu de amar,
Hás de ver que lá de cima
Cai uma estrela no mar!

Se tu vires brevemente
Cair uma estrela assim,
Memora este amor ardente,
E chora um pouco por mim!

Amei-te muito! Não vejo
Quem seja assim tão amante!
Ai do pobre sertanejo,
Vai morrer de ti distante!

Vou-me embora desta aldeia,
Aqui não fico mais não!
Quebrou-se a flórea cadeia,
Perdi vida e salvação!

 

O ROCEIRO DE VOLTA

Ei-lo ai! É o Vicente,
E mais o ruço–queimado!
Oh, homem, fala com a gente!
Venha um abraço apertado...

Que demora! Seis semanas!
Pois patuscas nessa idade?
Eu aqui a plantar canas,
Tu folgando na cidade!

Toma a benção do padrinho,
Menino, deixa esse galo;
Moleque, sai do caminho,
Tira a sela do cavalo.

Solta-o depois no terreiro,
Fecha a cancela com a tranca...
Compadre, tome primeiro
Um bocadinho da branca.

Se acaso não está com sede
Prove um pouco da coalhada;
Vamos, deita-te na rede,
Estás maçado da jornada,

Quantos dias de viagem?
— Seis dias e meio...— Safa!
Aonde deixaste o pajem?
— Adoeceu com a estafa.

— Ruins caminhos, a ponte
Quebraram... que malvadeza!
O rio de monte a monte
Com medonha correnteza!

— Compadre, foi o diabo,
Não caio noutra tão cedo;
De valentão não me gabo,
Dessas coisas tenho medo.

Só por ser negócio urgente
Fui agora, sem vontade...
— Deixa-te disso, Vicente,
E os prazeres da cidade?

— Os prazeres! Porventura
Eu acho aquilo bonito?
— O que dizes, criatura?
— O que disse e tenho dito!

— Sou matuto, sertanejo,
Não há nada como a roça...
La na cidade não vejo
Cousa que me faça mossa!

— Pois a corte não te agrada?
Não falas sério, eu aposto...
Gostas da roça e da estrada?
Vicente, não gostas...— Gosto!

— Trocar tão lindos recreios —.
O teatro, a contradança,
As luminárias, passeios,
As modas vindas de França,

Pela derruba, a capina,
O roçado e a coivara,
Caçadas de sururina,
Esperas de capivara!

E tremenda esquisitice,
É uma loucura imensa!
Desculpa se no que disse
Vês um vislumbre de ofensa...

— Contigo não dou cavaco,
Dize tudo, mas escuta,
Mete a viola no saco,
Depois arenga e disputa:

Na cidade nasce o dia
Saudado por mercadores;
No campo o sol irradia
Entre gorjeios e flores!

O sabiá que na mala
Canta os hinos da alvorada,
Eu prefiro à serenata
Lá na cidade tocada.

A caçada na floresta,
Ou a pesca na lagoa,
Anteponho a qualquer festa
Dessas que a corte apregoa.

Se fores hoje ao teatro
E vires mulheres nuas,
Fazendo o diabo a quatro
Como o garoto das ruas,

Desejarás muitas vezes
Os nossos rudes folguedos,
As festas dos camponeses
A sombra dos arvoredos!

— Oh, compadre, que loucura!
Isso que diz não tem senso!
Põe a roça numa altura!...
— O que digo é o que penso!

— Não penso eu! — Paciência,
Eu não teimo com teimoso...
— Passa até a indecência
O paralelo afrontoso!

— O que queres? sou roceiro...
— Porém pôde ter miolo!...
— És um bobo!... — Capurreiro!
— Que pateta! — Forte tolo!

A conversa dava em briga,
Gritaria e alvoroço...
Mas na porta voz amiga
Murmurou: Está pronto o almoço!

 

A DESOBRIGA

Chegou o padre da vila,
Cessem amores e briga;
Corra a semana tranquila,
Que é tempo de desobriga.

Lá na varanda da frente
Vai ser o confessionário;
A capela está luzente
E já chegou o vigário.

Eu não quero irreverência,
Cumpro à risca a Escritura.
Exame de consciência
Vá fazer a escravatura.

Não quer o menor brinquedo
Neste negócio o patrão;
Assim pois, amanhã cedo
É virem para confissão!

Fazendo este aviso, da extensa senzala
Saiu o feitor;
Começa a gritada, ninguém mais se cala.
Que grande rumor!

Ouçamos o que diz com vozes lentas
Aquela velha quase secular.
As outras companheiras são atentas,
Escutam sem falar!

Desta feita não veio o barbadinho
O santo das missões!
O vigário da vila é bem mocinho...
Jesus! Santa Maria!
Acho que padre moço não devia
Meter-se em confissões!

Boca que tal disseste! Sou bem louca,
Já viram coisa igual?
Murmurar do vigário! Calo a boca...
Que pecado mortal!
Mas se o padre barbadinho
Era um bom confessor, santo varão,
Eu posso lamentá-lo um bocadinho,
Sem maldade fazer comparação.!

Deu-me ele este rosário
Que foi de São José,
E neste relicário
Um dente de Noé.

Benzeu esta fazenda
Um dia ao pôr do sol,
As casas de vivenda,
A eira e o paiol.

Bom padre! Era bem quisto
Por todo este sertão;
Quando partiu, está visto,
Levou um bom quinhão

De esmolas, de presentes,
Eu dei-lhe os lucros meus;
Quem dá aos indigentes
Dizem que empresta a Deus!

Cochicham as crioulas
Num canto a sorrir,
Zombando dos contos
Que deixam de ouvir.

E as velhas pensando
No confessionário,
Assim vão falando
Do moço vigário...
E as moças crioulas
Murmuram: Que tolas!



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DISPERSAS
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ODORICO MENDES

Plangente e triste o palmeiral sombrio
Soluça e geme, e molemente o rio
Na verde margem suspirando está.
Tangendo as cordas do rouquenho alaúde,
Ao coro triste minha voz tão rude
Sentida e amarga misturada é já.

Longe da pátria, que ilustrou com a lira,
Basílio cisne lá se abate e expira
Entre as neblinas da brumosa Albion;
D'além oceano o sibilante vento
Traz do poeta o derradeiro alento,
Como um perdido e gemebundo som.

Quebrando o elo, que a retinha unida
Ao triste encerro que se chama vida,
Sua alma de anjo para o céu voou;
Entre as dúlias do imortal concerto,
Descanta ao longe o que cantou tão perto:
Poemas, hinos que o Brasil guardou.

Bardo e tribuno, sempre grave e austero,
Tinha nos lábios o falar sincero
Que a turba move, e seduz e atrai,
Hoje, prostrado, se buscou repouso
É que caíra como p tronco anoso
Que lá nas matas fulminado cai.

Era poeta de uma raça extinta,
De musa altiva, que não vai faminta
Junto dos grandes se arrojar no pó...
Deu nesta terra um exemplo novo:
Filho do povo, sempre amou o povo,
Podendo muito, viveu pobre e só.

Virgílio e Homero lhe cedendo o passo
E após sublime e fraternal abraço,
Quase vencidos o chamaram — irmão:
Na vasta fronte, já rugosa e calva,
Do gênio o selo, do talento a lava
Era-lhe auréola de imortal condão!

É hoje morto o valoroso atleta,
Tribuno heroico, gigantesco poeta,
Que tantas glórias à sua pátria deu!

Hoje esta terra, num cruel gemido,
Repete o eco que nos vem dorido
Dalém oceano, que nos diz: morreu!

Plangente e triste o palmeiral sombrio
Soluça e geme e molemente o rio
Na verde margem suspirando está.
Tangendo as cordas do rouquenho alaúde,
Ao coro triste minha voz tão rude
Sentida e amarga misturada é já!

 

LUZ DO HARÉM
(T. Moore – Fragmento)

É um sonho de fulgidos amores,
Que só pôde cantar arábia lira,
Essa terra tão cheia de primores,
A cidade-rainha, Caxemira!
Que prodígios e mágicos fulgores
No país, onde a filha de Cinira,
Criminosa de amor deixou a vida,
Em balsâmica planta convertida!

Ei-la no vale umbroso, entre palmares
A cidade gentil, pátria de fadas;
Jamais noutras paragens, noutros ares
Rosas nasceram assim tão delicadas!
As aves sabem aqui langues cântaros,
Segreda a brisa coisas encantadas,
E do rio refletem águas frias
A cidade a fulgir de pedrarias!

É belo contemplá-la ao sol poente,
Quando no lago o astro radioso
Vai imergir o facho resplendente
Procurando nas águas o repouso,
Brilha através das folhas o crescente
No alto do edifício religioso.
Saudando do crepúsculo a hora bendita,
Hinos de amor se escutam na mesquita.

Solta o dervixe a prece harmoniosa
Do minarete esguio e rutilante,
Enquanto na caçoula perfumosa
Arde da Pérsia a mirra fumegante!
No átrio, onde meneia-se garbosa,
Agita as campainhas delirante
Gentil e requebrada bailadeira,
Indiana lasciva e feiticeira.

Lindo é ver a cidade, ã hora tardia,
Quando o luar a terra faz de prata,
E, qual chuvas de estrelas, irradia
E espadana nas pedras a cascata...
Quando, findo o rumor forte do dia,
O rouxinol o canto seu desata,
E, namorando a rosa abotoada,
Fá-la abrir-se formosa e namorada!

 

À MOCIDADE
(Rogeard – Paráfrase)

Sim, é falso! Não está morta
A mocidade, surgiu!
Que César feche sua porta...
O jovem leão rugiu!
Riram de dó e piedade,
Julgando-o sempre dormente;
Ergueu-se o leão valente
Que se chama — Mocidade!

É o estudante a vanguarda
Do povo altivo e guerreiro,
Inda ele conserva a farda
De julho e de fevereiro!
Governo cego e demente,
Opressora autoridade,
Ergueu-se o leão valente,
Que se chama — Mocidade!

Das trevas que te enlutavam,
Ó França, surgiu um trono!
Perdoa os que não velavam
E sucumbiram no sono!
Mas, no momento presente,
Com grande celeridade,
Ergueu-se o leão valente,
Que se chama — Mocidade!

Conselheiros levianos
Dessa imperial mascarada,
A nação não quer tiranos
Que a trazem muito aviltada!
Ouvi o brado insistente
Dos que pedem liberdade...
Ergueu-se o leão valente
Que se chama — Mocidade!

De promessas fementidas
Há muito fartou-se o povo;
Comecemos novas lidas,
Nos libertemos de novo!
Curve-se o homem somente
No altar da divindade...
Ergueu-se o leão valente
Que se chama — Mocidade!

Esses canhões e soldados,
E generais titulares,
Patriotas denodados
Farão voar pelos ares...
Mais se expõe quem vem na frente,
Para trás a Majestade!
Ergueu-se o leão valente,
Que se chama — Mocidade!

Neste século cruento,
Cinco cabeças reais
Lhe deram para alimento
E o leão inda quer mais!
Bonaparte, o imprudente,
Fuja, deixe esta cidade...
Ergueu-se o leão valente,
Que se chama — Mocidade!

 

A...

Aqui estou, eu te obedeço,
Faço tudo o que ordenares.
Contigo rejuvenesço
Pois desterras meus pesares!

Fechei o livro que lia
No capítulo começado,
Bastou ouvir a harmonia
Do teu infantil chamado!

Deixo a leitura sem pena,
Que queres de mim, responde?
O que desejas? ordena...
Mandas que eu siga-te? Aonde?

À sombra dos arvoredos
Tu vais brincar no terreiro,
E queres nos teus brinquedos
Que eu te seja companheiro?

Aqui estou, vamos, descansa,
Afoito teus passos sigo,
E como tu és criança
Serei criança contigo...

 

COMIGO MESMO...

É severa demais, eu não escuto
Essa voz que me fala altiva e fria,
Falta nela o carinho que consola
Nela falta o encanto da harmonia...

Devo ouvi-la? por quê? Acaso o homem
Há de vítima ser de um preconceito
Que ele próprio criou, que nada exprime,
Calcando o coração dentro do peito?

A razão! Mas quem foi que a fez tão fera,
E refrataria, e surda ao sentimento?
Com que paga as continuas exigências
Ela, que assim nos mata a fogo lento?

Faz-nos escravos seus, coroa de espinhos
Nos reserva... Que estólida vaidade,
Preferir prêmio tal aos sonhos nossos,
As doçuras da eterna felicidade!

Não escuto a razão! O seu auxílio
Chega tarde... Deixou-me ao desabrigo
Quando o peito buscava o que ora encontro
Exulta, coração, eu vou contigo!

 

PORQUE FOI
(Imitado do italiano)

Como te amei desta sorte,
Se nunca amor tu me deste?
Se não foi troca por troca
Por que pois amei-te eu?
Pergunto a mim muitas vezes
Desta paixão o motivo,
E não achando-o na terra
Busco-lhe a origem no céu!

Não foi porque me afagasse
O seu sorrir feiticeiro,
Que se a teu lado me vias
Murchava-se o teu sorrir!
Dos lábios pois o feitiço
Não foi que fez-me tão louco:
O que plantou-me no peito
Este profundo sentir?

Os teus olhares não foram,
Cheios de luz e magia;
Nunca queimaste meus olhos
No fogo de um teu olhar,
E no chão com os olhos fitos
É que a meu lado ficavas...
Amei-te não por teus olhos,
O que me fez pois te amar?

Do rosto as graças divinas
Não pude contemplar nunca,
Que sempre o rosto formoso
Viravas oposto a mim,
Evitavas meus desvelos,
Minha presença evitavas...
Como ateou-se este fogo
Que ainda não teve fim?

Tuas palavras mais simples
Jamais escutar eu pude,
Se me sentias ficavas
Muda, sem frases, sem voz...
A melodia da fala
Também não foi que prendeu-me:
Como este amor propagou-se
Sofrendo um repudio atroz?

Ai, que é por isso somente:
É porque tudo cobiço,
Porque não tive um sorriso
Um olhar abrasador!
Essa isenção que me mostras,
É que aviventa o desejo,
E minha mente desvaira,
E robustece o amor...

 

O PEQUENO LAMA
(T. Moore)

O bolonhês Andreas afamado,
Sábio legista, ilustre professor,
Tinha uma filha, um anjo delicado,
E que sábia era a filha do doutor!

Sempre que o velho pai estava de cama,
Enxaquecas curtindo desumanas,
A cadeira regia a jovem dama
E comentava as leis justinianas.

Porém cortina leve, um pouco escura,
A afastava da atenta multidão,
Afim de que, não vendo a formosura,
Escutassem os alunos a lição.

A verdade também, mestra divina,
Deve um pouco ocultar seu brilho ardente;
Muito melhor às vezes ela ensina,
Aliada a mentira levemente.

Outrora no Tibete reinou um Lama
Que contava de idade um ano e meio;
Era-lhe trono o berço, e, diz a fama,
Que, para felicidade de sua gente,
O pimpolho real, do reino esteio,
Não podia morder... pois tinha um dente.

O povo era feliz, não resmungava,
Nem carpia desgostos em segredo:
Se o sagrado menino desejava
Ou pitorra, ou peteca, algum brinquedo,
Cada um cidadão sem mais parola,
A cabeça oferecia, inútil bola...

O já tísico erário, com as sangrias,
Via perto a maré das quebradeiras;
Só em amas de leite e mamadeiras
Que milhões se gastou, que demasias!
Mas o povo dizia consolado:
— Mame o menino, que vai bem o Estado!

Se já fossem em moda os parlamentos,
E esses monstros chamados patriotas,
Se então se discutissem os orçamentos,
Não iam sem discurso tais patotas.
A título de salvar-se o pobre império,
Quantos tombos, meu Deus, no ministério!

Que desgraça! diria algum tribuno,
E nisto a voz engrossa e a fronte enruga,
O príncipe real chupa os impostos...
Não tem raça de gente, é sanguessuga!
Proponho que se mande esse importuno
Sem demora para a roda dos expostos!

Falia o ministro e gasta todo o dia
Num discurso de truz, trigo sem joio;
Diz contar no país inteiro apoio,
Pois tem no parlamento maioria;
Pede que a discussão fique adiada,
Até que a dentição seja passada.

Felizmente esse caso que eu figuro
É hipótese vã, sem cabimento;
O Tibete era um reino muito escuro,
Que vivia feliz sem parlamento!
Tranquila a não do estado velejava,
E o menino crescia e engordava.

A calma não durou. O rapazito
Aos três anos julgou-se emancipado;
De traquinas que era e malcriado
Punha a ama em continuo faniquito,
E o velhusco arcebispo, mestre e aio,
Com as diabruras do herói tinha um desmaio!

Se vinha o chanceler a uma audiência
O menino lhe dava cacholetas;
No templo, sem nenhuma reverência,
Fazia ao sacerdote mil caretas!
Pisava os calos com o maior desplante
Do velho general, seu ajudante.

Quando era preciso que os criados
À força o obrigassem a mudar roupa,
Choviam pontapés de proa à popa,
Que ficavam os marrecos convidados!
E segredava a súcia com firmeza:
— Não há brejeiro igual a Sua Alteza!

Estavam as coisas assim, quando uns doutores,
Que viajaram terras estrangeiras,
Começaram a rosnar... Os tais senhores
Falavam em despotismo e liberdade,
E tais coisas diziam, que, nas feiras,
Não havia tão grande raridade!

Resolveram esses homens imprudentes
Os excessos conter do jovem Lama,
E por isso pediram ao aio e ama
Convocasse o conselho dos parentes,
A fim de ser o infante repreendido,
E o direito dos povos definido.

Como amostra de argúcia e de finura,
Eu cito a petição por eles feita;
Nela o espinho à rosa se mistura,
Nela o louvar a sátira se ajeita;
Modelo da melhor diplomacia,
O protesto em questão assim dizia:

Os súbditos fiéis, infra assinados,
Aos pés do soberano, reverentes
Se ajoelham e perguntam: Rei dos crentes,
Os vassalos são filhos ou enjeitados?
Ai, filhos não parecem os teus vassalos,
Pois os tratas pior que os teus cavalos!

Perdoa este dizer, nele não vejas
Vislumbre de traição, pois te queremos.
Para poupar teus dias sofreremos
Sarampos, coqueluches, brotoejas...
Sempre fomos fiéis, real menino,
À tua raça e ao direito teu divino!

Vemos, porém, com mágoa, que o preceito
Salutar e tão digno de memória,
Vai caindo em desuso. O que hoje é feito
Do lembrete chamado palmatória?
O que é feito dos bolos e palmadas,
Deles isentos são testas-coroadas?

Pois não diz o rifão, belo conselho,
Que de pequeno torce-se o pepino?
Acaso julgarão não ser menino,
Quem não passa de ser real fedelho?
Onde se viu traquinas desta marca,
Fosse filho de pobre ou de monarca?

Como deixar passar sem reprimenda
Esse viver a torto e a direito?
Só convirá que a coisa assim tem jeito
O cortesão que frui gorda prebenda...
Se rei grande que peca é castigado,
Castigue-se um reizinho malcriado.

A vista, pois, do exposto, os requerentes
Lembram ao conselho augusto, que é preciso,
— Salvo dos doutos um melhor juízo — ,
Porem moda outra vez bolos bem quentes...
Assim corta-se o mal, e a nossa história
Bem dirá o monarca e a palmatória!

Nem de Congreve um rábido foguete
Mais abalo faria que esta nota...
Desmaiam amas, treme o gabinete,
Susta-se a discussão e ninguém vota!
Após longo silêncio e uma pitada,
O arcebispo falou com voz irada:

Dar palmadas num Lama! Quem responde
A tão negro pedido uma só frase?
Tocar com as mãos, senhores, onde... onde?
Ferir a realeza na sua base!
Vá de retro, pedido incendiário,
Morra quem fez o voto temerário!

Era tarde. Do povo onda indomável
Assoberbava já toda cidade;
Estes diziam o rei ser impecável,
Aqueles não queriam a imunidade.
Os gritos foram a mais, houve barulho,
Correu sangue, completo sarrabulho.

Transigiu o poder mui sabiamente:
Sua Alteza seria castigado;
Estava a guerra civil tão iminente
Que o rei sacrificou-se em bem do estado!
Dizem os jornais do tempo, que, na sova,
O príncipe foi bravo e não pacova.

Embora no Tibete os emperrados
Inda hoje fulminem o sacrilégio,
Muito ganhou o povo, respeitados
Tem sido seu direito e privilegio,
Por que após este exemplo tão saudável
Nenhum Lama tornou-se insuportável.

 

A CADEIA
(Blest Gana – Fragmento)

Um grito prolongado na distância
Deixa-se ouvir. A vista ao meio-dia
Dirigi com prazer... Ai, era a França,
Que de seus reis o jugo sacudia!
Era um povo, que armado de constância,
De fé no seu porvir e de ousadia
Ao combate lançava-se altaneiro,
Querendo libertar o prisioneiro.

Vi o santo combate! Eu presumia
Fosse a cadeia infame espedaçada,
Já a divina liberdade eu via
Sobre as ruínas do poder sentada...

O mundo como eu também seguia
Os lances dessa luta encarniçada,
Porém... que horror! meus olhos se nublaram
E do quadro de sangue se apartaram.

O que foi que encontrei onde buscava
A santa liberdade? Uma bacante,
Que em meio de cadáveres alçava
O feroz e malévolo semblante!
Os pés em sangue humano ela banhava,
Tinha na destra o ferro cintilante,
E do reinado seu o amargo fruto
Era a miséria, o ódio, o sangue, e o luto!

Não era a liberdade nem tão pouco
Era esse povo o povo soberano!
Na sede do extermínio achava pouco
O sangue do patíbulo desumano!
Não era um povo aquilo mas um louco
Ébrio de crimes, de furor insano...
Pois não é pedestal da liberdade
O cadafalso, o ódio à humanidade!

Porém restava ainda uma esperança,
Meus olhos eram dela seguidores,
Querendo ver a estrela da bonança
Entre nuvens de rúbidos vapores!

Quando vi, entre múltiplos horrores,
Alçar-se então um gênio sobre-humano...
Quem era aquele gênio? Era um tirano.

Vi a América erguer a nobre fronte,
Levantando-se altiva e vitoriosa:
Não era a jovem débil e inocente
Que a Europa contemplava desdenhosa,
Mas a matrona forte, independente
Que combateu com alma valorosa,
Não contra um povo ilustre e bem querido
Porém contra um sistema carcomido.

E não rompeu a sua forte espada
A cadeia fatal! Com férreos laços
De espúrios filhos a ambição minguada
Traidoramente manietou-lhe os braços!
E quando após a luta encarniçada,
Um cetro ela arrojou em mil pedaços,
Passou cheia de horror por outras provas,
E teve de sofrer cadeias novas!

Volveu depois a calma. O orbe inteiro
Emudeceu gemendo na aflição!
Soluçava o gigante prisioneiro,
Sempre algemado na fatal prisão.

Sofria a terra o enorme cativeiro,
Os ecos murmuravam maldição!
E as ondas do mar, no úmido colo,
Levavam ais de um a outro polo!

 

JOÃO CAETANO
(Recitada em Ceva)

A glória não é fumo, não è um sonho vão.
Fantástica miragem, efêmera ilusão!
A glória é uma luz, é fulgida corda,
E hino que através dos pósteros ecoa!
As urzes do caminho, o cálido suor,
Nas horas de agonia, de ímprobo labor,
Convertem-se em laurel, estrofes de poema,
Triunfos, ovações, e régio diadema!

Na galeria magna das glórias do Brasil
Existe um busto heroico, de porte senhoril.
Ali a mesma luz sublime ele derrama
Que os companheiros seus de imorredoura fama!
O manto que ele enverga, de tanto resplendor,
Não é a toga ilustre de másculo orador;
Na fronte ele não traz os louros de poeta,
Nem é também pintor de mágica palheta;

Do historiador austero não tem a glória, não,
Não é o estatuário de enorme inspiração;
Mas ele em si contém as glórias espalhadas
De todas essas frontes, augustas, laureadas.
Ao verso do poeta, ao verbo do orador
Dava ele inteiro acento e apropriada cor;
Poeta e orador, pintor e estatuário
O seu talento audaz era cambiante e vario!
De tal prodígio o nome ufano eu vos direi:
É João Caetano o artista, da cena o grande rei!

Seu trono a cena foi, no palco radiava,
E o auditório seu soberbo dominava!
Que imensa majestade! Aqui deste lugar,
Gênio no aspeto e voz, no gesto e no olhar.
Para mover o pranto, ou reclamar o riso
Um movimento só, não mais era preciso.
Quisera que o ouvisses, entregue a inspiração,
Ardente, impetuoso, quais lavas dum vulcão!
O belo amar fazia, tornando-o mais sublime,
Se era um criminoso, era sublime o crime!
Agora geme o esposo da miseranda Inês,
Ei-lo Hamlet triste de baça palidez!
De Augusto a altivez, do Cid a gentileza
Os zelos, o furor do Mouro de Veneza,
As harmonias langues do languido Romeu,
Tudo traduz e encarna o gênio assombroso seu!

Que mágico esplendor não tinha aquele crânio
O povo a dominar veloz e subitâneo!
Interprete eloquente de todas as paixões,
Sabia eletrizar geladas multidões!
A arte se orgulhou de ter ante suas aras
Quem soube reunir prendas assim tão raras!
Artista portentoso, milagre divinal,
Astro ente as glórias nossas, oh, glória sem rival!

Se triste o palco esta, e o luto cobre o templo
Onde herdeiro não tem, quem deu tão belo exemplo,
Se hoje lamentamos ausência tão cruel,
Do sacerdote exímio... Cingido de um laurel
A fronte a fulgurar, na mão fulgente palma.
Entre os varões ilustres brilha o brasílio Talma!

Na galeria magna das glórias do Brasil
De João Caetano o busto se alteia varonil!
E ante o grande herói, perante a augusta imagem
Que vim hoje prestar sincera vassalagem,
Unindo-me ao concerto de mavioso som
Que entoa um hino ao gênio, que está no Panteão!

 

PROMESSAS

Se queres que eu acredito,
Que de amor sentes o fogo,
Ai, não guardes para logo
A prova do teu amor.
Porque a chama recalcada
Nem sempre vigora e cresce,
Muitas vezes esvaísse
E perde todo calor!

Cada sorriso amoroso,
Que nos teus lábios eu vejo,
Mais aguça o meu desejo
Mais me aumenta a embriaguez.
O sorriso que desatas
Minha paixão tanto ateia,
Que sinto de veia em veia
Amorosa languidez!

Mas o que são teus sorrisos?
Promessa de um céu de amores,
Não são frutos, porém flores,
E flores podem murchar...
Entre a promessa e a posse
Existe grande distância
E meu peito sente a anciã,
De tanta sede acalmar!

Quando olhas expressiva
Os teus olhos dizem tudo,
Para mim nunca foi mudo
Esse olhar todo fulgor!
Leio divinos poemas
Nos olhares que me lanças,
E neles colho esperanças,
Vejo horizontes de amor!

Mas é pouco, muito pouco
Para pagar meus extremos.
Se os olhos dizem: amemos.
E me fazem enlouquecer,
Precisas dar outras provas
Seladas com mais ternura,
Para abrandar a fragura
Em que me sinto ferver!

Teus beijos? Sim, os teus beijos
Dá-mos louca, desmaiada,
E a palma cobiçada,
São eles o sumo bem!
E que me digas: “Sou tua
Aqui juro sem remorso,
Tua sou e já não posso
Pertencer a mais ninguém!”

Assim eu creio em promessas,
Elias não geram tormento
Valem mais que um juramento
Rico de frases de amor.
Assim a chama não míngua,
O tempo a não arrefece,
Vigora, não esvaísse,
Não perde o vivo fulgor!

 

ENFIM!
(Mery)

Eu não te conhecia e já te amava!
Minha alma pressentiu-te no delírio
De sua exaltação!
Tu és o ideal que eu procurava,
O meu sonho de amor cristalizado,
A minha inspiração!

Não sei quando te vi a vez primeira,
Pois criou-se comigo a tua imagem,
Minha alma te engendrou!
Tudo que vi depois: olhar celeste,
Riso inocente, formosura de anjo
Amei... não me espantou!

Pois assim que te vi no meu caminho
Conheci-te e bradei ajoelhando:
— É ela, Santo Deus!

Aquela que meu peito idealizara,
Que procuro debalde há tantos anos,
Os puros sonhos meus!

Ai, quão longa não foi a tua ausência!
Aqui entre os humanos noite e dia,
Por ti sempre clamei!
Consumi vigilante o meu passado,
A minha juvenil serenidade
Em buscar-te gastei!

Mas baixaste a este mundo! Enfim cumpriu-se
O augúrio feliz! Não foram sonhos
Mentirosos, meu Deus!
Agora nesta vida hei de seguir-te,
De joelhos após a sombra tua,
Beijando os passos teus...

 

SONHANDO

A noite ia bela tocando a seu termo,
A brisa passava qual eco de amor,
E já descorada, sentindo a alvorada,
A lua mostrava mais pálida cor.

O mar preguiçoso na areia batia
De leve, qual som de trêmulo beijo
De amante ditoso, que vai receoso
Beber as primícias de um longo desejo.

O ar era brando, corriam perfumes
Das flores abertas por entre a verdura,
O rórido prado e o céu anilado
Mostravam nessa hora igual formosura.

E tu descansavas do sono nos braços,
Sonhando venturas, comigo sonhando!
Sentias meu peito, em chamas desfeito,
Talvez junto ao teu bater desmaiando...

Um riso amoroso abria teus lábios,
A face de um anjo se via em tua face;
Sem arte vestida, deitada, dormida,
No teu desalinho, ai... quanto realce!

E vi-te dormindo e quis despertar-te,
Chamei por teu nome, um grito soltei!
Mas, ah! quem dormia era eu que te via,
Era eu que sonhava, e que despertei!

 

TRISTEZA DO TROVADOR
(Hermójenes Yrisarri)

Bramia o mar arrebentando ao longe,
Lívido o raio a fuzilar se via!
Na erma praia, sem farol, sombria,
Tristonho e errante o trovador parou.
Lá nas montanhas lhe ficara a vida,
Descera triste, abatida a fronte,
E ali chegando, contemplou o monte,
E... ouvi o canto que a tremer soltou.

Negra cortina, funeral mortalha
Envolve o céu, o oceano e a terra,
O vento em fúria pelos ares berra,
Nunca tão fero o furacão bramou!
Porém do raio o reluzir fugace
Não apavora, não abala o triste...
Vede-lhe a dor na palidez da face,
— Ouvi o canto que a tremer soltou:

Flor de minha alma, que eu guardei cioso,
Com tanto extremo, e cuidado, e mimo,
Flor delicada de que eu era arrimo,
Por que morreste, melindrosa flor?
Rosa, faltou-te um carinho ao menos?
Foi-te fatal o meu amor maldito?
Eram meus beijos para ti venenos?
— Ouvi-lhe o canto, minorai-lhe a dor!

Como caíste do hastil tão cedo?
Como deixaste meu amor sublime?
Dobraste, ó rosa, qual ligeiro vime
Do vendaval ao descomum furor!
Por que na queda não fui eu contigo?
Carpir ausente neste mar de angústias
Não é mais feio, mais cruel castigo?
— Ouvi-lhe o canto, minorai-lhe a dor!

Não resguardou-te tua essência pura,
Não foi-te escudo a ternura minha!
De que serviu-te tanto amor que eu tinha,
Cobriu-te a morte com fatal palor!
Fugiu-te a vida quando eu tinha vida!
Não fomos juntos repousar na campa!
Não sucumbimos de uma só ferida...
— Ouvi-lhe o canto, minorai-lhe a dor!

 

GONÇALVES DIAS

Perante o teu martírio
Tão grandes, fundas penas,
Como enxugar-te as lágrimas,
Oh, brasileira Atenas?

Outrora tantos cânticos,
E hinos festivais!
Findou o coro harmônico,
Ele mudou-se em ais!

Perante a dor tão vívida
Que agora te atribula,
Todo consolo é efêmero,
Toda esperança é nula!

Carpe convulsa e tremula
A tua viuvez,
Pois hoje está paupérrima
Quem Deus tão grande fez!

O berço feracíssimo,
De tantos gênios, rico:
De João Lisboa másculo
De Souza, de Odorico.

Do sábio matemático,
Do Homero português,
Do prosador vernáculo
Irmãos na fama os três!

Por que a terra esplêndida,
Que tantas glórias tinha,
Hoje ululante e pávida
Humilha-se mesquinha?

Da morte o braço esquálido
Levara os três sem dó,
Restava o primogênito,
Meu Deus, restava só!

Abriu-se mais um túmulo
Com o golpe derradeiro,
Caiu, sumiu-se o último,
Que foi sempre o primeiro!

É muda a voz, terníssima
Do nosso sabiá...
Em nossa mata umbrífera
Cantor igual não há.

O índio que nos paramos
E nas montanhas vaga,
Não ouve os sons melódicos
Do seu melhor piaga!

A selva um ai dorido
Aos ecos manda além,
No ermo mais recôndito
Soluça-se também!

Do pélago no vórtice
Tombou o imenso astro,
Esconde-se entre pérolas,
Em urnas de alabastro.

Na terra brilhou lúcido,
No mar foi-se ocultar;
Assim do azul sidéreo
O sol se esvai no mar!

Mas que fatal anátema
Persegue, obumbra e vence,
Ferindo tão no âmago
A terra maranhense?

O anjo do extermínio,
Com fúria descomum,
Conduz ao sacrifício
Seus filhos um a um!

Ai, vede a pobre vítima,
Que ali convulsa ulula...
Quem vai secar-lhe as lágrimas,
Se toda voz é nula?

Só o pranto que vem cálido
Lhe sai do coração?
Se em seu sofrer a mísera
Não mais cobra a razão?

São negras, são funéreas
As tuas agonias...
Onde buscar alívio:
— Morreu Gonçalves Dias!

 

A LEI E O DIREITO
(Bianco Cuartin)

“Sou vossa filha, entretanto o mundo
Clama não ser igual nosso destino,
Pois procedeis dum tronco que é divino
E que eu procedo de paul imundo!”

Assim falou a Lei. Meditabundo
Lhe respondeu o padre peregrino:
— O que se diz não é um desatino,
Tal juízo contém razão no fundo...

Descendo da verdade esclarecida,
Vivo junto de Deus no assento etéreo,
Gozo a luz imortal, eterna vida;

Mas um dia liguei-me com mistério
À justiça dos homens fementida...
E o fruto tu és desse adultério!

 

CONSOLO
(Valentim Magallanes)

Em meio do cansaço e do fastio
Que me deixam pesares desta vida,
Tu vens, minha querida, qual rocio
Sobre sedenta flor descolorida!

Em meio da indômita fereza
Com que me verga a fronte a desventura,
A cabeça descanso com deleite
Sobre teu coração, morada pura!

Tu mudas o deserto onde eu padeço
Em um rico jardim de odoras flores,
E a teu lado contemplo o universo
Embriagado na luz de teus amores!

Com teus santos afetos esta angústia
Que mora no meu peito se esvaísse,
E o desgosto tenaz que enche minha alma
Com teus doces carinhos desaparece!

E sorvendo teus beijos adormeço
Ao vaivém de teu seio enamorado,
Olvido em teu regaço a espécie humana,
Ao teu sublime amor escravizado!

Nada me importa, assim que nesses olhos
Vejo amor, e em teus lábios o carinho,
O infortúnio esqueço e os abrolhos
Que a sorte semeou no meu caminho!

Porque sei que moderas o tormento
Que me deixam pesares desta vida,
E vens, minha querida, qual rócio
Sobre sedenta flor descolorida!

 

ESTÂNCIAS
(Lamartise)

E eu disse internamente:
O que fazer da vida?
Dos que me precederam
Os passos eu vou dar?
E assim como o cordeiro,
Andando um atrás doutro,
Irei tanta loucura
Dos homens imitar?

Um busca sobre os mares
Tesouros fabulosos,
E a vaga além soçobra
O ouro e o galeão!
Este outro após a glória
Caminha e se afadiga,
Morre por ter um nome,
Um eco falso e vão!

Aquele, especulando
Com as ambições do povo,
Ao trono sobe e prestes
Esvai-se-lhe o poder!
Em laços mais suaves
Aqui alguém sucumbe,
Prendendo o seu destino
Nuns olhos de mulher!

Nos braços da miséria
Debate-se o indolente;
Revolve a terra fértil
O rude lavrador;
O sábio pensa e escreve,
Batalhas ganha o bravo,
E o pobre as mãos estende
Na estrada ao viajor!

Mas onde eles vão todos?
Caminham como a folha
Que o vento dos invernos
De rojo sacudiu!
E assim aniquiladas
As gerações baqueiam:
O tempo semeou-as,
Colheu e... destruiu!

Lutaram contra ele,
Por fim foram vencidos.
O areai das margens
Solapa o rio assim...
As sombras fugitivas
Lá foram devoradas,
Nasceram e subitâneo
Chegou da vida o fim!

Por isso eu cantar quero
O Deus que adoro e temo;
Ou, da cidade em meio,
Ou lá na solidão;
Na plaga ou no mar alto,
Ao descambar da tarde,
Ao despontar da aurora,
Em toda ocasião!

A terra interrogou-me:
Qual é o ser que adoras?
— Aquele cujo espírito
Enorme em tudo está,
Que mede a imensidade
Com um passo seu apenas,
E que ao sol empresta
O brilho que ele dá!

— Aquele que a matéria
Formou do próprio nada,
E que per sobre o caos
O mundo fez girar!
Aquele que ao oceano
Marcou o fundo leito
E que a luz brilhante
Criou de um seu olhar!

— Aquele que não conta
Os dias que se escoam,
Que fez a eternidade
Com um gesto criador;
Que vive no futuro
Qual vive no presente,
E marca o giro ao tempo
Por ser dele o senhor!

É esse O Deus que adoro!
Ensine a minha língua
Seu nome glorioso
Aos filhos dos mortais!
Bem como o alampadário
No templo suspendido
Lhe votarei meu culto,
Meus cantos perenais!

 

A MINHA MADONA

Alva, mais alva do que o branco cisne,
Que além mergulha e a penugem lava;
Alva como um vestido de noivado,
Mais alva, inda mais alva!

Loura, mais loura do que a nuvem linda
Que o sol à tarde no poente doura;
Loura como uma virgem ossianesca,
Mais loura, inda mais loura!

Bela, mais bela que o raiar da aurora
Após noite hibernal, negra procela;
Bela como a açucena rociada,
Mais bela, inda mais bela!

Doce, mais doce que o gemer da brisa;
Como se deste mundo ela não fosse...
Doce como os cantares dos arcanjos,
Mais doce, inda mais doce!

Casta, mais casta que a mimosa folha
Que se constringe, que da mão se afasta,
Assim como a Madona imaculada
Ela era assim tão casta!...

 

SÚPLICA A UM ANJO!...
(Manoel Corpancho)

Passou bem como o bálsamo das flores,
Que no ambiente se evapora e foge!
Como o eco de um cântico de amores,
Como uma fugitiva claridade!
Como o rumor de música longínqua
Que vagueia com a brisa suspirosa,
Quando surge a manhã toda de rosa,
Iluminando a azul imensidade!

Feliz o incenso que subiu com a aragem!
Feliz a gota que volveu à nuvem!
Feliz o anjo, que a terrena viagem
Deu fim e volta à mansão saudosa!
Ai de nós outros, que no mundo estamos,
Aves sem ninho, sem país, errantes,
Que entre as trevas tateando vamos,
Sempre na luta infernal, tediosa!

Anjo! Se acaso na celeste estância
Chegar o eco do meu rude canto,
Ajoelhada junto ao trono santo,
Pede um raio de luz para o cantor!
Um raio que mitigue minhas dores,
Uma luz que ilumine esta existência...
Deus atende o pedido da inocência,
Quando roga com anciã e com fervor.

 

IMPROVISO
(Eduardo de la Barra)

A América não quer um outro arminho...
Tem a neve de sua cordilheira;
A coroa só quer do sol ardente,
Nem outra púrpura espera
Além do manto rubro do ocidente,
Que flutua a ondear na azul esfera!

 

CAMINHO DO CÉU
(Ricardo Palha)

Vede! Cobre-lhe a beleza
Alvo, transparente véu!
Assim circundam estrelas
Branca nuvem lá no céu!
Não a acordeis! Ela sonha
Com anjos, sonhos de luz!
Não desperteis a menina,
Rosa dos olhos azuis!

Quando enfim raiar o dia
E o sol no espaço luzir,
Sobre toda a natureza
Vida e calor difundir,
Pobre mãe, não chores, fita
Os olhos ali na cruz...
Que vai caminho da glória
Rosa dos olhos azuis!

 

AO AMOR!
(Andersen)

Como é belo o amor! Que novos mundos
Ele descobre e enche de fulgor!
Sentimento inefável! maravilha!
Como é belo o amor!

Cada olhar que nos lança a bem-amada
Faz na terra brotar mais uma flor!
Há mais astros no céu, brisas nos ares,
Como é belo o amor!

Seja noite para os mais, é sempre dia
Nesse mundo de amor, mundo interior,
Onde soam harmônicas dúlicas,
Como é belo o amor!

Sonho na insônia, trevas luminosas!
Desmaio da razão, razão melhor!
Atração para o mundo dos espíritos!
Como é belo o amor!

Pensamento incessante e generoso
Daquele que do orbe é pai e autor!
Fonte do seu poder, de sua glória,
Como és belo, ó amor!

 

EPITÁFIO
(Castillo)

Recordos desse amor, surgi agora
Como auréola de luz em minha frente!
Ante meus olhos refleti a aurora
Que fazia-me a vida tão fulgente!
Trazei-me essa mulher encantadora,
Que foi a estrela deste amor ardente,
Dai a meu coração paz e ventura,
Ou ao menos cessai tanta amargura!

Jaz aqui a ilusão a mais querida!...
Por ela o peito meu, minha alma chora!
Um brilhante cristal era sua vida;
Doce como o raiar doce da aurora,
Suave como a tarde entristecida
Quando a luz acabou e o céu descora...
Anjo que ao céu voou, sombra adorada,
Bela esperança convertida em nada!



ESTÂNCIAS
(Victor Hugo)

Uma terra inclemente, feia, avara,
Que nos dá só labor e só cansaço,
E que, contra vontade, oferece ao homem
Em troca de trabalho o pão escasso;

Em tão rude mansão mortais ingratos,
Cidades que não dão franca guarida
A caridade e a paz; aonde o orgulho
Do opulento e do pobre enluta a vida;

O rancor entre todos; pela morte
O justo derribado sem piedade;
As eminências sempre anuviadas,
E vendida a justiça, a virgindade;

As paixões engendrando os infortúnios,
Lobo cerval os bosques abrigando,
Aqui tórridas zonas insalubres,
Gelo polar ali se alevantando;

O oceano tragando em sua cólera
A nave que esperanças conduzia;
Aqui o incêndio ou fome; noutras plagas.
Da fratricida guerra a tirania;

Continentes cobertos de fumaça,
Agitado viver entre escarcéu,
E tão hórrido misto faz a... Terra,
Astro lindo que luz, fulge no céu! 



MEIA CIÊNCIA
(Pailleron)

Tu que levas entretida
Essa vida
Num espelho a te rever,
Sabendo que és muito linda,
Mais ainda...
Pensas ter muito saber?

Sabes os negros cabelos
Em novelos
Arranjar nesses bandos;
Ou sobre os ombros caídos.
Espargidos
Soltá-los largando os nós...

Com muitas rendas, bordados
Delicados
Sabes as vestes ornar,
E sob o lindo corpete
E o colete
Alvos pomos ocultar.

Tu sabes, gentil coquette,
Do toilette
Os mistérios divinais;
Encobres com arte rara,
Pouco avara,
Primores que arrancam ais...

Tu sabes com a mão nevada,
Enluvada,
De leve um homem prostrar,
E com esses pés pequeninos,
Infantinos
Nas valsas veloz voar.

Tu sabes roubar o siso
Com um sorriso
Todo doçura e paixão;
Esses sorrisos que lanças,
Ai, são lanças
Que ferem no coração!

Sabes muito... sabes pouco.
Não estou louco:
O que te falta bem sei...
É segredo muito sério,
É mistério,
Que por certo não direi.

Uma voz tristonha, a medo
Tal segredo
Um dia te há de dizer...
Já vês que, apesar da lábia,
Pouco sabia
Tu és e... busca aprender.




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NOTAS DO AUTOR


SERTANEJAS

As lendas, cantigas, e tipos populares, que formam a parte principal deste volume, refletem de algum modo a vida em nossos sertões. Se outro fora o cantor, Bernardo Guimarães, Trajano Galvão, ou Juvenal Galeno por exemplo, mais acentuados ficariam os episódios descritos.

Creio que é uma inesgotável fonte de inspiração o estudo dos costumes rudes de nossos sertanejos, a descrição das abusões populares, e a pintura dessas paisagens esplêndidas do interior do Brasil.

As lendas que intitulei Casa Maldita, A cruz da estrada e Almas penadas são contos que ouvi na infância, e que ainda hoje são conservados pelos filhos do interior do Maranhão em linguagem simples mas expressiva.

Ultimamente encontrei em um livro de Ponthieu certa lenda provençal que muito se assemelha às Almas penadas. É escrita em prosa, e assegura Ponthieu, que essa narrativa data da Idade Média tendo sido muito vulgar no ocidente da Europa. Vê-se, portanto, quão fácil foi transportá-la para o Brasil, onde o homem do povo ainda hoje a repete.


DISPERSAS

Odorico Mendes, o tradutor de Virgílio e de Homero, é um vulto notável da história pátria. Quando lhe faltassem esses grandes títulos literários, que tão alto o colocam entre os mestres da língua portuguesa, o papel político que ele desempenhou entre nós fora bastante para levá-lo a posteridade

Vulto importante do parlamento brasileiro, caráter integro e de tempera romana, Odorico morreu pobre, pobríssimo, tendo sido a alma da revolução de 1 de abril, o conselheiro da regência, o patriota mais popular da época.

Os versos dedicados ao venerando maranhense foram escritos há seis anos, e referem-se tanto ao poeta como ao político.

***

As duas traduções de Thomas Moore fracamente dão ideia do que seja o inspirado bardo irlandês. Nunca vi tratar do Oriente como em Lalla Rookh. Quanto fogo e deslumbramentos! Esse país das pedrarias maravilhosas e das ardentíssimas lendas de guerra e amor, no livro de Moore está retratado de maneira a arroubar-nos os sentidos. Foi por isso que o embaixador da Pérsia, em Londres, vendo uma versão árabe do poema de Lalla Bookh afirmou que lia um esplêndido manuscrito hindu.

Quanto a mim, a poesia de Thomas Moore é um diamante faceado que brilha com mil fogos, verdadeira festa da imaginação. Bem razão teve o seu O’Sulivan quando disse, que ele é um poeta-silfo, que despoja terra, mares e nuvens para formar os seus cambiantes quadros.

A Luz do Harém é verdadeira joia do Levante. Tenho vertido esse poema quase todo, e talvez algum dia ele veja a luz. Empreguei a oitava rima porque sou fanático pela formosura de uma tal metrificação na poesia moderna. A tradução magnífica da Eloá por Gentil Braga, e a da Evangelina de Longfellow pelo chileno Vicuna animaram-me a prosseguir nesse metro.

O Pequeno Lama é trabalho diverso da Luz do Harém, mas num gênero em que Moore também era insigne. Essa poesia vem nas Melodias irlandesas e é um conto chistoso com pretensões a alegoria.

Inimigo dos opressores de seu país natal, o compatriota de O’Conell e de Sheridan, sempre que achava ocasião, feria de morte os tiranos da verde Erin.

Se Parnell e Goldsmith são irlandeses renegados, que, em seus escritos, nem sequer mencionaram o desgraçado solo que os viu nascer, Moore não soube perdoar a Inglaterra os seus erros e ridículos, e por isso, sempre que pôde, desencadeia contra ela tempestades de ódio ou de desprezo.

O apreço em que tenho o ilustre poeta irlandês levou me a transportar para este livro algumas paginas vertidas mal e incorretamente.

****

Rogeard, o enérgico panfletista que escreveu as Reflexões de Labienus, quando governava a França o herói de Sedan, no seu livro de poesias, intitulado Pauvre France, tem uma canção dedicada aos estudantes e da qual esta é muito descorada paráfrase. A poesia de Rogeard denomina-se Le lion du quartier latin.

***
“João Caetano”. Esta poesia foi recitada no teatro de São Luís, em Maranhão, pelo artista Joaquim Augusto. Dava-se um benefício à família de João Caetano, que morreu na miséria.

***

Don Hermójenes Yrisarri é um poeta chileno de grande merecimento. Apesar de menos conhecido do que Guilherme Mata, Blest Gana, ou Eusébio Lilo, figurou muito como diplomata, e os seus escritos, espalhados em vários jornais do Pacifico, foram em parte colecionados na América poética, e na Lira americana, duas publicações no gosto do Parnaso Português.

***

“Gonçalves Dias”. Em um folheto que não teve circulação e que, há oito anos, publiquei na Paraíba do Norte, saíam estes versos, que reproduzo no presente volume, como pequena homenagem ao ilustre maranhense.

***

Blanco Cuartin é um faceto escritor. Poeta muito popular e ameno, é tido no seu país, o Chile, em elevadíssimo conceito, bem como Valentin Magallanes, de quem traduzi a poesia intitulada Consolo.

***

D. Manuel Nicolau Carponcho, autor do conhecido drama lírico o Cruzado e do poema épico Magallanes, foi vítima do incêndio do vapor espanhol Mejico. Era diplomata e um dos melhores poetas do Peru.

***

Ricardo Palma, e Castillo são também dois estimáveis poetas peruanos. 

O primeiro é o autor dos célebres Anais da Inquisição no Peru. Ambos estiveram no desterro e publicaram, em vários jornais espanhóis, lindíssimas poesias, que são repetidas com entusiasmo nas repúblicas do Pacífico e do Prata.




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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

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