A IGREJA DE FALSTER
Existe em Falster, na Dinamarca,
uma mulher, que não tendo filhos, nem parentes, resolveu empregar a sua fortuna
em obras piedosas.
Fez construir uma igreja magnífica.
Quando esse edifício ficou acabado,
ajoelhou-se, e, juntando as mãos, pediu a Deus para viver tanto tempo quanto as
paredes daquele santuário ficassem de pé.
A Morte começou a devastar em torno
dela, a arrebatou-lhe sucessivamente todos com quem convivia. Viu morrer
pessoas de sua idade; viu gente crescer, envelhecer e morrer.
A pobre mulher, que tinha
manifestado tão imprudente desejo, não podia morrer. Envelhecia, porém,
lentamente, sozinha.
Envelheceu de tal maneira, que
acabou por perder o uso das faculdades.
Não comia senão uma vez por ano à
meia noite, na missa do Natal.
Então, fez construir um esquife,
encerrou-se mele, e mandou que a colocassem dentro da igreja, junto à nave.
Conservou-se aí durante todo o ano,
imóvel e calada.
Mas no dia de Natal recuperou a
palavra.
O padre aproximou-se dela, que,
lentamente, se ergueu do esquife, e fala:
— A minha igreja ainda está de pé?
— Ainda!— responde o padre.
— Ai de mim!— geme ela,
imperceptivelmente.
E depois torna a deitar-se no leito
fúnebre.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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