Num calmoso dia de verão um mágico
viajava em uma pequena vila da Inglaterra. Sentindo-se fatigado, bateu à porta
de um honesto lavrador, pedindo permissão para descansar.
A mulher acolheu-o delicadamente,
oferecendo-lhe leite numa vasilha de pau e pão num prato também de madeira.
Naquela casa tudo se achava em
ordem, bem arranjado e limpo, mas os moradores tinham o ar triste e desolado.
— Ah!— disse a mulher, chorando, — eu
seria a criatura mais feliz do mundo se tivesse um filho, ainda que ele fosse
do tamanho do polegar de seu pai!
A ideia de um rapaz do tamanho de
um dedo divertiu o mágico.
Quando se despediu daquela boa
gente, foi procurar a rainha das fadas que era sua amiga, e pediu-lhe que
satisfizesse os desejos da pobre mulher. Pouco depois nascia na cabana um
menino muito pequeno.
A fada ao vê-lo no seu berço,
deu-lhe o nome de Pequeno Polegar, e
mandou que as outras lhe fizessem o enxoval.
De uma folha de carvalho fizeram
uma touca, de uma teia de aranha uma camisa, e assim tudo mais.
Pequeno Polegar, que foi batizado
pelo nome inglês de Tom, não cresceu mais que o dedo do pai. Apesar, porém, da
sua insignificante altura, era preciso vigiá-lo bem, por ser muito vivo e
esperto, e a mãe o não governar facilmente.
Algumas vezes escondia-se nos
bolsos dos meninos da sua idade e roubava-lhes os frutos. Um deles, tendo-o
surpreendido no momento em que cometia um desses furtos, escondeu-o, para
castigá-lo, num saquinho de nozes, e sacudiu-o com tanta força, que o machucou
horrivelmente. Tom suplicou perdão, prometendo nunca mais fazer daquelas
partidas.
Algum tempo depois, subiu por
curiosidade, nas bordas de uma terrina onde sua mãe havia posto todos os
ingredientes necessários para fazer um pudim. Inclinando-se para ver as gemas
dos ovos, passas de Corinto, açúcar, farinha de trigo etc., caiu dentro.
Tentando ver se conseguia sair,
levantava as pernas, agitava os braços, erguia a cabeça, e fazia tais esforços,
que a velha, julgando o pudim enfeitiçado, deu-o a um homem que passava,
carregando um saco de carvão.
O Pequeno Polegar, tendo conseguido
cuspir fora a farinha que lhe entupia a boca, começou a gritar, com tal
violência, que o carvoeiro, amedrontado, jogou-o fora.
Então o pequeno Tom conseguiu
levantar-se, e arrastando-se, coxeando, dirigiu-se para casa.
Outra vez foi ver tirar leite da
vaca. A velha, receando que o vento o carregasse, amarrou-o a um cordão da
cintura.
De repente ouviu-o gritar:
— Socorro, mamãe!!!
— Onde estás, meu filho? — interrogou
ela espantada.
— Na garganta da vaca.
Fora o animal na verdade que, tendo
ido comer um pouco de erva levou o pequenino com a língua.
Felizmente conservou a goela
aberta, durante alguns segundos, e Tom aproveitou-se para pular no chão.
Não pararam aí as aventuras
extraordinárias do Pequeno Polegar.
Uma ocasião, achando-se a passear
no campo, um gavião agarrou-o pela roupa e levou-o para o cume de um rochedo
alto.
Daí o pequerrucho Tom rolou e caiu
ao mar, sendo engolido por um robalo.
Um pescador, tendo apanhado esse
peixe, ofereceu-o ao rei Artur.
Quando abriram a barriga do peixe,
Tom saiu vivo de dentro.
O rei, encantado por esse menino
tão esperto, nomeou-o seu amo favorito, e fê-lo residir com todas as regalias e
comodidades, no palácio real.
Quando montava a cavalo, levava Tom
no arção da sela. Se chovia, escondia-o no bolso.
O soberano inglês interrogou-o a
respeito de seus pais; sabendo que eram pobres, mandou-o visitá-los,
permitindo-lhe levar todo o dinheiro que pudesse carregar.
Tom apanhou a mais pequenina moeda
de ouro em circulação no reino, pô-la dentro de uma bolsinha, e, carregado com
aquele peso, extraordinário para eles, chegou à casa paterna. Caminhara sem
cessar durante dois dias. e duas noites para fazer meia légua.
Os pais ficaram muito admirados
quando o viram com todo aquele dinheiro, e deitaram-no num sapato junto do
fogão. Durante três dias deram-lhe para comer m pedaço de maçã.
Entretanto ele quis regressar para
o palácio. Como tinha chovido muito e a terra estava molhada, sua mãe colocou-o
na palma da mão, soprou-o com força, indo ele parar no palácio.
Novamente divertiu o rei e toda a corte,
com as suas graças.
Como era de natureza extremamente
belicosa, quis exercitar-se no manejo das armas e assistir às justas e
torneios.
Fatigou-se de tal maneira, nesses exercícios,
que adoeceu gravemente. A rainha das fadas, compadecida dele, colocou-o num
carro, que era uma pétala de rosa, puxada por uma borboleta, e transportou-o ao
seu palácio. Aí curou-o e reenviou-o ao rei.
Um dia o inocente Tom foi acusado
de ter querido envenenar o cozinheiro real.
Apesar dos seus protestos, foi
julgado e condenado a morte. Ouvindo pronunciar essa terrível sentença, Tom
reparou em um soldado que estava perto dele, de boca aberta, e escondeu-se aí
dentro.
Ninguém o vira fazer aquele
movimento, e procuraram-no inutilmente.
O pobre soldado, sentindo cócegas
na garganta, baixou ao hospital, onde vários médicos o examinaram, sem atinarem
com a moléstia.
No dia seguinte, tendo tomado um
vomitório, expeliu o Pequeno Polegar.
Surpreendido por vê-lo, atirou-o
raivoso pela janela, indo o desgraçado Tom cair no rio, onde outra vez um peixe
o engoliu.
Dias depois saiu da sua nova
prisão, e apresentou-se ao rei, que, reconhecendo a injustiça da sua
condenação, o perdoou, retomando-o ao seu serviço, dando-lhe foros de nobreza e
fazendo-o vestir-se magnificamente.
De asas de borboleta fizeram-lhe
uma camisa, da pele de um camundongo botas de montar, uma agulha grossa era a
sua espada, e um ratinho o seu cavalo de batalha.
Assim armado e equipado, ia à caça
e todo o mundo se divertia, vendo-o galopar.
Uma manhã, atravessava uma aldeia,
muito orgulhoso na sua montaria, quando um gato lhe saiu ao encalço. Tom puxou
da espada e pôs valentemente o inimigo em fuga.
Mas o animal conseguiu meter-lhe as
unhas, despedaçando-lhe o seu belo fato e arranhando-lhe a pele.
Novamente a rainha das fadas
levou-o para o seu palácio, onde tratou dele até que se restabeleceu
completamente. Depois, com um sopro,
o enviou ao rei. O celebre Artur morrera, entretanto, e o seu sucessor
Thumston, não conhecia o homenzinho.
— Quem és tu? — perguntou-lhe, ao
vê-lo cair no seu castelo.
O Pequeno Polegar respondeu:
— Eu sou Tom, mais conhecido pala
alcunha de Pequeno Polegar. Venho do Reino das Fadas. No tempo do falecido rei
Artur, residia aqui. Ele gostava de mim, protegia-me e fez-me nobre.
— Pois bem — replicou Thumston, — eu
também cuidarei de ti.
Mandou construir para o nosso herói
um belo palácio de um palmo de altura e uma cadeira a fim de que ele pudesse se
sentar à mesa real. Nunca Tom havia sido tão amimado e festejado. Mas favor que
se goza nas cortes nem sempre é de longa duração.
Thumston, tendo dado de presente ao
seu favorito uma bela carruagem puxada por seis ratinhos brancos, a rainha
furiosa por não ter também, uma nova equipagem, acusou Tom de ter sido
insolente para com ela, e o rei jurou puni-lo sem dó nem piedade.
O pobre Pequeno Polegar, para fugir
ao castigo terrível que o esperava, ocultou-se num buraco do teto, durante
tantos dias, que quase morreu de fome e inanição.
Um dia conseguiu sair, sem que
ninguém o visse, e, para se afastar mais depressa do palácio, onde tinha a
recear a cólera do rei e o ódio implacável da rainha, subiu ao dorso de uma
borboleta, que voou pelos ares em fora.
Não possuindo selim, estribos, nem
rédeas, não pode manter-se em equilíbrio por muito tempo e caiu no canto de um
muro.
Aí uma grande aranha estendeu sobre
ele as suas patas. Tom puxou da espada para se defender. Inútil bravura! O
venenoso animal destilou-lhe em seu corpo um líquido intoxicado, e ele morreu.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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