5/01/2025

Os meninos vadios (Conto), de Figueiredo Pimentel


OS MENINOS VADIOS

Três meninos dirigiam-se para a escola. No meio do caminho começaram a refletir e a conversar:

— Vamos à mata — disse um deles, — ali acharemos toda a sorte de lindos animaizinhos, que nada têm que fazer e brincarão conosco.

Foram. Passaram pela diligente formiga e pela abelha trabalhadora, sem parar.

Dirigiram-se, porém, ao pintassilgo:

— Brincar? Pois vocês pensam nisso? Tenho muito que fazer; estou reunindo raminhos secos e palha para fazer um ninho.

— Eu — disse o ratinho, — estou colhendo provisões, para quando chegar o inverno.

— Eu — falou uma pombinha branca, — tenho muitas coisas para levar aos meus filhinhos que me esperam.

— Eu — respondeu-lhe a lebre, — teria muito prazer em correr pelos campos com vocês, mas não fiz a toilette, ainda não arrumei minha casinha.

— E tu, gentil regato? — exclamaram os pequenos fujões, não queres brincar conosco?

— Brincar com vocês, meninos? Como? Lembrem-se nunca estou desocupado; não tenho, dia e noite, um só momento de descanso. É preciso que dê de beber a homens e animais; que regue colinas, campos, vales e jardins; que apague incêndios, faça mover forjas, moinhos e serrarias. Não acabaria de falar, se quisesse enumerar todas as minhas ocupações. Adeus. Estou com pressa.

Os meninos, desapontados, olharam para o alto viram um rouxinol pousado sobre uma árvore.

— E tu, que nada fazes, não quererás vir brincar?

— Nada faço?! Estão loucos! Durante o dia é preciso que apanhe pequenos animaizinhos para meu sustento, que me associe aos cantares dos outros pássaros, que recreie com o meu canto o rude operário no seu trabalho, que faça adormecer as criancinhas com outros cantos, e à noite que entoe louvores a Deus. Vão-se embora, meninos preguiçosos, vão cumprir seus deveres, e não venham perturbar os habitantes da mata, que têm muito em que se ocupar.

Os meninos aproveitaram a lição e reconheceram que o prazer é bom, mas quando é a recompensa do trabalho.

 

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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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