5/01/2025

Os dos avarentos (Conto), de Figueiredo Pimentel

OS DOS AVARENTOS

Há muitos anos, já em uma cidade do interior, vivia um avarento, que soube existir na capital outro judeu de uma admirável experiência, e com quem podia aprender muitas coisas preciosas.

Dirigiu-se para lá, empreendendo longa e penosa viagem.

Chegando à casa do colega, apresentou-se como discípulo humilde, desejoso de se instruir na grande ciência da Avareza.

— Seja bem-vindo — disse-lhe o judeu da cidade: — Desde hoje podemos adquirir nova e útil experiência, indo até à praça do mercado.

Antes, porém, passaram por uma padaria.

— O senhor tem pão muito bom e bem feito? — inquiriu ele.

— Excelente — respondeu o padeiro. — É tão mole e tão fresco como a melhor manteiga.

— Muito bem — falou ao seu companheiro o engenhoso avarento. — Eis aí, nessa comparação a manteiga indicada como coisa ainda melhor do que o pão.

Mais adiante parou em frente de uma casa de negócio e indagou:

— Tem boa manteiga?

— Excelente! Fresca e saborosa como azeite.

— Bem. Para fazer valer a manteiga, comparam-na ao azeite. Logo, o azeite é melhor, e devemos preferi-lo.

Um pouco mais longe, perguntou a outro negociante:

— Tem bom azeite?

— Magnífico, claro e perfeito como a água.

— Ah! — exclamou o avarento. — A água é por conseguinte o último ponto de comparação. Tenho grande quantidade em casa. Venha comigo — acrescentou ele, dirigindo-se ao seu colega, — vamos nos regalar bebendo-a, pois acabamos de saber que a manteiga é melhor que o pão, o azeite melhor que a manteiga, e a água melhor que o azeite.

— Deus seja louvado — exclamou o avarento do interior; — não perdi meu tempo, vindo à capital.


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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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