OS DOS AVARENTOS
Há muitos anos, já em uma cidade do
interior, vivia um avarento, que soube existir na capital outro judeu de uma admirável
experiência, e com quem podia aprender muitas coisas preciosas.
Dirigiu-se para lá, empreendendo
longa e penosa viagem.
Chegando à casa do colega,
apresentou-se como discípulo humilde, desejoso de se instruir na grande ciência
da Avareza.
— Seja bem-vindo — disse-lhe o
judeu da cidade: — Desde hoje podemos adquirir nova e útil experiência, indo
até à praça do mercado.
Antes, porém, passaram por uma
padaria.
— O senhor tem pão muito bom e bem
feito? — inquiriu ele.
— Excelente — respondeu o padeiro. —
É tão mole e tão fresco como a melhor manteiga.
— Muito bem — falou ao seu
companheiro o engenhoso avarento. — Eis aí, nessa comparação a manteiga
indicada como coisa ainda melhor do que o pão.
Mais adiante parou em frente de uma
casa de negócio e indagou:
— Tem boa manteiga?
— Excelente! Fresca e saborosa como
azeite.
— Bem. Para fazer valer a manteiga, comparam-na ao azeite. Logo, o azeite é melhor, e devemos preferi-lo.
Um pouco
mais longe, perguntou a outro negociante:
— Tem bom azeite?
— Magnífico, claro e perfeito como
a água.
— Ah! — exclamou o avarento. — A
água é por conseguinte o último ponto de comparação. Tenho grande quantidade em
casa. Venha comigo — acrescentou ele, dirigindo-se ao seu colega, — vamos nos
regalar bebendo-a, pois acabamos de saber que a manteiga é melhor que o pão, o
azeite melhor que a manteiga, e a água melhor que o azeite.
— Deus seja louvado — exclamou o
avarento do interior; — não perdi meu tempo, vindo à capital.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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