PACTO DUVUDOSO
como se apenas quisesse brincar com sua imaginação fértil;
ela, no entanto, chegou de mansinho e ali permaneceu
teimosa e obediente, assim como se apenas quisesse dormir tranquila
no seu eterno sono de jovem.
Quando deu por si, ela já havia se
imergido toda em seu corpo,
em sua voz, em seus olhos, em sua mente,
em toda sua alma concreta e abstrata.
Não se desesperou, pois compreendeu que fora vítima de sua própria ambição de juventude eterna, e então a acarinhou no seu íntimo, como se a quisesse subornar para que ao menos lhe fosse leve e que não aniquilasse suas últimas esperanças.
Fizeram então um pacto duvidoso: ele a aceitou
inteira e sem reservas;
ela o confortou com frieza e nada lhe prometeu.
E assim andaram um bom tempo em mútua reciprocidade, um tolerando o outro, quando, enfim, ela, cansada de si mesma, quedou-se inerte e fria, e então fechou-se o pano e abriu-se o espetáculo da eternidade.
Da união transitória de ambos ficou a memória, que logo também se diluiu no tempo sem deixar qualquer vestígio.
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São Paulo, julho de 2025.
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