7/07/2025

Pacto duvidoso (Poema), de Iba mendes

 


PACTO DUVUDOSO

 A velhice veio-lhe assim sorrateira,
como se apenas quisesse brincar com sua imaginação fértil;
ela, no entanto, chegou de mansinho e ali permaneceu teimosa e obediente, assim como se apenas quisesse dormir tranquila no seu eterno sono de jovem. 

Quando deu por si, ela já havia se imergido toda em seu corpo,
em sua voz, em seus olhos, em sua mente, em toda sua alma concreta e abstrata. 

Não se desesperou, pois compreendeu que fora vítima de sua própria ambição de juventude eterna, e então a acarinhou no seu íntimo, como se a quisesse subornar para que ao menos lhe fosse leve e que não aniquilasse suas últimas esperanças.

Fizeram então um pacto duvidoso: ele a aceitou inteira e sem reservas;
ela o confortou com frieza e nada lhe prometeu.

E assim andaram um bom tempo em  mútua reciprocidade, um tolerando o outro, quando, enfim, ela, cansada de si mesma, quedou-se inerte e fria, e então fechou-se o pano e abriu-se o espetáculo da eternidade.

Da união transitória de  ambos ficou a memória, que logo também se diluiu no tempo sem deixar qualquer vestígio.


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São Paulo, julho de 2025.

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