8/12/2016

Biografias manchadas



Biografias manchadas

Todo homem público que se preze deseja preservar incólume sua biografia para a posteridade. Não se espera que alguém, cuja obra seja um fator de orgulho para uma nação, queira entrar para história como um vilão ou um anti-herói. Infelizmente, porém, algumas dessas notáveis figuras não serão lembradas apenas pelo que fizeram do bom, mas também por aquilo que deixaram de fazer ou por aquilo que fizeram equivocadamente, ou ainda pelo que disseram ou escreveram. Dentre estas pessoas é possível citar:


 Roberto Carlos

Ao processar o escritor Paulo César de Araújo, que o biografou sem sua autorização, o “rei” maculou sua biografia e escancarou sua arrogância e autoritarismo. A retirada do livro “Roberto Carlos em Detalhes” das prateleiras é uma pecha que dificilmente será esquecida pela posteridade. Sobre a questão, declarou o biógrafo em uma entrevista à revista Istoé: “Roberto acredita que eu cometi um furto ao me apropriar da história dele, mas não parece compreender que ele é apenas tema de um livro, assim como ele usa Jesus como tema para algumas de suas canções. Para RC, Jesus é patrimônio coletivo, mas a história do próprio Roberto é particular. ”


Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Ao negar a paternidade à filha Sandra Regina Machado, o rei do futebol enodoou sua biografia e colocou em evidência uma mesquinhez digna apenas de uma peça de Molière. A paternidade só foi reconhecida depois de longos de anos correndo na justiça, e somente após o resultado positivo do DNA. Sandra faleceu em 2006 vítima de um câncer de mama. O pai não a visitou no leito de morte, não foi ao seu enterro, limitando-se ao envio de flores em nome das “Empresas Pelé”.


Chico Buarque

Não há dúvidas que a imagem do cantor e compositor foi manchada por seus comprometimentos ideológicos e por seus posicionamentos políticos. É fato notório que o autor de “Construção” nutre de grande admiração pelo ditador cubano Fidel Castro e pelo regime que por lá vigora. Numa entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, declarou: “Ainda hoje o ditador Fidel Castro, como gostam de dizer os jornais, inclusive a Folha... Ele é o único adversário dos Estados Unidos na América Latina que resistiu a golpes de Estado e assassinatos e está ali. Todos os outros foram depostos ou assassinados. Ele sobreviveu a vários atentados. Manteve e mantém até hoje uma posição altiva. E isso é algo que ninguém deve ignorar e que eu admiro.” Mais recentemente apoiou o governo petista, acusando do “golpe” um processo legítimo e constitucional que é o impeachment.


Luís Inácio Lula da Silva

Houve um tempo em que Lula era unanimidade absoluta no Brasil. Ao último mês do mandato, no ano de 2010, alcançou a estrondosa cifra de 87% de popularidade, segundo pesquisa do IBOPE. Ele já foi tema de filme e até foi cogitado para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz. Dizem as más línguas que até curava hemorroidas. Nem mesmo o Escândalo do Mensalão fora capaz de lhe tirar o prestígio, o qual obtivera por meio do seu carisma pessoal e pelas medidas populistas que engendrara ao longo de seu governo. As coisas, porém, começaram a mudar a partir das denúncias da Operação Lava Jato, que culminou na prisão de muitos de seus amigos e que o atingiu também. A depender do andamento das denúncias que correm na justiça, será complicado para ele eleger-se inclusive para síndico de prédio. Lula talvez seja o exemplo de biografia manchada mais emblemático desse país. E ele que tinha tudo para ser o maior e o mais prestigiado presidente da história da República! Fim triste e melancólico.


José Dirceu

O conhecido líder estudantil dos anos 60, que também foi deputado federal e ministro-chefe da Casa Civil do Brasil, é hoje um simples presidiário. De herói durante o regime ditatorial transformou-se num antipático vilão, condenado atualmente na Operação Lava Jato a 23 anos e três meses de prisão em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva, participação à organização criminosa e lavagem de dinheiro.


Luís Fernando Veríssimo

O envolvimento ideológico do escritor com os ideais da Esquerda brasileira, especificamente aqueles defendidos pelo Partido dos Trabalhadores, o PT, talvez explique sua desastrosa declaração, a qual foi publicada na edição online do Jornal Folha de São Paulo. Opinando sobre o atual presidiário José Dirceu, declarou ele: "pelo que o José Dirceu significa, mesmo que sua prisão não fosse política, seria política".

Poderia citar ainda muitos outros nomes, tais como os de Jô Soares, José de Abreu, Caetano Veloso, Regina Duarte, Wagner Moura, Lobão etc., todos eles engajados em causas políticas, quer da Esquerda, quer da Direita. Especificamente em relação aos artistas, a experiência tem mostrado que uma das coisas que mais enodoam suas biografias diz respeito exatamente ao engajamento político. A explicação que desponta parece óbvia: o artista não faz (ou não deveria fazer) arte para a Direita ou para a Esquerda, mas para o povo. Vá lá, que tenham suas preferências políticas, mas que as exerçam na “clandestinidade”.



 É isso!


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Por: Iba Mendes (Agosto de 2016)

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