8/14/2016

Filosofia de dinheiro



Filosofia de dinheiro
– Ouro!... ouro!... És o rei do mundo, rei absoluto, autocrata de todas as grandezas da terra! Tu, sim, tu reinas e governas, sem lei, sem opinião, sem parlamento, sem ministros responsáveis!... Não tem nenhum desses trambolhos que arrastam os soberanos constitucionais.
“Lei?... Que lei é a tua, senão o capricho com que escarneces dos homens? Tu dizes ao pobre, cobiça; ao opulento, gasta; ao pródigo, esbanja; ao avarento, aferrolha; ao mendigo, esmola; ao ladrão, rouba; e a todos, grandes e pequenos, adorai-me...
Opinião?... Quem faz esse rumor que nos atordoa os ouvidos e a que chamam pomposamente opinião pública? Tu, que sustentas os jornais, pagas os jantares, ofereces lindos presentes, estreitas as amizades, e nutres a admiração e o entusiasmo!” (José de Alencar, em “Sonhos D’Ouro”).
O texto acima (um monólogo da personagem Ricardo do referido romance de Alencar) é a melhor descrição da importância que o dinheiro exerce nas relações entre as pessoas. Sim, pois, de todas as divindades criadas pelo homem, o vil metal é sem dúvida a que ostenta o lugar de maior destaque entre todos os povos e em todas as épocas.
No antigo Egito, a reunião das principais divindades (Osíris, Ísis, Rá, Ptah, Néftis, Horus, Anúbis, Tot, Hator, Konsou etc.) não suplantaram, para os Faraós, o ouro! Os deuses sumérios, tais como Shamash (deus Sol), Enlil (deus da chuva), Ishtar (deusa da natureza) não alcançaram, entre aquele povo, a grandeza do ouro! Na Babilônia, as divindades Anu, Nergal, Marduque etc., também não lograram tanto êxito quanto o ouro! Masda ou Ormuzd, deus persa, considerado o criador do mundo, não teve igualmente entre os seus reis tanto valor quanto o ouro! Na Fenícia, Baal, Melcart, Eshmum, Astartéia, Adônis, entre outros. não foram tão idolatrados quanto o ouro! A deusa-mãe, que simbolizava a fecundidade do solo, embora fosse a principal entre os egeus, não foi mais querida entre eles do que o ouro! Na Grécia, onde a influência dos deuses se dava até nas mínimas labutas da vida, o ouro exerceu mais poder do que todos eles. As diversas divindades romanas (Juno, Minerva, Diana, Mercúrio, Baco, Netuno, Vênus) e mesmo Júpiter (o chefe entre todos) não foram tão decisivos para o império quanto o ouro! Até mesmo os hebreus, o único povo antigo decididamente monoteísta, em algum momento foi contaminado pelo o ouro: “E Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos. Então todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que estavam nas suas orelhas, e os trouxeram a Arão.  E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito” (Êx. 32:2-4).  Contudo, sua importância e influência nunca foram tão glorificadas como em nossos dias. E, de tal forma que já se tornou, para muitas religiões, num verdadeiro dogma doutrinário. Para muitas dessas teologias, a falta de dinheiro significa falta de fé, e quem é fracassado financeiramente torna-se amputado das benesses celestiais.
Sim. O ouro (dinheiro) foi e continua sendo a mais idolatrada das divindades terrenas. Como afirmou Jean Paul Getty: “Quando não se tem dinheiro, pensa-se sempre nele; quando se tem se pensa somente nele”. E bem o sintetizou Voltaire: "Quando se trata de dinheiro, todos têm a mesma religião”.
Por causa do ouro impérios caíram, igrejas foram secularizadas, caracteres foram maculados, injustiças foram praticadas, sonhos foram desfeitos, honras foram compradas, casamentos foram arranjados, famílias foram destruídas, saúdes foram minadas, amizades foram destruídas, estômagos foram secados etc. Já dizia o Livro Sagrado: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males...” (1 Tm. 6:10).
Mas se o dinheiro é a raiz de muitos males, o que se dirá então da falta dele?
Paradoxalmente a falta dele é de igual forma a raiz de muitos males. Ora, que dignidade pode ter um cidadão sem o dinheiro? Eis aqui um terrível contraste! Seja sua abundância, seja sua escassez, tudo culmina em males.  O ouro tornou-se assim tão essencial entre as pessoas quanto o amor e o ódio. Ele impõe-se com atributos de divindades, e já não é possível distinguir se os joelhos se dobram para os céus ou se para os "bezerros de ouro".


É isso!


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Por: Iba Mendes (2005)

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