Embora fosse tradicionalmente católico,
Machado de Assis era dotado de grande tolerância por qualquer manifestação de
fé. Em uma de suas deliciosas crônicas, de 22 de novembro de 1864, publicada
num jornal carioca, ele faz menção de um caso ocorrido naquele mesmo ano, no
qual um vendedor de Bíblia, um evangélico metodista, tinha sido quase que
linchado por uma turba católica (na época o catolicismo era religião oficial do
Brasil). Machado critica veementemente o jornal católico “O Cruzeiro”, que
condenou o governo por este ter protegido o vendedor contra a ira popular dos
religiosos: “Nada do que diz o Cruzeiro é
novo; mas nem por isso deixa de ser lamentável que se imprimam coisas tais em
um país onde a liberdade religiosa, se não é completa, está já adiantada”.
No dia 29 de novembro do mesmo ano, ele fez uma dura crítica à constituição
vigente na época: “O defeito da
constituição está em não ter completado a liberdade, tirando os entraves que
lhe impõe, e em declarar a religião católica como religião do Estado”. E
continua: “No dia em que se tiver saído
da tolerância para a liberdade completa, teremos dado o último passo neste
assunto. Que os leitores me permitam a figura, - a tolerância assemelha-se a
uma gaiola de papagaio, aberta por todos os lados, sem aparências mesmo de
gaiola, mas onde a ave fica presa por uma corrente que lhe vem do pé ao
poleiro. Quebre-se a corrente, uma vez por todas, e dê-se a liberdade ao pobre
animal. Um sistema político como o nosso que, a pretexto de proteger os
rouxinóis, protege cem papagaios por cada rouxinol, parece incrível que nutra
tanta aversão a este judicioso conselho”.
Não é à toa que Machado de Assis é o nosso
maior e melhor escritor. Além da perfeição estilística de que se servia, era também
um profundo conhecedor da alma humana. Seus contos é a expressão mais pura do
que foi a realidade brasileira e do que ela se tornou ao longos dos anos. A quem
ainda não se aventurou no universo literário machadiano, vai aqui como dica os
seguintes contos de sua autoria: O Alienista, O
Enfermeiro, Pai contra mãe, Teoria do Medalhão, Verba Testamentária, O Espelho,
A Cartomante, Uns braços, O caso da vara, Missa do galo, Noite de Almirante.
Só para começar...
É isso!
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Por: Iba Mendes (2005)
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Por: Iba Mendes (2005)
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