9/05/2016

Filosofia de Mercantilização Humana


 Filosofia de Mercantilização Humana

...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.
Machado de Assis,
em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”

"Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro." 
Nelson Rodrigues



A mercantilização das relações humanas não é um fenômeno específico da era moderna. Não aludo, porém, ao sistema social e econômico fundado na escravização de pessoas, como aquele que vigorou no Brasil até o ano de 1888. Refiro-me ao tipo de negócio que se dá deliberadamente entre todas as classes e em todas as épocas sob o amparo das etiquetas sociais do tempo...

É o ancião decrépito e endinheirado que se torna jovem e bonito aos olhares de mulheres belas e saudáveis; é o rapaz forte e sarado que se deixa apaixonar pelos encantos da idosa rica e cheia de reumatismos; é a recepcionista mal assalariada e endividada que não resiste às propostas indiscretas do chefe bondoso e casado; é o motorista másculo e grosseirão que de um momento para o outro se enche de amor pela vetusta sexagenária com três casas na praia e uma conta no  Itaú Personnalité; é a menina pobre da periferia que escuta a buzina de um carrão como se fosse o som harmonioso da Quinta Sinfonia  de Beethoven; é o heterossexual machão e barbudo que submete sua viril masculinidade a uma conta compartilhada e cheia de euros e dólares; é a abastada e depressiva viúva que nas noites de insônia troca o seu Rivotril por uma companhia vulgar e remunerada; é a moça regatada e de família que ao encarar o mercado de trabalho prefere os prazeres do Bataclan aos tormentos do McDonald's; é o santo e austero reverendo que em sua solidão celibatária resolve contratar os gozosos serviços de alguma dama louca e de boca vermelha; é o rapaz moreno e de corpo trigueiro que se aluga pelo preço de sua própria dignidade e consciência; é a mulher bem casada e mãe de filhos que se cansou das praças de alimentação dos shopping centers e aceitou um indiscreto convite para apreciar as deliciosas iguarias de um bom Fasano. É enfim, o homem e a mulher por trás de suas máscaras, sem quaisquer pudores, em seus principais papéis de humanos, demasiadamente humanos...


É isso!


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Por: Iba Mendes (Agosto, 2016)

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