9/28/2016

Um pobre rico (Conto), de Leon Tolstoi



Um pobre rico, de Leon Tolstoi 

Tradução publicada originalmente na revista "Eu Sei Tudo", em sua edição de 9 de fevereiro de 1942. A pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica é de Iba Mendes (2016)


Houve um homem que, tendo se deitado, não pôde dormir durante toda a noite.

Pensava:

“Por que é a vida tão penosa para os pobres? E... Por que os ricos acumulam tanto dinheiro? Têm cai­xas cheias de ouro e, no entanto, vivem privados de tudo, para continuar amontoando. Se eu fosse rico, não viveria da mesma for­ma; daria a mim pró­prio boa vida e pro­curaria não ser pior que os demais.”

Repentinamente ouviu uma voz que lhe dizia:

— Queres ser rico? Aqui está uma bolsa. Nela há apenas uma moeda; porém logo que a tires, outra a substituirá. Tira quantas queiras e, depois, atira a bolsa ao rio. Porém, antes de deitar fora a bolsa, não gastes nenhuma das moedas, porque o resto se transformará em pedra.

O pobre homem quase enlouqueceu de alegria. Quando se sentiu mais tranquilo, cuidou de fazer uso do presente maravilhoso.

E apenes tinha retirado a moeda, no fundo da bolsa viu brilhar outra!

— A felicidade é minha! — murmurou com um estremecimen­to. — Toda a noite passarei tirando moedas da bolsa e ama­nhã serei rico. Então jogarei a bolsa à água e desde então viverei confortavelmente.

Porém, chegada a manhã, mudou de ideia.

— Se eu quiser ter o dobro — pensou — é bastante conservar a bolsa mais um dia.

E também passou o resto do dia extraindo moedas. No seguinte mais, mais e mais, no outro, mais e mais... Não podia se decidir a abandonar a bolsa.

Nessa altura sentiu fome e recor­dou que só dispunha de um duro pedaço de pão preto.

Ir comprar outra coisa era impossível, pois embora muito quisesse comer não ousa­va se separar da bolsa; assim, comeu o in­feliz aquele pão preto e duro; e depois continuou tiran­do moedas da bolsa inesgotável.

Nem mesmo à noite descansava.

Passou, assim, um mês, um ano.

Quem se teria contentado com certa quantidade? Todo o mundo quer possuir mais e mais, o máximo que for possível!

E o infeliz vive uma vida de mendigo, esquecido de que desejara viver para seu prazer e o de seus semelhantes.

De vez em quando toma uma resolução; aproxima-se do rio para lançar a bolsa à água; porém se arre­pende e volta. Hoje está velho, fraco e amarelo como seu ouro mas não pode interromper sua tarefa...

E assim morre, pobre, sentado sobre um banco e com a bolsa entre as mãos.

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