Tradução publicada originalmente na revista "Eu Sei Tudo", em sua edição de 9 de fevereiro de 1942. A pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica é de Iba Mendes (2016)
Houve um homem que, tendo se deitado, não pôde dormir durante toda a noite.
Pensava:
“Por que é a
vida tão
penosa para os pobres? E... Por que os ricos acumulam tanto dinheiro? Têm
caixas cheias de ouro e, no entanto, vivem privados de tudo, para continuar amontoando. Se eu fosse
rico, não viveria da mesma forma; daria a mim próprio
boa vida e procuraria não ser
pior que os demais.”
Repentinamente ouviu
uma voz que lhe dizia:
— Queres ser rico? Aqui está
uma bolsa. Nela há apenas uma moeda; porém logo que a tires, outra a substituirá.
Tira quantas queiras e, depois, atira a bolsa ao rio. Porém, antes de deitar
fora a
bolsa, não
gastes nenhuma das moedas, porque o resto se transformará
em pedra.
O pobre homem quase
enlouqueceu de alegria. Quando se sentiu mais tranquilo, cuidou de fazer uso do
presente maravilhoso.
E apenes tinha retirado a moeda, no fundo da bolsa viu brilhar outra!
— A felicidade é minha! — murmurou com um estremecimento. —
Toda a noite passarei tirando moedas da bolsa e amanhã
serei rico. Então
jogarei a bolsa à água e desde então viverei confortavelmente.
Porém, chegada a manhã, mudou de ideia.
— Se eu quiser ter o dobro —
pensou — é
bastante conservar a bolsa mais um dia.
E também
passou o resto do dia extraindo moedas. No seguinte mais, mais e mais, no
outro, mais e mais... Não
podia se decidir a abandonar a bolsa.
Nessa altura sentiu fome e recordou que só
dispunha de um duro pedaço
de pão
preto.
Ir comprar outra coisa era impossível, pois embora muito quisesse comer não
ousava se separar da bolsa; assim, comeu o infeliz aquele pão
preto e duro; e depois continuou tirando moedas da bolsa inesgotável.
Nem mesmo à noite descansava.
Passou, assim, um mês, um ano.
Quem se teria contentado com certa quantidade? Todo o mundo quer possuir
mais e mais, o máximo
que for possível!
E o infeliz vive uma vida de mendigo, esquecido de que desejara viver
para seu prazer e o de seus semelhantes.
De vez em quando toma uma resolução; aproxima-se do rio para lançar
a bolsa à água; porém se arrepende e volta. Hoje está velho, fraco e amarelo
como seu ouro mas não
pode interromper sua tarefa...
E assim morre, pobre, sentado sobre um banco e com a bolsa entre as mãos.
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