Tradução de Frederico dos Reys Coutinho, publicada originalmente no ano de
Ah! little think the
gay licentious proud,
Whom pleasure, power,
and affluence surround...
Ah! little think they,
while they dance along...
How many pine?... how
many drink the cup...
Of baleful grief!...
how many shake
With all the fiercer
tortures of the mind!
A parte
meridional da cidade de Aosta é quase deserta e parece nunca ter sido muito habitada.
Veem-se ali campos lavrados o campinas que de um lado terminam em antigos
baluartes que os romanos ergueram para defendê-la e de outro pelas muralhas de
alguns jardins. Esse sítio solitário pode, contudo, interessar os viajantes.
Junto à porta da cidade veem-se as ruínas de antigo castelo, no qual, segundo a
tradição popular, o conde Renato de Chalans, levado pela fúria do ciúme, deixou
perecer de fome, no século XV, a princesa Maria de Bragança, sua esposa; donde
o nome de Bramafan (que significa grito da fome), que os moradores da
região dão a esse castelo. Essa lenda, cuja autenticidade se poderia contestar,
torna tais ruínas interessantes para as pessoas sensíveis que a julgam
verdadeira.
Mais
adiante, a algumas centenas de passos, fica uma torre quadrada, encostada ao
paredão antigo e construída com o mármore que outrora o revestia; chamam-lhe Torre do Pavor, porque durante muito
tempo o povo acreditou que fosse habitada por fantasmas. As velhas mulheres da
cidade de Aosta lembram-se muito bem de ter visto sair da torre, em noites
escuras, uma grande mulher alva, levando na mão uma candeia.
Há cerca de
quinze anos, essa torre foi consertada por ordem do governo e cercada por um
muro, a fim de servir de residência a um leproso e segregá-lo assim da
sociedade, proporcionando-lhe todo o conforto possível em sua triste situação.
O hospital de São Maurício foi incumbido de prover sua subsistência e
fornecer-lhe alguns móveis, bem como os utensílios necessários ao cultivo de um
jardim. Era aí que ele vivia fazia muito tempo, entregue a si mesmo, sem ver
ninguém, com exceção do sacerdote que, de vez em quando, ia levar-lhe os
socorros da religião e o homem que todas as semanas lhe levava do hospital os
mantimentos.
— Durante a
guerra dos Alpes, no ano de 1797, um militar, encontrando-se na cidade de
Aosta, passou um dia, por acaso, junto ao jardim do leproso, cuja porta estava
entreaberta, e teve a curiosidade de aí penetrar. Deparou com um homem
simplesmente trajado, apoiado a uma árvore e imerso em profunda meditação. Ao
ruído que o oficial fez ao entrar, o solitário, sem se voltar e sem olhar,
exclamou com voz triste:
— Quem está
aí, e que querem comigo?
— Desculpe
um estrangeiro, — respondeu o militar, — a quem o agradável aspecto de seu
jardim talvez tenha feito cometer uma indiscrição, mas que não deseja
absolutamente incomodá-lo.
— Não se
aproxime — respondeu o habitante da torre acenando-lhe com a mão — Não se
aproxime; o senhor está junto a um desgraçado vítima da lepra.
— Seja qual
for sua desdita, — replicou o viajante — não me afastarei; jamais evitei os
infelizes; contudo, se minha presença o importuna, estou pronto a me retirar.
— Seja bem
vindo, — disse então o leproso voltando-se de repente, — e fique, caso se
atreva, após me haver visto.
O militar
ficou algum tempo imóvel de pasmo e de horror ao aspecto do desditoso, que a
lepra desfigurara totalmente.
— De boa
vontade ficarei, — disse-lhe — se aceitar a visita de um homem que o acaso
conduziu aqui, mas a quem prende um forte interesse.
O LEPROSO
Interesse!... Nunca provoquei
outra coisa que a piedade,
O MILITAR
Julgar-me-ia feliz se lhe pudesse proporcionar
algum conforto.
O LEPROSO
Grande conforto para mim é ver os
homens, ouvir o som da voa humana, que parece evitar-me.
O MILITAR
Permita-me, então, conversar
alguns momentos e percorrer sua residência.
O LEPROSO
Gostosamente, se isso lhe agradar.
(Ao pronunciar essas palavras, o leproso cobriu-se com largo chapéu de feltro
cujas abas caídas lhe escondiam o rosto.) Venha — acrescentou — aqui, do lado
sul. Cultivo um pequeno tabuleiro de flores que lhe poderão agradar; algumas
são bastante raras. Arranjei sementes de todas aquelas que crescem
espontaneamente nos Alpes e procurei duplicá-las e embelezá-las pelo cultivo.
O MILITAR
De fato, aqui estão flores cujo
aspecto é inteiramente novo para mim.
O LEPROSO
Repare nessa pequena touceira de
rosas; é a roseira sem espinhos que medra apenas nos altos Alpes; mas já está
perdendo sua peculiaridade, e os espinhos vão despontando à medida que ela é
cultivada e que se reproduz.
O MILITAR
Devia ser o emblema da
ingratidão.
O LEPROSO
Se achar bonitas algumas dessas
flores, pode apanhá-las sem receio, porque não correrá risco algum levando-as.
Semeei-as, tenho prazer de regá-las e vê-las, mas jamais as toco.
O MILITAR
Por quê?
O LEPROSO
Temeria maculá-las e não ousaria
mais a oferecê-las.
O MILITAR
Para quem as reserva?
O LEPROSO
Às pessoas que me trazem
mantimentos do hospital não receiam colhê-las às braçadas. Também, às vezes, as
crianças da cidade apresentam-se à porta de meu jardim. Subo logo para a torre,
com medo de assustá-las ou de lhes ser nocivo. Da janela vejo-as traquinar e furtar-me
algumas flores. Quando se retiram, erguem os olhos para mim: "Bom dia,
leproso", dizem-me rindo, e isso me alegra um pouco.
O MILITAR
O senhor soube reunir aqui muitas
plantas variadas: aqui há videiras e árvores frutíferas de inúmeras espécies.
O LEPROSO
As árvores ainda são jovens:
plantei-as eu próprio, bem como esta videira, que fiz subir até acima do
paredão antigo que aqui está, e cuja largura representa para mim uma pequena
plataforma; é meu lugar predileto... Suba ao longo dessas pedras; são uma
escada cujo arquiteto fui eu. Segure-se ao paredão.
O MILITAR
Que retiro encantador! E como é
adequado às meditações de um solitário.
O LEPROSO
Por isso mesmo gosto muito dele;
daí avisto a campanha é os agricultores nos campos; vejo tudo o que se passa
nos prados, e ninguém me vê.
O MILITAR
Admiro a extrema tranquilidade e
solidão deste retiro. Estamos numa cidade, e é como se estivéssemos num
deserto.
O LEPROSO
Nem sempre a solidão reside em
meio às florestas e aos rochedos. O infortúnio está sozinho, seja onde for.
O MILITAR
Qual a sequência de acontecimentos
que o trouxe para este sítio? É filho desta região?
O LEPROSO
Nasci à beira-mar, no principado
de Oneille, e moro aqui faz apenas quinze anos. Quanto a minha história, não
passa de uma longa e uniforme calamidade.
O MILITAR
Sempre viveu sozinho!
O LEPROSO
Perdi meus pais quando criança e
nunca os conheci; uma irmã que me restava morreu há dois anos. Nunca possuí
amigos.
O MILITAR
Desditoso!
O LEPROSO
Tais são os desígnios de Deus.
O MILITAR
Qual o seu nome, rogo-lhe?
O LEPROSO
Ah! Meu nome é terrível!
Chamam-me o Leproso! O mundo ignora
aquele que provém, de minha família e aquele que a religião me deu no dia de
meu nascimento. Sou o Leproso, eis o
único título que possuo à benevolência dos homens. Possam eles ignorar
eternamente quem eu sou í
O MILITAR
Essa irmã que perdeu vivia com o
senhor?
O LEPROSO
Esteve cinco anos comigo nesta
mesma habitação onde me vê. Tão infeliz quanto eu, partilhava meus sofrimentos
e eu procurava minorar os dela.
O MILITAR
Quais podem ser agora suas
ocupações, em solidão tão profunda?
O LEPROSO
O relato das ocupações de um
solitário igual a mim não poria deixar de ser muito monótono para um homem de
sociedade que encontra sua ventura na atividade da vida social.
O MILITAR
Ai! O senhor pouco conhece essa
sociedade que nunca me proporcionou ventura. Fico muitas vezes solitário
espontaneamente, e talvez haja mais analogia entre nossas ideias do que o
senhor pensa; confesso, entretanto, que uma eterna solidão me apavora; custa-me
imaginá-la.
O LEPROSO
Aquele que ama sua cela aí encontrará a paz. Ensina-nos a imitação de
Jesus Cristo. Começo a sentir a verdade dessas palavras confortadoras. O
sentimento da solidão também se suaviza com o trabalho. O homem que trabalha
nunca é inteiramente infeliz, e a prova disso sou eu. Durante o verão vivo
bastante ocupado com o cultivo de meu jardim e de meu tabuleiro; durante o
inverno faço cestas e esteiras; trabalho em minhas próprias roupas: todos os
dias preparo eu próprio meu alimento com as provisões que me trazem do
hospital, e a oração enche as horas que o trabalho me deixa. Afinal o ano passa
e, depois que passa, parece-me até ter sido muito curto.
O MILITAR
Deveria parecer-me um século.
O LEPROSO
Os males e os pesares fazem as
horas parecerem longas, mas os anos escoam-se sempre com a mesma rapidez. Aliás
ainda existe, na extremidade derradeira do infortúnio, uma alegria que o comum
dos homens não pode conhecer e que lhe parecerá muito singular: a alegria de
existir e de respirar. Quando faz bom tempo, passo dias inteiros imóvel sobre
este paredão, a desfrutar do ar e do esplendor da natureza; todas as minhas
ideias se tornam então vagas, indecisas. A tristeza descansa em meu coração sem
afligi-lo; meus olhos vagueiam pela campina e pelos rochedos que me cercam;
esses diferentes aspectos estão de tal forma gravados em minha memória que
fazem, para falarmos assim, parte de mim mesmo, e cada um desses sítios é um ai
que revejo prazerosamente todos os dias.
O MILITAR
Muitas vezes senti qualquer coisa
semelhante a isso. Quando a tristeza me acabrunha e eu não encontro no coração
dos homens aquilo que o meu deseja, o espetáculo da natureza e das coisas
inanimadas me conforta; afeiçoo-me aos rochedos e às árvores e parece-me que
todos os seres da criação são amigos que Deus me deu.
O LEPROSO
O senhor me anima a explicar-lhe
por minha vez o que se passa em mim. Amo verdadeiramente os objetos que são,
para falarmos assim, meus companheiros de existência e que todos os dias
revejo; por isso, todas as tardes antes de recolher-me à torre, venho saudar as
geleiras de Ruitorts, os bosques escuros do monte de São Bernardo e os píncaros
estranhos que dominam o vale de Rheme. Embora o poder de Deus seja tão visível
na criação de uma formiga quanto na do universo inteiro, o grande espetáculo
das montanhas impressiona todavia, superiormente, meus sentidos: não posso ver
essas massas imensas recobertas de gelos eternos, sem sentir um assombro
religioso; mas, no vasto quadro que me rodeia, tenho recantos favoritos a que
dedico mais amor; entre eles está o eremitério que o senhor vê lá em cima, no
alto da montanha de Charvensod. Solitário entre os bosques, junto a um campo
deserto, ele recolhe os últimos raios do sol poente. Embora nunca haja estado
lá, sinto um prazer singular ao vê-lo. Quando o sol descamba, sentado em meu
jardim, fixo os olhos naquele eremitério solitário e minha imaginação nele
descansa. Tornou-se para mim uma espécie de propriedade. Parece-me que uma
reminiscência confusa diz-me que aí vivi outrora, era tempos mais felizes, cuja
lembrança se apagou em mim. Gosto, principalmente, de contemplar as montanhas
longínquas que se confundem no horizonte com o céu. A exemplo do futuro, a
distância suscita em mim o sentimento da esperança, meu coração opresso crê
existir talvez uma terra muito remota em que, numa época futura, talvez eu
possa desfrutar enfim a felicidade pela qual suspiro, e que um instinto secreto
incessantemente me apresenta como possível.
O MILITAR
Com uma alma ardente igual à sua,
sem dúvida o senhor precisou de esforçar-se muito para conformar-se com o seu
destino e para não se entregar ao desespero.
O LEPROSO
Eu o enganaria se o fizesse
julgar que sempre me resignei com a minha sorte; não alcancei absolutamente a
abnegação de si próprio que alguns anacoretas atingiram. Tal sacrifício
completo de todos os afetos humanos ainda não se consumou; minha vida decorre
em combates contínuos, e o auxílio poderoso da própria religião nem sempre é
capaz de reprimir os impulsos de minha fantasia. Ela muitas vezes me arrebata
involuntariamente num oceano de desejos quiméricos, que me levam todos eles
para esse mundo de que não faço a menor ideia e cuja imagem caprichosa está sempre
presente para me atormentar.
O MILITAR
Se eu o pudesse fazer ler em
minha alma, e dar-lhe a ideia que faço do mundo, todos os seus desejos e suas
penas imediatamente desapareceriam.
O LEPROSO
Em vão alguns livros me
instruíram sobre a perversidade dos homens e as desgraças inseparáveis da
humanidade; meu coração recusasse a acreditar neles. Imagino sempre a companhia
de amigos sinceros e virtuosos; esposos que combinam, e que a saúde, a mocidade
e a fortuna reunidas, cumulam de venturas. Parece-me vê-los vagando juntos
entre arvoredos mais viridentes e mais frescos do que estes a cuja sombra me
acolho, iluminados por um sol mais radioso do que este que me ilumina, e sua
sorte parece-me tanto mais digna de inveja, quanto mais miserável a minha se
vai tornando. No começo da primavera, quando o vento do Piemonte sopra em nosso
vale, sinto-me penetrado por seu calor vivificante e estremeço
involuntariamente. Assalta-me um desejo inexplicável e o sentimento confuso de
uma felicidade imensa que eu poderia desfrutar e que me é recusada. Fujo então
de minha cela, vagueio pela campina para respirar mais livremente. Procuro não
ser visto por esses mesmos homens que meu coração anseia encontrar; do alto da
colina, oculto entre as urzes como um animal feroz, meus olhares convergem para
a cidade de Aosta. Vejo de longe, com olhos de inveja, seus felizes habitantes
que mal me conhecem; estendo-lhes as mãos gemendo e peço-lhes meu quinhão de
felicidade. Confessarei ao senhor que em meu arrebatamento às vezes estreito em
meus braços as árvores da floresta, pedindo a Deus que as anime para mim e me
dê um amigo? Mas as árvores são mudas; sua fria casca repele-me; nada possuem
de comum com meu coração que palpita e se abrasa. Prostrado pela fadiga,
cansado de viver, arrasto-me de volta a meu refúgio, exponho a Deus meus
tormentos e a oração faz retornar um pouco de calma a minha alma.
O MILITAR
Então, pobre infeliz, sofre
simultaneamente todos os males da alma e do corpo?
O LEPROSO
Os últimos não são os mais cruéis!
O MILITAR
Então eles lhe concedem, às
vezes, tréguas?
O LEPROSO
Todos os meses eles aumentam e
diminuem com as fases da lua. Meus sofrimentos costumam aumentar quando ela
começa a surgir; a enfermidade diminui depois e parece mudar de natureza: minha
pele resseca e alveja e quase deixo de sentir meu mal; mas ele seria sempre
suportável sem as insônias horrorosas que ocasiona.
O MILITAR
Como! o próprio sono o abandona!
O LEPROSO
Ah! senhor, às insônias! as
insônias! não pode imaginar como é longa e triste a noite que um desgraçado
passa inteiramente sem cerrar os olhos, com o espírito fixado numa situação
horrorosa e num futuro sem esperança. Não! ninguém o pode compreender. Minha
aflição aumenta com a noite, e quando ela está próxima de terminar, tamanha é
minha agitação, que não sei mais o que acontecerá comigo: meus pensamentos
embaralham-se, assalta-me um sentimento extraordinário que só encontro em mim
nesses tristes momentos. Ora me parece que uma força irresistível me arrasta
para um abismo sem fundo, ora vejo manchas negras diante de meus olhos; mas
enquanto as examino, elas cruzam-se com a rapidez do relâmpago, aumentam
aproximando-se de mim, como ondas que se intumescem e se amontoam, ameaçando
devorar-me; e quando quero erguer-me para afastar essas ideias, é como se laços
invisíveis prendessem-me, roubando-me as forças. O senhor achará, talvez, que
são sonhos, mas não, estou bem acordado. Revejo sem cessar os mesmos objetos e
isso produz uma sensação de horror que ultrapassa todos os meus outros sofrimentos.
O MILITAR
É possível que a febre o acometa
durante essas cruéis insônias e sem dúvida é ela que lhe causa essa espécie de
delírio.
O LEPROSO
Acha que a febre possa ser a
causadora disso? Ah! muito gostaria que assim fosse. Até agora eu receava que essas
visões fossem um sintoma de loucura e confesso que muito me inquietava com
isso. Queira Deus que sejam efeito da febre!
O MILITAR
O senhor me interessa muito.
Confesso que nunca poderia imaginar uma situação igual à sua. Penso,
entretanto, que ela devia ser menos triste quando sua irmã era viva.
O LEPROSO
Só Deus sabe o que perdi com a
morte de minha irmã. — Mas não receia estar tão perto de mim? Sente-se aqui,
nesta pedra; colocar-me-ei atrás da folhagem e conversaremos sem nos vermos.
O MILITAR
Mas por quê? Não, não se
afastará; sente-se a meu lado. (Ao proferir essas palavras o viajante fez um
movimento involuntário para segurar a mão do leproso, que a retirou com
vivacidade).
O LEPROSO
Imprudente! Ia segurar minha mão!
O MILITAR
Pois eu a teria apertado de boa
vontade!
O LEPROSO
Seria a primeira vez que tal
felicidade me seria concedida: minha mão nunca foi apertada por ninguém.
O MILITAR
Como? A não ser essa irmã a que
se referiu, o senhor nunca teve relações, nunca foi estimado por nenhum de seus
semelhantes?
O LEPROSO
Felizmente para a humanidade, não
tenho mais semelhantes sobre a terra.
O MILITAR
Faz-me estremecer.
O LEPROSO
Perdoe, misericordioso estrangeiro!
Sabe que os infelizes gostam de falar de seus infortúnios.
O MILITAR
Fale, fale, homem interessante!
Disse-me que uma irmã vivia outrora com o senhor e que o ajudava a suportar
seus sofrimentos.
O LEPROSO
Era o único laço que ainda me
prendia ao restante dos humanos! Aprouve a Deus parti-lo e deixar-me solitário
e sozinho no mundo. Sua alma era digna do céu que a possui e seu exemplo
amparava-me contra o desânimo que depois de sua morte muitas vezes me
prostrara. Não vivíamos entretanto nessa intimidade deliciosa, que imagina e
que deveria unir amigos desditosos. A natureza de nossa enfermidade privava-nos
desse conforto. Mesmo quando nos aproximávamos para rogar a Deus, evitávamos
reciprocamente fitar-nos, temerosos de que o espetáculo de nossos males
perturbasse nossas meditações, e nossos olhares somente se atreviam a reunir-se
no céu. Feitas, nossas orações, minha irmã retirava-se habitualmente para sua
cela ou para debaixo das aveleiras que terminam o jardim, e vivíamos quase
sempre separados.
O MILITAR
Mas por que impor-te tão penoso
constrangimento?
O LEPROSO
Até minha irmã ser acometida pela
moléstia contagiosa que vitimou toda a minha família, e vir partilhar minha
solidão, nunca nos havíamos visto: seu pavor foi extremo ao ver-me pela
primeira vez. O receio de afligi-la, o receio ainda maior de aumentar seu mal
aproximando-me dela, forçara-me a adotar este triste gênero de vida. A lepra
atacara apenas seu peito e eu ainda conservava alguma esperança de vê-la
curada. O senhor está vendo esses restos de caniçada que abandonei. Isso
constituía então uma cerca de lúpulo de que eu cuidava zelosamente e que
dividia o jardim em duas partes. Eu fizera em ambos os lados uma pequena
passagem pela qual podíamos passear e conversar juntos sem nos vermos nem nos
aproximarmos de mais.
O MILITAR
Dir-se-ia que o céu se deleitava
em envenenar as tristes alegrias que lhe concedia.
O LEPROSO
Mas pelo menos eu não estava
sozinho; então a presença de minha irmã dava vida a este refúgio. Eu ouvia o
ruído de seus passos em minha solidão. Quando eu vinha, ao alvorecer, orar a
Deus debaixo destas árvores, abria-se mansamente a porta da torre, e a voz de
minha irmã mesclava-se insensivelmente à minha. À tarde, quando eu regava o
jardim, ela às vezes passeava ao sol poente, aqui, no lugar mesmo onde lhe
falo, e eu via sua sombra passar e repassar sobre minhas flores. Mesmo quando
não a via, por toda parte encontrava vestígios de sua presença. Agora não me
acontece mais encontrar em meu caminho uma flor despetalada ou alguns ramos de
arbustos que ela deixava cair ao passar; estou sozinho: não há mais movimento
nem vida à minha volta, e a passagem que conduzia a seu bosquezinho predileto
já está desaparecendo sob a relva. Sem parecer ocupar-se comigo, ela cuidava
sem cessar daquilo que podia dar-me prazer. Quando eu voltava a meu quarto,
surpreendia-me às vezes ao encontrar, aí vasos com flores novas, ou alguma bela
fruta de que ela mesma cuidara. Não durava a prestar-lhe idênticos serviços e
rogara-lhe mesmo nunca penetrar em meu quarto. Mas quem pode pôr limites ao
afeto de uma irmã? Bastará um fato para dar-lhe uma ideia de sua ternura por mim.
Uma noite eu andava em grandes passadas em minha cela, atormentado por dores
atrozes. Havendo-me sentado um instante para descansar, ouvi um leve rumor à
entrada de meu quarto. Chego-me, aguço o ouvido: avalie minha, surpresa! Era
minha irmã que orava a Deus, do lado de fora, na soleira de minha porta. Ouvira
meus queixumes. Sua ternura receou perturbar-me; mas acudia para estar pronta a
socorrer-me, caso fosse preciso. Ouvi-a recitar em voz baixa o Miserere. Ajoelhei-me junto à porta e,
sem interrompê-la, acompanhei mentalmente suas palavras, Meus olhos estavam
cheios de lágrimas: quem não se comoveria com uma, afeição assim! Quando
julguei terminada sua oração, disse-lhe em voz baixa: "Adeus; irmã, adeus,
retira-te, sinto-me um pouco melhor. Que Deus te abençoe e te recompense por
tua piedade!" Ela retirou-se em silêncio e, sem dúvida, seus rogos foram
ouvidos porque dormi algumas horas de sono tranquilo.
O MILITAR
Como devem ter-lhe parecido
tristes os primeiros dias que seguiram à morte dessa irmã querida!
O LEPROSO .
Fiquei muito tempo numa espécie
de estupor que me privava da faculdade de sentir toda a extensão de meu
infortúnio; quando, finalmente, tornei a mim, e fiquei em condições de avaliar
minha situação, quase enlouqueci. Essa época será sempre, duplamente triste
para mim: faz-me lembrar o maior de meus infortúnios e o crime que quase foi
sua consequência.
O MILITAR
Um crime! Não posso julgá-lo
capaz disso.
O LEPROSO
É a simples verdade, e sinto perfeitamente
que muito perderei de sua estima ao narrar-lhe essa época de minha vida; mas
não quero fazer-me melhor do que sou e talvez o senhor me lastime ao
condenar-me. Já, em alguns acessos de melancolia, se me havia apresentado a
ideia de abandonar voluntariamente a vida, contudo, o temor de Deus, sempre
fizera com que eu a repelisse, quando a circunstância mais singela e menos
própria na aparência para me perturbar quase me perdeu eternamente. Eu acabava
de passar por um novo desgosto. Havia alguns anos que um cãozinho se dedicara a
nós; minha irmã o amara e confesso-lhe que depois de sua morte o pobre animal
era um verdadeiro conforto para mim.
Devíamos sem dúvida à sua fealdade a escolha que ele fizera de nossa habitação para seu refúgio. Fora escorraçado por todos, mas era ainda um tesouro para a casa do Leproso. Em reconhecimento à graça que Deus nos concedera ao nos dar esse amigo, minha irmã chamara-o de Milagre; e seu nome, que contrastava com sua fealdade, bem como sua alegria contínua, muitas vezes distraíra-nos de nossos pesares. Apesar do cuidado que eu tinha, ele às vezes fugia, e eu nunca pensara que isso pudesse ser prejudicial a ninguém. Alguns Habitantes da cidade, contudo, alarmaram-se com tal fato, julgando que ele pudesse transmitir o germe de minha enfermidade, resolveram queixar-se ao comandante, que ordenou que meu cão fosse morto imediatamente. Soldados, acompanhados de alguns habitantes, logo vieram à minha casa para executar essa ordem cruel. Passaram-lhe uma corda no pescoço, em minha presença, e arrastaram-no. Quando ele chegou à entrada do jardim, não pude deixar de olhá-lo uma última vez: vi-o volver os olhos para mim, pedindo-me um socorro que eu não lhe podia dar. Queriam afogá-lo no Doire; mas a populaça, que o esperava do lado de fora, abateu-o a pedradas. Ouvi seus gritos e voltei para minha torre mais morto que vivo. Meus joelhos trêmulos não me podiam sustentar: atirei-me na cama num estado impossível de descrever. Minha dor não me permitiu ver, naquela ordem justa, mas severa, outra coisa que uma barbaridade tão atroz quanto inútil. Embora me envergonhe hoje do sentimento que então me animava, ainda não posso pensar nisso serenamente. Passei o dia todo na maior agitação. Era o último ser vivo que acabavam de arrancar de junto a mim, e esse novo golpe reabriria todas as chagas de meu coração.
Era essa a minha situação, quando no mesmo dia, ao poente, vim sentar-me aqui, nessa pedra em que o senhor agora está sentado. Aí estava refletindo, havia algum tempo, sobre minha triste sorte, quando lá longe, próximo às duas bétulas que terminam a cerca, vi surgirem dois jovens recém-casados. Eles caminharam ao longo da vereda, através do prado, e passaram próximo a mim. Em suas belas fisionomias estava estampada a calma deliciosa que uma felicidade certa inspira; caminhavam lentamente; seus braços estavam entrelaçados, de súbito os vi parar: a jovem inclinou a cabeça sobre o peito do esposo que a estreitou nos braços arrebatadamente. Senti meu coração apertar-se. Confesso-lhe que a inveja se esgueirou em meu coração pela primeira vez: nunca a imagem da felicidade se me apresentara com tanta força. Acompanhei-os com os olhos até a extremidade do prado, e ia perdê-los de vista entre as árvores, quando gritos de satisfação me ferraram o ouvido: eram suas famílias reunidas que lhes iam ao encontro. Anciãos, mulheres, crianças, rodeavam-nos; eu ouvia o murmúrio confuso da alegria; via entre as árvores as cores brilhantes de suas vestes, e todo aquele grupo parecia cercado de uma nuvem de felicidade. Não pude suportar tal espetáculo: os tormentos do inferno haviam penetrado em meu coração; afastei os olhos e corri para minha cela. Deus! como me pareceu deserta, escura, medonha! "Então é aqui, pensei, que minha residência está fixada para sempre; então é aqui que eu, arrastando uma vida lamentável, aguardarei o fim tardio de meus dias! O Eterno espalhou a felicidade, espalhou-a em torrentes sobre tudo o que respira; e eu, só eu! sem ajuda, sem amigos, sem companhia!... Que destino horroroso!"
Dominado por esses tristes pensamentos, esqueci que existe um ser reconfortador, esqueci a mim próprio. Por que, dizia comigo, me concederam a luz? Por que só para mim a natureza é injusta e madrasta? Semelhante ao filho deserdado, tenho debaixo dos olhos o rico patrimônio da família humana, e o céu avaro recusa-me o meu quinhão. Não, não, exclamei por fim num assomo de cólera, não podes esperar absolutamente felicidade sobre a terra; morre, desditoso, morre! Já maculaste por demais a terra com tua presença; que ela te devore vivo e não deixe subsistir vestígio algum de tua odiosa existência! Meu furor insensato aumentava progressivamente e dominou-me o desejo de autodestruição, absorvendo todos os meus pensamentos. Concebi, por fim, a resolução de incendiar minha morada e deixar-me consumir com tudo que pudesse deixar qualquer recordação minha. Agitado, enfurecido, saí para o campo; vaguei algum tempo na sombra em volta de minha habitação; de meu peito opresso escapavam-se urros involuntários, que a mim próprio assustavam no silêncio da noite. Voltei para casa extremamente enraivecido, gritando: "Desgraça sobre ti, Leproso! Desgraça sobre ti!" E como se tudo devesse contribuir para minha perda, ouvi o eco que entre as ruínas do castelo de Bramafan repetiu distintamente: "Desgraça sobre ti!" Estaquei, transido de pavor, à porta da torre, e o débil eco da montanha repetiu muito tempo depois: "Desgraça sobre ti!"
Apanhei uma candeia e, disposto a incendiar a habitação, desci ao quarto mais baixo, levando comigo sarmentos e galhos secos. Era o quarto que minha irmã ocupara. E desde sua morte eu aí não entrara: sua poltrona ainda estava colocada como por ocasião de última vez em que eu daí a retirara; senti um arrepio de pavor ao ver seu véu e alguns de seus trajes espalhados pelo quarto: as últimas palavras que ela pronunciara antes de sair dele acudiram-me ao pensamento:: "Não te abandonarei com minha morte, dizia-me, lembra-te que estarei presente em tuas agonias". Ao colocar a candeia sobre a mesa, avistei o cordão do crucifixo que ela usava ao pescoço e que ela própria colocara entre duas páginas de sua Bíblia. Vendo isso, recuei tomado de santo horror. A profundeza do abismo em que eu me ia precipitar apresentou-se-me de súbito aos olhos abertos; aproximei-me, tremendo, do livro sagrado: "Aqui está, aqui está, exclamei, o socorro que ela me prometeu!" E como eu retirasse do livro o crucifixo, encontrei um escrito lacrado, que minha boa irmã aí deixara para mim. Minhas lágrimas, contidas até então pela dor, escaparam-se copiosas: todos os meus funestos projetos desapareceram imediatamente. Apertei por longo tempo a preciosa carta sobre o coração antes de poder lê-la; e, prostrando-me genuflexo para implorar a misericórdia divina, abri-a e li soluçando estas palavras que estão eternamente gravadas em meu coração: "Meu irmão, breve deixar-te-ei; não te abandonarei, contudo. Do céu, para onde espero ir, velarei por ti; rogarei a Deus que te conceda coragem para suportar a vida resignadamente, até que lhe apraza reunir-nos noutro mundo; poderei mostrar-te, então, todo o meu afeto; nada mais me impedirá de me aproximar de ti e nada nos poderá separar. Deixo-te o pequeno crucifixo que andou comigo toda a minha vida. Muitas vezes ele me consolou em minhas aflições, e minhas lágrimas nunca tiveram outra testemunha. Lembra-te, quando o vires, que meu último desejo foi o de que pudesses viver ou morrer como 'bom cristão." Carta querida! nunca a deixarei: levá-la-ei comigo para a sepultura, será ela que me abrirá as portas do céu que meu crime devia cerrar-me para sempre. Ao concluir sua leitura, senti-me desfalecer, exausto por tudo aquilo que acabara de passar. Vi uma nuvem ensombrar-me a visão e durante algum tempo perdi tanto a lembrança de meus males quanto a noção de minha existência. Quando retornei a mim, a noite ia adiantada. À medida quê minhas ideias se tornavam lúcidas, invadia-me uma sensação de paz indefinível. Tudo o que se passara durante a noite parecia-me um sonho. Meu primeiro impulso foi erguer os olhos para o céu a fim de agradecer-lhe o haver-me preservado da maior entre as desgraças. Nunca o firmamento me parecera tão sereno e tão belo; em frente à minha janela cintilava uma estrela; contemplei-a demoradamente com inexprimível prazer, agradecendo a Deus por ainda me conceder a alegria de vê-la, e senti um conforto secreto ao pensar que um de seus raios, apesar de tudo, era destinado à triste cela do Leproso.
Subi para meu aposento mais tranquilo. Levei o resto da noite a ler o livro de Jó, e o santo entusiasmo de que ele penetrou minha alma acabou de dissipar inteiramente as negras ideias que me haviam obsedado. Em vida de minha irmã eu jamais atravessara momentos assim horrorosos. Bastava-me pensar na afeição que ela me dedicava para sentir-me apaziguado e animado.
Misericordioso estrangeiro! Deus sempre o preserve de ser obrigado a viver sozinho. Minha irmã, minha companheira não mais existe, mas o céu há de me conceder forças para suportar corajosamente a vida; há de conceder-mas, espero, porque eu o peço com toda a sinceridade de meu coração.
O MILITAR
Que idade tinha sua irmã, quando
a perdeu?
O LEPROSO
Contava apenas vinte e cinco
anos; mas seus sofrimentos faziam-na parecer mais velha. Apesar da moléstia que
a levou e que alterara suas feições, ela ainda seria bela, não fora uma palidez
pavorosa que a desfigurava; era a imagem viva da morte, e eu não podia vê-la
sem gemer.
O MILITAR
O senhor perdeu-a muito moça.
O LEPROSO
Sua constituição frágil e
delicada não podia resistir a tantos males reunidos; eu já vinha percebendo que
sua perda era inevitável e tão triste era sua sorte que eu me via forçado a
desejá-la. Ao vê-la deperecer e consumir-se dia a dia, observava eu com alegria
funesta que o fim de seus sofrimentos se aproximava. Um mês antes, sua fraqueza
já havia aumentado; desmaios frequentes ameaçavam sua vida todas as horas. Uma
tarde (foi em começos de agosto) achei-a tão prostrada que não a quis deixar;
ela estava em sua poltrona, porque não podia mais suportar o leito havia alguns
dias. Sentei-me a seu lado e, na escuridão mais profunda, tivemos nossa última
conversação. Minhas lágrimas não podiam estancar. Agitava-me um pressentimento
cruel. "Por que choras? dizia-me ela, por que te afliges tanto? Não te
deixarei com a morte, e estarei presente em tuas agonias." Alguns
instantes depois, manifestou o desejo de ser transportada para fora da torre e
fazer suas orações em seu bosquezinho de aveleiras. Era aí que ela passava a
maior parte do verão. "Quero, dizia, morrer fitando o céu." Eu não julgava,
entretanto, tão próxima assim sua hora. Tomei-a nos braços para levantá-la.
"Ampara-me apenas, disse-me, talvez ainda eu tenha forças para andar."
Levei-a lentamente até as aveleiras; fiz-lhe uma almofada com folhas secas que
ela própria aí amontoara, e depois de cobri-la com um véu, a fim de defendê-la
da umidade da noite, instalei-me a seu lado, porém ela quis ficar sozinha em
sua derradeira meditação: afastei-me sem perdê-la de vista. Via seu véu
erguer-se de vez em quando e suas alvas mãos alçarem-se para o céu. Como me
aproximasse do bosquezinho, ela pediu-me água: trouxe-lha em seu copo; ela
umedeceu os lábios, mas não pôde beber. "Sinto meu fim, disse, desviando a
cabeça; breve minha sede estará saciada para sempre. Ampara-me, recita a oração
dos agonizantes". Foram as últimas palavras que me dirigiu. Apoiei sua cabeça
ao meu peito; recitei a oração dos agonizantes: "Passa à eternidade! disse-lhe,
irmã querida, liberta-te da vida; deixa estes despojos entre meus braços!"
Amparei-a assim durante três horas na derradeira luta da natureza; ela
extinguiu-se, por fim, mansamente e sua alma desprendeu-se da terra sem
esforço.
O Leproso,
ao concluir sua narrativa, cobriu o rosto com as mãos; o pesar impedia o
viajante de falar. Após um instante de silêncio, o Leproso levantou-se.
—
Estrangeiro, — disse — quando a tristeza ou desânimo o ameaçarem, pense no
solitário da cidade de Aosta; a visita que lhe fez não terá sido inútil.
Caminharam
juntos para a porta do jardim. Quando o militar se dispunha a sair, calçou a
luva da mão direita: — conceda-me o favor de apertar a minha: é a de um amigo
que muito se interessa por sua sorte.
O Leproso
recuou alguns passos, tomado de uma espécie de medo, e erguendo os olhos e as
mãos para o céu:
— Deus de
bondade, — exclamou — enche de bênçãos este homem misericordioso.
— Conceda-me
então outra graça, — disse o viajante. — Vou partir; talvez levemos muito tempo
sem nos tornar a ver: não poderíamos com as necessárias precauções,
corresponder-nos de vez em quando? uma relação assim poderia distraí-lo e daria
muito prazer a mim próprio.
— Por quê —
disse afinal — procurarei iludir-me? Não devo possuir outra companhia que eu
próprio, outro amigo que Deus; tornaremos a nos encontrar nele. Adeus, piedoso
estrangeiro, seja feliz... Adeus para sempre!
O viajante
saiu. O Leproso fechou a porta e correu os ferrolhos.
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Fonte:
"Os mais belos contos franceses dos mais famosos autores". Tradutores: Marina Guaspari, Frederico Dos Reys Coutinho, Édison Carneiro e Gilberto Galvão. Editora Vecchi. Rio de Janeiro, 1944.
Fonte:
"Os mais belos contos franceses dos mais famosos autores". Tradutores: Marina Guaspari, Frederico Dos Reys Coutinho, Édison Carneiro e Gilberto Galvão. Editora Vecchi. Rio de Janeiro, 1944.
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