Graça aranha por Augusto Frederico Schmidt
Texto escrito por Augusto Frederico Schmidt e publicado em 1930. Pesquisa, transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
Texto escrito por Augusto Frederico Schmidt e publicado em 1930. Pesquisa, transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
Inegavelmente foi um momento magnífico. Momento de entusiasmo, de ânsia por liberdade... No fundo o entusiasmo não se sabia de onde vinha. Nem havia escravidão, antes pobreza tão somente. Mas foi um instante de ilusão. Graça Aranha é que foi o ilusionista. E ninguém melhor do que ele para este papel. Tinha chegado da Europa e era bonito. Cabelos quase brancos e um ar de civilização e de simplicidade.
Graça
Aranha! Foi a primeira vez que o vi, no dia da sua conferência da Academia.
Vestia um terno verde. Caminhando para o "Petit Trianon" eu dizia que
Graça Aranha não tinha o direito de falar. Ia mal prevenido. Para mim (idade, a
idade) o modernismo era algo de confuso, de diferente de tudo, uma como que
modificação geral nos espíritos e nos costumes. Que o autor de Canaã, espírito
que já era conhecido é que fosse o profeta, não ia muito comigo. No entanto com
que entusiasmo o ouvi falar se erguendo vibrante contra o espírito colonial da
Academia. Pareceu-me que subitamente se escancaravam numa casa há muito fechada
e escura, as janelas dando para uma paisagem clara, vasta, com voos de pássaros
num céu muito azul.
Coelho Neto,
protestou espartanamente. Então Graça Aranha foi carregado. O terno verde do
mestre. Esperança de qualquer coisa. "Façam vocês agora, jovens",
disse ele para um grupo de exaltados. Um dos exaltados era eu. Tão moço ainda
era eu! Pensei em fazer. Sim, fazer, realizar. Escrever obras formidáveis.
Depois o meu
momento de exaltação. E nada mais. No entanto, houve felicidade. Como o Brasil,
a mocidade precisava de quem a agitasse! E Graça Aranha a agitara.
Quando
saíram as cartas de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, com o admirabilíssimo
estudo, prefacio de Graça Aranha, bem que senti decepção. Era algo de clássico,
de perfeito, de permanente. Onde a modernidade?
Foi assim
que não compreendi o modernismo de Graça Aranha. E como eu tantos! O modernismo
desandou em brasilidade, e em outras coisas assim que se foram seguindo, sempre
inúteis. Alguma coisa permanecerá do que se fez nesse período, da conferência
para cá? Parece que não.
"Façam
vocês agora". No entanto Graça Aranha é que fez. A Viagem Maravilhosa está
quase chegando. Graça Aranha principia de novo a centralizar toda a curiosidade
intelectual, aliás tão pequena, no seu livro.
Creio que de
novo o carregaremos como na tarde da Academia. Que se apresente de verde. E que
agite este marasmo que se estabeleceu de novo, cheio de novidadezinhas
insignificantes. De tentativas frustas.
Graça Aranha
precisa se voltar, sempre vibrante, e agora, também contra o modernismo
academizante, contra o modernismo do pra, contra o modernismo falsamente
espirituoso, que faz ironia por impotência. Modernismo vazio, sem lirismo.
Qual o
Brasil não tem remédio mesmo! Não é de falta de liberdade que sofremos, antes
pobreza!
Que me
perdoe o MOVIMENTO BRASILEIRO esta amargura, este ceticismo. Quem diz o que
sente...
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