As três penas
Coligidos por: Henrique Marques Júnior. Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Era uma vez um rei que tinha três filhos; os dois mais velhos eram alegres e tagarelas, e o mais moço de poucas falas e muito acanhado, razão por que o tinham na conta de simples.
Quando o monarca chegou a velho, quis fazer testamento; mas viu-se bastante embaraçado por não saber a qual dos três filhos legar a coroa. Certo dia, porém, chamou-os e disse-lhes:
— Ponham-se a caminho, e aquele que trouxer o tapete mais finamente tecido é que ficará sendo rei por minha morte.
Dizendo isto, para evitar qualquer má vontade dos irmãos, andou alguns passos além do palácio e, fazendo voar três penas, indicou-lhes:
— Cada um de vocês deve encaminhar-se na direção que estas penas levarem.
A primeira pena voou para o oriente, a segunda para o ocidente e a última volitou uns segundos e foi cair a alguns passos de distância.
Por isso, o mais velho tomou o caminho da direita, o do meio voltou à esquerda e o mais novinho — troçado pelos mais velhos — encaminhou-se para o local onde caíra a terceira pena.
O pobre moço, apoquentado e triste, deitou-se no relvado. De repente notou uma porta subterrânea no lugar em que a pena caíra. Abriu-a e reparou numa escada, que se aventurou a descer. Uma vez embaixo, deu de rosto com outra porta, em que bateu. Então ouviu uma voz que — em frase cabalística — a mandou abrir.
Quando a porta girou nos gonzos viu-se um enorme sapo, de envolta com uma porção de sapinhos. O sapão perguntou ao rapazito o que é que desejava, ao que o interpelado retorquiu:
— Não seria fácil arranjar-se um tapete bonito e finamente tecido?
Palavras não eram ditas e já o sapão gritava a um dos sapinhos, que, num pulo, lhe trouxesse um cofre.
O sapinho assim fez; o sapão abriu-o e tirou de dentro um tapete tão ricamente tecido como nunca no mundo se havia visto igual, com o que presenteou o rapazinho, que agradeceu muito e se pôs em marcha.
Ora, os dois irmãos refletiram de si para si que o irmão era tão palerma, que se escusavam de cansar muito para toparem com um tapete decerto superior ao que ele conseguisse.
Assim deitaram a mão ao primeiro pano de lã grosseira que uma guardadora de porcos trazia, e vieram entregá-lo ao rei. Pouco depois, apareceu o irmão mais novo com o magnífico tapete.
O régio personagem, no auge da surpresa, exclamou:
— O reino pertence ao mais moço!
Os irmãos é que não estiveram pelo ajuste e observaram ao velho pai, que tal resolução era impraticável, pois o irmão não passava de um pateta. Tais rodeios arranjaram, tais razões, que o monarca, já fatigado de tanta loquela, não teve remédio senão tentar segunda experiência.
— Será rei por minha morte aquele que me trouxer o mais valioso anel.
Conduziu novamente os três filhos a alguns passos distantes do palácio e fez voar três penas, cuja direção deviam tomar. Como da primeira vez, os dois mais velhos partiram para o oriente e ocidente; quanto à pena do mais moço volitou também por segundos e foi cair dali a poucos passos.
Ao contrário da vez passada, o rapaz não entristeceu, mas apressou-se a descer a escada pela porta subterrânea, em direção à casa do sapão que, de chofre, lhe perguntou o que queria, respondendo em seguida:
— Não será fácil arranjar-se um bonito e valioso anel?
O disforme batráquio mandou buscar o cofre e tirou-lhe de dentro um anel riquíssimo, e tão artisticamente cinzelado, que ourives algum do mundo seria capaz de apresentar outro do mesmo gosto.
Ora os dois irmãos, rindo-se ao pensar que o simples mocinho havia de conseguir um anel precioso, não se deram a grandes trabalhos, certos de que se sairiam melhor do encargo do que aquele, e assim arrancaram a primeira argola que viram presa numa parede e que servia para segurar os animais, e foram ter ao palácio dá-la ao rei. O velho monarca nem sequer teve que comparar, exclamou:
— É ao terceiro que faço rei!
Entretanto, os dois mais velhos convenceram tão bem o velho rei da nulidade do irmão que o monarca consentiu em fazer terceira tentativa, a última. Decidiu-se que herdava o trono o que trouxesse a mulher mais formosa. Como das vezes passadas, as três penas foram deitadas ao ar e tomaram as mesmas direções.
O moço simples desceu pela terceira vez a casa do sapão.
— Não seria desejar muito, pedir uma formosa mulher?
— Caspité! — exclamou o grande batráquio. — Uma formosa mulher?! E por que não hás de tê-la?!
Ditas que foram estas palavras, o sapão deu-lhe uma beterraba oca puxada a seis ratos brancos.
Ao ver tão curiosa carruagem, o pobre rapaz perguntou com certa tristeza:
— Que faço a isto?
— Agarra um de meus filhos — respondeu o sapo — e mete-o dentro desse carro.
A esta indicação, pegou ao acaso num dos sapinhos e meteu-o na beterraba; mal aí foi colocado, o bicharoco ficou transformado numa menina de formosura maravilhosa, a beterraba numa luxuosa equipagem e os seis ratos em três parelhas de cavalos brancos de neve. Em seguida, o mocinho subiu para a boleia, abraçou a moça e depressa seguiu para o palácio. Os dois irmãos mais velhos chegaram daí a pouco, mas faziam tão mau juízo da escolha que o mais moço faria, que ficaram satisfeitos com a primeira camponesa que lhes apareceu e que levaram ao palácio. Desta vez ainda (o que não é para assombros) o monarca disse:
— É ao mais moço de meus filhos que pertencem as rédeas do governo após minha morte!
O que é certo é que pela terceira vez ainda os dois irmãos tentaram murmurar contra a resolução do pai e pediram para que — em última experiência — fosse proclamado rei aquele cuja mulher saltasse pelo meio de uma argola suspensa a meio da sala. E propondo isto acrescentaram:
— As camponesas facilmente saltarão, são bastante fortes para estes exercícios; quanto a essa avezinha, fraca e delicada, cai e parte a cabeça.
Muito instado, o rei cedeu a esse capricho que começou.
As duas camponesas foram as primeiras a saltar, mas, pesadas e gordas como eram, caíram, partindo braços e pernas. Ao contrário, a moça trazida pelo mais novo formou salto tão elegante, que atravessou graciosa e rapidamente a argola e caiu em pé.
Ante esta última experiência ficou decididamente reconhecido como herdeiro ao trono o filho mais novo.
Efetivamente, assim que o velho monarca fechou os olhos, foi aclamado rei e ainda agora se fala da sabedoria com que nesse país governou.
Ótimo!
ResponderExcluirAmei gostei muito
ResponderExcluirAonde a historia se passa
ResponderExcluirGostei muito,muito legal o conto ,como eram os verdadeiros nomes dos filhos e do rei?? ?😁😁😁😁😁😁😁😁😁
ResponderExcluirentendi nada KKJJKKKKKJKKK
ResponderExcluirgostei!
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