9/29/2017

O sapateiro e os gnomos (Conto), dos Irmãos Grimm


O sapateiro e os gnomos

Coligidos por: Henrique Marques Júnior. Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

O sapateiro e os gnomos (Conto), dos Irmãos Grimm

Era uma vez um sapateiro que, por força do destino, empobreceu tanto que só conseguira comprar material suficiente para um par de sapatos. De noite talhou a pele para no dia seguinte os concluir; como era bom, deitou-se tranquilamente, orou e adormeceu.

No dia imediato, ao erguer-se, ia pegar na tarefa, mas achou em cima da mesa o par já feito. Ficou altamente surpreendido, mas não compreendia o que o fato queria dizer. Pegou nos sapatos e viu-os, examinou-os de todas as formas e feitios, mas defeito algum lhes encontrou, tão bem acabados estavam; eram o que se chama uma obra prima, um encanto.

Entrou-lhe em casa um freguês, a quem agradaram tanto os sapatos que os comprou mais caros do que costumava, e com este dinheiro o sapateiro arranjou material para outros dois pares. Nessa mesma noite os talhou para no dia seguinte os concluir, quando, ao despertar, os viu já prontos; desta vez, ainda, não faltaram compradores e, com o produto da venda, pôde conseguir material para quatro pares.

No dia seguinte os quatro pares estavam prontos; finalmente, tudo o que talhava de véspera lhe aparecia feito de manhã, ao acordar; de modo que, sem grande trabalho, se achou remediado.

Uma noite, porém, pelas proximidades do Natal, quando acabara de talhar os sapatos e se ia deitar, disse para a mulher:

— E se nós velássemos esta noite para ver quem é que nos ajuda?

A mulher aprovou a ideia, e, deixando a candeia acesa, esconderam-se num armário onde havia roupa e na qual se ocultaram à espera dos acontecimentos. Ao dar a meia noite, dois bonitos gnomos entraram no quarto, sentaram-se na tripeça do sapateiro e, pegando na pele talhada, com as pequeninas mãos ajustaram, coseram e bateram sola, com tanta agilidade e presteza que era um gosto vê-los.

Trabalharam sem descanso até que deram fim à tarefa, e desapareceram num ai!

Na manhã imediata alvitrou a mulher:

— Estes gnomozinhos enriqueceram-nos, e nós devemos mostrar-lhes a nossa gratidão; eles devem sentir frio, sem nada que os tape. Sabes do que me lembrei? Fazer-lhes três camisinhas, calças, colete e casaco para eles vestirem e umas meiazinhas para calçarem; e para completar o brinde, tu fazias-lhes uns sapatinhos.

O marido concordou com a mulher, e deram logo princípio à obra, e, decorridas bem poucas horas sobre tão simpática resolução, à tarde, estava tudo pronto; colocaram, pois, marido e mulher, as suas prendas em cima da mesa, justamente no local em que era costume colocarem nos outros dias a obra talhada, e esconderam-se para verificarem o que os gnomos faziam. Meia noite a dar e eles a aparecerem para dar começo à tarefa; mas em vez dos sapatos cortados para eles fazerem, como tinha sucedido nos dias antecedentes, encontraram essas vestimentas, o que lhes causou admiração, que daí a pouco cedeu o lugar a uma grande alegria. Vestiram os fatos com presteza, viram que lhes ajustavam como uma luva e começaram a dançar, a saltar por cima das cadeiras e dos bancos, e a cantar saíram.

Desde então, nunca mais os viram. O sapateiro, porém, continuou a ser feliz enquanto viveu, tendo tudo quanto ambicionava.

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