Amor e sangue
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Sua impressão: a rua é que andava, não
ele. Passou entre o verdureiro de grandes bigodes e a mulher de cabelo
despenteado.
— Vá roubar no inferno, Seu Corrado!
Vá sofrer no inferno, Seu Nicolino!
Foi o que ele ouviu de si mesmo.
— Pronto! Fica por quatrocentão.
— Mas é tomate podre, Seu Corrado!
Ia indo na manhã. A professora pública
estranhou aquele ar tão triste. As bananas na porta da QUITANDA TRIPOLI
ITALIANA eram de ouro por causa do sol. O Ford derrapou, maxixou, continuou
bamboleando. E as chaminés das fábricas apitavam na Rua Brigadeiro Machado.
Não adiantava nada que o céu estivesse
azul porque a alma de Nicolino estava negra.
— Ei, Nicolino! NICOLINO!
— Que é?
— Você está ficando surdo, rapaz! A
Grazia passou agorinha mesmo.
— Des-gra-ça-da!
— Deixa de fita. Você joga amanhã
contra o Esmeralda?
— Não sei ainda.
— Não sabe? Deixa de fita, rapaz! Você...
— Ciao.
— Veja lá, hein! Não vá tirar o corpo
na hora. Você é a garantia da defesa.
A desgraçada já havia passado.
AO BARBEIRO SUBMARINO. BARBA: 300 réis.
CABELO: 600 réis. SERVIÇO GARANTIDO.
— Bom dia!
Nicolino Fior d'Amore nem deu
resposta. Foi entrando, tirando o paletó, enfiando outro branco, se sentando no
fundo a espera dos fregueses. Sem dar confiança. Também Seu Salvador nem ligou.
A navalha ia e vinha no couro
esticado.
— São Paulo corre hoje! É o cem
contos!
O Temístocles da Prefeitura entrou sem
colarinho.
— Vamos ver essa barba muito bem
feita! Ai, ai! Calor pra burro. Você leu no Estado
o crime de Ontem, Salvador? Banditismo indecente.
— Mas parece que o moço tinha razão de
matar a moça.
— Qual tinha razão nada, seu! Bandido!
Drama de amor coisa nenhuma. E amanhã está solto. Privações de sentidos. Júri
indecente, meu Deus do Céu! Salvador, Salvador... — cuidado aí que tem uma
espinha... este país está perdido!
— Todos dizem.
Nicolino fingia que não estava
escutando. E assobiava a Scugnizza.
As fábricas apitavam.
Quando Grazia deu com ele na calçada
abaixou a cabeça e atravessou a rua.
— Espera aí, sua fingida.
— Não quero mais falar com você.
— Não faça mais assim pra mim, Grazia.
Deixa que eu vá com você. Estou ficando louco, Grazia. Escuta. Olha, Grazia!
Grazia! Se você não falar mais comigo eu me mato mesmo. Escuta. Fala alguma
coisa por favor.
— Me deixa! Pensa que eu sou aquela
fedida da Rua Cruz Branca?
— O quê?
— É isso mesmo.
E foi almoçar correndo.
Nicolino apertou o fura-bolos entre os
dentes.
As fábricas apitavam.
Grazia ria com a Rosa.
— Meu irmão foi e deu uma bruta surra
na cara dele.
— Bem feito! Você é uma danada, Rosa.
Xi!...
Nicolino deu um pulo monstro.
— Você não quer mesmo mais falar
comigo, sua desgraçada?
— Desista!
— Mas você me paga, sua desgraçada!
— NÃ-Ã-O!
A punhalada derrubou-a.
— Pega! PEGA! PEGA!
— Eu matei ela porque estava louco,
Seu Delegado!
Todos os jornais registraram essa
frase que foi dita chorando.
BISEu estava louco
Seu Delegado!
Matei por isso!---- -
Sou um desgraçado! ----
O estribilho do ASSASSINO POR AMOR (Canção da atualidade para ser cantada coma
música do "FUBÁ", letra de Spartaco Novais Panini) causou furor
na zona.
só li por que a professora de português mandou, pelo menos o texto poderia ser legal, mais não é nem um pouco.
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