10/08/2017

As festas de Nazaré (Conto), de Júlio César Machado


As festas de Nazaré

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

---

I
As seis horas da manhã de um lindo dia de setembro de 1860, partia eu pelos caminhos de ferro, na aprazível companhia de criaturas de todo o feitio, que deixavam em Santa Apolônia parentes ou amigos madrugadores, a darem-lhe o adeus do estilo, a avivar-lhes na memória, ao primeiro sinal de partida do comboio, as últimas recomendações.

— Levas as esporas?

— Não te esqueças de trazer os pêssegos!

— Dize ao Procópio que já casou a Brígida!

— Tens a camisa de malha?

— Não te debruces!

— Vê se te esqueces de me comprar aquela coisa?!

— Olha que o ferrinho dos calos vai no saco pequeno!

Depois deste coro de expedientes à última hora, o andamento grave dos ônibus do Poço do Bispo, o que tornou a viagem mais recreativa. Chegamos ao Carregado, e a carruagem do José Paulo, que oferece à comodidade pública 14 lugares, partiu... com 16. Numa carruagem estreita e curta, com calor, e uns restos de crinoline, que a moda atirara para a estrada, 16 pessoas acomodam-se o melhor possível, e não correm senão o risco de se asfixiarem.

Dois olhos de passageira fizeram-me esquecer que sufocávamos, que morríamos. Era uma pálida, que dava uma esperança em cada sorriso, uma promessa em cada olhar! A trança dos seus cabelos era negra; a expressão dos seus olhos, melancólica; uma tristeza vaga, que procurava disfarçar, desenhava-se-lhe em cada traço da sua angustiada fronte, e quando sorria, era toda luz!

As cinco horas da tarde, a diligência parava na Caldas da Rainha, e eu entrava conscienciosamente para casa da Malhoa. Santa e respeitável estalajadeira! com que veneração pela literatura ela respondeu às perguntas que lhe dirigi, acerca de um cavalo que me levasse a Nazaré!

— Um cavalo manso e grave, que tenha ar distinto e porte sereno! Cavalo que não comprometa o cronista, fazendo-lhe partir os ossos antes de escrever a crônica!

— Está o senhor servido! Oh! Está o senhor servido! — retrucou a Malhoa, a honesta velhinha, embuçando-se melhor no seu xale de baetilha. — Vou dar-lhe um animal seguro! Ah! o Sr. Corvo que o diga!

— Como, o Sr. Corvo? Quem é aqui o Sr. Corvo?

— Aquele senhor que sabe muito, e que não queria outro cavalo enquanto aqui esteve senão esse que lhe vou dar!

— O Sr. Corvo que sabe muito, é o Sr. João de Andrade Corvo, então? O autor do Anjo da Corte, certamente?

— Há de ser esse! Há de ser esse! — replicou a Malhoa, encolhendo-se de veneração.

— Oh! Tanto melhor, patroa! Tanto melhor!

Passei essa noite no clube. A sociedade das Caldas, porém, já dispersara quase toda e o baile que havia direito a esperar, por ser quinta-feira, metamorfoseou-se numa reunião familiar, em redor de uma mesa grande, entretida num jogo de loteria.

Dividia-se o baralho em três cartas por parceiro, depois de se haver colocado três outras sobre a mesa, e os prêmios eram distribuídos às cartas iguais a essas três. Era uma coisa singular; monótona como tudo que é inocente, inocente como tudo que é fastidioso. Às senhoras, porém, e esse foi o condão do seu poder, coube alegrar pelas graças da amabilidade um entretenimento, que seria sem elas o mais pesado suplício do gênero humano!

A noite prometia ser longa, a loteria tinha ares de durar muito, e a minha romaria aconselhava-me que partisse cedo. De mais a mais, retirar depois do chá, a não sair tarde, é perigoso: ou partir cedo, ou retirar com todos; é a única maneira de acusarem um homem de se enfastiar — como às viúvas que largam o luto depois de o terem usado além do tempo prescrito, deixando conhecer desta forma o limite da sua dor!...

À meia-noite, quando justamente eu queria partir, novos inconvenientes, novos transtornos, obstáculos novos se ergueram. O cavalo recolhera tarde, estava ceando, e só de madrugada devia partir! Conforme se vê, o destino transformara-se todo o dia em vítima de maquinações ocultas: dir-se-ia que inimigos misteriosos formavam em redor de mim linhas de circunvalação! Tudo parecia encaminhar-se com uma diplomacia traiçoeira a armar-me laços mais imprevistos do que as astúcias que se referem no livro do Príncipe do Maquiavel!...

De madrugada, montei a cavalo, e parti. Estava frenético. Sentia em mim o espírito da época e o sangue do século; o meu sonho era a rapidez, e o cavalo da Malhoa, que o Sr. Corvo encontrara talvez na flor da infância, pareceu-me já de uma saúde deteriorada, e tão magro, tão magro, que em vez de cavalo podia ser jóquei, e correr montado num colega!

Das Caldas a Nazaré fazem quatro léguas. Em lhes dizendo que duas são de areal, e que nenhum carro pode vencê-las, já devem imaginar que tive negócio para cinco horas!

Às nove da manhã trepava a ladeira da Barquinha, e de repente parava estático a espalhar a vista pelo vasto horizonte que dali se descobre.

Os arneiros suspenderam também a marcha, tiraram respeitosamente os barretes, e soltaram num tom de fé este simples grito:

— Lá está a Senhora de Nazaré!...

Então, eu vi ao longe a rocha, as torres, as casinhas brancas da praia, os pinheiros da encosta, e o mar debruçando-se, num efeito original e novo, em que o ar, o sol, as sombras, brincavam gentilmente.

As barracas da praia estavam ainda armadas.

As últimas banhistas saíam trêmulas do mar, entre ais e sorrisos, entre amuos e graças, entre arrepios e apóstrofes...

Era uma tentação dizer-lhes:

— Ontem ainda — vedes? ontem ainda, quando os vossos cabelos se anelavam sob os enfeites da noite, havia brilho nesses olhos, cor, vida, elegância e moda, em cada gesto, em cada atitude, em cada expressão do semblante! E agora, seduzidas talvez pelas brisas da manhã, que se misturaram ao rumorejar da vaga, tomastes o concerto da natureza pelos últimos sons de uma serenata, e pediste ao mar que vos contasse pela sua voz grandiosa os segredos que a viração vai contar-lhe em cada noite... Imprudentes! A maré cresceu sobre vós, e como um bando de aves, ides fugindo da onda, depois de a terdes ido procurar!

Fugir! É tarde agora. A roupa cai-vos sem pregas, pesada d’água. Não é do sal das lágrimas que os vossos cabelos estão úmidos, mas do sal do mar, que vos escorre das tranças... O pé delicado e breve já não tem asas, e vai gracioso pelo sapato úmido, e demorado pela areia que lhe pesa!

Logo ao cair da tarde, quando os vossos cabelos enxugarem, os lábios retomarão a cor, o olhar a vida, o corpo a graça, sereis belas outra vez! Andorinhas imprudentes, voltareis com o calor! Vós, que fugistes ao chegar do frio!

Como a rosa que abre ao sol as pétalas, deixa! Deixa que ele vos torne à vida, à felicidade, à beleza, que é tudo em vós! As flores batidas da manhã hão de tornar-se um buquê através o bulício da conversação, dos jogos de prendas, das amabilidades dos protestos e da adorável simplicidade da vida íntima. Mas,a essa hora, já a praia estará deserta e triste, cortado o silêncio apenas pelo suspirar das ondas, e pelo som do adejar de asas de anjo que se espalhou no ar quando de manhã fugiste!

Então, pobre praia de Nazaré, a maré há de encher, crescer, erguer-se, e correr sobre ti, que estarás abandonada à tua solidão e à tua melancolia! Oh! maré impiedosa, que és como a fortuna! Como a felicidade! Como a alegria! Como a sorte! Como a inconstância! Como a traição! Vai-te, ingrata: tu, que não podes nunca cobrir uma praia sem abandonares outra!...

Mais tarde, porém, quem sabe? Quando a noite se envolver toda no seu manto, e a lua ocultar à terra a sua face pálida, os rochedos hão de tremer de deformidade, o vento virá gemer nas ondas; e esta natureza árida só terá um hino de tristezas, de saudades e de ais! As sombras serão tão densas, que não se possa ver a rocha nem o mar... E quem estiver na praia, a essa hora, nesta praia imensa de Nazaré há de sentir-se crescer pelo terror, em vez de se abater por ele! E se não vos puder ver — andorinhas da manhã, que a essa hora estareis dormindo, sonhando, verá todavia nessa majestosa solidão alguém que se avista através do espaço, através da noite, na casa, no mar, na floresta, no firmamento, que se avista a toda a hora, que está em toda a parte, e que se chama — Deus!

***

Estou na Nazaré, amigo? — perguntei a um pescador.

— O senhor vem para a praia ou para o sítio?

— Para a Nazaré, homem! Para a Nazaré!

— Se o senhor vem para o sítio, trepe por esta ladeira que lá há de chegar!

No fim da ladeira, perguntei a uma peixeira:

— Isto é a Nazaré criatura?

— O sítio é, sim senhor.

— O sítio? E a Nazaré?

— Pois o sítio é que é, sim senhor!

Vi as esquinas cobertas de cartazes para teatro, arlequins, touros fenômenos, que sei eu! Os feirantes principiavam a armar as barracas, os festeiros já se muniam de foguetes, e a igreja tinha as portas abertas de par em par, para receber os devotos e os romeiros. Sentia-se movimento, agitação, expectativa. A Nazaré estava em vésperas das suas grandes festas! Não havia que duvidar, senão se eu estava já na Nazaré ou no sítio!

Entrei no meu quarto, pus a mala a um canto, e fui para a janela.

Um homem gordo ia passando.

— Olá, senhor! Estou decididamente na Nazaré?

— Não está noutra parte!

E no sítio?

— Pois no sítio é que o senhor está!

— Para que serve então esta distinção especial?

— Por ter sido aqui que aconteceu o milagre.

— Bravo amigo! Acertou você com a intenção popular!

— O senhor vem para as festas?

— Exatamente. Chego neste instante, e vou demorar-me até a retirada dos círios!

— Para se divertir?

— Para contar tudo a um amigo meu, que se chama o público!

— Pois eu sou do Alentejo, e já cá estou desde ontem!

— Para negócio?

— Para me pesar.

— Vem pesar-se longe!

— Uma promessa. Venho pesar-me a dinheiro.

— Pesar-se a dinheiro!... Escolherei para mim outras devoções!...

— Não, decerto, por que isso pudesse fazer-lhe transtorno?

— Nenhum. É porque sou muito pesado!

— Felizes festas, senhor!

— Até elas, amigo. Até elas!...

II
Já lá vêm cobrindo a estrada, os círios uns após outros! Que soberba cavalgada! Deixemo-lo, deixemo-lo entrar, o grande círio de Prata-Grande! Depois dele virá o das Caldas e depois do das Caldas chegará à noite o de Obidos descendo brilhantemente as serranias da Pederneira, e ilumiando a Nazaré ao clarão dos seus archotes!

A alegria popular, misturando-se ao instinto religioso, eleva aos ares o cântico da fé. Que vida! Que devoção! Que ardor! Todo aquele povo espera e crê. Ê um mundo encantado em que os lírios místicos abrem ao sol os seus cálices de prata!...

Como é, pois, ó meu Deus! Como é e por que é então, que só ali no meio do ermo, ali no meio do campo, brotam as flores do mais vivo e embriagante perfume, que a poesia católica produz?

Quando, na cidade, se entra nas grandes festas de igreja que a moda nos prepara, por que é que não se sente a impressão suavíssima que se me acordou no ânimo, quando ouvi os sinos de Nazaré, dando ao povo ajoelhado os seus conselhos argentinos?

Aquela vasta praça, que se torna pequena num momento, está apinhada de povo durante três dias. Os degraus do adro parecem feitos de cabeças humanas! Panorama monstro de fisionomias de mulher, molduradas umas entre as outras! Se aquela gente vivia e respirava, não sei. É de crer que não. O painel das 11 mil virgens tinha-se realizado desta vez, se elas se têm lembrado de se conservar donzelas!...

Quantos foguetes há no mundo, todos ali sobem aos ares nos grandes dias. Dir-se-ia, tantos são eles, que a humanidade tem estado um ano a fabricar foguetes para Nazaré!
Há no sítio um rochedo escarpado, que olha atento para o mar, e se debruça a vê-lo. Os pescadores têm um homem de campanha que passa ali o dia e a noite, e se rende alternadamente a outro.

O povo apinha-se durante as festas a visitar esse rochedo. Foi ali que o cavaleiro se avistou perdido e elevou à Virgem a invocação que o salvou!... Alguns devotos curiosos vão com uma corda pela cintura estirar-se pelo rochedo para verem ainda hoje a pegada do cavalo! O caso é que isto não faz mal a ninguém, exceto a eles, que os deixa derreados para mais de um mês!...

A altura do rochedo é enorme, e o olhar perde-se quando da praia o erguemos até ali! As nuvens banham-no! E a águia, ao passar, rasga a asa nele!

Eu fui, uma tarde, debruçar-me ali. O mar sussurrava ao longe, e o eco perdia-se nas rochas, chegando debilmente ao meu ouvido... Tudo me pareceu triste, lamentoso nessa hora... A meus pés desenhava-se um vasto abismo, em que apenas lá muito, embaixo alvejava entre um vapor azul a água sabonática do Ah! que de lembranças, então! Que viva tristeza! Que fundas saudades! Vivi ali uma hora de tudo quanto faz morrer!... E senti, e cismei! E recordei-me! E vivi! E apartei-me dali mais velho, como se houvesse atravessado uma das imensas noites dos pólos, em que as estrelas brilham seis meses no céu!...

Em pleno lago, de manhã e de tarde, uns poucos de camponeses jogam continuamente o pau. A multidão faz-lhe círculo, acotovelando-se uns aos outros na esperança de qual haja de ver o jogo mais perto. Há nisto professores e simples curiosos. Os curiosos gastam ali o seu tempo a amestrarem-se neste exercício; os professores vão de propósito a Nazaré nesta época para darem lições de pau, a pinto por discípulo! E a multidão aplaude, aclama, e festeja-os! — boa e singular multidão, que não é das mais escolhidas, mas das mais alegres e animadas!... É uma sociedade de peixeiros e varinas, carreiros e guardadores de cabras, que ostentam na sua toalete um certo gosto selvagem que lhe dá feição, e passam aqueles dias a cantar, a dançar, a rezar e beber.

A dança deles é magnífica! Compõem passos e inventam atitudes e tempos. Pulam; Saltam! E riem de si mesmos! Têm tudo quanto falta aos dançarmos de profissão... mas também falta-lhes tudo quanto eles têm, e é provável, que, se estudassem, perdessem o merecimento!...

Enquanto as mulheres lhes dançam em redor, os jogadores de pau serenam a fúria bélica, e assistem encostados aos varapaus, a este recreio das artes belas; danças em sua honra e em seu louvor, espécie de apoteose, a que assistem pelos seus próprios olhos, mais felizes que os césares romanos que só se tornavam deuses, depois de comerem cogumelos!...

A moda está estragando a forma e uns poucos de peixeiros de Peniche, que estiveram ao pé de mim no largo, durante a luta de varapau, pareceram-me com a sua meia calça larga, a sua perna nua, a sua camisola ampla, e o seu gorro vermelho na cabeça, entes singulares e magníficos, superiores cem vezes em elegância ao maior número dos meus amigos do Marrare, de pé comprimido e cera no bigode!

Quando os foguetes e os sinos davam o sinal da entrada de um círio, todo aquele povo corria numa onda imensa, e ia colocar-se no sítio do trânsito, para assistir de perto às três voltas do estilo.

Então, a atmosfera aquecia pelo hálito ardente de milhares de almas que se apinhavam ali!

A romaria desfilava pela praça girava três vezes em roda da igreja.

A música rompia a marcha, e os anjos encetavam o cortejo. São três crianças de calção de meia, manta bordada e gorro de paladino, que se aguentam em cima dos seus cavalos, e guardam os pés em enormes estribos de pau!

Num guincho enorme prolongado, sem cadência e sem melodia, estes três meninos desprendem a voz e deitam as loas.

A harmonia é tão maviosa, que até o povo, na sua frase característica, não se atrevendo a chamar aquilo cantar, nem recitar, nem declamar, chama-lhe “deitar”.

Agora já nossos olhos
Veem de perto a habitação,
A simpática mansão
Da linda flor de Jessé.
Parabéns, nobres romeiros,
Graças a Deus e a Maria,
Nossa estrela e nossa guia,
Chegamos a Nazaré!
O povo ajoelha, escuta e aplaude.

Segue-se a berlinda, que conduz a imagem de Nossa Senhora, adornada de cordões de ouro, pedras preciosas, fitas, flores, franjas de prata.

Na sege imediata vai o sacerdote, que distribui ao povo as loas do ano. A multidão precipita-se sobre os cavalos e sobre as rodas, num fervor cristão que se não conta!

Eis porém, a traquitana em que o senhor juiz e a senhora juíza se expõem à pública admiração — ele com a sua gravata alta, um colete de veludo de todo o preço, a casaca preta do casamento, boa calça de presilha, e colarinhos no estilo clássico da vela grande da nau Centauro... — ela, de vestido decotado, com folhos em abundância, mangas de tufos, brincos de palmo e meio, 17 cordões de ouro ao pescoço, coisa de 30 pulseiras em cada braço, toucado de flores e fitas de pinto a vara, sapato aberto de cetim branco, e lenço bordado na mão com pontas arrendadas, representando emblemas delicados, à maneira de corações, setas, liras e mais galanterias!...

Durante o trânsito, o povo está em montão, em pilha, em cogulo. Ninguém fala! Ninguém se mexe! Ninguém respira! As moscas fogem... por não terem lugar!

Tão depressa cai a noite, varre-se a praça e corre toda aquela gente para o teatro, sequiosa, insaciável de espetáculo!
Eu fui também, ávido de cor local, assistir à representação do Milagre da Senhora de Nazaré, oratória de grande espetáculo.

Este Milagre da Senhora de Nazaré fez-me recordar uma aventura de jornada.

Uma ocasião — dirigi-me eu a Durruivos, a visitar minha mãe — encontrei na estrada uma companhia ambulante. Um parêntesis é necessário aqui para lhes descrever uma companhia volante em marcha: o parêntesis, porém, tornar-se-ia longo pela descrição: faça-se a descrição sem o parêntesis.

Imaginem seis ou oito carros, carregados a não poderem mais com bagagens russas e velhas, trouxas em lenços rotos, caixas de papelão sem tampa, canastréis, saquinhos, uma cabeleira que havia esquecido, e que vai pendurada num foeiro ao pé de um corpete de papel prateado e de umas barbas postiças! Reúnem-se os carros num ponto dado e, como sejam de diferentes donos, principiam as mulas aos comprimentos, que é um inferno de berraria! Cada guincho diz um! e vale por... dois. Então, principia o pai cauteloso com admoestações, para que não lhe pisem o menino, que é quase da idade do pai: surde uma velha a pedir que evitem semelhante bulha por causa de sua filha, uma ingênua idosa, que corre risco em se assustar: os arrieiros praguejam, os atores gritam, os circunstantes indignam-se, as mulas dão coice, os pequenos da vizinhança querem ir ver o caso de perto, as mães gritam, as crianças choram! A caravana parte, enfim: não se vê senão homens embuçados, amarrando os queixos: mulheres com capas, xale por cima da capa, outra capa por cima do xale, sete lenços na cabeça e a competente touca de lã — distintivo da atriz ambulante! E não se ouve então, senão o rodar dos carros: este ou aquele a petiscar lume, o galã a bichanar com a ingênua, o barbas com a lacaia, o pai nobre com a mãe nobre, o ponto com o vegete.

Fizemos jornada juntos durante uma légua. Planeei logo um grande espetáculo para aquela gente ganhar mundos e fundos, que pareceu encantá-los — “Os senhores devem encarregar alguém de lhes escrever uma oratória, que tenha por título: O Milagre da Senhora de Nazaré! A peça deve ter dois atos e uma mutação à vista no final, representando a última cena uma enorme e alcantilada serra, o cavaleiro da lenda partindo a todo galope, sumindo-se um instante atrás de uns rochedos, e aparecendo depois ao longe no cimo da serra uma contrafigura, num cavalo de pau, suspenso sobre o abismo, como a tradição conta que ficara o indômito cavalo, que ia arrojar no precipício o cavaleiro, que a Senhora de Nazaré salvou!”

A companhia pareceu encantada da lembrança; incubiram-se logo de mandar fazer as máquinas: eu prometi escrever a peça; e, ao despedir-me daqueles generosos desconhecidos, era coisa assentada que íamos enriquecer os fastos de Tália pelo novo Auto do Milagre de Nazaré!

Este ano, chego a Nazaré, leio um cartaz, e encontro Fuas Roupinho, já posto em obra!...

Verdade, verdade — tive pena! Este Fuas Roupinho já me parecia meu, e custou-me deveras vê-lo andar assim por mãos alheias!...

O teatro de Nazaré é maior do que o nosso ginásio e tem todas as proporções de teatro real. Duas ordens de camarotes, uma plateia extensíssima e galeria para o povo. A sala enche-se a deitar fora, nas noites de festa. E de uso na Nazaré ter cada pessoa um varapau enorme a que se encosta. Este varapau não nos desampara nunca. Na igreja encostamo-lo à parede; nas salas colocamo-lo atrás da porta, com o boné em cima, para depois o diferençarmos; e no teatro guardamo-lo na mão. Quando o pano sobe os atores veem mais os varapaus do que os espectadores, e dir-se-ia que estão representando... a um canavial!...

O público de Nazaré é o público mais exigente e ruidoso de que eu tenho notícia, e estava incessantemente a gritar, a rir, a bater com os varapaus, e a fazer um motim, que satanás invejou para o seu reino!

Todavia, mal principiou a peça sacra, a multidão aquietou-se, e a ideia religiosa triunfou no centro daquela balbúrdia de rapaziada, tornando-a atenta e fazendo-a escutar.

A orotória tratava da lenda de d. Fuas Roupinho, que toda a gente sabe, o que me dispensa de Iha fazer constar mais uma vez. Era um pequenino ato abundante de movimento, que não podendo sustentar-se por qualidades literárias, atendia exclusivamente ao efeito. E tanto é assim, que até a tradição se apresentava alterada, sendo na peça uma filha de d. Fuas, e não o próprio d. Fuas quem descobre a Virgem. A lenda não diz isto. A lenda diz que d. Fuas, andando uma vez a divertir-se com os seus amigos pela Nazaré, que nesse tempo era um matagal, encontrou por ocasião de uma caçada a imagem de Nossa Senhora. Ainda que seria fácil não prejudicar a tradição, todavia o elemento principal no teatro, que é seguramente o enredo, a ação, o interesse, pedida que houvesse dama na função, porque para todas as coisas da vida — e agora se vê que até para as coisas sacras! — não há função verdadeira em que não entre filha de Eva!...

O desempenho era regular. A companhia compunha-se de atores de Lisboa.

Nas toradas e nos arlequins, se passava o resto do tempo. Uma tourada na Nazaré tem um caráter mais pronunciado do que em Lisboa. Há mais ruído, mais coragem, mais raiva e mais delírio! Dir-se-ia um resto das colossais festas da Antiguidade!

Os toreros eram aplaudidos, mas custavam-lhes caros os aplausos. Era bela aquela vitória da coragem, do sangue-frio, de todas as qualidades morais, sobre a força cega e a ferocidade estúpida do touro! O público parecia sentir-se solidário daquela intrepidez, e saía da praça mais contente de si!

As festas de igreja não têm de particular senão o auditório, que se compõe — caso raro nos auditórios de igreja! — de gente que tem fé, e que crê em Deus!...

Os sermões chovem ali. Ainda um padre não rematou com o Disse! já um colega lhe salta ao lado, a pregar nova encomenda!

No adro é uma coisa única — para não dizer escandalosa, porque abomino palavrões bombásticos! — a forma por que os sacerdotes agenciam a sua vida nestes dias de chega-a-todos.

Acaba um campônio de contratar uma missa, e depara logo com outro padre que lha oferece mais em conta.

— Já ajustei por um pinto! — retruca o lapônio. — Um homem não tem senão uma palavra!...

— Não seja criança! — replica o sacerdote. — Negócio é negócio. Vocemecê tem a missa dita por mim com toda a cautela, sem fazer tanta despesa!

— Então quanto é que hei de gastar?

— Doze vinténs, que é conta redonda.

O lapônio fica em meditação, quando sente agarrar-se pela gola da jaleca.

— Quem é que me está rasgando?

E outro padre ainda, que se lhe encosta ao ombro e lhe diz ao ouvido:

— Uma de seis, e não falemos mais nisso!...

E todavia a devoção ali conserva-se firme, apesar destes deploráveis ajustes. E fabuloso o número de criaturas que se arrastam de joelhos pela praça! Pelo adro! Pela igreja! Que levam ouro à Virgem! E se despem para dar esmolas!...

Havia um homem em quem a crença popular se fixava quando a sua palavra eloquente ressoava no templo de Nazaré.

Era um poeta e um sacerdote, sacerdote e poeta de toda a sua alma, esse! Desgraçadamente a doença não lhe permitia já a vida pública, e eu encontrei-o como um particular modesto, assistindo a uma das festas, escondido melancolicamente a um canto da igreja.

Este homem era Malhão.

Quando aquele grande talento, quando aquele respeitável caráter iluminava do público o espírito do auditório, as festas de Nazaré tinham ainda mais que ver! A este tempo, porém, a tristeza definhava-o, e ele, o homem simpático, que era tudo ali, já ali não foi nada nesse ano! Os padres no adro haviam-me desconsolado: ainda bem que encontrei este para me reconciliar com a igreja!... Oh! o valente enfermo! Como ele era forte ainda, na sua triste e simpática fraqueza!

Para viajar é preciso ser muito feliz ou muito infeliz, pobre, ou muito rico, gostar de tudo um pouco, e não gostar muito de coisa alguma. Sou viajante perigoso, porque me apaixono. Não há maneira de me apartar de um sítio, sem me parecer que saio do mundo! Também, o meu mundo é uma coisa de convenção, que se ajeita por mil desencontradas faces a este caráter incerto, que Deus me deu! O meu mundo é aquele torrão de Durruivos, quando estou na aldeia: à sombra do castanheiro quando estou em Cintra: o ruído das ondas quando estou na Nazaré! Contanto que o céu esteja azul, que o sol alumie, que haja flores, ou música, ou mulheres ou mar, adormeço contente cada noite com o desejo de ainda ali acordar no outro dia!...

E uma velha ideia e uma velha frase, a que diz que a vida é cheia de néctar e de fel; todavia, é tão verdadeira que ficará sempre moça! O néctar, por ser mais ligeiro, apresenta-se aos lábios, e quando menos se espera já não há senão fel para beber! Não há nada que compense a alma daquele anelo delicioso de quem viaja, nas primeiras horas que passa num lugar qualquer. Basta a ideia de que pouco nos demoramos ali, para lhe fazer crescer o encanto!

Por isso, quando disse adeus às suas festas, as barracas principiaram a desarmar-se, os romeiros montaram a cavalo, os foguetes da despedida subiram ao ar e os círios deram as três voltas da retirada em redor da igreja, senti uma certa pena ao lembrar-me que eram horas de eu partir também!

Tudo pareceu triste nesse instante. A romaria tinha o ar de quem se despede da felicidade, e os anjos, — os próprios anjos!

— tinham a voz mais rouca, mais confusa, mais entrecortada de pausas, mais lamuriosamente arrastada do que nunca, ao dizerem em frente do templo:

É chegado o momento, ó Virgem pura,
É preciso deixar estes lugares;
Asilo de piedade e de ternura.

De nossos olhos lágrimas a pares
Nos arranca a tristeza e o sentimento,
E a saudosa lembrança destes lares!

E o povo benzia-se, batia contrito no peito, e deixava correr pelas faces crestadas o pranto sincero da saudade e da fé! Boas e simples almas! Com que impulso de religião pareciam elas elevar-se a Deus, quando repetiam entre si num coro sufocado e uníssono as estrofes da loa:

Ah! quem fora tão ditoso
Que pudera aqui ficar,
E neste monte sagrado
Os seus dias acabar!

Quem vem falar-me de educar o coração?! Coração tem-no aquela gente, e coração de lei! Que foi o que lhe ensinaram? Como, ensinar! O coração não tem que aprender. Sabe, pressente, adivinha tudo. Muito faz ele, — ou, para dizer melhor, faz o mais possível... — em não se esquecer... Eu ainda sou dos que creem nas lágrimas e apesar de me dizerem que o seu melhor mérito é enganarem bem, quero-me com gente que chora. E como eu vi, naquela memorável partida, nascer o pranto nos olhos do povo! E nós, a gente da cidade, que estávamos por ali uns poucos, seria a insensibilidade, que nos roubou a dor? Se rimos do que faz rir os outros, por que não choramos nós que os faz chorar?

A Nazaré não vão apenas os turistas. Além mesmo da população flutuante que ali surge de repente nos três grandes dias, as casas da praia alugam-se todas a um grande número de famílias, que ali corre de toda a parte em procura das soberbas ondas montanhosas, que nos elevam consigo como se fôssemos parentes daqueles caldeus que tentaram escalar o céu!...

Rompe ainda mal o dia, já a gente pobre da vila vai banhar-se lá a uma extrema da praia, vestindo-se e despindo-se por detrás das pedras... A pouco e pouco principiam a povoar-se as barracas, e os banheiros encetam o seu giro de cada dia, que é sair d’água e entrar n’água, para dar a mão às tímidas e aos medrosos.

Destino singular e excêntrico!

Que um desgraçado esteja desde o nascer do sol até as li horas, a tomar mergulhos forçados, que lhe granjeiam os seus 50 banhos por dia, é realmente uma judiaria que esqueceu à inquisição! Os banheiros inspiram-me um sentimento de piedade que eu não saberia explicar. A moda criou estes mártires. Se não fosse moda, ninguém tomava banhos: se ninguém tomasse banhos, não se haveriam inventado os banheiros. Desditosa raça! Para eles o verão é a estação fria; passam-na dentro da água! Como estes pobres diabos hão de achar quente... o inverno!

Das oito horas em diante chegam as elegantes e os dândis da praia. Elegantes... até ao entrar da barraca. Perante o roupão de baeta, a humanidade tem uma só feição. Num traje daqueles toda a gente tem o mesmo feitio! As damas confundem-se a ponto de se tomarem a si próprias por uma amiga sua, e dirigem-se a palavra num frio solilóquio! Eu mesmo, quando me vi assim, enganei-me de tal forma que me tomei por um estranho de quem costumava rir!

A vida da praia principia então. Toda a gente se conhece, toda a gente se fala, toda a gente ri, salta na areia, corre em bandos para o mar, e forma de mãos dadas uma larga linha... em que as ondas são os atiradores!

Ai, começam as pompas da função e os triunfos da coragem! Quanto mais mergulhos, mais glórias!... Ao retirar do mar, não se ouve pelas barracas senão a pergunta pérfida:

— Quantos mergulhos tomou?

— Três!

— Que covarde!

— Sete!

— Que valente!

— Doze!

— Que herói!

Duas horas depois, as barracas desarmam-se; e sobre aquela areia em que mil pés delicados se agitaram, estendem-se canastras, e canastras, celhas e celhas com o peixe que os pescadores conduzem. É ali mesmo o mercado, e à hora em que expira o império dos banhistas principia o reinado das corvinas e das fataças!...

Até o cair da tarde, a praia toma o aspecto comercial, e a população inquieta-se apenas com o preço do carapau. Uma coisa há de notável nesta singularíssima indústria. £ que ali, ao contrário de todas as terras e de todas as coisas deste mundo, é a raridade o que deprecia o gênero. Quando há mais peixe é que ele é mais caro. Isto parece um absurdo, mas justifica-se com a melhor lógica. Os almocreves e os peixeiros em havendo abundância de peixe, compram-no para o conduzirem nas canastras, ou para o embarcarem nos varinos e virem vendê-lo nas terras em que ele escasseia: daqui resulta que a Nazaré, quanto mais peixe há, menos peixe tem!...

Enquanto o sol não começa a despedir-se da vila, dizendo-lhe adeus das cumiadas dos montes, é impossível encontrar a sociedade. As damas estão enxugando os cabelos, e os homens lendo ou jogando. Digo lendo ou jogando — isto é: se está um homem só, lê; se estão mais de um, jogam: na Nazaré o jogo é mais que um entretimento, uma paixão, ou um vício, é uma necessidade: é a jogar que se conversa, que se bebe, que se receita, que se tomam remédios, que se vive, e que se morre!...

Eu tinha a felicidade de ter sempre o tempo entretido... e entretido demais às vezes, porque nem podia escrever! O meu quarto era um foco de divertimentos, e um camarote perpétuo das funções mais variadas. Se eu não fosse um escritor sóbrio, dos que têm escrúpulo de estenderem os assuntos como se fossem de guta-perca, podia excelentemente, só daquele meu quarto, escrever um volume!

Ele era tão bom ou tão mau, tão divertido, tão animado, tão recreativo, ou tão pouco... que, ao terceiro dia, achei que estava gozando demais, e disse-lhe adeus!...

Era uma casa no sítio, casa grande, espaçosa e de bom quartel, que acomodava no seu seio em diversas câmaras os seguintes interlocutores: uma companhia dramática, com todos os seus atores, atrizes, cenógrafo, maquinista, ponto, bilheteiro, etc. Felizmente, os porteiros eram eles mesmos, senão mais gente havia!... Três toureiros, um neto e os seus moços; uma companhia de arlequins completa: palhaço, dançarino de corda, duas damas, e por sinal feíssimas! Dois homens de forças para as lutas árabes, três meninos para os recreios do trapézio, e um gracioso para fazer de prospecto, e explicar as belezas do divertimento aos campônios; um anão, que se mostrava por dois patacos; sua mulher; um prestidigitador; um velho que não tinha cara de ter profissão; e uma velha que tinha a profissão de já não ter cara, o que a deixava viajar sem susto!...

Neste céu aberto encontrei-me eu! Sem poder dormir, nem ler, nem escrever, nem estar! tanto era o motim, a algazarra, a balbúrdia infinita deste curioso pandemonium!

A janela do meu quarto dava para a praça dos arlequins. Desde que rompia a aurora, não se fazia senão tocar tambor para reunir o auditório. Armava-se um tablado à porta, e um dos Mimos encetava uma palestra ao povo, que maravilhava os lapônios por mil flores de verbosidade.

— Entrem, rapazes! Entrem se querem ver o que nunca viram, nem tornam a ver na sua vida! Se eu lhes fosse a dizer tudo que aqui se faz, não chegava o dia para lhes acabar a história. Nós temos trabalhado sempre a 16 vinténs, para outra casta de gente que vocês não são: hoje, porém, queremos que vejam de tudo, e pusemos isto a pataco, para não morrerem sem nos terem admirado! Vá! Vá! É entrar, rapaziada! Pataco por cabeça! quem não tiver cabeça... não paga nada!...

E depois era um alvoroço! Um estrondo! Uma assuada! Uma verdadeira sedição contra a tranquilidade de um pobre-diabo morigerado. Quando os arlequins davam intervalo, principiava o anão a tocar trombeta para chamar o seu público: ou os capinhas a exercitarem-se no quarto com um colega que fazia de touro, em correrias tumultuosas e infernais! Era absolutamente impossível viver ali, para ter o purgatório na Nazaré!

O anão era um ginasta sofrível e um caçador exaltado. Estava todas as madrugadas à janela em cima de um banco, a fazer guerra aos pardais: uma vez esqueceu-se de se encarapitar, e, em lugar de matar um pássaro, matou um porco que ia passando!... Entretinha as noites a jogar o dominó: e tive a fortuna de lhe ser apresentado para fazermos uma partida. Eu sou o pior jogador que há no mundo, e nunca compreendi bem a bisca: todavia não quis desprezar esta ocasião de fazer uma coisa que dez minutos antes eu julgaria impossível que me acontecesse! No decurso da minha vida, tinha-me lembrado de mil eventualidades raras, que talvez me esperassem — vir a ser conselheiro, tornam-se marujo para poder viajar, morrer hidrópico, etc., etc.! De que viria a jogar o dominó com um anão, é que nunca me tinha lembrado! E joguei!...

Os arlequins em vez de me divertirem entristeciam-me. Alguns tinham uma barraca armada na praça, que lhes servia de camarim durante função, e de casa no resto do tempo. A sua única propriedade era aquela barraca e um burro, que viajava com eles, acarretando as bagagens, corpetes de veludinho, tangas, um arame bambo, um fato branco de guizos e uma caixa com giz para o palhaço. Tudo que possuem na terra é isto: nada mais têm, nada mais virão a ter. E riem sempre, e vivem de fazer rir! Comem; bebem vinho quando o podem comprar, quando o não há, bebem água e ar! É uma coisa santa, ao menos, que Deus nos dê ar sem o comprarmos!

Quando montei a cavalo, para partir, encontrei-os; iam a pé com uma trouxa cada um, por terem piedade do burrinho, que lhe custava a poder consigo. Há uma coisa ainda pior do que ser arlequim... é ser burro de arlequim!...

A estrada vinha cheia de círios e de povo.

Ao chegarmos à barquinha paramos novamente segundo o estilo, voltamo-nos para trás, descobrimo-nos saudosos, e os arrieiros disseram reverentemente:

“Lá fica a Senhora de Nazaré!...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sugestão, críticas e outras coisas...