10/12/2017

Sonja Sonrisal (Conto), de Salomão Rovedo


Sonja Sonrisal

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“Onde quer que haja prazer para 
vender, lá estarei eu para o comprar.”
O. Goldsmith

Sonja não tinha mais de 20 anos, mas a cabeça era memorável. Pensava como político, agia como comerciante, tinha emoções, além disso, e o linguajar de prostituta.


Criamos cumplicidade desde o primeiro dia em que fui na sua casa. Algumas horas depois ela sumiu de onde estávamos conversando, se isolou no quarto com uma amiga, Marisa. Andei procurando e acabei por chegar lá. Bati na porta:

“Posso invadir o castelo das putas?” Ela riu, a Marisa riu, todos rimos, me intrometi na conversa, sentei-me na cama dela. Chegamos, assim rapidamente, a uma cumplicidade ampla e ganhei a simpatia, a intimidade de Sonja. Elas estavam experimentando uns vestidos, em roupa íntima. Quando chegou a vez da Sonja, comecei a fazer um coro, que Marisa logo acompanhou:

“Strip-tease! Strip-tease! Strip-tease!” Sonja nem se fez de rogada, aproveitou a música que tocava no rádio, eu e Marisa fizemos o acompanhamento vocal:

“Taram-taram, Taram-taram, Taram-taram!” E Sonja foi tirando peça por peça, até o gran finale, em pelo! Depois foi a vez da Marisa, de peitos enormes e brancos, por fim até eu dei o ar da minha graça, mais por força da circunstância – na realidade nunca pensei que chegasse até aí. Mas cumpri...

Apelidamos ela de Sonja Sonrisal, porque tinha a mania de tomar esse comprimido, fosse qual fosse o mal que sentisse: dor de cabeça, azia, indisposição estomacal, cólica menstrual, ressaca. Bebia pra caralho. Poucas vezes a vi sóbria, só conheci aquele semblante cansado, de quem transou a noite toda, transou e bebeu, e tomou ainda por cima alguma droga estimulante para não dormir e aguentar todas as noitadas da vida.

Poderia ser Sonja Cocaína ou Sonja Marijuana, qualquer droga que a deixasse xilada servia para sobrenome. Seus bagulhos eram gigantes, comparáveis somente aos jamaicanos: o verdadeiro charuto de erva. Ela tomava todas, mas nunca perdeu a cabeça boa que tinha.

Quando se apaixonava, era diferente. Aí não tinha droga maior que a paixão. O cara tinha que ser bastante heroico para aturar Sonja, de repente ela tirava forças de qualquer ponto que não conhecíamos, era uma energia anormal, maior que qualquer atleta. Para encarar a paixão de Sonja Sonrisal tinha que ser muito macho. E inteligente. Fosse qualquer sujeitinho metido a besta e não ganhava nada.

Toda a energia que carregava era distribuída entre o estudo e as paixões, mas ainda sobrava nela eletricidade – tirada não sei de onde – para uma fugida rápida ao Rio de Janeiro, atendendo a pedidos dos amigos, para desenhar modelos e fazer desfiles de roupas esportivas. Como ainda achava tempo e talento, tanto para frequentar o ateliê e desenhar, fazer gravura, pintar alguns quadros?

Entre mim e ela não fiquem pensando besteira. Naquela altura do campeonato eu já tava passando dos quarenta e ela com seus vinte anos mais parecia minha filha. A intimidade que tínhamos era de contar as coisas um para o outro, mais eu de ouvir do que contar e dar uma bronquinha, uma porradinha à guisa de conselhos. Ela gostava também de ficar quietinha, a cabeça deitada no meu ombro, com ar romântico dizendo:

“Vamos namorar um pouco”. Acontecia de ficar acariciando o rosto dela, fazendo um carinho e ela geralmente dormia no meu ombro. Senti-me mais de uma vez o paizão. Um paizão. Era minha gata, ficava nua na minha frente, tomava banho, pedia para esfregar as costas, trocava de roupa, ouvia meu palpite e gostava de estar namorando, em paixão, de contar para mim, falar do namorado, reclamar de cólicas menstruais.

Quer saber se tínhamos outras afinidades? Ora, a gente gostava de beber bastante, sem limite, até ficar de porre. E de fumar um charuto, bagulho, cigarro. Odiávamos os pais, a sociedade, jornal, TV, trabalho formal e licor. Tudo que a gente comia e bebia era mais puxado para o azedo, preferíamos as coisas amargas. Bitter, carqueja, absinto. Inventamos drinques esquisitos, de sabor inimaginável, cuja fórmula jamais guardamos.

“De doce basta a vida!”, gritávamos contra o vento nosso lema de guerra.

Ah, e também nos divertíamos muito e íamos curar a tensão e o estresse na praia, de repente sós, nus ou vestidos, com algumas garrafas de vinho branco, litros de catuaba enterrados na areia. A praia era nosso palco, o horizonte nosso cenário. Sonja Sonrisal entrava na água e gritavas rezas fantásticas para Iemanjá, para Netuno, o cacete.

“Reza aí uma pra mim!” – eu gritava sabendo que era bem capaz dela não escutar nada devido ao barulho das ondas e às vezes da chuva. Ah isso também: gostávamos de tomar banho na praia quando chovia, correndo na areia, mergulhando nas ondas.

Muitas vezes, quando eu estava puto, pedia:

“Sonja, lê alguns poemas aí de Brecht ou de Mário de Andrade” – ela prontamente:

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada (...)”
Eu ria e interrompia logo o teatro: “Ei isso é Fernando Pessoa!”

Ela continuava:

“Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse, não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!”

“Cobardia!” – ela ria das interrupções como se tivesse a me provocar. Ficávamos bons tempos nessa brincadeira de testar a memória. Só que ela era jovem e eu dependia de uma cabeça gasta...

Eu: “Eu, que tenho dado vexames financeiros, pedido emprestado sem pagar”.

Ela: “... tenho feito vergonhas...”

“Eu posso corrigir Pessoa. Também dou meus calotes, como quem diz: Devo e não nego, pago quando puder...”

Sabia vários textos de memória, outros lia, fazia drama, teatralizava, chorava, música ao fundo, sonatas de Beethoven, jazz, blues, Chopin (“Chopin não, Debussy!” ela gritava quando eu começava a mexer nos discos) ou mesmo Pixinguinha, Skank, Bob Marley.

A reciprocidade era verdadeira, só que eu mesmo fazia os meus poemas, gostava de ler para ela, mas eram composições de momento, nunca anotamos nada, nunca escrevemos no papel uma só palavra das inúmeras letras que escrevemos juntos. Para quê? A eternidade é hoje.

E bebíamos no mesmo gargalo. Uma vez derrubamos dois litros de Four Roses, um Bourbon forte, lascado de quente, tomado ao tiro, no vira-vira, na porrada, sem gelo nem nada, cow-boy, one shot. Só que esse uisquinho deixamos de tomar porque no dia seguinte nada de ressaca – já viram que coisa mais chata, você beber, beber, beber e no dia seguinte não dá ressaca? Odiávamos Engov, verão sem gripe e febre sem resfriado. Mas quando não tinha outro, vai tu mesmo.

“De doce basta a vida!”, repetíamos mesmo triste nosso grito de guerra.

Ah, Sonja, hoje estou aqui relembrando de você, pensando passar adiante essa coisa que foi você, mas quê jeito? Quem te visse assim, mirradinha, quase pele e osso, branquela, de cabelo ruço, mas com aquela cabeça ágil, o vocabulário vagando com classe entre o chulo e a academia, porra, não tem como fazer esse mistério passar para o outro lado da rua. Enfim, quem seria mais que eu a tua memória? Hoje em dia posso percorrer todos os bares que frequentávamos juntos, em busca de amigos, mas qual, eles também já embarcaram, estão por aí, de terno e gravata metido em algum gabinete, servindo governos, prefeitos, ganhando dinheiro porque a idade já vai.

Sabe de alguém que pergunta por você? Ninguém! Os sacanas nem pensam que você está ali comigo bebendo aquele traçado horrível que inventamos de Gim, Cynar e Bitter Russo. Se bem que eu preferia botar Underberg, pimenta do reino e sal, além e umas pedrinhas de gelo pra espantar o calor que esse drinque miserável provoca. Caralho! Só de pensar me arrepia tudo! E pensar que bebíamos esse torpedo a noite toda só pelo prazer de acordar no dia seguinte com a mais memorável ressaca, a boca mais amarga do que a vida. Que loucura de remédio.

Devo confessar que não foram só os pecados que me fizeram gostar de Sonja Sonrisal. Aliás, é bem verdade que a parte pecaminosa dela era a mais sensual e excitante, mas gostava dela porque era uma eterna apaixonada. Largou tudo: a casa, o conforto, as coisas, carros, bebidas finas e gabinetes, para espantar por aí, estudando não sociologia, mas literatura e pedagogia, disse que para abrir uma escola quando ficasse velhinha. Ela não sabe que gente assim como ela nunca fica velhinha? É que nem bandido: morre cedo. Já viu bandido ficar velhinho? Nunca! Só em filme de mafioso...

E ademais detestava as festas de fim de ano, natal, essas coisas e mesmo o carnaval ela se isolava nalguma praia deserta, metia-se até com os mais caretas que acampavam, só para fugir da arruaça que ficam as ruas, que, tirante os bêbados, o carnaval fica chato. Ainda mais aqueles convites para desfilar em palanques, carros ou blocos, bandas, ixe! Aí mesmo era coisa. Nada, nada, Sonja quando elogiava a multidão não era no carnaval. Era aquela multidão pequena, mas revoltada, ou tempo de greve, ou sem terra, alguém, enfim, que protestasse contra.

Quando estava doidona pegava o carro do pai sem avisar e vamos, eu tinha o cuidado depois de telefonar avisando. Vamos para algum lugar além da terra, além do mar, além da ponte, subindo, subindo, avançando, avançando, correndo, correndo, sempre também com a minha mediação. Que mistério tem a velocidade que deixa a gente entre o inferno e o purgatório, beirando os mangues, os sobressaltos, as estradas asfaltadas? Égua!

“De doce basta a vida!”, assustávamos até o vento com nosso slogan de alegria.

O quanto pude tentei mediar entre ela e a loucura, mas sempre não podia estar a seu lado. Que, aliás, nem era loucura, ela era assim mesmo, estava em seu natural, com suas almas e gnomos, as criaturas ao lado. Sonja, inclusive, gostava de parar nas estradas, vem cá, vem cá, vou te apresentar o gnomo da tiririca. E ficava ali, conversando hora e hora com o pé de espinho. Ficava triste mais quando eu batia na planta:

“Tiririca, tua mãe morreu...” e as folhinhas iam ficando murchas, se recolhendo, Sonja chorava, chorava feito besta. Encostava-se ao meu ombro, não dizia, você é mau, não, ela compreendia que eu tinha o direito de dar aquela notícia triste, que a plantinha tinha de murchar e até morrer, mas matar mesmo a gente não matava.

Uma vez encontrei Sonja mal. Estava arriada ao pé da cama, como quem nem tivesse chance de se deitar. Pálida, os braços soltos, como uma bonequinha largada. Não fiquei com medo, mas pensei que tinha morrido. Aliás, estava morta, para o mundo, para todos, sozinha, morta. Respirava calmamente, o semblante macilento, mas sereno. Peguei-a com muito cuidado, arrumei o corpinho desleixado na cama, cobri com o lençol. Molhei uma toalha com água e passei no rosto dela e ela, mesmo apagada, soltou um sorriso, um suspiro. Eu também estava cansado e com sono, deitei ali mesmo ao lado num sofá.

Só acordei no dia seguinte, já com os ruídos que ela fazia na cozinha, mexendo em xícaras, pratos, o cheiro de café entrando pelo cérebro adentro. Estava alegre, risonha, bem disposta, ao contrário da Sonja que vi de noite. Cheguei abraçando-a com carinho:

“Você me mata de susto”, fui dizendo já em tom de bronca.

“O que foi?”

“Ontem à noite” – e para mostrar apertei-lhe o braço. Ela tinha coberto os braços com a manga da blusa para esconder as marcas da agulha.

“Ah – disse – tá tudo normal, não foi nada”.

“O meu medo é que um dia você erre na dose. Acontece muito, por isso tem esses acidentes”. Falei assim como quem não quer nada, porque a crítica é pior, os gritos, isso não. Porque me lembrava de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Marilyn Monroe, Curt Cobain, além de uma porrada de gente anônima que algum dia achou que a dose era pouca – e aí, babau, você não pode acordar para tomar antídoto.

“Nunca ache que é pouco, nunca! Mas, que porra foi desta vez? Foi o Mário?

Alguém te aporrinhou?” – Mário era o seu novo amor.

“O Mário? Coitadinho. Tão bonzinho. Foi mamãe. Me telefonou, brigas, brigas em família, broncas, crises. Ela tem tudo o que precisa porra, como pode viver estressada?”

“Mas de tão longe?” Eu falava, mas tremia um pouco: a sacana me deu medo mesmo, um susto de provocar taquicardia, neurose.

“Pois é, você veja. Mas deixa pra lá. Passou, foda, já passou”.

“De doce basta a vida!” E para encerrar me deu um beijo, como sempre fazia quando as conversas eram desagradáveis. Era o remédio para todos os males. Sentou nas minhas pernas, o braço direito atracado no meu pescoço, suspirou. Agora sua face ficou mais rosada. Não fossem as olheiras e achava que estava tudo normal. Essa bosta de cocaína é capaz de fazer algum bem, pensei com meus colhões, sabendo que era mentira...

Tomamos um café bem quente. Fiz ovos mexidos e queria que ela comesse algo, mas nada. Como sempre, comia pouco. Forcei mais no café. Ela encostou a boca na minha orelha para dizer o segredo. Quando acabou de falar, lambeu o meu lóbulo e riu safada.

“Não! Não”, disse num tom peremptório, tão sério que ela ficou amuada. Por enquanto o pensamento de ontem estava bem fresco, me magoando, para pensar em qualquer sacanagem. Foi a minha vez de dar um beijo gostoso, com gosto de café, para encerrar o assunto. Vê como ela era! São essas coisas que fazem as pessoas se eternizarem dentro da gente.

Mas quem vai lembrar uma pessoa assim? Quem? Quem? Só eu mesmo, que tenho mania de grudar as almas em minha roupa, até quando vou dormir. Às vezes dou gritos loucos, sou acordado pelos outros, dizem que é pesadelo, mas não, são eles, que não dormem nunca mais, querendo que eu fique acordado 100% a vida. Sonja tinha alegria e pressa de viver. Por isso tinha a existência agitada, sofrida, intensa. Era dessas pessoas que não se importa com o que vai encontrar na próxima esquina.

“De doce basta a vida!” – para ela era mel a vida, mas não tinha medo da guerra.

Não dá, não dá. Por que não são todos como Sonja Sonrisal? Essa sei, sei que não perturba, ela fica ali, encostada no meu ombro, parecendo criancinha, bebezinho, querendo pai, querendo mãe, mas odiando querer, mesmo sendo eu pai e mãe. Às vezes chora, às vezes sorri, às vezes lê umas poesias lindas para mim, canta, grita “Strip-tease! Strip-tease! Strip-tease!”, se rindo da minha admiração e do meu sorriso também, porque eu acompanhava o coro. Mas os outros...

Se vocês pensam que tenho todos os orgulhos de que Sonja e eu fôssemos iguais, não é verdade. Tem coisa que me deixou mais triste dela parecer comigo: Gostávamos de inventar que íamos nos suicidar. Quantas vezes nos perdemos de cuidados para suicidar. Era a paixão e o suicídio. Nossos desejos e suicídio. As frustrações e o suicídio. A alegria e o suicídio. Também eu me apaixonava e suicidava, antes contava para Sonja:

“É aquela a musa dos meus pesadelos, o inferno atual da minha existência!

Quero morrer”.

Ela ria e se apresentava para a mulher como minha filha ou sobrinha, às vezes aluna, só para me ver perto da razão do meu viver apaixonado, de quem me deixava tresloucado, da musa do meu viver desesperado, de quem provocaria o meu próximo suicídio. Ela até ajudava a me suicidar. Escolhíamos o lugar e, contritos, nos sentávamos, concentrados, dispostos a nos libertar da alma. Era bonito nos ver ali, nós dois, nos suicidando, num pôr-do-sol, diante da alegria, do som e da luz de tudo à nossa volta. Sempre escolhi morrer no mar, na praia, perto do mar.

Longe dela já ficava tudo triste mais. Que diabo tem a vida de nos levar para lá, para cá, que nem bosta n’água? Porra! Um dia não estava eu para acompanhá-la no suicídio dela, por causa de uma paixão daquelas. Era um cara até bonito, mas não tinha tino nem estofo para Sonja Sonrisal. Eu não dizia isso, que escolha era dela. Nunca disse, ele não presta para você, não, nunca disse. Nem ela me disse isso, ao contrário, sempre dizia, vai fundo, vai que ela está te gostando. Eu também dava esses estímulos, tocava fogo na relação, animava quando estava desanimado – Sonja, desanimada? – não, era o outro. Longe dela – eu dizia – eu estava e não pude fazer nada. Ah, Sonja, que sacanagem grande fez!

Deu no jornal a notícia, mas ainda bem que eu não estava lá para ver a tristeza. Todo mundo viu, menos eu.

É claro que a turma venceu: fizeram a última vaquinha para enterrar Sonja num ataúde decente. Quatro círios foram acesos e o padre apareceu para dar a última bênção – ela certamente morreria de raiva e tédio. E foi assim que soube: um dia ela errou na dose do suicídio. Não foi nada de falar com Iemanjá, nada, foi falar sim, pessoalmente no fundo do mar, porque quis. Será que sentiu minha falta? Eu nem chorei porque Sonja Sonrisal não era de aturar choro. Errou na dose, suicidou-se sem mim e depois não deu jeito, nem o Sonrisal, nem ambulância, porra nenhuma, nada. Não, eu não chorei nem fiquei com pena dela não, mesmo afinal ela inda sai a beber comigo por aí, como igualmente, à moda antiga.

– De doce basta a vida! – Sussurrei nosso grito de guerra, nosso passaporte para o outro lado...

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CORPO NA PRAIA

A praia de Olho d’Água amanheceu de luto, pela morte da popular Sonja Sonrisal, rainha da noite. Sonja era vagabunda, alcoólatra, endereço desconhecido e muitas vezes era confundida com mendigos.

O corpo de Sonja Sonrisal amanheceu na praia inchado, em adiantado estado de decomposição. Ela foi vista pela última vez mergulhando nas ondas, com um ramo de flores para homenagear a madrinha Iemanjá.

Sonja Sonrisal, tinha a voz que lembrava a cantora Maysa e era conhecida pelas canções de amor e poemas obscenos de sua autoria, que declamava em troca de bebida, cigarro e comida.

O lamento foi geral entre os boêmios, vagabundos, putas e malandros. Na manhã seguinte as barracas da praia botaram uma fita preta em sinal de luto. Os botequins abriram a meia porta. Uma grande romaria acompanhou o corpo da desventurada ao cemitério.
Houve revolta geral quando souberam que Sonja Sonrisal ia ser enterrada no local destinado aos mendigos. Nosso jornal participou de uma vaquinha para pagar um enterro digno, com flores, velas e padre.

Repouse em paz.

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Fonte:
Salomão Rovedo: Sonja Sonrisal. Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2016. (Imagem: Páginas pessoal do autor)

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