
A fraude eleitoral
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Desde muito que várias
personalidades da República, próceres de vários partidos e facções que se
propunham salvar a pátria, mediante medidas inócuas ou simplórios cortes
sistemáticos na arraia-miúda; desde muito, dizíamos, que várias personalidades
se reuniam para resolver o problema da verdade eleitoral.
A comissão, como fazia há seis
anos, se congregou naquela tarde para apresentar ideias tendentes a obter da
exata manifestação das urnas a legítima representação nacional.
O senador Brederodes apresentou
as suas ideias, o seu colega Marcondes as suas opiniões; Machado Malagueta
aventou alguma coisa; enfim toda a comissão trabalhou a valer, e os alvitres
mais sutis, mais severos, mais saudáveis, foram sugeridos para que a fraude
fosse evitada nas eleições federais.
Despediram-se amáveis,
sorridentes. E, ao famoso “secretário” da comissão, o oficial da Secretaria do
Senado, Raide, pareceu que, daquela confabulação, ia sair obra de grande valia
e alcance.
O seu desgosto, ao supor isto,
era de não poder ele também assinar o projeto.
Seria a imortalidade...
Brederodes, que era econômico,
desceu a pé até às ruas centrais. Atravessou o Campo de Santana apreensivo.
Chegou à chapelaria Watson e
encontrou logo o seu adepto Fulgêncio, deputado desconhecido.
Falou-lhe este com todo o
respeito devido ao chefe supremo do seu partido.
— Como vai vossa excelência?
— Não estou bom hoje, Fulgêncio.
— Por quê?
— Aborreci-me no Senado, na
reunião da comissão.
— Que houve?
— Escuta aqui.
— Aquele canalha do Malagueta
parece que anda de mãos dadas com o Dourado e os meus adversários no estado.
— Por quê?
— Não é que ele propôs que, na
reforma eleitoral a fazer-se, não houvesse voto cumulativo? Estou derrotado...
Enquanto isso se passava,
Malagueta, que viera de bonde, já se havia encontrado com a mulher e as filhas
em uma confeitaria. Uma destas lhe disse:
— Papai parece que está
contrariado.
— Pudera!
— Que houve, Chico? —
perguntou-lhe a mulher.
O tratante do Marcondes propôs na
comissão que só houvesse um deputado por distrito e que estes fossem
equivalentes ao número de deputados que cada estado dá.
— Que tem?
— Que tem? É que não faço nem
quatro lá na nossa terra...
Marcondes não ouviu certamente o
tratamento que lhe deu o seu amável colega, mesmo porque ele tinha corrido do
Senado para a casa de uma adorável criatura, a Manon, francesa nascida nos
arredores de Varsóvia.
— Marcondes não está bom hoje —
disse-lhe esta.
— É verdade. O patife do
Brederodes propôs medidas que acabam com as atas falsas nas eleições.
— Que tem isso?
— É que, se eu assinar o projeto,
o Juca, o chefão, não me reelege.
O projeto, como era de esperar,
não foi apresentado ao plenário, e a comissão ainda estuda os meios eficazes de
acabar com a fraude eleitoral.
odiei
ResponderExcluirodiou oq mlk, texto ta coisa linda
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