11/26/2017

Conversas (Conto), de Lima Barreto


Conversas
 
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Sábado, depois de um longo afastamento de três meses, estive com o meu amigo Gonzaga de Sá. Encontrei-o na Rua do Sacramento canto da de Luiz de Camões, a ver os que saíam da conferência do Instituto. Fumava displicentemente, tinha bengala atrás das costas e olhava a multidão despreocupada, nem reparou direito a importância dos homens e a beleza das mulheres.

— Que vês, Gonzaga?

— Os parnugianos. Lembras-te do Pantagruel?

— Não é preciso. Os dicionários dispensam a sua leitura.

— Vejo os que seguem, vejo os que admiram. Amo-os.

— Se não leem, convém aos mestres das letras do Brasil. E não é a primeira vez que os vejo!

— Em geral, pelo que eu tenho reparado, tu nunca vês as coisas pela primeira vez.

— Não é a primeira vez. Há trinta anos os vi — saíam das conferências de Haia.

Seguiam, admiravam a catapúltica palavra dos conselheiros imperiais.

— O Machado de Assis fez conferências em Haia?

— Não.

— O Rui Barbosa.

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