11/04/2017

Enterro no sítio (Conto), de Virgílio Várzea


Enterro no sítio
 
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Meio-dia.

O sítio conserva aquela tranquilidade alegre e venturosa de todos os dias, aquele estado planturoso e verde que transborda da seiva e de onde se erguem, embalsamando o ambiente, o aroma delicioso das flores, as frescas e penetrantes exalações de verdura.

Quatro meninos, tristes e silenciosos, saem de uma igrejinha rude e mal acabada, situada num alto, carregando um caixãozinho aberto, de metim azul, dentro do qual vai deitada uma criaturinha loura, fria, inerte, de seis meses mais ou menos, sorrindo vagamente na sua imobilidade de morte infantil, bonita, parecendo viva, com os olhinhos semicerrados como pela intensidade da luz que lhe bate a prumo.

Mais atrás caminha um preto, idoso e curvo talvez pelos seus sessenta anos de enxada, que leva a tampinha do caixão.

Pelas margens da estrada branca e enflorescida, cortada pela água murmurante e límpida dos córregos, os espinheiros tufados e vigorosos, numa felicidade vegetativa e exuberante, cantam monotonamente carregados de cigarras, e acenam para o mortozinho, numa expansibilidade de verdura, como se lhe dessem o último adeus!

Dos terreiros das casas onde recentes colheitas de café secam, fumegando, mulheres de lenços vermelhos pela cabeça assistem piedosamente, com os olhos de choro, a passagem do féretro.

Um sol glorioso e resplandecente enche toda a paisagem. O calor abafa. E pelos terrenos alagados e gramosos pastam satisfeitamente os bois.

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