No literal catarinense
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
---
A tarde esmorecia serenamente, na vastidão do céu límpido, azulado. Por
trás das altas montanhas de Cubatão, de uma cor roxa e nostálgica, com agudos
píncaros em recorte, sumiam-se, escoavam-se os últimos listrões de ouro do
ocaso.
A velha
fortaleza de Santana, adormecia, sobre as pedras à beira da água. Nas muralhas
denegridas, antigas peças enormes alongavam, em fileira, o pescoço de bronze, a
boca agressiva e temerosa, oxidada pelo tempo numa longa inação. A um ângulo,
junto de uma guarita arruinada, um mastro delgado e alto sustinha tristemente,
caída ao longo da haste, a bandeira nacional, desbotada, silenciosa e murcha no
abandono dos ventos.
Embaixo o mar estendia-se, aplainado, manso, turvo, numa larga refulgência
de aço polido. A nordestia dura de março acalmara, depois de açoutar a costa
por espaço de dias, cobrindo-a de nevoeiros.
Reinava uma grande calmaria.
Do ancoradouro da Praia de Fora, pequenas embarcações de cabotagem,
arribadas ali, arrancavam ferro e prosseguiam a viagem retardada, levadas pela
corrente, as velas pardacentas a bater contra os mastros.
Aqui e além,
como parados nas ondas, latinos claros de botes, virgulados de rizes e com as
amuras recurvas, semelhavam, de longe, estranhas lâminas gigantescas de foices
ao alto.
De uma e outra banda do canal, sobressaindo saudosamente à distância, no
pendor das encostas, ou na linha rasa das planícies, brancuras de casas,
denunciando os povoados – São Miguel, Biguaçu, Sambaqui, Gacopé...
Alvuras de
praias desenrolavam-se, norte-sul, como fitas brancas debruando as enseadas.
Entre pontas, distante, a barra: ilhas mal distintas já no crepúsculo, a vastidão das águas atlânticas.
E sob a luz violácea e melancólica da hora,
em meio ao Tabuleiro, desenhando-se à claridade poente, uma enorme barca, com o
pano todo largo, saindo lentamente para o norte, em lastro, na maré da vazante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...