11/04/2017

No mar (Conto), de Virgílio Várzea


No mar
 
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Corríamos a todo o pano.

Um sopro rijo de norte encrespava a toalha imensa das águas, enchia as velas e deitava o barco na linha marulhante do rumo.

A tarde estava límpida, transparente, encharcada em sol. Enchia-nos os pulmões, em amplas aspirações, revolvendo-nos os cabelos, a brisa fresca do oceano.

Em frente, na margem oposta do largo canal, contornos recortados de montanhas, esfuminhados na poeira azul da distância, erguiam relevos extensos e melancólicos na rubente explosão do ocaso.

Pela popa, ao longe recuando, recuando sempre de nós, num afastamento saudoso e confuso, a brancura recolhida do frontal da igrejinha de Canasvieiras, que ficava num morro, fazendo surgir em a nossa imaginação de emigrados o viver feliz e cantante de outrora.

E que nostalgia funda e desconsoladora de minha Mãe, dos meus que ficavam, e da Rita, uma linda companheira do Tempo-será e da aposta a capote, na raspadura da mandioca, pelas longas e troviscadas noites de inverso, nos engenhos cobertos de palha, mal alumiados pelas antigas candeias de quatro bicos, no tempo das farinhadas!...

Que nostalgia, ó Mar!

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